QUEM PASSE POR PENICHE, TERRA DO HENRIQUE, NÃO DEIXE DE COMER ARRAIA SECA OU UMA BOA CALDEIRADA
Talvez não saibam mas à época da Independência de Portugal, Peniche era uma ilha, distante cerca de quinhentos metros do continente. A acção das correntes marítimas e dos ventos, com o passar dos séculos, levou ao assoreamento do curso de água, vindo as areias a formar, progressivamente, um cordão de dunas que, consolidando-se, uniu a ilha de Peniche ao continente.
Da cidade de Peniche, que incorpora um importante porto de pesca do país, guardo desde a adolescência muito boas recordações. Foi nesta cidade que tive a minha primeira correspondente – digamos namorada por correio – que por muitas viagens que fizesse aos domingos nunca tive a oportunidade, pessoalmente, de a conhecer.
O Joaquim Henrique é natural de Peniche, em Tite já era um rapaz de trato particularmente simpático, os temas que nas conversas desenvolvíamos não eram de ocasião. Algumas delas foram sobre a minha correspondente que bem a conhecia. Na verdade e sem favor, todos por ele tinham grande estima, a reciprocidade era notória. Amigo do seu amigo, alinhava q.b. nas tertúlias que a equipa, – (Palma, Vítor, Justo, Rui (já falecido) entre outros) – desenvolvia. Ele era um homem de operações cujo posto de trabalho era num pavilhão que ladeava a parada conjuntamente com o Furriel Arrabaça e o Cap. Vicente (também já falecido).
Creio que tinha como funções, entre outras, tratar das informações que nos chegavam, quer por via das mensagens dos diversos aquartelamentos da região do Comando de Tite, quer de e para Bissau. Outras ainda por via da informação “sacada” aos prisioneiros ou fornecida por naturais, que depois de analisadas e trabalhadas tinham em vistas eventuais e futuras operações de intervenção em teatro de guerra.
Uma das “passagens” com o Henrique que ainda hoje guardo na memória foi a cena que deu um almoço (entre muitos) de fazer inveja ao “Tavares Rico”. Parece que foi hoje oh Henrique. Tu com um embrulho de papel grosso, meio aberto e, com um ar muito feliz, mostras-me um bom pedaço de arraia seca que de Peniche alguém te tinha mandado, dizendo: Oh Pica podes cozinhar isto? É arraia seca, coze-se como o bacalhau, é um petisco muito bom! É pôr de molho umas horas, acompanha com batatas cozidas!
Confesso que fiquei um pouco interrogado. Eu nunca tinha comido aquele peixe achatado, em forma de losango, cor de castanho velho e muito menos seco. Peixe seco em Tite havia muito, era rara a tabanca que não tivesse um estendal de peixe escalado a secar servindo de pasto a muitas moscas. Bem…. mas se o Henriques dizia que era um bom petisco e a fome apertava não me fiz rogado; fui pela calada da noite ao “quintal” do Major Ponces de Carvalho (2º Comandante do Batalhão) e vai de “vunva” roubei umas couves, as batatas vieram da cozinha do quartel.
No dia repasto de tal iguaria, regada com azeite, de marca Oliva, que eu guardava para “cerimónias” deste tipo, acompanhada com vinho tinto da tasca do branco, foi de lamber os beiços e de lavar os pratos com o pão - Acreditem que das vezes que comi arraia seca já em minha casa comprada em supermercados nunca me soube tão bem como em Tite – Bem lhe pedimos que fizesse um “choradinho” por mais arraia seca a quem em boa hora o presenteou com tal “bicharouco”, mas o Henriques, educado como sempre fôra dizia com aquele sotaque próprio de Peniche …. Oh pá não pode ser assim… Então agora vou pedir mais peixe à senhora???!!!!
Bom…. Se é certo que em Tite não pôde ser, pode ser em Peniche. O pessoal que por Peniche passe, o Henriques decerto não deixará de comer uma sardinhada, uma caldeirada ou arraia seca no dia que se combinar. A mim já me convidou!
Pica Sinos
Obrigada pela história que contou sobre Peniche. Adoro essa terra. Ainda na 2ª feira passada lá estive. Fui à lota ver lindo e grande peixe, fui ao Cabo Carvoeiro, desci à varanda de Pilatos onde tirei fotos (ver blogue), fui ao Santuário dos Remédios, fui ver as rendilheiras de bilros e jantei uma salada de polvo fresquíssima e muito saborosa. Diga ao Henrique que é dono de uma terra muito bela.
1 comentário:
Obrigada pela história que contou sobre Peniche. Adoro essa terra. Ainda na 2ª feira passada lá estive. Fui à lota ver lindo e grande peixe, fui ao Cabo Carvoeiro, desci à varanda de Pilatos onde tirei fotos (ver blogue), fui ao Santuário dos Remédios, fui ver as rendilheiras de bilros e jantei uma salada de polvo fresquíssima e muito saborosa. Diga ao Henrique que é dono de uma terra muito bela.
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