Todo o pessoal andava e tinha sempre junto ás camas a G3 e várias granadas de mão, pois nunca se sabia o que de um momento para o outro aconteceria, e...a “melhor defesa é sempre o ataque”.
Eu e o Pica tínhamos as G3 no Centro Cripto, mas no nosso quarto, debaixo da cama do Pica, tínhamos um stocksinho das ditas granadas como “prevenção”, pois o nosso quarto e Centro Cripto, ficavam mesmo defronte à porta de armas, e logo a seguir a área das tabancas.
Circulava de mão em mão pela malta uma “gracinha” feita por um habilidoso dos mecânicos de armamento - era um “expert” em armamento e desmanchou várias granadas de morteiro para fazer candeeiros, que vendia ao pessoal - tratava-se de uma granada de mão ofensiva, cuja carga de córdite e o detonador tinham sido extraídos, mantendo-se todo o mecanismo de disparo do manípulo com mola e tudo.
Ao principio este “maduro” - ái os vinte anos !! - gozava que nem um louco ao chegar ao pé de um grupo de pessoal, fingindo-se bêbado, aos tombos e a berrar... isto é tudo uma merda... estou farto...vou-vos matar...e sempre com a granada bem à vista na mão fechada.
Puxava a cavilha de segurança, que mandava ostensivamente para cima do pessoal, e de imediato lançava a granada para o meio do grupo !!! claro que a debandada e o pânico eram quase gerais, no entanto, e... parece incrível...mas vi alguns ficaram estáticos a olhar para a granada no chão !!
Havia sempre quem se insurgisse com a “brincadeira”, pelo perigo inerente, e tanta vez a gracinha se repetiu, que já ninguém ligava, pois era topado por todo o quartel.
O alferes Carvalho era viciado na caça, e quando saía para o mato, além duma “bruta” caçadeira semi-automática (que eu adorava) levava no cinto presa com um elástico cinzento largo, uma das tais granadas de mão...mas...claro verdadeira.
Uma tarde, depois de vir da caça o alferes deu-me a granada para levar para o C.Cripto. Estava aflito para ir à casa de banho, e como o Ovar do Centro de Mensagens, estava mesmo á porta, dei-lhe a granada e pedi para entregar ao Pica que estava de serviço. Acto contínuo...ele agarra na granada, mete o dedo na argola de segurança...e LANÇA-ME A GRANADA AOS PÉS !!!...fiquei atónito, e paralisado...passados uns segundos, consegui agarrar de novo na granada, e levei-a para dentro...todo eu abanava !!
Resumindo...pouco depois, quando convenci o Ovar que a granada era real, ele ficou boquiaberto, a cara de gozo com que tinha estado...passou a branca, amarela...sei lá !!
Então ele explicou-me, todo a tremer... que como a granada tinha à volta o elástico cinzento, e a tal granada desarmada, de tanto andar de mão em mão tinha uma fita isoladora CINZENTA à volta para segurar a cabeça que estava sempre a cair...ele pensou tratar-se da...dita falsa !!
Felizmente a argola de segurança tinha as pontas bem dobradas, o
que dificultou...e muito...a sua extracção...senão...decerto que haveria estupidamente...que juntar mais duas baixas no Batalhão 1914 !!
Zé Justo - Março 2008
2 comentários:
Hó Justo, essa coisa de guardares umas "granaditas" debaixo da minha cama e só me dizeres 40 anos depois não cabe na cabeça de ninguem. HeHeHe
Raul Pica Sinos
Raul, nãO te disse nada porque quando dei a ideia, tu não querias por ser perigoso, e eu à sucapa...lá tinha duas ao cantinho !!
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