Carlos Bernardes, o Homem!
Torres Vedras
entardeceu, em choque, na tarde desta 2ª feira.
O Presidente da
Câmara tinha falecido, em circunstâncias ainda não devidamente esclarecidas,
embora tudo aponte para suicídio.
Antes de ser
presidente, conheci Carlos Bernardes noutras ocasiões.
Em três delas,
por volta de 1990, realizámos juntos três visitas de estudo com alunos de
Torres Vedras, uma a Sevilha, outra a Ceuta e outra à Mealhada, Almeida e
Salamanca, eu como professor acompanhante de turmas e alunos, no primeiro caso,
e como júri de um concurso sobre as invasões francesas nos dois outros, ele
como responsável da Câmara.
Carlos Bernardes foi sempre um simpático, alegre e bom companheiro, e , desde então, sempre nos
fomos encontrando por aí, com respeito e amizade.
Mais tarde, já
com ele como vereador, tive a honra de ser seu professor numa disciplina de
História da Arte da licenciatura de Turismo, revelando-se aluno inteligente,
atento, curioso e empenhado, homem alegre e simples, mas já então um pouco
tímido, tratando-me sempre, a partir daí, de forma carinhosa, com um “como vai
professor?”.
Não partilhando
as mesmas posições política, embora não tão distantes como isso, tal nunca
impediu uma relação de respeito mútuo.
Cometeu alguns
erros, como o de se deixar deslumbrar pelo título de “Doutor”, mais por
ingenuidade e para se afirmar no meio de “tubarões da política”, do que pela
necessidade real de provar o quer que fosse.
De facto, ele
não precisava do “título” para chegar onde chegou. Bastava o seu entusiasmo,
entrega e empenho em tudo o que fazia na Câmara, em prol daquilo que ele
acreditava que era o melhor para os torrienses.
Foi um
empenhado militante em defesa das questões ambientais, muito antes de estas se
tornarem a “moda” nos nossos dias.
Apesar dos
erros, deu sempre provas de uma grande
entrega à comunidade, como se revelou neste últimos meses pelo modo como
dirigiu o combate local à epidemia, o que lhe custou ter sido ele próprio contaminado e sofrer um grave acidente de automóvel, devido
ao desgaste do stress causado pela grave situação sanitária em que vivemos.
Por trágica
ironia, quis o destino que um dos seus últimos actos públicos tenha
sido a inauguração do popularmente designado “Museu do Carnaval”, uma causa que
o motivava e onde colocou todo o seu empenho e entusiasmo. Mesmo assim não
escapou à polémica.
Ultimamente,
vivia uma situação de grande desgaste político, devido a cisões no seio da sua
família política e a um confronto directo e violento com elementos da sua
vereação.
Teve razão em
afastar uma vereadora, por suspeitas, não esclarecidas e provavelmente
infundadas, de corrupção, quando devia ter sido a própria vereadora a colocar o
seu lugar à disposição, até ao devido esclarecimento dos factos , mas falhou ao
não permitir, ou outro por si, o devido esclarecimento público da situação.
A tudo isso
temos de juntar o efeito nefasto das redes sociais, onde, em vez de se
discutirem ideias e projectos e se recorrer à crítica fundada, Carlos
Bernardes, homem sensivel, era vítima constante de autêntico “bulling”, com
ataques e insultos boçais e tentativas de humilhação pessoal.
Estes eram
alguns dos momentos tensos que se viviam em Torres Vedras, que podem ter
contribuído para uma situação de excessivo strees, que conduziu a tão trágico
desfecho.
Como cidadão,
espero que os motivos próximos desta tragédia sejam devidamente esclarecidos.
Como amigo,
ficarão sempre na memória os momentos de leal e são convívio vividos no
passado.
Que tenha
encontrado a paz que procurava.
Os sentidos
pêsames à família.
Venerando Aspra de Matos
do blog Pedras Rolantes”
Sem comentários:
Enviar um comentário