"Joaquim de Jesus das Neves, nasceu
em Pombal, filho de Joaquim das Neves e de Maria Augusta de Jesus. Nasce num
lar com quatro filhos, onde reinava um ambiente feminino, mãe e as suas três
irmãs, das quais recebia muitas afetividade e atenções, era o benjamim da
família.
Os progenitores eram proprietários
de algumas propriedades agrícolas, produtores de vinho, azeite e rezinas. Além
destas componentes económicas agrícolas familiares, tinham um comércio, onde
além de escoar aqueles produtos, eram donos de um armazém de sal, produto
recebido diretamente da Figueira da Foz. Naquela época dada as muitas matanças
de porcos, o sal era um condimento com muita procura e consumo, atendendo à
falta de rede de frios, não existiam arcas, nem frigoríficos.
Em Pombal a casa comercial
beneficiava da estratégia da localização, junto de várias repartições publicas,
da simpatia e da confiança dos seus proprietários para com os seus
utilizadores.
Dada a mentalidade da época, as
irmãs não seguiram os estudos secundários, ajudando os serviços domésticos e a
gestão do comercio, transformando aqueles negócios numa pequena empresa
familiar.
Joaquim de Jesus das Neves, estuda
em Pombal e faz o sétimo ano no Liceu D. João III em Coimbra, com a intenção de
frequentar e matricular-se em Medicina, na Universidade da Lusa Atenas.
No entanto, as influências e
tradições familiares falam mais alto, principalmente do lado paterno,
realçando-se o prestígio militar e castrense. Assim, foi para a Escola do
Exército, frequentou o Curso Geral Preparatório com aproveitamento, transitou
para o Curso de Infantaria. Em 1960 concluiu-o, após tirocínio na Escola
Prática de Infantaria de Mafra, com a promoção a Alferes, seguiu para Lamego a
frequentar um curso militar de Operações Especiais.
Com este posto e especialidades
militares e dados os acontecimentos de terrorismo, que se iniciaram em Angola,
por imposição é mobilizado em 1961 – 1963, como subalterno na Companhia de
Caçadores 78, (7ª CCE). No norte de Angola, durante mais de dois anos percorreu
muitos itinerários militares de Luanda a Carmona, em linhas de combate de
guerrilha de muitas centenas de quilómetros.
Durante a comissão militar
faleceu-lhe a mãe e não foi autorizado a deslocar-se à Metrópole a fim de
assistir ao funeral e despedir-se daquela que lhe deu o ser.
Regressado de Angola casa com a
Maria Filomena Pina das Neves, filha do Professora Primário Pina, na Escola
Primária de Valverde (Fundão). Deste matrimónio nasceram duas filhas e um
filho, este tragicamente falecido num acidente de viação. A esposa veio ter
graves problemas de saúde, que se foram acentuando, que nem as idas ao
estrangeiro conseguiram debilitar.
Segue-se a segunda comissão
militar para a Guiné, 1964 -1966, no posto capitão, comandante da Companhia Caçadores,
461 e 2ª Rep/QG
Volta à Guiné com a terceira
comissão da guerra ultramarina nos anos 1968-1969, capitão comandante da
Companhia de Caçadores 2314, com o lema: “AGE QUOD AGIS”, (Faz bem aquilo que
fazes), atuando em diversos teatros de operações militares guineenses, Tite,
Foia, Fulacunda, Bissassema, Jufa, Chumael, Bedanda, Nova Sintra,(aqui além da
sofrida fome, tiveram um morto e vários feridos, onde se incluiu o Capitão
Joaquim de Jesus Neves, atingido por vários estilhaços de uma granada do IN,
que nunca os médicos conseguiram subtrair. Na evacuação para o Hospital
Militar, teve o cuidado de ser o último, por respeito aos restantes feridos.
Gesto de um grande homem e comandante.
Faleceu-lhe o Pai e não teve
autorização para assistir ao funeral realizado na Metrópole em Pombal.
Nas “Memórias “da Companhia da
autoria de Joaquim Caldeira e Cor. Pais Trabulo, na página “O Comandante”, “se
já era muito querido, passou a ser um dos nossos. Ou nós um deles. Temos a sua
presença como a de um pai. Durante aqueles dias duros nunca se refugiou no
acampamento para se esquivar às saídas para o mato e sempre nos incitou a ser
bons combatentes, mas salvaguardando sempre a nossa integridade. Um Comandante
que não precisava de impor-se…”
Na consoada de 1968, o bom capitão
tudo fez para que a consoada fosse mais parecida com a tradicional. Até
conseguiu arranjar batatas, bacalhau, couves, nozes, castanhas, vinho. Após a
ceia, seria projetada num lençol preso a uma das paredes de uma caserna
descativada, uma película cinematográfica, cujo tema estava mesmo a conduzir: O
Homem das Pistolas de Ouro.”
Através das comunicações militares
tem a boa notícia do nascimento da sua segunda filha, cujo acontecimento foi
festejado por todos os militares.
A última e quarta comissão é
repetir a primeira, Angola, de 1972-1975, como capitão e mais tarde major,
oficial do OI do Batalhão Caçadores 3870 e 3ª Rep/ZMN.
Em 1976-1977 frequenta o CGCEM
(Curso Geral Chefe Estado Maior), em Pedrouços.
Em 1986 foi promovido a Coronel e
é nomeado Segundo Comandante do Regimento de Infantaria de Castelo Branco, e
entre 1987-1991, Comandante e entre 1991-1992, Chefe do Distrito de Reserva e
Mobilização de Castelo Branco.
Condecorações Militares tem
averbadas Medalha de Mérito Militar de 1ª.2ª e 3ª Classes, Comportamento
Exemplar de Ouro e Prata; D. Afonso Henriques, Patrono do Exército, 2ª Classe;
Comemorativas de Angola e Guiné, com as respetivas legendas; doze louvores,
oito de General, dos quais quatro são do General Chefe do Estado Maior do
Exército.
Em dezembro de 1991, tem a reforma
antecipada, pela Lei nº15/92 e como civil, durante os anos de 1993 a 2002 foi
representante da Prevenção Rodoviária Portuguesa, na Comissão Distrital da
Segurança Rodoviária de Castelo Branco.
Perdeu-se talvez um grande e
competente médico humanista, mas a sociedade portuguesa ganhou um grande
militar, bom, simples, honesto, humano, solidário, que prestou muitos serviços
à Pátria, nunca esquecendo os seus comandados e subalternos.
Este texto é uma homenagem póstuma
a um amigo, que no dia 28 de agosto, em Castelo Branco, partiu para a perpetua
comissão.
Fernando de Almeida"