O NATAL ... ONTEM !
Fazia frio, às vezes chovia, era noite.
Horas perdidas no tempo, ao frio e à chuva.
Brinquedos de Natal.
Nariz esborrachado no vidro da montra.
Olhos de felicidade.
O combóiinho passava.
Carruagens atreladas umas às outras…..
Ora apareciam, ora desapareciam…..
Escondiam-se. Voltavam a aparecer.
Deslumbrante!
Aviões presos com fios. Parecia que voavam!
Bonecos, bonecas e palhaços.
As motas e os carrinhos em alumínio.
Vermelhos, pretos. Alguns brancos e amarelos.
O presépio com peças em movimento.
Era fascinante!
Em casa
Não havia computador nem televisão.
Nem aquecimento central.
Havia o rádio. Nalgumas casas.
O pinheirinho lá num canto. Em cima de uma mesa.
Pinheiro do monte.
Muito algodão, fios e figuras em papel prata coloridos.
Pendurados e adornando lá estavam
Os cigarrinhos, quatro motas, quatro violas,
Quatro relógios, quatro coelhinhos e
Um Pai Natal. Tudo em chocolate.
Intocáveis até aos Reis.
Na noite de Reis era desfeito o pinheirinho.
Era feita a repartição.
Espaço de tempo interminável. Aqueles chocolates……
Tocava neles. Que vontade de arrancar uma viola!
Não! Os rituais são para ser cumpridos.
Na base do pinheiro, simples figuras toscas
Sobre o musgo da encosta
Simbolizavam o nascimento.
O fumo e o cheiro abundavam
Era um fumo bom, agradável
Fumo e cheiro aquela noite
Cheiro e fumo de abundância.
O pinheirinho era feliz.
Nós éramos felizes.
À mesa
Uma noite igual a tantas outras
Diferente na azáfama e nas regras
A família estava mais presente
Era uma noite de sentimentos
Sentimentos de família
Sentimento de alegria de solidariedade e de partilha
As crianças eram o mundo
Era uma noite condescendente.
O bacalhau, as batatas, o nabo e a hortaliça ajudavam
Os bolos de bacalhau
O vinho igual ao de todos os dias
As rabanadas, os mexidos a aletria o leite creme o arroz
doce.
Delicioso. Tudo era bom
Um cálice de”vinho fino”. Dava direito.
As nozes, os figos, as passas, os pinhões.
Às vezes, jogávamos as cartas
O rapa. Jogávamos aos pinhões
Com casca.
Vezes houve que fui à
missa do galo
A igreja era perto de casa
Era à meia noite. As doze badaladas.
O silêncio da noite era lindo
Ia com a minha avó.
O fogão já não dava calor
Estava quase frio
Era bom que arrefecesse depressa
O sapato queria dormir em cima
À espera do Pai Natal.
Apagavam-se as luzes.
Cansados de alegria a cama chamava.
Felizes.
Foi a noite de Natal.
De manhã o espanto
O pai Natal passou por aqui!
O sapato irradiava a felicidade que não conseguíamos
transmitir.
A curiosidade apoderava-se!
Não interessava o quê!
Fosse o que fosse era o selo do merecimento
O valor das coisas não se avaliavam pelo seu custo
Uns chocolates, umas nozes, uns pinhões. Às vezes uma
camisola.
Às vezes uma nota que oferecíamos de imediato à mãe e ao pai
Portei-me bem durante o ano
Era a recompensa de uma ilusão
Ficávamos muito gratos ao Pai Natal!
Não se podia exigir mais
Eram muitas as crianças que se portavam bem
Quase todas.
O Pai Natal era pobre
Nós também.
Ricos de alegria e felicidade
Compreensivos e agradecidos
António Cavaleiro
(dezº de 2010)
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