Ainda a passagem de ano de 1967/1968 - pelo Justo
Falar de Natais em Tite...
Francamente, com alguns pormenores não me lembro de nenhum
Natal a destacar, mas de uma grande ceia de fim de ano de 1967, primeiro ano do
nosso Batalhão em Tite, já sobejamente relatado e para mim e companheiro de apartment, Pica
Sinos, de triste memória!!!...
Aqui vai um resumo:
Como sempre no pouco que escrevia para casa (o que me dói
hoje pensar nisso) sempre tive o cuidado de compor o ramalhete sem pormenores
de guerra nem lamentos, o que a juntar á desinformação e habitual escondidinho
impostos pelo regime, tranquilizaria os pais, mau grado as saudades e o
afastamento.
Fotos sempre limpinhas e felizes, relatos sobre caçadas,
jogos de futebol (em que eu inábil nesse mister e devido a ter dois pés
esquerdos, nunca participei) e principalmente relatos dos muitos petiscos que
fazia-mos, o que até era pura verdade.
Numa das cartas da costumada pedincha que habitualmente
antecedia as saudades e os beijinhos, pedia entre outros, um daqueles medidores
plásticos de líquidos, porque já não lembro porquê, fazia-nos falta para as
petiscadas.
Creio que foi no Natal de 67, o Palma arrancou com a ideia
de se fazer uma festa com o maior número possível de pessoal, o Cavaleiro
encarregou-se do MENU, que ficou super giro e combinou-se que cada um dos
convivas arranjaria os comes & bebes
que entendesse para compor a mesa, sendo o lema; tudo para todos.
Foi mesmo um sucesso (tenho umas fotos que vou ver se
descubro).
Comeu-se e bebeu-se em substância, e as vitualhas apareceram
em quantidade e variedade. Vinhos e cervejas e creio que até houve um grupo que
fez uma grande sangria num tacho de ferro.
Nesse tempo, e antes da tropa, como Lisboeta de gema BA, já
tinha o vício dos petiscos e como, pouco a pouco, lá fui chegando a casa cada
vez mais tarde (durante anos apanhava sempre na Estação do Rossio o último
comboio, o das 2,25 h, o que adorava, pois apanhava todo o pessoal dos teatros
do Parque Mayer, no regresso a casa, depois da segunda sessão, com as lindas
coristas e principalmente com o MAX, que era um espanto de humor e boa
disposição.
Eu e o grupo bilharista do
Café Nacional, tinha-mos conta aberta, a pagar no fim do mês, nalguns tascos
conhecidos e eram jantaradas de horas. O dono era galego, e a oração era sempre
a mesma “si num pagas una vez, te corro com lo porro (pau)”.
Lembro-me do Bife do Luanda, do Relento de Algés e da
Trindade, embora este último já fosse puxado para os nossos bolsos.
Dessa ceia de Natal
em Tite, ainda hoje tenho no palato o sabor dos enchidos da província que a
maioria dos camaradas tinha pedido para casa. Não se via muito por Lisboa material
daquele...chourições, linguiças, alheiras, torresmos e sei lá que mais, em que
até a gordura era divinal.
Claro que queimei bem, pois o motor estava a aquecer com
tanto petisco de eleição...
Abreviando:
O tal copão plástico que tinha pedido para casa, estava-me a
servir de copo, e recordo que me deu um travadinha que comecei a deitar-lhe um
pouco de cada bebida da mesa??!!...e ato contínuo...em duas ou três
goladas...ficou vazio??!!....
A ceia, fez bastante sucesso no aquartelamento e alguns
furriéis e oficiais, depois das suas ceias nas messes próprias, vieram até à
nossa para continuar a petiscada.
Entre eles o Alferes Médico do Batalhão...que eu admirava
imenso.
Virei-me para ele de copão em riste e disparo: - É pá és um
médico porreiro, és de Lisboa??!!...e passados momentos, caio redondo no
chão??!!...
Pobre do Pica Sinos e do médico que me aguentaram creio que
dois dias, in extremis com coma alcoólico, resultado final da brincadeira do
copão.
Gostava de ter tido durante todos estes anos a oportunidade
de por feliz acaso reencontrar o nosso Médico.
Ao Pica, não há obrigados que cheguem...devo-te a vida
companheiro!!
José Justo.
(Novº2013)
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