Foi o nosso Batalhão que iniciou em 1967 a construção da Estrada de Nova Sintra, onde posteriormente foi instalado o quartel da foto.
Tivemos bastantes problemas, pois toda a estrada foi rasgada em zonas controladas pelo PAIGC.
Nós construíamos de dia e eles á noite destruíam todo o trabalho realizado.
Uma das grandes dores de cabeça do BART 1914, foi o trabalho penoso da construção desta estrada.
Não interessava nada ao PAIGC o espalhar de aquartelamentos das NT, porque:
Ficávamos a controlar mais eficazmente as povoações nativas das áreas em redor.
Diminuía-lhes zonas livres operacionais, ficando cada vez mais longe e difícil atacar os nossos quartéis mais importantes.
Sendo verdade que as tabancas junto da tropa, beneficiavam de vários factores que melhoravam a sua vida: Comércio, lavadeiras, comida, cuidados de saúde, medicamentos etc.
O PAIGC via fugirem as suas áreas de influência e recrutamento de guerrilheiros.
Dois tristes episódios dos vários acontecidos durante as obras da estrada de Nova Sintra:
Num dos primeiros dias de trabalho, era perto do meio-dia quando ouvimos no quartel um forte rebentamento ! pensando ser ataque, embora estranhando, pois nunca tinham feito ataques de dia !! desenvolveram-se os movimentos de defesa habituais. No entanto não se deram mais disparos ou rebentamentos.
Contactámos o pessoal da estrada e disseram ter havido um rebentamento, mas sem consequências.
Pensou-se ter sido mina anti-pessoal accionada por algum animal no mato.
Pouco tempo depois foi-nos comunicado via rádio, que vinha a caminho de Tite a auto-metralhadora Daimler com um ferido muito grave, que tinha caído numa mina ficando sem as duas pernas.
Relatado depois pelos camaradas do local, quando ele accionou a mina, ia distanciado dos outros, e com a explosão o corpo foi projectado pelo ar, caindo no capim, ficando oculto da vista.
Foram os gemidos que alarmaram os que o socorreram.
Antes de ser evacuado no Helicóptero, vi-o na enfermaria, o local onde estariam as pernas, parecia um “croquete”, pois o capim, com a descompressão, tinha-se fixado nos coutos mutilados...horrível...demorei muitos meses para deixar de sonhar com este pesadelo...maldita guerra !!
Outro episódio macabro, também durante as obras da estrada de Nova Sintra:
O calor da Guiné - mais de 40º a maior parte do ano - tornava-se a maioria das vezes insuportável. Quebrávamos um ovo no cimento dos passeios e ficava logo como omolete. Tomávamos banho de água fria, claro, e poucos minutos depois de limpos, estávamos de novo a transpirar.
Depois do almoço, e no período de mais calor, fazia-se sempre uma pausa até recomeço de tarefas. Na obra da estrada, finda esta pausa o condutor do Unimog (ou GMC?) entrou para a viatura, arrancou, mas sentiu uma resistência estranha e um solavanco. Parou, saiu da viatura para ver se tinha sido pedra ou coisa do género a obstruir, quando horrorizado, viu um camarada deitado no chão, a sangrar imenso, e o rodado no pneu marcado na cara...tinha-lhe passado com a roda por cima da cabeça !! O pobre do nosso camarada, foi dormir um pouco para debaixo da viatura protegendo-se do sol e calor, e não acordou quando o pessoal reiniciou os trabalhos.
Já no quartel, nunca vi cenas de tanto desespero do pobre condutor. Tiraram-se todas as armas da caserna e esteve vigiado até ir para Bissau, pois sabíamos que era indivíduo capaz de se suicidar com o desespero de, embora sem culpa alguma, ter morto um camarada.
------
Sobre Nova Sintra o Cap. PP contou-me um cena muito trágica. Dizia ele que recebeu ordens do Comandante do Batalhão para enviar todos os elementos de um dado pelotão para Nova Sintra. Um desses elementos era muito nervoso e a maior parte do tempo estava na cozinha como auxiliar pedindo ao Capitão para não ir pois tinha muito medo. O PP sabia que o rapaz falava verdade e voltou a pedir ao CMDT para não o mandar na operação, pedido que foi recusado com alguma veemência. Foi a única morte das NT em Nova Sintra até parece que estava à divinhar.
1 comentário:
Sobre Nova Sintra o Cap. PP contou-me um cena muito trágica. Dizia ele que recebeu ordens do Comandante do Batalhão para enviar todos os elementos de um dado poletão para Nova Sintra. Um desses elementos era muito nervoso e a maior parte do tempo estava na cozinha com auxiliar pedindo ao Capitão para não ir pois tinha muito medo. O PP sabia que o rapaz falava verdade e voltou a pedir ao CMDT para não o mandar pedido que foi recusado com alguma veemência. Foi a única morte das NT em Nova Sintra até parece que estava à divinhar.
Enviar um comentário