Naquela época, mesmo as pessoas mais incultas e menos informadas tinham conhecimento de que países como a França, a Bélgica, a Holanda e o Reino Unido tinham decidido descolonizar os territórios que ocupavam nas diferentes regiões do globo e facilitar às populações subjugadas o direito de serem livres e independentes.
Ainda hoje tenho dificuldade em compreender as razões que levaram o regime fascista que nos subjugava a não prosseguir o rumo natural da história!... A maldita guerra colonial não devia sequer ter começado!... Ainda hoje me revolta a despudorada frase de Salazar: “portugueses, estamos orgulhosamente sós!...” Não me restam dúvidas de que Camões, se fosse nosso contemporâneo, podia ter exclamado novamente: “Mísera sorte!... Estranha condição!...”
As consequências desta política desastrosa ainda hoje são visíveis e, ao recordá-las, quero prestar a minha sentida homenagem aos milhares de jovens que sofreram a morte na guerra colonial. Associo-me ao sofrimento de todos os mutilados, estendo a mão aos que estiveram em cativeiro nas diversas colónias e a todos os que ainda hoje transportam consigo as sequelas psicológicas de uma guerra a que o regime, teimosamente, chamava motins ou pequenos desacatos.
Com tais ditadores quem sofria realmente era o povo português!... Os jovens eram forçados a ir para a guerra. Os que ficavam eram obrigados a emigrar para fugirem à fome e à miséria e, desse modo, conseguirem alcançar um futuro mais risonho para eles e para os seus filhos.
Portugal nessa época era muito mal visto pela comunidade internacional. Éramos os aliados de Franco e tínhamos sido os colaboradores camuflados do regime nazi de Hitler. O nosso país era marginalizado e o nosso povo, na emigração, sofria as consequências, sendo tratado como se pertencesse a um país do terceiro mundo.
Isto não se podia manter por muito mais tempo!... Tornava-se urgente acabar com esta situação extremamente grave. Era imperioso dizer: “Basta!...”
Foi a partir deste descontentamento, revolta e mal-estar geral que se desencadeou o 25 de Abril. O povo estava farto e tinha ganho consciência política. Este estado de espírito abrangeu também os militares que, vitoriosamente, desencadearam a Revolução dos Cravos.
Só depois desta ocorrência é que o nosso país voltou a ser aceite pela sociedade internacional e hoje podemos afirmar: “Portugueses!... Estamos orgulhosamente com todos os países do mundo que respeitam os princípios democráticos!...Estamos com todos aqueles que respeitam os direitos e a liberdade individual dos cidadãos!... Estamos com aqueles que lutam pela paz e pelo progresso do seu povo!...”
É este o Portugal que sempre desejei na minha juventude. Hoje sinto-me feliz e realizado pois posso usufruir da tão desejada “liberdade”, pela qual tanto lutei mesmo pondo em risco a própria vida!...
Fernando Pessoa afirmou: “Valeu a pena? Tudo vale a pena / se a alma não é pequena.” Não posso concordar plenamente com ele. Aqueles três anos foram péssimos e de má memória!... A única coisa que me provaram foi que a resistência humana, tanto a nível físico como psíquico, é muito grande. O que vale realmente a pena… é viver em paz!... Viver em democracia no pleno gozo da liberdade e dos direitos humanos a que todo o cidadão, independentemente da cor, da raça e da religião, tem direito!...
António Júlio Rosa”
A todos os combatentes e colaboradores deste blogue a minha saudação neste dia tão importante para a nossa geração!Acabou-se a guerra colonial!Acabou-se a angústia de ver partir os nossos rapazes...e,é claro, ganhámos a liberdade de estar aqui a dizê-lo!Nunca é demais lembrá-lo às gerações seguintes que ,não tendo vivido esta época, não podem avaliar o que foi...para eles nós somos história...E os colegas bloguistas têm feito um excelente trabalho de recolha de testemunhos!Que maravilha poder usar estas novas tecnologias!cumprimentos bloguistas!
Já tinha lido no seu livro esta análise.Na altura comoveu-me bastante e contra minha vontade ao reler no teu Blog de novo "me fui abaixo".A lucidez de análise do ex-alferes Rosa é de registar.Merecem toda a sorte do mundo, não só pelo que penaram durante aqueles anos de cativeiro, mas pelos testemunhos que nos vão dando. Há que acordar e avivar as memórias curtas !!Para o Rosa e todos os camaradas, os meus respeitos e a minha amizade.
2 comentários:
A todos os combatentes e colaboradores deste blogue a minha saudação neste dia tão importante para a nossa geração!
Acabou-se a guerra colonial!
Acabou-se a angústia de ver partir os nossos rapazes...e,é claro, ganhámos a liberdade de estar aqui a dizê-lo!
Nunca é demais lembrá-lo às gerações seguintes que ,não tendo vivido esta época, não podem avaliar o que foi...para eles nós somos história...
E os colegas bloguistas têm feito um excelente trabalho de recolha de testemunhos!
Que maravilha poder usar estas novas tecnologias!
cumprimentos bloguistas!
Já tinha lido no seu livro esta análise.
Na altura comoveo-me bastante e contra minha vontade ao reler no teu Blog de novo "me fui abaixo".
A lucidez de análise do ex-alferes Rosa é de registar.
Merecem toda a sorte do mundo, não só pelo que penaram durante aqueles anos de cativeiro, mas pelos testemunhos que nos vão dando.
Há que acordar e avivar as memórias curtas !!
Para o Rosa e todos os camaradas, os meus respeitos e a minha amizade.
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