Foto do pessoal da CCAÇ 2314, enviada pelo companheiro EURICO GONÇALVES.
Obrigado amigo. Um abraço
Leandro Guedes.
33⁰ Almoço anual do BART 1914, em 15 de junho de 2024, no restaurante Vianinha Catering, em Santa Marta de Portuzelo. Organizador Daniel Pinto e seu filho Rui Pinto.
“Se servistes a Pátria que vos foi ingrata, vós fizestes o que devíeis e ela, o que costuma”
(Do Padre António Vieira, no "Sermão da Terceira Quarta-Feira da Quaresma", na Capela Real, ano 1669. Lembrado pelo ex-furriel milº Patoleia Mendes, dirigido-se aos ex-combatentes da guerra do Ultramar.).
-
"Ó gentes do meu Batalhão, agora é que eu percebi, esta amizade que sinto, foi de vós que a recebi…"
(José Justo)
-
“Ninguém desce vivo duma cruz!...”
"Amigo é aquele que na guerra, nos defende duma bala com o seu próprio corpo"
António Lobo Antunes, escritor e ex-combatente
referindo-se aos ex-combatentes da guerra do Ultramar
-
“Aos Combatentes que no Entroncamento da vida, encontraram os Caminhos da Pátria”
Frase inscrita no Monumento aos Heróis da Guerra do Ultramar, no Entroncamento.
---
"Tite é uma memória em ruínas, que se vai extinguindo á medida que cada um de nós partir para “outra comissão” e quando isso nos acontecer a todos, seremos, nós e Tite, uma memória que apenas existirá, na melhor das hipóteses, nas páginas da história."
Não
voltaram todos… com lágrimas que não se veem, com choro que não se ouve… Aqui
estamos, em sentido e silenciosos, com Eles, prestando-Lhes a nossa Homenagem.
Ponte de Lima, Monumento aos Heróis
da Guerra do Ultramar
Foto do pessoal da CCAÇ 2314, enviada pelo companheiro EURICO GONÇALVES.
Obrigado amigo. Um abraço
Leandro Guedes.
https://portocanal.sapo.pt/noticia/321404?fbclid=IwAR1Z3_rTlCgQjsY8x9dOoKBgaAybPtPNS9s9Dyd9r-yNUmOKhcs_l2soNi0
Video do Historiador Joel Cleto , do Programa Caminhos da História, Porto Canal, a quem agradecemos.
Meu caro Fernando, um abraço de parabéns neste dia do teu aniversário.
Que contes muitos com saúde e bem estar junto dos teus.
Parabéns.
Leandro Guedes.
Caros amigos
Com o objetivo de tornar mais barato o preço dos almoços,
seria bom que cada um facultasse o seu e-mail, ou dum filho ou dum neto, para
que se pudesses enviar a convocatória para os almoços. E depois levam ao almoço
em Maio.
A convocatória deste ano ainda vai pelo correio, mas no
futuro vamos experimentar esta solução, se estiveram de acordo.
Obrigado pela colaboração.
Relembramos o almoço do ano passado.
O almoço deste ano já está a andar.
Aguardamos noticias dos organizadores.
Um abraço.
Segundo informação do Raúl Soares , FALECEU O MANUEL VILAÇA, da Cart 1743.
Oportunamente dará pormenores do velório e funeral.
Os nossos sentidos pêsames à familia.
Paz à sua Alma.
Bom dia
Acabei de saber o seguinte:
Funeral amanhã ás 11:00 horas, na igreja de CELEIRÓS. O
corpo vai hoje cerca das 18 horas para a Casa mortuária, junto da igreja.
Abraço
Raul Soares
Dia 11 de Fevereiro, dia mundial do doente.
Neste dia lembramos os nossos amigos, companheiros,
familiares e visitantes, que se encontram doentes.
Para todos eles os nossos votos de boas melhoras, na certeza
de que os temos sempre no nosso pensamento.
As vossas melhoras.
Leandro Guedes.
O Poema do Luis Manuel Dias.
"AOS AMIGOS
(Camaradas do BART, Companhias, Pelotões, Secções e Serviços
Associados)
Amigos
Que deveras prezo, atendei vos peço.
São uns poucos minutos,
A ler-vos esta homenagem, em verso:
Aos Camaradas da árdua, espinhosa saga,
Companheiros nas esforçadas lides africanas,
Onde ali nos vimos em palpos de aranha,
Frequentemente enrascados, senão enganados…
Aos que no mato caminhamos,
Por bolanhas ou perigosas veredas da selva,
Desterrados fomos no verde e rubro chão da Guiné…
Aos que por bem, afoitos, prestáveis, os primeiros foram,
E aos que demais ajudaram, os socorreram…
A TODOS saúdo, aqui Vos dou as boas-vindas.
.
Aos Camaradas que, pela morte, se foram…
- À memória deles rezo!... – (silêncio, recordação…)
E por nós, nas preces minhas requeiro
Ao Nume Supremo nosso, ao Ser Divino e Puro,
Nos dê, na hora última, suave e breve termo!
E nos livre do inferno – que é esta vida de agora!...
É que a nós, sem remédio, nos bastou já o de outrora!
Da vida, as idas e voltas, numa bolina, de ar fero,
Sempre a sentimos, às costas…
À megera, má, insofrida!
.
À chuva, em desabadas, vivemos.
Com ventos, brutais trovoadas luminescentes,
Ou sob um Sol, tórrido, inclemente,
Numa mescla de húmido e quente,
Que molhados fazia sempre estarmos,
Suportamos o que nem era de gente!
.
A “estância” lá, mau grado tão grande mal,
Um pretexto serviu e bem: TODOS, CADA QUAL,
Fizemos crescer em nós a bela flor matinal,
Em cada dia, na selva, na lama ou na picada!
A luzidia flor da AMIZADE, entre toda a rapaziada,
Pela qual, ano após ano, inda juntos comemoramos!
.
Tanto foi, o suor em sangue feito…
Preito é lembrar! E vem hoje a preceito…
O mór deixámos, na Guiné!
Que nos sirva de memento!
.
Seja, o que ora enfrento,
De bela, sentida, grata recordação,
Que sadio convívio, festivo almoço, a jeito.
Confabulamos, trocamos mil impressões…
Viemos de vários espaços, para cá chegarmos.
Enfim, para reunidos estarmos.
.
Não que nos mirre o bocado
No prato, ou no bornal.
É que, na mente de todos,
Vibra um desejo final:
Amigos, Camaradas, se assim aqui estamos,
Na Titenha terra deixamos Amigos Veros, por sinal.
Gente boa, tantos, os africanos.
Disso sei. Tenho noção.
Connosco p’ra valer ficaram
E bem, no coração!
Luis Manuel Dias
"
O José Justo, como sempre, pôs as suas qualidades artísticas na criação dum belo emblema a festejar as 700.000 visitas ao nosso blog..
Ele sabe que é uma data que diz muito a todos nós, pois foi
através do Blog que alguns de nós nos reencontramos e aqueles que por algum
motivo não apareceram ao chamamento, uns é porque a saúde não lhes permite e
outros porque continuam "zangados" com a guerra... Mas não acham que
estamos na idade de refazer velhos tempos?...
Para festejar esta data, publicamos a seguir duas cartas escritas pelo Costa no
momento do reencontro, Escritas com muita sinceridade e sentimento. Obrigado
José Costa.
Depois publicamos um belo poema que o Luis Dias criou para
todos os seus amigos da guerra, e que
leu durante um almoço anual, salvo erro no Entroncamento.
Obrigado Luis Manuel Dias e José Costa e José Justo pela
vossa sensibilidade e entusiasmo pela companhia de todos nós.
Bem hajam.
------------------
"O Reencontro
Eh pá!! finalmente dou com vocês!!
Que grande alegria que o amigo Leandro Guedes me deu há
dias, quando encontrou um anúncio meu colocado na net há muito tempo que já nem
me lembro. Sempre tentei procurar em tudo o que eram anúncios de convívios,
inclusivé sou sócio da Liga do núcleo do Porto e na revista nunca lá encontrei
nada. Mas pronto esse dia para vos dar um abraço e "por" as memórias
em dia vaí chegar agora em Maio no almoço.
Eu lembro-me perfeitamente desse dia que nos encontramos no Porto.
Recordo-me que ias a uma reunião do Sindicato. Depois disso, um dia voltei a
ver-te na TV num evento qualquer e depois nunca mais. Mas, volta e meia vinha á
minha memória essa rapaziada, de que me lembro além de ti, o Justo, só agora ao
ler no site me apercebi de uma situação delicada que ele está a viver, ele já
me respondeu e eu vou respnder. Então essa foto que me envias agora, eu também
a tenho. As pessoas são: Ao volante és tu, a seguir eu, à minha direita, não
lembro o nome, mas era nosso íntimo e era escriturário na secretaria em frente
de nós, pessoa defino trato e muito calmo.Depois temos o Palma, que se armava
em dono das balas quando queriamos ir à caça das rolas, e o da manivela, não me
lembro do nome, mas era infermeiro foi um dos primeiros a chegar à Parede e
vivia alí para os lados de S.Pedro do Estoril, cheguei a ir com ele nessa
altura a casa dele. Vivia só com uma avó, se a memória não me atraiçoa. Era um
tipo porreiro muito vivido e rebelde, chegou a estar preso aí em Tite por um castigo
qualquer.
Tomei conhecimento no Blog, que o amigo Heitor já cá não
está. Grande saudade, tenho muitas fotos com o cão dele antes do embarque.
Ainda tenho a marca de uma costura de 4 pontos feita por ele e a recordação dos
comprimidos LM que sempre estavam disponiveis para qualquer exaqueca.
Eu continuo a viver em Ovar, continuo no ramo de tintas e
vernizes, mas a trabalhar por conta própria desde 1983. Sou viúvo desde Janeiro
de 1993, tenho uma filha de 36 anos e uma neta de 11. Tanto a minha filha como
o genro trabalham comigo. Depois de enviuvar, refiz a minha vida com uma
senhora, mas da qual já me separei, depos conheci uma Brasileira mais nova 21
anos que eu, mas de momento estamos separados.
Entretanto tenho corrido o Mundo sempre na coboiada com amigos
e amigas, junto uma foto no Dubai no ano passado, e assim já podes ver a
transformação por que passei (ou passamos em 41 anos!)
Já vou longo, entretanto vou dando notícias
Um grande abraço bem apertado
Zé Costa
-------
Quero agradecer…
É uma sensação tão
agradável...Cresce onde sementinhas são lançadas, floresce sob o sol. De um
coração caloroso e bom, cresce mais quando é cuidada. Quase todos temos motivos
para a gratidão, quando pessoas em nossas vidas têm tempo para partilhar e nos
fazer saber por bons actos que nós estamos em seus pensamentos e que elas se
importam. Vem isto a propósito dos testemunhos que recebi de muitos vocês nesta
quadra natalícia (2010) e que por felicidade quis o destino que eu nascesse
neste dia lembrado que é o NATAL.
Quero agradecer a todos sem excepção o carinho que me
dispensaram e também a placa, o que me deixou algo comovido pois fez-me
recordar o célebre jantar de consoada em Dez/68 na arrecadação do Palma. Como
dizia, quero agradecer pela lembrança do meu aniversário e por terem dividido
comigo a felicidade deste dia.
Vocês são pessoas muito especiais pra mim, pessoas que eu
amo muito e que nunca me esqueci neste 40 e muitos anos.
Desejo muito que Deus cuide de cada um e sustente suprindo
todas as necessidades, sendo a essencial a saúde.
Muito obrigado mesmo!
Um grande abraço
José da Costa.
BISSASSEMA
Após o diálogo estabelecido com os três militares da CART 1743, em Conacri, Amílcar Cabral dá conta em comunicado escrito em francês, datado de 19 de Fevereiro de 1968, da identificação destes novos prisioneiros de guerra.
Exatamente seis meses depois do episódio da Tabanca de Bissássema, ou seja, em 3 de Agosto de 1968, Amílcar Cabral faz aos microfones da «Rádio Libertação», a sua emissora, nova referência aos prisioneiros de guerra do PAIGC. Por deferência deste, as palavras do seu secretário-geral foram gravadas em fita magnética, bem como as declarações de oito militares portugueses feitos prisioneiros nos primeiros seis meses desse ano, e retransmitidas em Argel, na rádio «A Voz da Liberdade», emissora da FPLN/Portugal [Frente Patriótica de Libertação Nacional]. O conjunto desses oito depoimentos foram editados no Caderno 1, da responsabilidade da FPLN, com o título “falam os portugueses prisioneiros de guerra” [vidé P16172]. [Infogravura nº 2]".
"Treze meses depois, em 3 de Março de 1969, António
Rosa com mais dois prisioneiros de guerra, António Lobato e José Vaz, levam à
prática um plano de fuga pensado entre si, sendo recapturados ao fim de seis
dias. Na sequência dessa evasão mal sucedida foram transferidos para um novo cativeiro
em Conacri [vidé P2095 e P7929]. [Infogravura nº 1, reproduzida acima[,
("Operação Mar Verde" decorreu entre 20 e 22 de
Novembro de 1970 durante a Guerra Colonial. Apesar de não ser reconhecida
oficialmente pelo Governo, foi ordenada por António de Spínola, Governador e
Comandante Chefe das Forças Armadas da Guiné-Bissau, comandada no terreno por
Alpoim Calvão, com o objetivo de libertar os prisioneiros de guerra
portugueses, em Conakry).
Vinte e sete anos depois, numa iniciativa do semanário
«Expresso», foi possível reunir em Lisboa, dezasseis desses prisioneiros. Na
capa da «Revista do Expresso, n.º 1.309, de 29 de Novembro de 1997, é possível
identificar, com a seta amarela, o Geraldino Marques Contino, camarada que
esteve no centro deste trabalho de pesquisa [Infogravura nº 4]. O texto da
reportagem é da autoria do jornalista José Manuel Saraiva.
(texto de Jorge Alves Araújo, furriel milº, a quem agradecemos.)
BISSASSEMA
Caros amigos.
Em Fevereiro de 1968, os nossos amigos
prisioneiros pelo PAIGC na madrugada de 2 para 3 do mesmo mês, alf Rosa,
Contino e Capítulo, estavam no fim do sexto dia de caminhada pelas matas do sul
da Guiné, precisamente no temido corredor de Guilege.
Ao sexto dia de marcha pela mata, iriam passar a fronteira para Guiné-Conakry a
caminho da prisão.
São estes últimos quilómetros que o alferes Rosa aqui
descreve em seis páginas, na companhia dos seus dois companheiros de infortúnio
e dos guardas/combatentes que os
acompanharam desde o inicio do aprisionamento em Bissassema.
Muitos parabéns ao Bernardino Almeida, "o Cabito".
Completa hoje mais um aniversário.
Muita saúde amigo e tudo de bom para ti, junto dos teus familiares e amigos.
Um forte abraço.
Leandro Guedes.
BISSASSEMA
As consequências operacionais, do aprisionamento dum
Operador Cripto - neste caso o Contino. Pelo Raul Pica Sinos, embora
escrito no Diário de Tite do José Justo,
que pode ser consultado no nosso blog bart1914.blogspot.com
"Em sede, disse que os operadores de cripto eram três,
durante algum período de tempo assim foi, deixou de ser quando o Continuo foi
capturado. Não sei se ele sabe, mas derivado à situação, imediatamente, numa
mensagem classificada como secreta e de prioridade zulu, mandamos,
justificadamente, a todos os operadores no território (da Guiné), alterar o
sistema de cripto vigente para o sistema alternativo. No dia seguinte tivemos
como “visita” o Comandante da Cheret sitiado em Bissau, a cumprimentar-nos,
inteirar-se pormenorizadamente da situação e sugerir ao Comandante da Companhia
um louvor disciplinar, como mais tarde veio a acontecer.
O tempo passava vagarosamente, os dias parecem não ter
“horas”. É hoje, é amanhã que seremos atacados? Quando é que chega de Bissau “frescos”
em condições de se comerem? Não querias mais nada, come vianda (arroz) , diz
um, vai à merda, diz outro. O Furriel Cavaleiro, procura dedicar mais tempo aos
trabalhos do Centro de Cripto, ajudando-nos nas tarefas do dia a dia, na
conferencia e na distribuição do material cripto pelas Companhias Operacionais,
situadas em outras localidades na região operacional de Tite, etc. O elemento
em falta jamais foi substituído até ao fim da comissão. E aqui chegados:
A história repetiu-se com a chegada dos “periquitos” com a
sua bagagem que nos vinham substituir………………… Quem são os Criptos?† Quem são?
O embarque para Lisboa é efectuado a 3 de Março de 1969, no
mesmo navio, com a chegada a nove de Março."
Raul Pica Sinos
nota - a propósito, há muito que o Contino nada diz. Será
que ele está bem?
BISSASSEMA
Caros companheiros e amigos.
Naquele tempo, no dia 7 de Fevereiro os prisioneiros já iam
no quinto dia de marcha pelas matas do sul da Guiné, ao que se sabe, bem perto
de Tite. Estavam quase a percorrer os tais 200 kms que o furriel milº JORGE
ALVES ARAUJO, refere na sua crónica.
Na falta de qualquer depoimento do Victor Capitulo, vamos
hoje publicar o depoimento escrito do saudoso alferes Julio Rosa, que faz parte
do capitulo PRISIONEIRO!... desse mesmo livro, que ocupa a página 63 à pag 75.
É um relato na primeira pessoa e por isso optamos por fotocopiar as treze páginas do seu livro MEMÓRIAS DE UM PRISIONEIRO DE GUERRA.
Escrito ao pormenor, onde dá conta das suas fadigas, os seus receios, os seus anseios, os seu pensamentos e por vezes o seu desalento.
Para os amigos que têm o Livro não será novidade, mas para aqueles que o não têm ainda vão a tempo de conhecerem como foram os dias de penosa marcha dos amigos Rosa, Contino e Capitulo, no inicio do seu cativeiro.
BISSASSEMA
Ainda no quarto dia de caminhada pela mata, um alferes
operacional e dois operadores de transmissões (um cripto e um radio
telegrafista), eram preocupação de todos em Tite, mas especialmente do comando
e da arma de Transmissões.
É um pouco dessa preocupação que aqui se relata.
Quem tiver curiosidade em saber algo mais, consulte o blog
do Bart1914 www.bart1914.blogspot.com
e clique na Etiqueta onde está o Diário de Tite, do José Justo
Transcreve-se aqui um trecho do diário do José Justo, também
ele das transmissões. A grande preocupação destes militares, eram os “segredos
e códigos” de que estes homens eram conhecedores.
Tite 05 de Abril de
1968................3 da manhã no Centro Cripto pág 5 de 7 Tanto se passou
desde a última vez que me dediquei a fazer mais um pouco de simples prosa no
meu “Diário”. Muitas novidades, muitos feridos e mortos, muitos costumados
pesadelos... Não posso deixar de recordar a madrugada do dia 3 de Fevereiro de
68. Foi o dia fatídico de Bissassema. O dia em que mais ainda me fez sofrer...
Já muito vi n’um ano de Guiné já vi a morte algumas vezes marcar presença a
poucos metros, mas nunca tive tão apavorado como daquela vez. Volto em
pensamento à noite de 2 de Fevereiro... Estava no posto de rádio a jogar o meu
pseudo Ping-Pong (bola contra a parede do posto de rádio) que normalmente me
retinha por uns momentos ocupado, quando o furriel Cavaleiro entrou bastante
excitado ??!! Disse-me. – Justo, está quieto com isso, pois ouvem-se fortes
rebentamentos na direcção de Bissassema e é provável que seja ataque à nossa
malta de lá. Saí, e de facto comprovei os medonhos rebentamentos, trazidos por
vento favorável. Tanta vez tinha-mos ouvido esta “música” que já não era de
maneira nenhuma uma novidade, mas dessa vez causaram-me forte impressão, pela
enorme quantidade e por ouvirem-se com uma nitidez impressionante, o que não
era natural, mesmo com vento favorável, pois Bissassema ficava a mais de 15
kms. Logo o pressentimento de que algo de anormal se passaria, me assaltou,
recordo que me senti bastante estranho, facto que me admirou por ser tão forte.
Não parecia uma simples flagelação, mas mais um fortíssimo ataque. Uma longa
hora durou o pandemónio a que assistimos sem qualquer notícia, ou comunicação
via rádio que nos fosse benéfica. O contacto via rádio era praticamente
impossível, pois os DH5 só eram ouvidos durante o dia e à noite deixavam
completamente de se ouvir. Depois de findos os tramites normais em casos de
ataque (tentativa de reforço, comunicação por mensagem Zulu (grau máximo de
prioridade via rádio) para Bissau, tentei finalmente dormir. Não consegui com
facilidade conciliar o sono, embora me sentisse exausto. Pensei em coisas
horrorosas o que contribuiu para mais dificilmente ainda conseguir a
tranquilidade mínima para conciliar o sono Hora e meia, tinha durado apenas o
meu sono. Acordei com o barulho provocado pela entrada de roldão do alferes
Carvalho pelo nosso quarto dentro, n’uma excitação que na altura não
compreendi. Falava, ou melhor , gritava ordens, pragas e gesticulava imenso.
Poucos minutos bastaram para me aperceber do que se passava. ...Bissassema
tinha sido tomada e ocupada pelas tropas do PAIGC, e a s nossas forças
retiraram desordenadamente em consequência de numeroso grupo do IN, que tinha
atacado com uma força e efectivos enormes. Tinha-mos sido avisados pelo Gomes
Furriel de TMS, que tinha ido bem como o Contino Op. Cripto e o Capitulo
Rádio-Telefonista, formar a secção de TMS e Cripto no destacamento para
contacto com o nosso Batalhão. Dar um exemplo do aspecto do Gomes é dificil.
Branco, mortalmente branco, tremendo e mal conseguindo articular as palavras
que lhe saiam inaudíveis, conseguiu por alto relatar alguns pormenores do que
foi uma das piores derrotas militares sofridas pelas nossas forças. Pelas
primeiras impressões, temia-se que tanto o Contino como o Capitulo tivessem
caído nas mãos dos “turras”. Mais tarde tivemos a confirmação, quando de manhã
começaram a chegar os que tinham conseguido iludir a vigilância dos
guerrilheiros e puderam regressar a Tite. Chegaram fugidos ao Enxudé, vindos da
vários caminhos, pois poucos conheciam o caminho exacto, tendo também que
evitar caminhar em direcção que lhes fosse desfavorável por levar a
acampamentos do IN. O que vi quando ao procurar noticias de tudo e todos os
camaradas, será uma imagem que nunca mais esquecerei. Rostos que tinha visto
sorrir, estavam marcados pelos vincos profundos da dor, do desespero e
desanimo. As lágrimas que lhes vi na face, os olhos vermelhos e inchados,
cobertos de lama e na maioria descalços e rotos, parecendo figuras de filmes de
terror, com forças apenas para agarrarem desesperadamente a G3, a sua própria e
única salvação para manter a vida, quando em redor somente a morte. Para mais
esses, que vi entrarem à porta de armas do quartel de Tite, na manhã de 3 de
Fevereiro de 1968 vão as lágrimas que não derramei, mas que verdadeiramente
senti...
“3 Fev 68 – Ataque
Bissassema Resultado da operação feita na véspera em que fizeram parte CCAÇ
2314; CART 1743, Pelotão Sapadores da CCS e 3 pelotões de milícia nativa. Em
consequência do forte ataque o IN ocupou Bissassema, caindo prisioneiros o
Contino, Capitulo e Alferes Rosa. Na retirada desapareceram o Furriel Cardoso e
um Sargento da milícia de Tite. Mais tarde o Sargento foi encontrado morto no
Rio Geba. O cadáver foi recuperado sendo impossível o mesmo no que respeita ao
Furriel Cardoso do Pelotão de Morteiros. Foram ouvidos na rádio Konacry (rádio
oficial e de propaganda do PAIGC, situada na República da Guiné) o Contino, bem
como o Alferes Rosa e o Capitulo. Em vários ataques posteriores à reocupação de
Bissassema pelas nossas tropas, foram mortos 22 guerrilheiros e apanhado
diverso material de guerra. Um ferido IN veio para Tite, tendo morrido dias
depois em virtude dos ferimentos”.
Zé Justo
Naquele tempo… estávamos já no dia 6 de Fevereiro, ainda em
território da Guiné/Bissau e os nossos companheiros tinham já nos pés quatro
dias de caminhada pelo mato, sempre a pé
e com pouco descanso. A incerteza, a angustia e o receio inundavam as suas
cabeças. Pensavam que de um momento para o outro podia aparecer alguém que lhes
desse um tiro .
Sempre atento, o Pica não descansou enquanto não se
encontrou com o Geraldino Contino. E é a conversa que ambos tiveram nesse encontro,
que aqui reproduzimos. É uma conversa dramática, real, contada na primeira
pessoa que agradecemos aos dois terem-na partilhado connosco.
Um abraço para ambos!
“AS MÃES SÃO IGUAIS EM TODO O MUNDO...
Na pequena, mas importante, vila do concelho de Almada que,
dá pelo nome de Trafaria, localizada na margem esquerda do rio Tejo, a cerca de
3 quilómetros da foz, vila onde estava situado o antigo quartel do BRT
(Batalhão de Reconhecimento das Transmissões) que incorporava o Centro de
Informações e Segurança Militar com vistas à formação, entre outras, da
especialidade em Operadores de Cripto, especialidade comum à época aos
protagonistas deste apontamento, foi o local escolhido para o almoço/encontro
de confraternização entre a minha pessoa (entre outros) e o ex-1.º Cabo
Geraldino Marques Contino.
Há anos que procurava este acontecimento, não só para matar
saudades, mas também para satisfazer curiosidades não só da minha pessoa, como
de muitos que viveram o drama, aquando da captura do entrevistado em Bissássema,
na região de Tite, em Guiné-Bissau, e nas prisões em Conacry. (**)
Recordo-me, em Tite, no Centro de Cripto, nos dias que
trabalhei com o nosso convidado, era comum vê-lo transportar um livro debaixo
do braço. Nos pequenos momentos de descanso, não deixava escapar duas ou três
linhas de leitura.
Havia dias que também gostava, como os demais, de se vestir
de forma despreocupada. Ainda hoje confessa que não sabe a razão porque foi
“brindado”, pelo ex-capitão miliciano Paraíso Pinto, com 5 dias de detenção,
justificados porque… o chapéu de palha e os sapatos de pala que trajava
(naquele dia), não conjugavam com o trono nu e com os calções do fardamento...
O ponto “quente” da nossa longa conversa, foi a sua captura
e a dos demais 2 companheiros (o Rosa e o Capitulo), em 2 de Fevereiro de 1968,
na operação que, dava, creio, pelo nome de “Velha Guarda”.
A Companhia de Artilharia [CART] 1743 a que pertenciam,
encetou a operação, em 31 de Janeiro de 1968, integrando num dos 3
destacamentos constituídos (um deles elementos da CCS), uma Companhia de
Milícias. O objectivo, era, na região de Bissássema, banhada pelo rio Geba, (na
sua frente a cidade de Bissau), aniquilar o IN, anulando o constante saque do
arroz e, o recrutamento dos jovens e das mulheres. Os primeiros para ingresso
nas suas fileiras e as segundas para servirem de carregadoras e cozinheiras dos
produtos pilhados. Consequentemente fixar elementos das NT na zona, não só com
vistas a proteger as populações, como conservá-las afectas.
Segundo conta o Contino, 2 dias após a chegada ao terreno,
pouco minutos a faltarem para a meia-noite, mais precisamente no dia 2 de
Fevereiro de 1968, (sexta-feira), um numeroso grupo IN, investiu em direcção ao
extenso e mal programado perímetro das nossas tropas, pelo lado do pelotão das
milícias. Estes não aguentando o ímpeto do ataque, acabaram por abandonar os
seus postos, permitindo abrir brechas na defesa do terreno e possibilitar o
cerco ao improvisado posto de comando.
A confusão surpreende as NT e, permite a captura dos
europeus [o Geraldino Marques Contino, o António Rosa e o Vitor Capítulo]
Acrescenta o meu convidado:
…nem mesmo a sua tentativa de se esconder de entre a manada
das vacas resultou…
Foram longos os dias e a distância efectuada a pé pelo mato.
Quando pelas tabancas passavam para descansarem ou
pernoitarem, eram sempre bem recebidos, em especial pelas “mulheres grandes” e
mães, que, ao vê-los feitos prisioneiros, não deixaram de lançar o seu olhar
misericordioso e de grande lamento, imaginando como seria o sofrimento das mães
brancas ao saberem que os seus filhos foram feitos prisioneiros.
…"As mães são iguais em todo o mundo!", remata o
camarada.
Julgo, conhecendo-o como o conheci no seu pequeno período de
permanência em Tite, a sua forma de estar, era de atitude ou algo diferente na
resposta à recepção dos naturais guineenses. Homem habituado aos usos e
costumes africanos, onde, desde os 3 anos de idade até aos 17 anos, viveu na
cidade de Luanda, em Angola, razão pela qual não se fez rogado em aceitar, por
uma ou outra vez, dançar e mesmo consentir o cumprimento dispensado por algumas
bajudas (, mulheres em idade de casamento).
Conclui, dizendo que até à fronteira de Conacry foi sempre,
como os seus camaradas, muito bem tratado, em especial pelo seu captor.
Os inimigos nunca souberam das suas especialidades e
patentes, inclusive teve o cuidado, durante a “viagem”, sem disso se
aperceberem [os seus captores], de comer o pequeno livro de cifra que na
ocasião transportava.
Já em Conacry, na prisão estatal, tomava as refeições, como
os demais, no refeitório, na presença dos elementos da direcção do PAIGC.
Diferente quando mudado para a prisão de prisioneiros de guerra e políticos.
Aqui as refeições não primavam pela qualidade, mas comiam exactamente o mesmo
que os seus carcereiros.
De tempos a tempos … lá vinha uma manga ou uma papaia…
Ofertas de agradecimento dos guardas carcereiros que, sendo analfabetos, lhes
pediam para escrever as cartas às famílias e ou suas namoradas.
De resto a maior parte do tempo era passado a jogar às
cartas, com baralhos construídos por si, em aproveitamento do papel de que eram
feitas as pequenas caixas de fósforos.
O Contino, depois de 30 anos de trabalho, como quadro
superior na TAP, já está reformado.
Raul Pica Sinos
"
INTRODUÇÃO
Publicamos este trabalho do Furriel Milº Jorge Alves Araújo,
com a devida vénia ao próprio e ao Blog de Tabanca Grande Luís Graça &
Camaradas, das Op. Especiais/Ranger, da CART 3404, de l971/1974 -
Xime-Mansambo.
A primeira parte
deste pequeno trabalho de investigação, partilhada recentemente neste espaço
colectivo (*), inicia-se com as consequências do ataque à Tabanca de
Bissássema, situada nos arredores de Tite, em 3 de Fevereiro de 1968, que antes
já tinha sido uma base IN.
OS DIABOS
Do ataque da madrugada desse dia, sábado, resultou terem
ficado prisioneiros de guerra três militares de um Gr Comb da CART 1743
(1967/69), «Os Diabos», que tinha recebido a missão de aí se instalar e onde
decorria já a construção de abrigos enquadrados na organização do seu sistema
de defesa.
Corolário desse
ataque continuado, intercalado entre maior e menor intensidade, alguns
guerrilheiros entraram no aquartelamento, lançando granadas e apanhando à mão o
António Rosa, o Victor Capítulo e o Geraldino Contino, os quais foram levados
para território da Guiné-Conacri.
Primeiro atravessando
a pé o corredor de Guileje (cerca de 200 km em 6 dias), seguindo depois até Boké em viatura. Aí
chegam à fala com Nino Vieira (1939-2009), e depois dirigem-se a Conacri onde
são recebidos por Amílcar Cabral (1924-1973).
Segue-se nova viagem até à “Casa Forte de Kindia”.
BISSASSEMA
As horas que se seguiram após o rapto dos nossos
companheiros da CART 1743, em Bissásema, naquela trágica madrugada de 2/3 de
Fevereiro de 1968, foram de extrema preocupação para todos os militares
sediados em Tite, sem sabermos o que lhes teria acontecido, se estavam vivos ou
maltratados.
Já muito se tem escrito sobre este trágico acontecimento
militar na Guiné, mas nunca é demais relembrar o que aconteceu e homenagear
aqueles que tanto sofreram.
Damos de seguida o testemunho do "Oficial de Dia"
em Tite, nesse dia 3 de Fevereiro, alf Augusto Antunes, já publicado neste
facebook, e também no blog bart1914.blogspot.com bem como no Livro de Memórias do BART 1914.
Após este relato de hoje, iremos também publicar testemunhos
dos três companheiros raptados - alf. Rosa, Contino e Capitulo.
Queremos ainda lembrar a morte em combate nessa noite
trágica, de dois companheiros - furriel Cardoso do Pelotão de Morteiros e
Sargento Milicia Manga Colubali.
De realçar ainda que o IN sempre ocultou até hoje, as perdas
humanas e de material que teve nos dias seguintes, em que sistematicamente
flagelou o destacamento de Bissássema, sem no entanto ter obtido êxito.
Um abraço ao alf. Augusto Antunes.
"Bissássema, o desastre - Memórias do Oficial de Dia...
"Memórias do Bart 1914 em terras da Guiné.
Um dia difícil de
descrever, mas para sempre recordar
Estávamos nos primeiros dias de Fevereiro de 1968. Um dia ou
dois antes, tinhamos tido a visita do Conjunto Académico João Paulo, um
conjunto de rapazes madeirenses muito apreciado na época, pelas suas músicas
que ficavam no ouvido da malta jovem.
Por essa altura os altos comandos do C.T.I.G., resolvem
fazer uma operação de limpeza e ocupação da tabanca de Bissássema, por constar,
devido a informações chegadas ás chefias, que os homens do PAIGC andavam por
ali a impôr as suas ideias e isso tornava-se deveras perigoso não só para Tite,
mas até para Bissau.
Assim, o comando do BART 1914 resolve desencadear uma
operação, já com alguma envergadura, convocando um vasto grupo de soldados,
cujo número não posso precisar ( talvez 70 ou 80 homens) onde estava um pelotão
da CART 1743 e dois pelotões de milícias, um de Tite e outro de Empada, mais
alguns homens do Pel. de Morteiros e das Transmissões, tendo como comadante o
saudoso Alferes António Júlio Rosa, (com pouco mais de 1 mês de comissão, pois
tinha chegado á Guiné em meados de Dezembro, do ano anterior) para não só
ocuparem a tabanca, mas também construir abrigos, para lá colocar em
permanência uma força militar para defesa da mesma.
A nossa tropa sai de Tite, salvo erro no dia 1/2/1968, ocupa
a tabanca sem qualquer resistência e começa de imediato a construção dos
abrigos previstos para aquele fim. Na noite de 2 para 3 de Fevereiro, estava eu
de oficial de dia ao BART, ouvem-se fortes rebentamentos, para os lados da
tabanca de Bissássema, que indiciavam que o pior podia estar a acontecer.
Tentámos contactos com a nossa tropa, via rádio, mas não tivemos qualquer
êxito. Ninguém nos ouvia e muito menos respondia. Meia hora depois o tiroteio
parecia ter acabado. Foi esperança de pouca dura, pois logo a seguir começou um
novo ataque, vindo mais tarde a saber que o IN tinha entrado pela tabanca
dentro, lançando granadas e semeando o pânico. Abalado com a explosão de uma
granada o Alferes Júlio Rosa e vários soldados foram apanhados á mão, levando o
IN também algum material de transmissões.
Aquela noite foi de uma angústia terrível, sem termos
notícias do que se estaria a passar. A tropa que tinha ficado em Tite, ficou
toda a noite em estado de alerta máximo, ávida por ter notícias, mas também não
fosse o IN aproveitar a ocasião, para
atacar o aquartelamento.
Com o amanhecer e aparecimento da luz do dia, começaram a
chegar ao aquartelamento de Tite alguns dos nossos soldados, lavados em
lágrimas, alguns esfarrapados outros semi-nus, uns com armas, outros sem nada
nas mãos, dando a todos os que os viram chegar uma imagem fiel e terrível do
sofrimento, por que tinham acabado de passar. Gostaria de mencionar o nome de
todos os nossos homens feitos prisioneiros, mas para além do já citado Alferes
Júlio Rosa recordo também o furriel miliciano do Pelotão de Morteiros 1208 de
seu nome Manuel Nunes Reis Cardoso, o 2º sargento da Companhia de Milícias nº
7, Manga Colubali e mais 3 militares da CART 1743 o Rosa, o Capítulo e o
Contino. Que me desculpem se faltam alguns, mas a minha memória já não dá para
mais.
Apenas e para terminar este meu pequeno texto dir-vos-ei,
que naquela altura chorei e muito e a imgem que tenho guardada na minha
memória, irá comigo para a cova, quando o Senhor entender, que chegou a minha
hora.
Ainda hoje sinto uma estranha sensação, ao recordar estes
acontecimentos.
Para registo, este foi um dos piores momentos por que passei
naquela terra.
Para todos vós um grande abraço de amizade e o grande
orgulho de vos ter tido por companheiros e camaradas daquelas campanhas.
Augusto Antunes
Alferes Miliciano"
Oficial de Dia, no dia 3/2/1968antossilva@gmail.com
---
Comentários no Facebook, acerca deste artigo.:
Amadeu Contige
Obrigado Alfreres Antunes pela recordação abraços amigo
---
Raul Dutra Goulart
Pertencia ao 1º pelotão da Cart.1743,(Furriel Miliciano),e
fomos nós que em1º lugar estivemos em Bissasema,com Milícias,e com a missão de
ocupar o espaço, construindo abrigos. Fomos substituídos pelo pelotão do Meu
Grande Amigo, Alferes Rosa, e ao chegar ao aquartelamento de Tite, informei os
meus superiores, que discordava, de ficar só um pelotão, e os milícias, a maior
parte, tinham a mauser. Passados uns dias aconteceu o referido pelo Alferes
Antunes, precisamente o IN, concentrou o fogo sobre os Milícias, que não
conseguiram aguentar, fugiram, e deu-se a invasão, fuga e prisões. Foi também o
meu pelotão mais as Milícias, e outra companhia, que saímos em socorro dos
nossos Camaradas, e ocupamos o terreno. Foi um choque grande, com tudo o que se
passou. Fomos também atacados, mas ressistimos. São estas e outras imagens, que
estão nas nossas memórias, até ao fim das Nossas Vidas, que muitos não
Respeitam.
---
Bart Tite - Guiné
Raul Dutra Goulart é verdade amigo, até ao fim das nossas
vidas. Abraço. Vamos continuar a publicar os depoimentos dos três prisioneiros
da tua companhia. Abraço. LG.
Caros amigos e companheiros
Ha 12 h atrás foi publicado por Angelino Santos Silva este
interessante texto com o titulo NÓS, OS
COMBATENTES, sobre a sua vivencia de combatente no sul da Guiné .
E um texto romanceado que retrata a realidade. Vale a pena!
Abraços.
Leandro Guedes.
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Angelino Santos Silva
■ NÓS, OS COMBATENTES
1. Porque é importante que falemos de nós.
2. Porque é importante que deixemos testemunho aos netos,
sobre o que fomos e o que somos.
3. Porque, se não o fizermos ninguém o fará,
4. Deixo-vos com um dos capítulo do romance,
5. NÓS OS COMBATENTES - 1961/1975,
textos que nos dizem respeito, porque todos fomos, todos
somos Combatentes, independentemente do posto, especialidade, província e local
de África onde vestimos uma farda ao serviço da Pátria.
6. Neste capítulo falamos da Guiné-Bissau – porque lá
fizemos a guerra – mas podemos falar de Angola e Moçambique, porque todos
passamos por situações semelhantes.
7. Para que entendam o capítulo, deixo-vos com a
SINOPSE:
Depois de dois meses de operações entre Cacine, Gadamael
Porto, Guileje e Gandembel, o comandante do quartel de Cacine informa o Alferes
António Ribeiro da Costa, que o seu grupo vai regressar a Bissau para se
apresentar ao Major Almeida Bruno, no palácio do Governador.
O grupo comandado por António é constituído pelo 2º
Sarg./Comando, Augusto Ferreira, quatro Furriéis, um Primeiro Cabo/Comando, 15
Soldados e dois Guias africanos, Domingos Sebastião de etnia Papel e Armando
Bacar de etnia Mandinga. Estes dois homens têm um considerável conhecimento
quanto à guerra no sul da Guiné e a cabeça a prémio pelos seus compatriotas do
PAIGC.
Depois da reunião com o Major, António está nos Adidos em
Brá e fala com o 2º Sarg. Augusto, sobre a nova missão…
MANSABÁ
▪ UM PEQUENO DESCUIDO…
.
- Amanhã de manhã partimos em coluna para a região de Mansoa
e vamos ficar por lá durante algum tempo.
- Mansoa? Há complicações por essas bandas? – Questiona
Augusto.
- O nosso destino será Mansabá. Primeiro, teremos uma
reunião com o comandante do quartel de Mansoa e só depois seguiremos para
Mansabá. Comunica aos Furriéis para que os homens levem ração de combate,
porque nunca se sabe se vamos precisar. Em princípio não haverá problemas e
chegaremos a Mansoa a tempo de jantar.
- Que faremos em Mansabá?
- Saberemos quando o Major reunir connosco. Almeida Bruno é
o Comandante Operacional da zona e pelo que me deu a entender, vamos ter uma
missão especial relacionada com a construção da estrada Mansabá-Farim. Pelo que
me informou, a frente das obras já se encontra a cerca de três quilómetros do
K3, ou seja, perto de Farim e o General Spínola pretende que terminem antes do
regresso das chuvas. Até lá, ninguém vai de férias. Quanto ao resto, saberemos
quando reunirmos com Major em Mansabá.
- Se é como dizes, a zona dever estar pejada de tropas.
- O quartel de Mansabá está a abarrotar e parte das tropas
tiveram que ficar em Mansoa. Há muita gente a proteger os trabalhos da
engenharia e duas panhards para protecção das colunas e a frente dos trabalhos.
A construção de estradas alcatroadas é ideia fixa do General
Spínola, que em Lisboa se bate por um programa de desenvolvimento de estradas,
que ligue todas as vilas a Bissau. Porém, o Governo Central nem sempre apoia as
propostas do General e na Guiné as obras fazem-se a um ritmo que desespera
Spínola.
No mato, a distância entre localidades não se mede em metros
ou quilómetros, mas sim, pelo tempo que demora a chegar de um local ao outro.
Deste modo e devido às características geográficas, fazer 10 quilómetros, tanto
pode demorar uma hora, como cinco ou seis, dependendo do terreno e também, se
estamos na época das chuvas ou na seca. De relevo plano, grande parte do
território é inundado pela maré alta, fazendo dos rios braços de mar, inundando
bolanhas e entrando pela selva adentro. A somar a tudo isto, um clima severo,
quente e húmido, estranho para um europeu, que agora se vê fardado, tentando
prolongar uma presença de 500 anos. Neste sentido, o projecto de Spínola tem
razão de ser, porque ligar com alcatrão, todas as vilas a Bissau, “será um
enorme passo para ganharmos a guerra”, argumenta, o Governador em Lisboa.
Voltemos ao grupo de António:
- E então... novidades? Que disse o Major? – Questionou,
Augusto.
- Calhou-nos a fava. Temos de organizar as colunas das seis
da manhã, entre Mansabá e a frente das obras, meter 900 a 1000 descapinadores
nos camiões e fazer a defesa imediata destes, durante a descapinagem.
- E temos de entrar na zona de desmatagem?
- Claro. Somos nós que os vamos proteger no imediato, em
caso de contacto.
- Quer dizer, além das minas, somos os primeiros a comer,
caso haja contacto de proximidade.
- Certo, mas não é muito provável, porque atrás de nós temos
as panhards que varrem de imediato os homens do PAIGC. Diz o Major, que por
vezes à chegada da primeira coluna, mandam meia dúzia de tiros para assustar os
descapinadores, que se atiram abaixo dos camiões e claro, daquela altura e de
catana na mão, muitos deles ficam feridos e não mais voltam ao trabalho. É isso
que pretende o PAIGC, que tudo faz para que a estrada não chegue a Farim. É a
guerra e seus interesses antagónicos.
- Certo. Vou então falar aos homens para que não se percam
na batota e se deitem cedo, porque amanhã a guerra começa às seis da madrugada.
- Sabes de que me lembrei agora? Nada tem a ver, mas veio-me
à ideia quando eramos miúdos e a construção da estrada da nossa aldeia à Sra.
do Salto, lembras-te? Eram máquinas com rodas de ferro e com fornalha a arder…
- Sim, lembro-me do cheiro quente e forte do alcatrão a
derreter. A minha mãe avisava-me que não me aproximasse quando estivessem a
regar com alcatrão, porque se me caísse em cima ficava sem pele.
- E os trabalhadores vestidos com fatos de lona ou borracha,
não sei bem, com galochas, luvas e chapéus largos e só me lembro da cor preta,
era tudo preto, tudo cheio de piche, como nós chamávamos ao alcatrão.
- Quando saímos da escola, íamos logo a correr para cheirar,
lembras-te? Eu gostava do cheiro do alcatrão a derreter. Gostava de ver a
fornalha acesa e aquela máquina de ferro com duas enormes rodas que apertavam o
cascalho.
- Ah… sim, os cilindros. Gostava de sentir o chão a tremer
quando apertava o cascalho. E depois, quando espalhavam o alcatrão a ferver. A
minha mãe também me dizia “não te aproximes, olha que as máquinas largam piche
e se te cair no corpo ficas logo sem pele”. Que tempos! Sim, que tempos! Olha,
foi da maneira que alguns arranjaram trabalho e ganhar mais algum. Dois moços
de lavoura de nossa casa, chegaram ao pé de meu pai e disseram, “Senhor
Marques, vamos deixar a lavoura e trabalhar para a estrada. Ganha-se mais e não
precisamos de trabalhar de sol a sol e aos domingos temos descanso”. O meu pai
ficou fodido e disse-lhes, “e depois, quando a estrada terminar, para onde ides?”
“Depois logo se vê… atrás duma estrada vem outra” responderam e lá se foram
para nunca mais voltar. Que tempos!
- Pois… que tempos! E agora estamos aqui de canhota na mão
tentando aguentar 500 anos de presença.
Se fosse possível ver a cara destes dois homens senhores da
guerra, dois meninos crescidos em corpo queimado pelo ar dos trópicos, cara
gaiata em pele cansada, apenas pelo olhar conseguíamos ver os meninos do tempo
em que o alcatrão fumegava. Num pequeno momento de ausência de guerra, há um
brilho nos seus olhos, agora dilatados pela recordação dos tempos de meninice e
ao mesmo tempo, conseguíamos perceber por algumas expressões, que além de boa
recordação, algo mais lhes bailava no sótão das preocupações: na guerra, por
muito que se queira, por muito que se disfarce, por muito que se sorria em
determinado momento de descontracção, para um observador atento, fica sempre o
registo de uma preocupação. De várias preocupações!
…
.- Repelente? Todos meteram repelente na mochila? Em
princípio nunca vamos dormir no mato e no quartel arranjamos mosquiteiro, mas é
melhor prevenir, principalmente os que, como eu, ficam com o corpo como as
chagas de cristo. Amanhã fazemos a primeira coluna por volta das seis, e todos
levamos “Ração de Combate”, porque a coluna de regresso nunca será antes das
16,00 h.
- Há mulher branca por lá? – Perguntou o soldado Paredes.
- No mato? Ou na engenharia? Não me digas que na Metrópole
estavas habituado a ir ao meio do mato. Foda-se, no grupo só dá machões! Já
pareces o Açoriano e o Caparica. No K3 não há de certeza e em Farim, talvez
sim, talvez não. Talvez haja alguma cabo-verdiana, mas duvido. Os comerciantes
não querem as suas filhas nas zonas do mato. Mandam-nas estudar para Bissau,
Cabo-Verde ou Lisboa. Pede ao Açoriano que te empreste a revista que trouxe
quando foi de férias. Em sua casa estava um irmão, emigrante na América, que
trouxe uma revista de gajas boas, chamada, playboy. Não existem na Metrópole
porque o governo não permite. Ainda não te mostrou? Tem mostrado a toda a
gente, mas não a larga da mão, nem por um segundo. Pergunta ao Caparica que é
especialista no assunto. Diz o Açoriano, que o seu irmão disse, que Portugal é
um atraso de vida. Na América toda a gente compra a playboy em qualquer
quiosque de rua. Contenta-te com a irmã da canhota e tira as mulheres da
cabeça. Lembras-te de Lamego? Lembras-te quando éramos apanhados à mão por
irmos a pensar na namorada? Pois meu menino, meus meninos, não devemos baixar a
guarda. Ao menor descuido a tragédia acontece. Com o passar do tempo pensamos
que dominamos tudo, pensamos que nada nos acontece e só aos outros o azar bate
à porta. Vamos para uma zona onde a guerra é diferente. É matreira! Está
escondida e é mais mortal. Um passo no sitio errado, uma mina, um toque num arame
e vamos pelos ares. Antes de cada passo, de cada gesto, é nesse passo e nesse
gesto que devemos pensar. Por isso, meus meninos, muita atenção e olhos bem
abertos. Noutra altura teremos tempo para pensar na morte da bezerra. Let´s Go.
Vamos conhecer os engenheiros e pedir-lhes que façam a estrada quanto antes,
porque temos as férias à nossa espera.
Angelino dos Santos Silva,
NÓS OS COMBATENTES - 1961/1975,
romance (em construção) sobre a Guerra Colonial Portuguesa
em África.
Combatente na Guiné-Bissau - 1970/71
angelinosantossilva@gmail.com
O que é feito do Melo, de Vila Fresca de Azeitão?
-
Publicamos a seguir o encontro do Joaquim Alberto de Jesus
Melo de Vila Fresca de Azeitão, com o Pica Sinos, em Abril de 2009. Texto do Pica Sinos, publicado
no Blog:
"QUANDO UM AVIÃO CHEGAVA O MELO JÁ ESTAVA NA PISTA
Oh Meelo…Oh Meeeelo, gritava o “raquetes” lá para os lados
do seu gabinete. Em passo de corrida lá ia o Melo…sim meu Comandante. …Já sabes
quando avistares um avião ou helicóptero a sobrevoar o aquartelamento, não tens
que esperar por mim, arrancas no jeep e vais para a pista… Mas um dia….
Joaquim Alberto de Jesus Melo, o Melo como o chamávamos em Tite (principalmente o Pintassilgo), para além da tarefa de sapador/soldador, acumulava a função de condutor do jeep do Comandante Relvas de Lima, tenente-coronel na época, (já falecido). O Melo, é natural da região de Azeitão, concelho de Setúbal, mais propriamente de Vila Nogueira de Azeitão. Azzeittum”, como lhe chamaram no passado os árabes, pelo facto de na região se encontrarem extensos olivais. Hoje também rica e afamada pelos seus produtos regionais, nomeadamente em vinho, com o seu majestoso moscatel, queijo (ovelhas) e doces (tortas), entre outros. Este nosso amigo e camarada, que nunca nos brindou com a sua presença nos almoços de confraternização, é casado, pai de uma Engenheira Agrícola e avô do Afonso que tem 8 anos. Trabalhou como soldador, durante 34 anos, na Rodoviária Nacional, já reformado faz uma “perninha” no apoio às corridas F1 em Motonáutica. Neste nosso encontro, em dia de Pascoa, no Fórum de Almada, foi breve a nossa conversa, mas em tempo suficiente para recordarmos velhas histórias e amigos que há largos anos não os vemos, a exemplo o José Simões, durante muitos anos seu vizinho, prometendo procurá-lo em Setúbal cidade para a qual se mudou. Oh Pica, lembras-te quando o Spínola nos visitou? Que grande foi a bronca e seria engraçado alguém saber contar o que se passou a seguir. Curioso, não interrompo: …Sabes o Comandante dizia-me: …Sempre que avistares um avião ou helicóptero a sobrevoar o aquartelamento com a intenção de aterrar, não tens que esperar por mim…arranca para a pista e faz o que tiveres para fazer. Pica, como sabes as ordens eram para cumprir, mas um dia, sem que alguém soubesse, trouxe da pista para o aquartelamento, nada mais, nada menos, o General Spínola que de surpresa veio nos visitar. Bom…só tinha um sítio para o levar que foi para a messe dos oficiais, exactamente num momento em que toda aquela “gente” sentada pelos sofás e, nas cadeiras que serviam de apoio ao bar, bebiam uns copos e riam a bom rir. Pica, não sei se a bronca foi grande, não perguntes como foi a seguir, porque não sei, mas seria giro que alguém nos contasse. .Nota- por meu intermédio o Melo fez questão de enviar um forte abraço para todos os amigos e companheiros de Tite, com os votos de Boa e Feliz Páscoa.
Raul Pica Sinos