Amigo, começaste a meter o pé na argola mais cedinho que eu, rapaz!!
Lembro-me bem dos “bailaricos”...Alunos Ápolo, Casa do Minho, Casa do Alentejo e outras, por onde um grupo do pessoal do Café Nacional gostava de cirandar aos fins de semana (agora é sem hífens).
Eu com a dança agarradinho, sempre tive o mesmo problema que com o futebol...os dois pés esquerdos!!...e daí tropeçar muito e passar a noite a pedir desculpa às damas pelas pisadelas!!
Safou-me a mim e muitos trengos como eu, o aparecimento do Twist...Uáu!! agora é comigo, chegou a minha hora, e que horas!!...foi a desforra!!
Aproveitei os anos de paralisia inábil dançante para congeminar uma vingança, que resultou num nunca mais parar nas tardes e noites de bailarico da casa do Alentejo casadoalentejo, pois era a casa que mais gostava, e que durante décadas frequentei.
Adorava passear-me por aquelas recantos e contemplar aquele primoroso estilo árabe puro Hispânico.
Cada vez que revia uma sala, sempre achava pormenores novos. Click no endereço que vale a pena.
Bons jantares de paparocas Alentejanas, e outras, sempre bem regadas e conversadas com os amigos, por vezes noite fora, embora pró escondidinho, mas isso não se pode contar.
Como parece que sempre acontece onde se come bem, nos últimos anos em que frequentei aquele belo espaço, a coisa ficou mais fraquinha.
Mais um rastilho para inflamar mais uma recordação...
A tua aventura com o velho “Anglia Prefecta”.
Teria os meus 15 anos, e trabalhava comigo na firma dos Oulman, também com a patente de “office boy”...à época, e na linguagem tuga: “paquete”.
O colega e amigo de juventude R. era uns anitos mais velho, e os pais tinham algumas disponibilidades, pois eram donos de uma alfaiataria, o que lhe proporcionou a compra de um carrito em segunda ou terceira mão.
Era o seu sonho bastante antigo, dizia que havia de ter um automóvel antes dos vinte anos, e passava a vida a falar de carros. Estou certo que devia saber a marca e as performances de tudo o que tivesse quatro rodas.
Certa noite, e na base “Café Nacional” estava-mos nos entretenimentos do costume, quando aparece o R. eufórico.
O que é, o que não é??!!...- Bem, vamos dar uma volta no meu carro!! – O quê?????
- Embora, já disse. Está mesmo aqui à porta. E lá vai o pessoal em correria ver a bomba nova do nosso amigo.
Ficou tudo de boca aberta!!...mesmo ali frente aos nossos olhos um “bruto” Citroën 15 CV preto reluzente, com os estofos castanho escuro...um espanto. E como era comprido o raio do carro!!
-Vamos a Torres Vedras, embora malta.
Quem vai, quem não vai?...acabamos por nos enfiar seis dentro da “arrastadeira” como era designada a peça andante.
Claro que a viagem foi uma “tourada”. Chegados a Torres Vedras, parou-se o “bólide” numa zona que penso seria para os lados do terminal das camionetas, e a ideia era procurar uma tasquinha para petiscar, pois o pessoal nos tenros anos, estava sempre esfomeado!!
Terminado o repasto, já a noite tinha entrado na madrugada, deu-nos para as cantigas e vai de coro roufenho, até aparecer o guarda-noturno com ar de poucos amigos para terminar a chinfrineira. Toca a voltar a Lisboa. Tudo dentro do carro, recomeço do coro com “A loja do mestre André, mas numa versão para adultos!!”, chave na ignição...um abanão no Citroën 15 CV...e nada??!! Nova tentativa de ignição e nem um sinal de marcha??!!
Tudo calado...- Então, não dás com o buraco? – É pá isto não dá nada, não tenho motor de arranque!!! Toca tudo a sair do “bólide”, vai de abrir o capô duplo, isqueiros acesos, e tentativa de ver a origem do problema. O R. até tinha noções de mecânica, tal o gosto pelos carros. – Não se vê nada, vamos tentar levar o carro para perto daquele candeeiro.
Carro destravado, e o 15 cavalos, passou por breves minutos a ser 6 cavalos!!...
- É pá, foi o motor de arranque que colou quando dei a “mise-en-marche”, estamos lixados, e agora??
- Tudo a opinar, tudo a fazer força para desengatar o motor de arranque, várias e esforçadas tentativas, mas o raio do motor não descolava...nem se movia um milímetro.
- Se houvesse um pé de cabra, talvez se conseguisse desengatar este gajo!! – Alto!!...está ali uma obra, é capaz de se arranjar um bocado de varão de ferro daqueles grossos. Pesquisa na obra, mas ferro nem cheiro. – Olha este barrote, deve entrar no espaço entre o motor de arranque e o bloco.
Em resumo e conclusão; todos os repetidos esforços foram infrutíferos até que o barrote acabou por partir. Desespero total. Já perto das três da manhã e o pessoal alí. Naquela idade todos vivíamos em casa dos pais, e adivinha-se o que nos estaria a passar pelas cabecinhas. Pela minha parte já estava a sentir a “compreensão paterna nos dois lados da cara”.
Uns dentro do carro, outros na rua, a congeminar forma de resolver o assunto, e todos excluía-mos a ideia de esperar pela manhã em busca de um mecânico.
A boa disposição tinha-se desvanecido e nem se ouvia um pio. O R. ao volante, de vez em quando numa vâ esperança, lá dava a voltinha na chave, mas nada...a maldita “arrastadeira” continuada muda e queda.
De repente, sai do carro, volta a abrir o capô, curva-se sobre o motor. Todos o acompanhamos, espantados com o seu pulo e saída rápida do carro. Tudo a olhar, ele com as mãos todas pretas a mexer na parte de baixo junto á correia da ventoinha, e de repente TRÁZ...um grande estalido??!!...o motor de arranque tinha-se separado!!
O meu amigo e colega subiu mais vinte pontos na minha admiração!!...que carola...
O que ele fez foi exercer pressão para cima e para baixo na correia até conseguir rodá-la pouco a pouco, o suficiente para soltar o motor e voltar ao lugar.
Tudo aos berros e abraços, toca para dentro da “arrastadeira” e desta vez com os 15 CV e a ignição a funcionar, ruma-mos a Lisboa.
Cheguei a casa já o sol raiava, com o pai e mãe á minha espera...bonita comissão de boas vindas...
Precisei de um certo apoio psicológico depois da “galheta” com a pesada mão do Justo pai!!...e o resto conto noutra ocasião.
Pica, olha, seria um comentário e deu nisto!!
Um abraço
Justo
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