Amigos.
De vez em quando lá escrevo um retrato da vida.
Não sou saudosista, mas gosto de recordar.
Jamais, hoje, um puto de 12 anos anda sozinho por um descampado serrano.
Como são diferentes os dias de hoje.
Tenham um bom fim de semana.
Raul Pica Sinos
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HISTÓRIAS
DO MEU VELHO BAIRRO DAS FURNAS (XV)
A
NOITE FOI BOA, O DIA NEM TANTO!
Quis o
acaso que, naquele sábado, me encontrasse na rua de maior movimento pedonal. A
Rua das Tílias. Esta rua ficava na entrada do meu velho Bairro das Furnas. Dava
ligação a muitas outras - das Oliveiras, das Faias, das Nogueiras; dos Salgueiros
-. Tinha uma ligeira inclinação a partir do meio, onde, no seu primeiro
cruzamento, floresciam um número considerado de bonitas piteiras.
O alinhamento
das casas era do lado direito de quem a descia. À esquerda, acompanhava-a no
primeiro lanço uma sebe, sustentando um gradeamento que, separava todo um aparato
social; o Posto médico, o Jardim infantil e a Creche.
Na frente
da casa com o nº 2, a limpar, com a ajuda de um trapo, as mãos carregadas de
óleo, sorridente, dizia o meio oficial de mecânica auto;
…Está
pronto Raul, está pronto…Já faz fumo…
Não era
para menos, o carro, ora reparado, encontrava-se na frente da sua porta há
cerca de uma semana e, o cliente certamente já o tinha reclamado.
Retribuindo
o sorriso, dirigi-me ao Carlos Santana e, em jeito de interrogação questiono-o…e
agora?
Agora?
Agora, aparece a seguir ao jantar, vamos dar uma volta, retorquiu.
Mãe, vou
dar uma volta com o Santana, não me demoro, vamos experimentar um carro que ele
consertou.
Em traje
de fim-de-semana, lá me apresento à chamada. Junto ao “Anglia Prefecta” de cor
preta, já lá estava o Zé Manuel, o filho da Ti Julvira que, logo me afaga a
cabeça, contente, por me ter por companhia.
Era
o mais novo do trio, tinha 12 anos de idade. Os meus companheiros certamente
mais 3/4 anos de idade.
Aventurados,
já noite, o nosso condutor ainda “desencartado”, escolheu como trajecto, para
“pista de experiência automobilista”, a marginal de Lisboa/Cascais.
O velho carro
acompanhava um comboio. Provocado o maquinista com acenos, este respondeu ao
desafio. As marchas foram aceleradas, nervosamente trocaram-se apitos e buzinadelas.
Nem o
chapéu-de-chuva aberto dentro do carro, por via da chuva miudinha a entrar
pelos buracões no tejadilho, obstara, em largas centenas de metros, tão
divertida corrida.
Ao chegar
à vila de Carcavelos alguém disse:
…
E se fossemos ver do baile à Capricho Carcavelense…
Dito e
feito, arrumado o carro, lá fomos dar o nosso pezinho de dança por umas quantas
horas, mas um pouco antes de acabar a animação, não me recordo qual um dos meus
companheiros (ou os dois) fez a seguinte comunicação: “Eh pá Raul! Agora, vamos
entregar o carro, é longe e, ficamos por lá. É melhor regressares ao Bairro, tens
comboio daqui a pouco”.
Já só os
vi pelas costas. Fiquei na dúvida de tão misteriosa conversa. Quando saímos do
Bairro, nada me foi dito em conformidade. Pensei, talvez…raparigas? No entanto não
me moveu, o que, quer que fosse, para contrariar tal decisão.
Na
estação, vejo, por ser fim-de-semana, que os horários dos comboios eram mais
espaçados.
Esperei
cerca de uma hora para a bilheteira abrir. Observo o dinheiro no bolso, só dava
para permitir ter bilhete de passagem, até à estação de Belém. O horário do comboio
a parar nesta estação, só por volta das 07 horas. Nada a fazer, outras
alternativas não havia.
Quando
cheguei à estação de Belém, tirei o “azimute” do caminho para casa; Subir a
calçada da Ajuda, avançar na direcção aos 4 caminhos na serra do Monsanto, continuar
o trajecto até prisão, situada bem no alto. Chegado aqui, para o Bairro, foi só
descer a encosta. Já na entrada, o sol dava-me pelo joelho.
Foi a
minha primeira noite (das muitas) fora de casa!
Quando
abro a porta da entrada do “ninho”, vejo sentada, com os braços sobre a mesa, raladíssima
e encolerizada minha mãe, que, de pronto me perguntou:
… Por
onde tens andado? Até à polícia já fui…
Não
convencida, outro “baile” iniciou.
No
entanto direi, mesmo depois de todas a vicissitudes, foi muito bela a minha
primeira noite fora de casa.
3 comentários:
Como é bom recordar...!!!!!
Tudo o que se passou na nossa infância e adolescência,lembramos sempre com muita saudade...!!!
Mas de facto, eram outros tempos...
Hoje em dia seria impensável (para a maioria das crianças), "viver" uma tal peripécia apenas com doze anos de idade....!!!!
Neste relato do Pica, revemos tanta coisa que na nossa juventude se passou.
Duma maneira ou de outra, todos passámos por algo semelhante.
Um abraço.
...CÓQUINTÃO, bailaricos com 12 anitos!!...mas foste de pópó e vieste de comboio...está mal!!
Amigo, comecei um texto alusivo, vamos ver se o consigo acabar e se tiver algum jeito, talvez tenha honras de estampa.
Um abraço
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