" AS CARQUEJEIRAS – AS ESCRAVAS DO PORTO
Poucos conhecem, por certo, a história destas mulheres de
trabalho escravo...
"Desde o século XIX existiam, no Porto, as
“Carquejeiras”. As carquejeiras do Porto eram mulheres que para “comer o pão de
cada dia”, para si e seus filhos, subiam a calçada ingreme entre os Guindais e
as Fontainhas, levando às costas, nesta via dolorosa, de 220 metros, molhos de
carqueja pesando cerca de 50 Kg e depois as distribuíam pelos fogões das
padarias e casas particulares, servindo como acendalhas, para coser pão ou
aquecer as casas dos senhores do Porto, mais endinheirados. A carqueja chegava
em barcos e nos Guindais era desembarcada e colocada às costas das carquejeiras
– mulheres e tantas vezes crianças -, que lá iam pela Calçada da Corticeira –
agora chamada Calçada da Carquejeira, como homenagem a estas mulheres -, até ao
destino fosse a Boavista, fosse o Carvalhido ou tantos lugares. Durou este
trabalho um século, tendo terminado em 1960. Agora uma associação, constituída para
tal, inaugurou uma estátua evocativa da Carquejeira, nas Fontainhas. Pagavam a
elas quantas viagens fossem capazes de fazer e pela distância, indo de 1$50 a
15$00.
A Carquejeira não tinha segurança social, nem postos de
atendimento de saúde, e o que conheciam desde meninas, era acartar a carga, o
mais vezes possível, fazer o jantar e nem davam conta que o homem as
engravidava. Subindo a escarpa, quase não se viam os olhos, mas elas lá iam,
perante o rizo da rapaziada, que não muitas vezes as apalpava, elas fugiam, era
uma calçada com muitas curvas. Apesar do seu dia a dia duro e desumano, também
iam às igrejas da cidade pedir pelos seus, e que tivessem muito trabalho. Era
descalças que faziam o seu trabalho, não lhes restava mais que confiar e ter fé
em Deus, que lhes desse muita saúde para calcorrear o maior número de vezes,
para ganhar mais dinheiro, que era tão pouco que mal dava para a comida; os
medicamentos eram as ervas que arranjavam e estudar nem sabiam o que era.
É bom que saibamos que existiam mulheres destas, autênticas
santas e virgens. Santas porque se davam como sacrifício para que as suas
famílias tivessem pão e sopa, os seus filhos crescessem, e virgens porque se
davam completamente à causa das suas famílias, sem pretenderem nada para elas.
O sacrifício que tantos de nós não conhecemos. Pois, aqui fica!"
Por Joaquim Armindo
Realizando um trabalho de “besta”, substituído pelo ser
humano em uma época na qual a sobrevivência era uma questão de luta, as
escravas do Porto se viam obrigadas a carregar às costas até 60 quilos de
carqueja para conseguirem se sustentar diariamente.
No dia 1 de março de 2020,
Foi inaugurada a estátua em homenagem às Carquejeiras do
Porto, por iniciativa da “Associação Homenagem às Carquejeiras do Porto”.
A “Maria”, nome da estátua da autoria do escultor José
Lamas.
Pesquisa de Clarisse Marques
Fotografia de Álvaro Ferreira
Escultura: Da CIDADE às CARQUEIJEIRAS - de JOSÉ LAMAS
Alameda das Fontaínhas - Bonfim - Porto
Nota Pessoal - Há muito tempo que queria fazer esta
publicação. Uma história do Porto que nunca foi e nunca será linda de viver...
É como a vida, de dias de sol e dias cinzentos, com chuva e nevoeiro...Como a
rosa que é linda e perfumada, mas têm espinhos...As Carquejeiras, de certa
maneira, representam a MULHER PORTUGUESA, que no passado trabalhou
exaustivamente. Como a Alcina, a rapariga mais linda da Aldeia que adoeceu e
morreu de tanto trabalhar - A MINHA MÃE! ❤❤🥲🥲❤❤"
Joaquim Armindo, obrigado.
Sem comentários:
Enviar um comentário