"A "Inha"… O furriel Carlos Barros, que nos
deu indicações sobre a entrega de Bissássema ao PAIGC, enviou-nios a seguinte
estória...:
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Registo:” Estórias” da Guiné
A cabrinha INHA:
Os militares da 2ª Companhia de Nova Sintra, com reforços de
pelotões de Jabadá/Fulacunda, estiveram envolvidos na abertura da estrada
Nova-Sintra –Fulacunda, em 1973.
Ao rasgar essa estrada, por entre mato denso, iriamos ter
problemas com o inimigo , o que se veio a verificar já que fomos emboscados
algumas vezes, tentando obstruir a nossa
progressão porque esse acesso a Fulacunda não interessava
militarmente ao PAIGC.
O furriel Barros estava com o seu grupo de combate na
segurança da estrada, com outro grupo, e estavam homens e mulheres africanas
envolvidas na descapinagem do estradão.
Verifiquei, por mero acaso, que uma indígena tinha apanhado
uma cabrinha à mão que se tinha perdido da mãe e perguntei-lhe o que iria fazer
com o animal. Prontamente me respondeu, dizendo que a ia matar e depois
comê-la!
Abeirei-me dela e pedi que ma vendesse por 50 pesos , o que
concordou perante a minha alegria, vendo que o animal não seria morto. No
regresso ao destacamento, trouxe a cabrinha para o quartel, arranjei e adaptei
um biberão e comprava leite na cantina e assim a Inha era alimentada por mim
com todo o carinho e protecção.
Foi crescendo, dormia debaixo da minha cama na caserna e na
parada do destacamento seguia-me para todo o lado.
O Capitão Cirne , queria comprar a Inha mas confesso, que
não a vendia por dinheiro nenhum porque gostava muito do animal. A cabrinha era
acarinhada pelos soldados do meu grupo, sendo a coqueluche da companhia e
passeava por todo o lado, sem ninguém a molestar.
Tinha chegado a hora do jantar e quando começávamos a comer
o arroz com salsichas, vieram os soldados Cruz , Barros e Lurdes à messe e um
deles disse-me:
- A INHA “adormeceu”…
Levantei-me a correr para a caserna e encontrei já morta a
minha INHA, perante o meu desgosto…
O que aconteceu?
Um dos soldado deu-lhe cascas de manga e provavelmente ,
teve uma congestão já que só se alimentava de leite e não vi outra razão…
Perdi a vontade de jantar e peguei n cabrinha, enterrei-a
junto à caserna e depois coloquei uma cruz com uma lápide com os dizeres:
- “Aqui jaz a INHA”…
Foi um dia triste para mim e para os meus companheiros do pelotão e, nesse mesmo dia, morreu à mesma hora, uma gazela selvagem que tinha sido apanhada pelos militares e que se encontrava num galinheiro - “Gazeleiro”- improvisado….Triste coincidência…
Nunca mais desejei nenhum animal comigo, já que eles querem viver em liberdade, como todos nós seres humanos que, felizmente, só a conseguimos obtê-la no dia 25 de Abril de 1974.
Nova Sintra maio de 1973
Carlos Manuel de Lima Barros"
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