“…Para o ex-Presidente da República, António Ramalho Eanes, a polémica que se levantou em torno da presença do atual Chefe de Estado no funeral de Marcelino da Mata é uma “simplificação radical”. “Marcelino da Mata foi envolvido numa discussão de esquerda versus direita, quando o que deve ser discutido é a guerra, que é extremamente complexa. Esta fórmula maniqueísta [de abordar o assunto] não contribui para um esclarecimento sobre a Guerra Colonial, as suas razões e motivações, e as suas consequências”, diz o ex-Presidente. Também na opinião do ex-ministro da Defesa e historiador Nuno Severiano Teixeira, este debate “não deve ser visto com um problema de esquerda-direita, mas como uma questão de política da memória...
A diferença é que “no caso português houve uma dupla
dinâmica, e nos últimos 30 anos surgiram Monumentos aos antigos combatentes em
todo o país”, diz Costa Pinto, lembrando que o antigo Presidente Jorge Sampaio
também “esteve presente na inauguração monumento” aos antigos combatentes da Guerra
Colonial em Belém [2000].
Agora, o que está verdadeiramente em causa é evitar que a
memória da Guerra Colonial fique refém da extrema-direita e seja usada como mais
uma bandeira deste sector radical.
“Figuras como a de Marcelino da Mata são clássicas nas guerras coloniais. Houve-as na Guerra da Argélia, houve-as noutros cenários. No caso português, mais de metade dos combatentes na Guerra Colonial eram de origem africana. As tropas recrutadas localmente conheciam melhor o terreno, falavam as línguas nativas”, explica Costa Pinto.
Marcelino da Mata “cumpria as ordens que lhe eram dadas”, diz Carlos Matos Gomes, capitão de Abril: “Era eficaz” nas operações em que participava, um facto tão pesado e paradoxal para a memória histórica da Guerra Colonial que o fez somar condecorações. “Era necessário promovê-lo e para o promover era preciso condecorá-lo”, explica Matos Gomes, lembrando que financeiramente não ficou “tão mal” como alguns querem fazer, crer: “Só que tinha 14 filhos. Fui ao funeral porque era amigo dele”, acrescenta o capitão de Abril..."
(Com a devida vénia ao Jornal Expresso de 19/02/2021, parte
do artigo publicado – Jornalista Manuela
Goucha Soares)."
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Nota pessoal – seria bom que aproveitassem esta onda para
procederem, com decência, respeito e todas as Honrarias, à repatriação dos corpos dos combatentes Portugueses
que tombaram em combate na Guiné e que por lá continuam sepultados no meio do
capim, nas bolanhas e nos cemitérios sem qualquer dignidade. Este é um direito
inabalável de todo o Homem Combatente, ter a certeza de que, se morrer em
combate, os seus companheiros e superiores, cuidarão dele até à sua morada
final, na sua terra. No nosso blog, encima-o, entre outras, duas frases que dizem tudo, uma atribuída a Jaime Umbelino e que se encontra inscrita no Monumentos aos Combatentes Mortos de Torres Vedras,
que diz:
“Eles,
Fizeram guerra sem saber a quem,
morreram nela sem saber por quê...,
então, por prémio ao menos se lhes dê,
justa memória a projectar no além..."
e um outra frase atribuída ao Padre António Vieira, que
diz:
“Se servistes a Pátria
que vos foi ingrata,
vós fizestes o que devíeis
e ela, o que costuma!”
Só que a Pátria não se constrói sozinha, sãos os homens, altos
responsáveis políticos e militares, que neste caso, têm de responder por Ela
perante o Povo… Basta ver na net, os testemunhos das famílias que continuam sem os seus ente queridos, cinquenta anos depois, cinquenta anos...!
Os Combatentes fizeram a sua parte.