Ela lia as catástrofes, lentamente, com a serenidade que tão
bem convinha ao seu sereno e puro perfil latino. “Na ilha de Java, um terramoto
destruíra vinte aldeias, matara duas mil pessoas…” As agulhas atentas picavam
os estofos ligeiros; o fumo dos cigarros rolava docemente na aragem mansa; — e
ninguém comentou, sequer se interessou pela imensa desventura de Java. Java é
tão remota, tão vaga no mapa! Depois, mais perto, na Hungria, “um rio
trasbordara, destruindo vilas, searas, os homens e os gados…” Alguém murmurou,
através de um lânguido bocejo: “Que desgraça!”. A delicada senhora continuava,
sem curiosidade, muito calma, aureolada de ouro pela luz. Na Bélgica, numa
greve desesperada de operários que as tropas tinham atacado, houvera entre os
mortos quatro mulheres, duas criancinhas…34º almoço em 2025 - Figueira da Foz - Quinta da Salmanha.
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“Se servistes a Pátria que vos foi ingrata, vós fizestes o que devíeis e ela, o que costuma”
(Do Padre António Vieira, no "Sermão da Terceira Quarta-Feira da Quaresma", na Capela Real, ano 1669. Lembrado pelo ex-furriel milº Patoleia Mendes, dirigido-se aos ex-combatentes da guerra do Ultramar.).
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"Ó gentes do meu Batalhão, agora é que eu percebi, esta amizade que sinto, foi de vós que a recebi…"
(José Justo)
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“Ninguém desce vivo duma cruz!...”
"Amigo é aquele que na guerra, nos defende duma bala com o seu próprio corpo"
António Lobo Antunes, escritor e ex-combatente
referindo-se aos ex-combatentes da guerra do Ultramar
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“Aos Combatentes que no Entroncamento da vida, encontraram os Caminhos da Pátria”
Frase inscrita no Monumento aos Heróis da Guerra do Ultramar, no Entroncamento.
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"Tite é uma memória em ruínas, que se vai extinguindo á medida que cada um de nós partir para “outra comissão” e quando isso nos acontecer a todos, seremos, nós e Tite, uma memória que apenas existirá, na melhor das hipóteses, nas páginas da história."
Não
voltaram todos… com lágrimas que não se veem, com choro que não se ouve… Aqui
estamos, em sentido e silenciosos, com Eles, prestando-Lhes a nossa Homenagem.
Ponte de Lima, Monumento aos Heróis
da Guerra do Ultramar
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domingo, 10 de maio de 2020
É um bocado real, não por ser China, mas por ser longe!
Ela lia as catástrofes, lentamente, com a serenidade que tão
bem convinha ao seu sereno e puro perfil latino. “Na ilha de Java, um terramoto
destruíra vinte aldeias, matara duas mil pessoas…” As agulhas atentas picavam
os estofos ligeiros; o fumo dos cigarros rolava docemente na aragem mansa; — e
ninguém comentou, sequer se interessou pela imensa desventura de Java. Java é
tão remota, tão vaga no mapa! Depois, mais perto, na Hungria, “um rio
trasbordara, destruindo vilas, searas, os homens e os gados…” Alguém murmurou,
através de um lânguido bocejo: “Que desgraça!”. A delicada senhora continuava,
sem curiosidade, muito calma, aureolada de ouro pela luz. Na Bélgica, numa
greve desesperada de operários que as tropas tinham atacado, houvera entre os
mortos quatro mulheres, duas criancinhas…
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