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“Se servistes a Pátria que vos foi ingrata, vós fizestes o que devíeis e ela, o que costuma”


(Do Padre António Vieira, no "Sermão da Terceira Quarta-Feira da Quaresma", na Capela Real, ano 1669. Lembrado pelo ex-furriel milº Patoleia Mendes, dirigido-se aos ex-combatentes da guerra do Ultramar.).

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"Ó gentes do meu Batalhão, agora é que eu percebi, esta amizade que sinto, foi de vós que a recebi…"

(José Justo)

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“Ninguém desce vivo duma cruz!...”

"Amigo é aquele que na guerra, nos defende duma bala com o seu próprio corpo"

António Lobo Antunes, escritor e ex-combatente

referindo-se aos ex-combatentes da guerra do Ultramar

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Eles,
Fizeram guerra sem saber a quem, morreram nela sem saber por quê..., então, por prémio ao menos se lhes dê, justa memória a projectar no além...

Jaime Umbelino, 2002 – in Monumento aos Heróis da Guerra do Ultramar, em Torres Vedras
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“Aos Combatentes que no Entroncamento da vida, encontraram os Caminhos da Pátria”

Frase inscrita no Monumento aos Heróis da Guerra do Ultramar, no Entroncamento.

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Sem fanfarra e sem lenços a acenar, soa a sirene do navio para o regresso à Metrópole. Os que partem não são os mesmos homens de outrora, a guerra tornou-os diferentes…

Pica Sinos, no 30º almoço anual, no Entroncamento, em 2019
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"Tite é uma memória em ruínas, que se vai extinguindo á medida que cada um de nós partir para “outra comissão” e quando isso nos acontecer a todos, seremos, nós e Tite, uma memória que apenas existirá, na melhor das hipóteses, nas páginas da história."

Francisco Silva e Floriano Rodrigues - CCAÇ 2314


Não voltaram todos… com lágrimas que não se veem, com choro que não se ouve… Aqui estamos, em sentido e silenciosos, com Eles, prestando-Lhes a nossa Homenagem.

Ponte de Lima, Monumento aos Heróis da Guerra do Ultramar


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sexta-feira, 29 de maio de 2020

Parabens Amadeu Contige

Ao nosso amigo Contige enviamos um forte abraço de parabéns, com votos de boa saúde, junto dos seus familiares e amigos.
Leandro Guedes.




quinta-feira, 28 de maio de 2020

Operação Mar Verde - Conclusão - entrevista ao 1º cabo Capitulo


Segunda parte do programa apresentado pelo jornalista José Manuel Barata-Feyo, sobre a "Operação Mar Verde" que decorreu entre 20 e 22 de Novembro de 1970 durante a Guerra Colonial. Neste video aparece o Capítulo, um dos prisioneiros de Bissassema. Apesar de não ser reconhecida oficialmente pelo Governo, foi ordenada por António de Spínola, Governador e Comandante Chefe das Forças Armadas da Guiné-Bissau, comandada no terreno por Alpoim Calvão, Comandante do Centro de Operações Especiais, e apoiada por rebeldes da Frente de Libertação Nacional da República da Guiné (FNLG). A operação consistia no ataque anfíbio a Conacri, Capital da República da Guiné, com os objetivos de libertar prisioneiros de guerra portugueses, destruir as lanchas e o quartel-general do PAIGC, neutralizar o seu líder Amílcar Cabral, eliminar o Presidente da Guiné-Conacri Sékou Touré, e destruir os seus meios militares como os caças Mig. Uma reportagem dos jornalistas Henrique Vasconcelos e Rui Araújo.

Com a devida vénia à RTP e aos seus Jornalistas Barata-Feyo, Henrique Vasconcelos e Rui Araújo, a quem agradecemos.


PARA VERES ESTE VIDEO CLICA AQUI

quarta-feira, 27 de maio de 2020

O testemunho do Deputado da Guiné/Conakri, KERFALLA BANGOURA


Operação Mar Verde - Preparação - Alf. Rosa, Continuo e Capitulo


Com a devida vénia à RTP e aos seus Jornalistas Barata-Feyo, Henrique Vasconcelos e Rui Araújo, a quem agradecemos.

Primeira parte do programa apresentado pelo jornalista José Manuel Barata-Feyo, sobre a "Operação Mar Verde" que decorreu entre 20 e 22 de Novembro de 1970 durante a Guerra Colonial. 



Apesar de não ser reconhecida oficialmente pelo Governo, foi ordenada por António de Spínola, Governador e Comandante Chefe das Forças Armadas da Guiné-Bissau, comandada no terreno por Alpoim Calvão, Comandante do Centro de Operações Especiais, e apoiada por rebeldes da Frente de Libertação Nacional da República da Guiné (FNLG). 


A operação consistia no ataque anfíbio a Conacri, Capital da República da Guiné, com os objetivos de libertar prisioneiros de guerra portugueses, destruir as lanchas e o quartel-general do PAIGC, neutralizar o seu líder Amílcar Cabral, eliminar o Presidente da Guiné-Conacri Sékou Touré, e destruir os seus meios militares como os caças Mig. Uma reportagem dos jornalistas Henrique Vasconcelos e Rui Araújo.


para veres o video clica aqui

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Alf. António Julio Rosa - operação Mar Verde

UM DEPOIMENTO DRAMÁTICO DO FALECIDO ALF. JULIO ROSA DA CART 1743.

Com a devida vénia à RTP e ao seu Jornalista António Louçã.


Programa apresentado pelo jornalista António Louçã sobre a "Operação Mar Verde", nome dado à operação militar realizada a 22 de Novembro de 1970 pelas Forças Armadas Portuguesas na Guiné-Bissau, durante a Guerra Colonial, com o objetivo de libertar 26 militares portugueses detidos pelo PAIGC, ilustrado com imagens de arquivo, e entrevista em estúdio a António Júlio Rosa, prisioneiro de guerra entre 1968-1970, e autor do livro "Memórias de um Prisioneiro de Guerra", publicado em

2003.
Programa apresentado pelo jornalista António Louçã sobre a "Operação Mar Verde", nome dado à operação militar realizada a 22 de Novembro de 1970 pelas Forças Armadas Portuguesas na Guiné-Bissau, durante a Guerra Colonial, com o objetivo de libertar 26 militares portugueses detidos pelo PAI...

A tragédia a dez dias do regresso à Metrópole


Recordando um facto grave que aconteceu uns dias antes da nossa chegada a Tite.
Quando chegámos a Tite em meados de Abril, a primeira noticia de que me lembro ter tido conhecimento, quase como batismo de guerra,  foi que há uma semana atrás tinha falecido um furriel do Batalhão 1860, ao tentar desmontar uma mina anti carro.
Foi uma noticia chocante, relacionada com um militar que estaria a uma semana, pouco mais, de regressar à Metrópole.


Lembrei-me desta situação trágica e perguntei ao alferes Antunes, das Daimler, que me respondeu:
“Lembro-me perfeitamente desse acidente, foi no dia 4 de Abril de 1967. Faziamos a escolta da coluna militar, que se dirigia para o Enxudé. E para tua informação está registado no livrinho do BC 1860, escrito á mão porque o livrinho já tinha sido imprimido e eles estavam a poucos dias de regressarem à Metrópole, era assim que se dizia quando vínhamos a Portugal.
Junto a folha das baixas em combate do BCAÇ 1860, durante a sua estadia em TITE.  Como podes ver no dia 4 de Abril de 1967, o Furriel Rui Palmela Mealha perdeu a vida quando tentava desactivar uma granada anti-carro na estrada TITE- Enxudé.
O Furriel Rui Mealha era uma pessoa muito experiente nas desminagens, mas naquele dia algo correu mal e a mina anti-carro rebentou-lhe nas mãos.
Também lá consta o nome do 1º cabo José Félix Lopes, única baixa que tive no meu pelotão, essa em 1 de Março de 1967. Mando-lhe a foto pelo gmail, para seu registo. Um abraço deste teu amigo Augusto Antunes.”
No blog Luis Graça, encontra-se uma nota sobre os falecidos em combate, onde consta o nome do furriel Rui Palmela Mealha:
“Contribuíu o BCaç 1860, durante a sua permanência em terras da Guiné, com a vida e o sangue dos seguintes militares, para quem vai a mais respeitosa homenagem e o agradecimento da Nação:
12Ago65, Fur Mil Júlio Lemos P Martins
12Ago65, 1º Cabo Inácio Freitas Ferreira
30Set65, Sold Aníbal A Pires
18Out65, Sold Diogo A Neves
01Nov65, Sold Manuel A A Nobre,
18Mar66, Sold Alberto T Silva
11Mai66, Sold Julde Mané
25Ago66, Sold José Maria F Carvalho
25Ago66, Sold Francisco António Lopes
06Out66, Alf Mil Carlos Santos Dias
29Dez66, Sold Malan Sambú
15Jan67, Sold António C do Nascimento
16Jan67, Sold Saliu Djassi
16Fev67, Sold Alberto Samba
* 01Mar67, 1ºCabo José Félix Lopes
* 04Abr67, Furr Mil Rui Palmela Mealha”

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Tite: uma história de amor!


"Tite: uma história de amor!

Tudo começou há 30 anos! Uma criança, Carlotta, fica gravemente doente e durante essa longa e difícil jornada experimenta o amor de muitas pessoas que a cercam com carinho, atenção e solidariedade. Aqueles foram os tempos da revolta miserável de Biafra que só trouxe morte e sofrimento. Carlotta se encarrega disso e expressa seu desejo de solidariedade por essas crianças.
“Estou convencido de que a minha foi uma experiência positiva, porque tive a sorte de conhecer muitas pessoas durante esses meses de sofrimento e de sentir seu amor muito forte. Pense naquelas crianças que morrem de fome por causa do nosso egoísmo."Tudo poderia terminar por aí, poderia levar a uma coleção de dinheiro e mercadorias a serem enviadas para a Biafra ou outras. Em vez disso, a mensagem foi coletada pelos pais Andrea e Mary Gamba, pelo curador da época, Don Renzo, e por várias outras pessoas que se questionaram. A Providência então reuniu Mons. S. Ferrazzetta, primeiro bispo da Guiné-Bissau, originário de Selva di Progno (Vr), que indicou imediatamente Tite com seus problemas de saúde.


A Guiné-Bissau é um dos países mais pobres do mundo; sempre é encontrado nas últimas posições de qualquer estatística. É pobre em cultura, entusiasmo, determinação, desejo de mudar, políticos capazes e preparados (mas não estão sozinhos nisso!), Estruturas funcionais, energia material e psíquica, sempre à mercê de tudo e de todos. Mas cheio de sorrisos que todo mundo sempre oferece!
A idéia de construir uma unidade de saúde começou a tomar forma e, em 1984, o primeiro grupo saiu para conhecer pe. Salvatore, missionário do PIME por décadas naquele lugar, e veja o que ele pode realmente fazer. O projeto toma forma e, por sugestão das autoridades de saúde da Guiné, o centro de saúde se torna um hospital, o Hospital Carlotta. O entusiasmo e desenvoltura do pai de Carlotta e alguns infectam muitos amigos e conhecidos de Borgo Trento, que se disponibilizam de várias maneiras para a realização do projeto. É sabido que, ao retornar de vários períodos de trabalho, o que foi recebido é muito mais do que o que foi dado. Mais de cem voluntários vêm não apenas de Borgo Trento, não apenas de Verona, mas também de várias outras cidades que passam as férias pagando a viagem e se dedicando à construção. Dezenas de contêineres são enviados com o que é necessário para a construção (na época não havia quase nada na Guiné-Bissau!). E lentamente o hospital toma forma e, em 11 de agosto de 1988, é inaugurado pelo presidente da República da Guiné, Nino Vieira, presente Mons. S. Ferrazzetta,
Este ano, aos 81 anos, o mestre construtor retornou a Tite, que começou a construção com nivelamento, escavação, fundações, etc. e no próximo ano ele quer voltar! 3 corpos foram feitos com tudo o que é necessário.

No 1º corpo existe a sala de emergência, a clínica para visitas, o laboratório, a farmácia, os banheiros e os armazéns.

No 2º corpo, encontram-se a sala de parto, a sala cirúrgica, a internação de mulheres, a de homens, a de esterilização, banheiros e despensas.

No terceiro corpo, o isolamento, a cantina e a sala de reuniões, a cozinha, a lavanderia, a sala de serviços elétricos e hidráulicos, o armazém e a despensa. Tudo por metro quadrado. 1260 aproximadamente com 36 camas.
Após 30 anos, ainda é uma conquista nos negócios e valiosa, especialmente para mulheres e bebês. Na verdade, é uma estrutura projetada e construída para a neonatalidade e a primeira infância, mas também é ativa em epidemias, especialmente cólera, AIDS / HIV e vários acidentes que ocorrem todos os dias.
Em 30 anos, muitas pessoas seguiram Tite, que deixaram suas pegadas e endereços pessoais, cada um à sua maneira. Há um ano, a Providência levou três leigos consagrados brasileiros a Tite, Claudia, Valter e Karina, meninos muito bons, entusiasmados, capazes e muito ativos que, juntamente com o pe. Lucio Espindola também do Brasil, eles começaram de novo e deram um novo impulso à missão e ao hospital (enquanto isso, também foi construído um colégio que abriga 346 alunos, que também é seguido e gerenciado por eles).

Somente neste ano, após um longo período de negligência e dificuldade, foi realizada uma manutenção radical das plantas e estruturas, auxiliada pela preciosa e especialista intervenção dos Amigos das Missões, uma organização sem fins lucrativos de Catania, que com pediatra , anestesista, enfermeiros, eletricistas etc. ele colaborou magistralmente nos trabalhos.
Hoje, toda segunda-feira e quinta-feira, nada menos que cinquenta mulheres vão ter seu bebê checado e pesado a cada vez, são visitadas, têm seus registros médicos e recebem os medicamentos de que precisam.
Tabanca de Tite e quartel - foto de cor. João Trabulo
Então: missão cumprida? Não! Ainda há muito a ser feito, por exemplo, na cultura e na abordagem de doenças que, para os guineenses, têm origens e raízes diferentes das nossas. Para eles, deve ser buscado no Deus do mal, IRÃO, no olho do mal, na ofensa que alguém tenha causado aos antepassados, etc. e, portanto, a solução não deve ser buscada no hospital, onde existem "técnicos", mas pelo feiticeiro, porque o "problema" é espiritual.

E tantas crianças ainda morrem ... de jeito nenhum! Agora há cultura e conversas nos vários tabanke (aldeias) de educação em saúde, educação alimentar, HIV / AIDS, educação sexual (mesmo para mães que não conhecem nada como crianças!), Drogas (Guiné Bissau é o maior depósito de cocaína do mundo!).

E ainda há muito o que fazer no ensino médio, onde os meninos, como todos os meninos da Guiné, estudam sem livros e aprendem alguns conceitos de cor e sabem pouco mais do que ler e escrever, mas não sabem, porque ninguém os ensina a raciocinar. E há também um projeto agrícola para focar e começar.
Como você pode ver, ainda há muito espaço para continuar ... uma jornada de amor!

Attilio e Maria Mazzotto"
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Nota - Após a recente informação do Raul Soares, fui pesquisar na net e encontrei lá a raiz das "instalações muito boas" que o Soares indica. Essa história está aqui descrita e é emocionante. Pena foi terem destruído as belíssimas instalações que a tropa lá deixou e que dariam para tudo aquilo que foi feito posteriormente e muito mais.
Leandro Guedes.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Padres Italianos em Tite


“Boa tarde AMIGO

Felizmente vamos andando normalmente, mas com cautelas  a todos os que nos rodeiam.

Sobre a Capela em Tite e a Imagem, nada te posso ajudar. Não me recorda de a ter visto. Sobre a comunidade italiana, julgo que não se serviam da Capela, pois têm instalações muito boas, á saída do Quartel em direcção a Foia do lado esquerdo, onde têm salas, Capela. Quem é o responsável é um  Padre italiano, pela assistência á população e dá aulas.

Nós éramos para ter ido em Fevereiro, adiamos para Setembro, mas julgo que vai ser adiada para o ano a inauguração da escola em Candemã, perto de Bambadinca e de Bafatá. 
Se tiver hipótese de lá ir poderei tentar saber. 
Votos de boa saúde, para todos e aquele abraço

Raul Soares”

A Imagem da capela de Tite - episódio rocambolesco.


"Rocambolesco, no mínimo, o episódio com a imagem!
No nosso tempo, na capela estava a imagem de N. Srª de Fátima, como podes comprovar com uma foto do saudoso Viana, a rezar de joelhos junto ao altar.
Tem razão o n/coronel Trabulo, uma autêntica enciclopédia, em muitos assuntos, quando diz haver um nicho com uma imagem de N/Senhora.
Ficava encrostado não parede exterior da caserna da CCS, voltada para uma rua
pequena que separava a caserna do edifício das transmissões e mesmo defronte da porta que dava, salvo o erro, para o centro Cripto.

Não sou capaz de, a esta distância temporal, conseguir afirmar se era ou não a imagem do sagrado coração de Maria. Daquela legenda, não lembro.
Chegados ao mês de Maio, era aí que, à noite, se rezava o terço, “botado” pelo n/capelão ou, na sua ausência, pelo arturinho, ilmº e revmº o sacrista.
Talvez, o Narciso se lembre, já que ele era um dos que me incentivava na realização dessa cerimónia e, segundo diz, tirava as teias de aranha, limpava e lavava a imagem.
Daí, lhe tenha ficado a devoção de, até aos dias de hoje, todos os sábados (um “ferrinho”),continuar a ir ao terço, por vezes, até às tantas da matina.
Outro, que também era “devotissimo” e capaz de se lembrar, é o Pica, já que a imagem ficava mesmo defronte da porta de entrada e saída do ultra-secreto e inviolável “estaminé”, onde fazia que trabalhava.
Bjs e abraços
Hipólito
Vou reencaminhar para o Narciso e Pica"

terça-feira, 19 de maio de 2020

Relembrando o almoço anual de 2019, no Entroncamento



Para o passado sábado dia 16 de Maio, estava agendado o nosso almoço anual. Como não houve almoço devido ao vírus, publicamos este vídeo, para relembrar o almoço do ano passado no Entroncamento.
Façamos votos para que no próximo ano haja almoço.
Um abraço.
Leandro Guedes.

segunda-feira, 18 de maio de 2020

A Capela de Tite, inaugurada em Janeiro de 1964.


"Caríssimo Leandro Guedes
 Obrigado pelo teu contacto. Procurarei responder á tua questão.
Assim: A Capela de Tite, tal como a encontrei em Set64 (altura em que cheguei a Tite)  e que está inserta no meu Livro na pág 48, foi construída  (a meias) pelo BC 237 do Ten Cor Carlos Barroso Hipólito e pelo 2º Comandante do BC 599, Major Agostinho Dias da Gama, que Comandava a primeira parte da Unidade.
A Capela, era-o para a moral das Tropas, mas também um polivalente que era Escola, Creche, Sala de Reuniões, etc.
Foi construída uma parede de suporte, coberta por chapas de zinco e o gradeamento era feito de aduelas das pipas do vinho.
Vou relatar um caso de suma importância na moral dos Militares que habitaram Tite  naquela época e que é pouco referida.
Aconteceu que num dos mais renhidos ataques inimigos, a parede da Capela e que era suporte (também) da Imagem da Virgem, ficou cravejada de balas de armas ligeiras. Contudo, a mesma Imagem da Virgem de Fátima, não teve absolutamente nenhum "arranhão".
Corria pelas bocas e sentimento dos Militares da época, que havia sido um Milagre.

Desconhecia que a imagem tivesse sido "capturada" por gente que não merece, sequer, qualquer classificação.

Desejo que estejas bem e assim continues por muitos anos.
Saudações aos Camaradas de Tite e que te estão próximos.

Abraço


Santos Oliveira"
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nota -Pelo que diz o camarada Santos Oliveira, a capela de Tite foi inaugurada em Janeiro de 1964, ano de muitas construções em Tite feitas pelos militares do BCAÇ 599 e BCAÇ 237, com fins vários além de capela. A Imagem também foi colocada nessa altura e pertencia por isso à Capela de Tite, donde nunca devia ter sido levada.

domingo, 17 de maio de 2020

Parabéns Vitor Barros

Caro Vitor Barros
Passa hoje mais um aniversário desta vez na cama dum hospital.
Desejamos-te amigo que recuperes depressa para voltares para junto dos teus.
Enviamos-te um abraço com votos de boa saúde.
MUITOS PARABÉNS COMPANHEIRO !
Leandro Guedes.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

O Vitor Barros está no hospital



Caros companheiros
Comunicou-me o Pica Sinos que o nosso amigo Victor Barros, deu baixa ao Hospital de Leiria por causa dum problema agravado do foro da circulação sanguínea e coração. O Pica prontamente ligou ao Domingos Monteiro, que é vizinho do Barros, o qual irá amanhã saber pormenores do que se está a passar e depois nos comunicará.
Entretanto o Barros já ligou ao Hipólito a dizer para o pessoal ficar descansado que ele dará notícias quando as souber.
O Pica sabe que não tem nada a ver com o covid-19. É um problema que já vem de longe e que agora parece ter-se agravado.


Desejamos rápidas melhoras ao Vitor Barros e o seu bem-estar.
Leandro Guedes.

BCAV 2867 - Março de 1969



de: HBN GUINÉ BISSAU

Muito bom dia.

Peço antecipadamente desculpa se não estou a dirigir-me ao endereço electrónico correto para o que pretendo expor, já que, em princípio, este endereço foi indicado no vosso site para o envio de fotos, mas não vejo outro meio.
Sou um antigo combatente que esteve em Tite em março de 1969, quando o nosso batalhão (BCAV 2867) foi render o vosso. Era um dos alferes da CCAV 2482, mas no meu caso particular, estive pouco tempo em Tite, porque em maio fui até Nova Lamego e, no caso da minha companhia, só lá esteve até junho, porque seguiu para Fulacunda.
Estamos a recolher alguns documentos para talvez se editar um segundo livro sobre a Guiné. Fizemos um, intitulado Histórias dos Boinas Negras (uma edição muito limitada, quase só para a "rapaziada"), e pode ser que fiquemos por aqui. No entanto, se por acaso viermos a editar outro, gostaríamos de colocar algumas fotos de Tite daquela altura. Não temos grandes fotos daquela época, até porque estivemos em Tite pouco tempo. No entanto, verifico que têm bastantes no vosso blog. Então, desejo perguntar se podem dar autorização a que possamos extrair imagens a partir das vossas fotos de que envio ficheiro PDF em anexo, caso em que, naturalmente, faríamos a devida referência à autoria das mesmas (BART1914 e,ou, nome de quem fariam o favor de indicar).
Muito obrigado pela atenção.
Cordiais saudações.
Jorge Barbosa
Tel.936314515
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Ainda sobre a Imagem da Senhora de Fátima que estava em Tite, recebemos o seguinte email, que agradecemos: 
"Estimado companheiro Leandro Guedes:
Muito obrigado pela sua atenção. Procurarei também ver cuidadosamente todos os links enviados e daremos o maior relevo a tudo quanto seja do vosso trabalho e que possa "encaixar" no nosso projeto.
Ainda bem que me falou da imagem de Fátima, porque pude esclarecer bem o assunto com o nosso comandante de companhia, atualmente Coronel Henrique de Carvalho Morais, na reforma. Pois, aí vai:
A imagem que estava em Tite foi connosco (CCAV2482) para Fulacunda, ficando na capela do quartel. Num ataque feito ao nosso aquartelamento às 20:05 horas do dia 23 de março de 1970 a capela foi atingida, um projétil furou a chapa de zinco de telhado,o interior da capela ficou cheio de marcas de estilhaços, mas a imagem de Fátima ficou incólume. Quando acabámos a comissão, em dezembro desse ano, a imagem foi embalada e colocada num dos caixotes, seguindo para Bissau, para aguardar embarque. Porém, em Bissau, a imagem tinha desaparecido. Viemos sem ela. A imagem que a companhia tem hoje é uma imagem que foi oferecida num dos convívios anuais por uma pessoa que quer manter o anonimato.
Só Deus (e talvez mais alguém) sabe(m) do destino dado à imagem.
Mais uma vez, muito obrigado por tudo. Não esqueceremos.
Um grande abraço e sempre ao dispor.

Jorge Barbosa "

quarta-feira, 13 de maio de 2020

BISSASSEMA - Ilustrações do José Justo.

Clica em cima de cada post para o veres em tamanho grande.









terça-feira, 12 de maio de 2020

Homenagem à menina Valentina

segunda-feira, 11 de maio de 2020

domingo, 10 de maio de 2020

É um bocado real, não por ser China, mas por ser longe!


"É um bocado real, não por ser China, mas por ser longe. Variante da história contada por Eça.
No Bilhete VI, em Cartas Familiares e Bilhetes de Paris (1907), vai Eça dissertando sobre violências da Natureza ou humanas, No Japão, na China, na Índia, Arménia, Turquia, Grécia..., Espanha... «E enfim neste Paris o dia doloroso em que a Ciência», etc, etc... «Mas eu não sei, meus amigos, se estas desgraças realmente vos interessam, vos comovem -- porque a distância actua sobre a emoção exactamente como actua sobre o som.» «Mas então essa confraternidade humana -- pela sublime força da qual nada do que é humano deve ser alheio ao homem? Não existe? Oh, certamente: -- mas para todo o homem, mesmo o mais culto, a humanidade consiste essencialmente naquela porção de homens que vivem no seu bairro. [...]» O insigne escritor vai dando exemplos... e chega bem perto de nós. Diga cada um se o nosso interesse não aumenta! «Ah, esta abominável influência da distância sobre o nosso imperfeito coração!
Bem recordo uma noite em que, numa vila de Portugal, uma senhora lia, à luz do candeeiro, que dourava mais radiantemente os seus cabelos já dourados, um jornal da tarde. Em torno da mesa, outras senhoras costuravam.
Espalhados pelas cadeiras e no divã, três ou quatro homens fumavam, na doce indolência do tépido serão de Maio. E pelas janelas abertas sobre o jardim entrava, com o sussurro das fontes, o aroma das roseiras. No jornal que o criado trouxera e ela nos lia, abundavam as calamidades. Era uma dessas semanas também em que pela violência da Natureza e pela cólera dos homens se desencadeia o mal sobre a terra.
Ela lia as catástrofes, lentamente, com a serenidade que tão bem convinha ao seu sereno e puro perfil latino. “Na ilha de Java, um terramoto destruíra vinte aldeias, matara duas mil pessoas…” As agulhas atentas picavam os estofos ligeiros; o fumo dos cigarros rolava docemente na aragem mansa; — e ninguém comentou, sequer se interessou pela imensa desventura de Java. Java é tão remota, tão vaga no mapa! Depois, mais perto, na Hungria, “um rio trasbordara, destruindo vilas, searas, os homens e os gados…” Alguém murmurou, através de um lânguido bocejo: “Que desgraça!”. A delicada senhora continuava, sem curiosidade, muito calma, aureolada de ouro pela luz. Na Bélgica, numa greve desesperada de operários que as tropas tinham atacado, houvera entre os mortos quatro mulheres, duas criancinhas…
Então, aqui e além, na aconchegada sala, vozes já mais interessadas exclamaram brandamente: “Que horror!... Estas greves!... Pobre gente!...” De novo o bafo suave, vindo de entre as rosas, nos envolveu, enquanto a nossa loura amiga percorria o jornal atulhado de males. E ela mesma então teve um oh! de dolorida surpresa. No Sul da França, “junto à fronteira, um trem descarrilado causara três mortes, onze ferimentos…” Uma curta emoção, já sentida, já sincera, passou através de nós com aquela desgraça quase próxima, na fronteira da nossa península, num comboio que desce a Portugal, onde viajam portugueses… Todos lamentámos, com expressões já vivas, estendidos nas poltronas, gozando a nossa segurança.
A leitora, tão cheia da graça, virou a página do jornal doloroso, e procurava noutra coluna, com um sorriso que lhe voltara, claro e sereno… E, de repente, solta um grito e leva as mãos à cabeça:
— Santo Deus!...
Todos nos erguemos num sobressalto. E ela, no seu espanto e terror, balbuciando:
— Foi a Luísa Carneiro, da Bela-Vista… Esta manhã! Desmanchou um pé!

Então a sala inteira se alvorotou num tumulto de surpresa e desgosto.
As senhoras arremessaram a costura; os homens esqueceram charutos e poltronas; e todos se debruçaram, reliam a notícia no jornal amargo, se repastavam da dor que ela exalava!... A Luisinha Carneiro! Desmanchara um pé! Já um criado correra, furiosamente, para a Bela-Vista, buscar notícias por que ansiávamos. Sobre a mesa, aberto, batido da larga luz, o jornal parecia todo negro, com aquela notícia que o enchia todo, o enegrecia.
Dois mil javaneses sepultados no terramoto, a Hungria inundada, soldados matando crianças, um comboio esmigalhado numa ponte, fomes, pestes e guerras, tudo desaparecera — era sombra ligeira e remota. Mas o pé desmanchado da Luísa Carneiro esmagava os nossos corações… Pudera! Todos nós conhecíamos a Luisinha — e ela morava adiante, no começo da Bela Vista, naquela casa onde a grande mimosa se debruçava do muro dando à rua sombra e perfume.»
[Texto retirado de Cartas de Paris, 4.ª edição, Livros do Brasil, Lisboa, fixação do texto e notas por Helena Cidade Moura, de acordo com os textos da Gazeta de Notícias. Esta edição inclui Ecos de Paris (1905) e Cartas Familiares e Bilhetes de Paris (1907)]"
José Luis Patricio
ex-alf. mil. - Guiné

"A única coisa que me mantém acordado durante a noite é a ideia de uma epidemia” - Bill Gates

É um dos homens mais ricos do mundo e passou os últimos três meses desesperadamente à procura de uma solução para a covid-19, o seu novo inimigo. Com a Humanidade num impasse, o fundador da Microsoft, transformado em caçador de doenças, acredita que a covid-19 vai marcar uma geração

"A única coisa que me mantém acordado durante a noite é a ideia de uma epidemia”, disse-nos Bill Gates, o segundo homem mais rico do mundo, numa entrevista em fevereiro do ano passado. “Já passaram cem anos desde que tivemos uma enorme epidemia de gripe. Hoje as pessoas viajam mais, portanto a velocidade de propagação seria maior. Se tivéssemos uma doença respiratória transmissível, os números seriam horrendos.”
Não os raptos, o terrorismo ou perder a sua riqueza, mas um vírus. Agora, Gates tem a delicadeza de não afirmar ‘eu disse-vos’, mas admite: “O meu pior pesadelo tornou-se realidade.”
O homem dos 75 mil milhões que criou a Microsoft é também um especialista em vacinas, testes e tratamentos, tendo indicado o caminho, juntamente com a sua mulher, para tentar “erradicar doenças” — primeiro a poliomielite, depois a malária e o VIH — com a sua Fundação Bill e Melinda Gates.
É obcecado em salvar milhões de vidas e tem estado sempre altamente consciente do risco de outra doença vir a aterrorizar o mundo.
Em alturas normais, circula pelo mundo, deslocando-se com frequência a África, à China e à Índia num único mês, tentando salvar vidas humanas da doença.

TEXTO ALICE THOMSON E RACHEL SYLVESTER/ EXPRESSO

sábado, 9 de maio de 2020

Declaração de Roberto Schuman - 9 de Maio de 1950.

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Texto integral

A paz mundial não poderá ser salvaguardada sem esforços criadores à medida dos perigos que a "ameaçam.

A contribuição que uma Europa organizada e viva pode dar à civilização é indispensável para a mauntenção de relações pacificas. A França, ao assumir -se desde há mais de 20 anos como defensora de uma Europa unida, teve sempre por objectivo essencial servir a paz. A Europa não foi construida, tivemos a guerra.

A Europa não se fará de um golpe, nem numa construção de conjunto: far-se-à por meio de realizações concretas que criem em primeiro lugar uma solidariedade de facto. A união das nações europeias exige que seja eliminada a secular oposição entre a França e a Alemanha.

Com esse objectivo, o Governo francês propõe actuar imediatamente num plano limitado mas decisivo.

O Governo francês propõe subordinar o cunjunto da produção franco-alemã de carvaõ e de aço a uma Alta Autoridade, numa organização aberta à participação dos outros paises da Europa.

A comunitarização das produções de carvão e de aço assegura imediatamente o estabelecimento de bases comuns de desenvolvimento económico, primeira etapa da federação europeia, e mudará o destino das regiões durante muito tempo condenadas ao fabrico de armas de guerra, das quais constituiram as mais constantes vítimas.

A solidariedade de produção assim alcançada revelará que qualquer guerra entre a França e a Alemanha se tornará não apenas impensável como também materialmente impossivel. O estabelecimento desta poderosa unidade de produção aberta a todos os paises que nela queiram participar, que permitirá o fornecimento a todos os países que a compõem dos elementos fundamentais da produção industrial em idênticas condições, lançará os fundamentos reais da sua unificação económica.

Esta produção será oferecida a todos os países do mundo sem distinção nem exclusão, a fim de participar na melhoria do nível de vida e no desenvolvimento das obras de paz. Com meios acrescidos, a Europa poderá prosseguir a realização de uma das suas funções essenciais: o desenvolvimento do continente africano. Assim se realizará, simples e rapidamente, a fusão de interesses indispensável à criação de uma comunidade económica e introduzirá o fermento de uma comunidade mais vasta e mais profunda entre países durante muito tempo opostos por divisões sangrentas.

Esta proposta, por intermédio da comunitarização de produções de base e da instituição de uma nova Alta Autoridade cujas decisoões vincularão a França, a Alemanha e os países aderentes, realizará as primeiras bases concretas de uma federação europeia indispensável à preservação da paz.

O Governo francês, a fim de prosseguir a realização dos objectivos assim definidos, está disposto a iniciar negociações nas seguintes bases.

A missão atribuida à Alta Autoridade comum consistirá em, nos mais breves prazos, assegurar: a modernização da produção e a mehoria da sua qualidade; o fornecimento nos mercados francês, alemão e nos países aderentes de carvão e de aço em condições idênticas; o desenvolvimento da exportação comum para outros países; a harmonização no progresso das condições de vida da mão-de-obra dessas indústrias.

Para atingir estes objectivos a partir das condições muito diversas em que se encontram actualmente as produções dos paísesaderentes, deverão ser postas em prática, a titulo provisório, determinadas disposições, incluindo a aplicação de um plano de produção e de investimentos, a instituição de mecanismos de perequação dos preços e a criação de um fundo de reconversão destinado a facilitar a racionalização da produção. A circulação do carvão e do aço entre países aderentes será iiimediatamente isenta de qualqer direito aduaneiro e não poderá ser afectada por tarifas de transportes distintas. Criar-se-õ progressivamente as condições para assegurar espontaneamente a repartição mais racional da produção ao nivel de produtividade mais elevada.

Ao contrário de um cartel internacional que tende a repartir e a explorar os mercados nacionais com base em práticas restritivas e na manutenção de elevados lucros, a organização projectada assegurará a fusão dos mercados e a expansão da produção.

Os principios e os compromissos essenciais acima definidos serão objecto de um tratado assinado entre os estados. As negociações indispensáveis a fim de precisar as medidas de aplicação serão realizadas com a assistência de um mediador designado por comum acordo; este terá a missão de velar para que os acordos sejam conformes com os principios e, em caso de oposição irredutivel, fixará a solução a adoptar.

A Alta Autoridade comum, responsável pelo funcionamento de todo o regime, será composta por personalidades independentes e designada numa base paritária pelos governos; será escolhido um presidente por comum acordo entre os governos; as suas deciões serão de execução obrigatoria em França, na Alemanha e nos restantes países aderentes. As necessárias vias de recurso contra as decisões da Alta Autoridade serão asseguradas por disposições adequadas.

Será eleborado semestralmente por um representante das Nações Unidas junto da referida Alta Autoridade um relatório público destinado à ONU e dando conta do funcionamento do novo organismo, nomeadamente no que diz respeito à salvaguarda dos seus fins pacíficos.

A instituição de Alta Autoridade em nada prejudica o regime de propriedade das empresas. No exercicio da sua função, a Alta Autoridade comum terá em conta os poderes conferidos à autoridade internacional da região do Rur e as obrigações de qualquer natureza impostas à Alemanha, enquanto estas subsistirem."

Estou cansado, é claro. (de Álvaro de Campos)


"Álvaro de Campos
"Estou cansado, é claro," (adaptado)

Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei: (talvez do confinamento...)
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto — por enquanto...
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente: eis tudo. (estou a brincar)
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto me dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.

24-6-1935
Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993).  - 78.

sexta-feira, 8 de maio de 2020

O elevado sentido solidário do Centro Social dos Montes Altos



de Antonio Diogo Sotero Centro Social dos Montes Altos):
"Hoje é dia de Elogiar alguém.Trata-se de um colaborador do Lar,que esta sempre disponivel (dia e de noite)para qualquer emergência,seja para nos acompanhar aos hospitais,ao Banco Alimentar e as famílias que apoiamos e a todos os lugares onde tenho que realizar reuniões .Um verdadeiro Bombeiro ,Motorista,secretário, (Um TGV,como lhe chamamos carinhosamente)De vez em quando avaria como qualquer TGV,mas o coração dele é maior que tudo.Por isso quero publicamente agradecer-lhe tudo o que faz pelos meus,pelos nossos por todos.O seu nome é CARLOS ALBERTO HORTA,RESIDENTE EM MOREANES.Bendita hora que te fui buscar para o nosso Lar."
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Ao ler este artigo lembro-me do abrigo que este Centro Social deu ao nosso amigo Pedro. O Pedro andava nas obras lá pelo Algarve, não ganhava nada, não tinha casa, não tinha nada...Um dia um funcionário do Centro Social, o Sr. Mário, passou pelo Pedro viu as condições degradantes em que vivia um ex-combatente, falou com os seus superiores do Centro e obteve logo o sim  para levar o Pedro para lá. E assim foi. Deram-lhe uma morada e principalmente um Lar, ensinaram-lhe as coisas essenciais da vida, deram-lhe trabalho na parte agricola do Centro, inscreveram-no na Segurança Social, deram-lhe uma conta bancária, enfim, deram-lhe dignidade. Esta maneira de estar faz parte do ADN do Centro e dos seus dirigentes e funcionários. Muito obrigado ao Centro Social dos Montes Altos, pelo excelente trabalho que fazem. O nosso abraço de agradecimento.
Leandro Guedes.
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Antonio Diogo Sotero: E o amigo Pedro cá esta,protegido.fizemos a nossa obrigação.Acolher os mais vulneravéis.Ele envia um grande abraço a todos vossos camaradas do BART 1914






Bissássema - o desastre...


Memórias do Bart 1914 em terras da Guiné
   Um dia difícil de descrever, mas para sempre recordar
Estavamos nos primeiros dias de Fevereiro de 1968. Um dia ou dois antes, tinhamos tido a visita do Conjunto Académico João Paulo, um conjunto de rapazes madeirenses muito apreciado na época, pelas suas músicas que ficavam no ouvido da malta jovem.
Por essa altura os altos comandos do C.T.I.G., resolvem fazer uma operação de limpeza e ocupação da tabanca de Bissássema, por constar, devido a informações chegadas ás chefias, que os homens do PAIGC andavam por ali a impôr as suas ideias e isso tornava-se deveras perigoso não só para Tite, mas até para Bissau.
Assim, o comando do BART 1914 resolve desencadear uma operação, já com alguma envergadura, convocando um vasto grupo de soldados, cujo número não posso precisar ( talvez 70 ou 80 homens) onde estava um pelotão da CART 1743 e dois pelotões de milícias, um de Tite e outro de Empada, mais alguns homens do Pel. de Morteiros e das Transmissões, tendo como comadante o saudoso Alferes António Júlio Rosa, (com pouco mais de 1 mês de comissão, pois tinha chegado á Guiné em meados de Dezembro, do ano anterior) para não só ocuparem a tabanca, mas também construir abrigos, para lá colocar em permanência uma força militar para defesa da mesma.

A nossa tropa sai de Tite, salvo erro no dia 1/2/1968, ocupa a tabanca sem qualquer resistência e começa de imediato a construção dos abrigos previstos para aquele fim. Na noite de 2 para 3 de Fevereiro, estava eu de oficial de dia ao BART, ouvem-se fortes rebentamentos, para os lados da tabanca de Bissássema, que indiciavam que o pior podia estar a acontecer. Tentámos contactos com a nossa tropa, via rádio, mas não tivemos qualquer êxito. Ninguém nos ouvia e muito menos respondia. Meia hora depois o tiroteio parecia ter acabado. Foi esperança de pouca dura, pois logo a seguir começou um novo ataque, vindo mais tarde a saber que o IN tinha entrado pela tabanca dentro, lançando granadas e semeando o pânico. Abalado com a explosão de uma granada o Alferes Júlio Rosa e vários soldados foram apanhados á mão, levando o IN também algum material de transmissões.
Aquela noite foi de uma angústia terrível, sem termos notícias do que se estaria a passar. A tropa que tinha ficado em Tite, ficou toda a noite em estado de alerta máximo, ávida por ter notícias, mas também não fosse o IN aproveitar a ocasião, para  atacar o aquartelamento.
Com o amanhecer e aparecimento da luz do dia, começaram a chegar ao aquartelamento de Tite alguns dos nossos soldados, lavados em lágrimas, alguns esfarrapados outros semi-nus, uns com armas, outros sem nada nas mãos, dando a todos os que os viram chegar uma imagem fiel e terrível do sofrimento, por que tinham acabado de passar. Gostaria de mencionar o nome de todos os nossos homens feitos prisioneiros, mas para além do já citado Alferes Júlio Rosa recordo também o furriel miliciano do Pelotão de Morteiros 1208 de seu nome Manuel Nunes Reis Cardoso, o 2º sargento da Companhia de Milícias nº 7, Manga Colubali e mais 3 militares da CART 1743 o Rosa, o Capítulo e o Contino. Que me desculpem se faltam alguns, mas a minha memória já não dá para mais.
Apenas e para terminar este meu pequeno texto dir-vos-ei, que naquela altura chorei e muito e a imgem que tenho guardada na minha memória, irá comigo para a cova, quando o Senhor entender, que chegou a minha hora.
Ainda hoje sinto uma estranha sensação, ao recordar estes acontecimentos.
Para registo, este foi um dos piores momentos por que passei naquela terra.
Para todos vós um grande abraço de amizade e o grande orgulho de vos ter tido por companheiros e camaradas daquelas campanhas.
                                               Augusto Antunes
                                                    Alferes Miliciano
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"João Manuel Pais Trabulo:
 Amigo Augusto Antunes este texto peca por não ter incluído a CCac 2314, sem ofensa, imperdoável.
A operação da instalação em Bissassema, a 'Velha Guarda' foi executada no dia 31 de janeiro e 1 de Fevereiro, tendo a CCac 2314 sofrido os dois primeiros feridos na Guiné.
Depois, infelizmente, foi a tragédia na noite de 2/3 de fevereiro da CArt 1743.
Foi 'dantesca' a ida para Bissassema ao ver os nossos militares em fuga.
Depois foram 38 dias terríveis com ataques nos dias 4, 5 (duas vezes), 9 (terrível) e 25 de Fevereiro, sofremos 7 feridos, mas o PAIGC sofreu a sua ousadia com o seus 21 mortos abandonados no terreno e um prisioneiro.
Segundo informações posteriores a CCac 2314 ficou conhecida no PAICG como a 'tropa de Bissassema" e terá sofrido cerca de 80 mortos...
Foi tão drástico que o PAICG escondeu sempre as suas consequências de Bissassema.
Tragédias de uma história para quê?..."

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Ataque ao aquartelamento de Tite em 1/março/67


          Memórias do Pelotão Daimler nº 1131

Ataque do PAIGC ao aquartelamento de TITE em 1/ Março/1967
Alf. Arnaldo Carvalho
Tinhamos chegado á Guiné no princípio de Agosto de 1966, para render o Pelotão Daimler estacionado em Tite e integrado no Batalhão de Caçadores 1860, batalhão esse, que já tinha mais de 1 ano de comissão de serviço.
Dispondo de várias companhias de intervenção, algumas delas já com relevantes serviços prestados á Pátria, das quais me permito destacar pelo enorme êxito obtido a Companhia de Caçadores 797, comandada na altura pelo então Capitão Carlos Fabião, que lhe valeram no final da comissão a promoção a Major por distinção, (viria a ser mais tarde figura importante no 25 de abril de 1974, então com o posto de General), aquele Batalhão conseguiu por em sentido as forças  inimigas, naquela região da Guiné.
Tite, era pois uma região, que gozava de uma certa tranquilidade, pois o IN tinha muitas dificuldades em aproximar-se do aquartelamento.
Assim vivemos alguns meses sem dar um tiro, mais precisamente 7 meses, até que no dia 1 de Março de 1967 o nosso descanso foi interrompido abruptamente.
Já a noite tinha começado a algumas horas, de repente surgem no céu escuro balas tracejentes, a que se seguiram inúmeros rebentamentos de granadas de morteiro, bazucas e roquetes, que enervaram e desorientaram muitos de nós.
Era o nosso baptismo de fogo real perante o IN, coisa a que não estavamos habituados. Tiros e rebentamentos, só os tinhamos ouvido á distância e bem longe. Cada um de nós procurou, com pôde tomar as suas posições defensivas, mas a confusão foi enorme, á que dizê-lo.
Jorge Gouveia


Aconteceu então, que ao correrem para as auto-metrelhadoras Daimler, foram atingidos por vários estilhaços de granada 3 elementos deste pelotão, que passo a mencionar e a quem presto, mais uma vez, a minha homenagem:
- 1º cabo José Féliz Lopes, que acabou por falecer
- Soldado Jorge Alexandre Gouveia, que ficou ferido, felizmente sem gravidade
- Soldado Manuel joaquim Moura Teixeira, também ferido, felizmente sem gravidade
Para além destes o BC 1680 registou mais 8 feridos, de entre eles 2 Alferes, Casimiro da Costa Ferreira e Arnaldo Francisco Martins de Carvalho. O Alferes Arnaldo Carvalho era o comandante do Pelotão de Morteiros 1039. O IN retirou-se ao fim de quase uma hora de fogo, segundo constou também com algumas baixas.
O dia seguinte foi utilizado, para fazer o rescaldo dos estragos causados e que foram de alguma monta.
Para nós, os das daimleres, foi um baptismo terrível, pois sofremos neste ataque as únicas baixas que tivemos durante a nossa comissão de serviço.
Por isso e para que conste, em memória de todos, um sincero agradecimento do comandante do Pelotão Daimler 1131.

                                                           Augusto Antunes
                                                              Alferes Miliciano