O Pedro faz hoje anos.
Para o Pedro o nosso abraço de parabens, que continue com saúde no seio da sua famila dos Montes Altos.
Um abraço de todos nós.
Leandro Guedes.
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A este respeito transcrevemos aqui parte dum artigo que reproduz o primeiro encontro que tivemos com o Pedro em 2010, após o regresso. Foi um verdadeiro momento histórico:
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"Os 65 anos do Pedro (em 2010)
Ainda não eram nove horas e já o Guedes, Pica, Carlos reguila, esposa e a "Dona Tom Tom", estavam a caminho dos Montes Altos.
Mas mal sabíamos a caloraça que aí vinha - 43 graus no seu pico máximo.
...
Por voltas das 11:30 chegamos ao ponto de encontro com o Mestre, na rotunda de Mértola.
Logo aí levamos um ralhete porque devíamos ter vindo por aquele lado e não pelo outro e porque passamos por ele e não o vimos… etc etc etc.
Já na companhia do Mestre e da esposa D.Conceição e depois de termos dado duas voltas à rotunda de Mértola, não sei se para despedida ou se porque o Mestre tinha saudades, lá seguimos rumo à Mina de São Domingos ao encontro do Ramos.
Quando lá chegamos, mais outro ralhete – então vocês vieram por baixo, deviam ter vindo direitos a Serpa, poupavam 30 ou 40 kms. (feitas as contas no fim da viagem poupamos uns 2 ou 3 kms apenas. ...)
O Mestre mete a colherada – não ligues o Ramos não sabe o que está a dizer… Não poupam quilómetros nenhuns e o caminho é mau.
Dois alentejanos castiços, cada um puxando para seu lado sem dar abébias ao outro. Mas às vezes as coisas roçam o azedo…
Quando chegamos à Mina estava também lá o Traquino e esposa, que é mais um dos recuperados, que já não víamos há muitos anos e que vive em Silves.
Mostrou-nos, orgulhoso, uma foto da sua bela e pequenina netinha com seis anos.
Por volta do meio dia chegamos aos Montes Altos. E lá estava o Pedro que, sem saber que nós íamos ao seu aniversário, como bom algarvio que é estava meio desconfiado. E mal viu o carro do Ramos e do Mestre, logo apercebeu que estavam ali os seus amigos.
Foi uma alegria. Toda a gente a dar-lhe os parabéns, tendo vindo ao nosso encontro o Sr. Diogo Sotero, excelente orientador de toda aquela equipa que trabalha naquela maravilhosa casa e que tanto bem tem feito ao nosso amigo Pedro.
Não esquecemos que o Pedro vivia no cartão, no Algarve, trabalhava sem que lhe pagassem, não tinha nada e foi encaminhado pelo jovem Mário para os Montes Altos, onde o Pedro adquiriu dignidade, conforto e bem estar, dando agora, verdadeiro valor à vida. Melhor das noticias – até já toma banho sozinho. Diogo Sotero, ao contar isto era, é, um homem feliz.
Bem mas veio o almoço, depois de cumprimentarmos todos os funcionários que naquela altura estavam nos Montes Altos.
E o almoço, confeccionado pelas senhoras dos Montes Altos, foi uma delicia – cozido de grão. E o que é o cozido de grão, isto para os ignorantes que não puderam lá ir?. É estufado de grão cozido, massinhas tipo cotovelo, carnes de diversas qualidades, hortelã, chouriço, muito bem temperado e apurado sem estar salgado.
Para a malta do norte, este prato é uma espécie de “Rancho”.
Uma maravilha. Foi de comer e chorar por mais. Parabéns à equipa da cozinha.
A rematar, sobremesas várias e o bolo de aniversário regado com champanhe delicioso, tendo-lhe sido cantados os parabéns.
O Pedro teve direito a beber um pouco de vinho e a fumar o seu cigarrinho.
No fim foi a abertura das prendas e aí o Pedro discursou um pouco e chorou de alegria.
Falta dizer que almoçamos ao ar livre – numa mesa estávamos nós (Diogo Sotero, Guedes, Ramos, Mestre e esposa, Pica, Pedro, Carlos Reguila, esposa, Traquino, esposa, noutra estavam as senhoras funcionárias e numa outra os funcionários.
Tínhamos aceite este convite para os anos do Pedro, combinando com o Sr. Diogo Sotero, comparticiparmos nas despesas do almoço.
Não quis nada. Disse que a despesa estava paga e o melhor pagamento foi nós estarmos lá, naquele dia especial para o Pedro e para os Montes Altos.
Entretanto houve os telefonemas daqueles que não podendo vir, não esqueceram o acontecimento – Hipólito, Contige, Cavaleiro, Victor Barros, Amador. Peço desculpa se me esqueço de alguém.
Ao encetarmos os preparativos para a despedida, começou a outra saga – o Mestre queria que fossemos lanchar a sua casa. Dizia a esposa que tinha lá um alguidar de carne à nossa espera.
Mas nós tínhamos prometido uns aos outros, ao partir de Setúbal, que vínhamos a tempo de ver o futebol em casa e por isso tivemos que recusar a boa vontade do casal Mestre.
Mas também, quem é que depois dum almoço daqueles nos Montes Altos, tinha barriga para uma alguidarada de carnes? Impossível.
Voltamos a ouvir os ralhetes do Mestre e do Ramos – vai por aqui que é melhor, vai por ali que é mais perto. Em que ficamos? - Óh Guedes não ligues ao Ramos. Óh Pica não ligues ao Mestre.
Resolvemos ir por outro caminho diferente da ida e assim seguir o conselho do Ramos, contra a vontade do Mestre. Fomos atrás dele até Moura e depois seguimos o nosso caminho.
Ao fim e ao cabo acho que Portugal perdeu com a Espanha, como castigo por não termos ido lanchar com o Mestre, mas desculpa amigo, fica para a próxima.
Bebemos uma aguinha num tipico café alentejano de beira da estrada, onde fiz o meu euromilhões e chegamos a bom porto, em Setúbal.
Reiteramos por fim os nossos agradecimentos eternos à equipa dos Montes Altos na pessoa do Sr. Diogo Sotero, ao jovem Mário que o encaminhou na vida, às funcionárias/funcionários que tudo fazem para que o Pedro e os outros utentes, se sintam melhor ali do que estavam nas suas próprias casas ou a viver no cartão.
Como nota queremos apenas dizer, que em conversas entre nós temos valorizado imenso o gesto do jovem Mário, que apesar da sua pouca idade se preocupou com um idoso sem abrigo, um deserdado da vida e o encaminhou para aquela casa que tem sido a salvação do Pedro. Não é comum este comportamento de gente jovem em relação aos mais velhos desamparados.
Bem hajam todos!
Muito e muito obrigado.
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dos Montes Altos recebemos este email:
Caros amigos do Batalhão de Artilharia 1914-Tite, a vossa vinda a Montes Altos, é daqueles gestos que já não se vêem nos dias de hoje, pois deslocarem-se de tão longe para vir ao aniversário de um companheiro de guerra de há 40 anos, revela um grande espirito de equipa e seguramente de horas amargas que passaram juntos numa guerra estupida que fiquei certo ao ouvi-los deixou marcas para toda a vida.
Por isso foi com muita amizade que vos recebemos a vós e outros amigos que aqui se deslocam por esta ou outra razão. Aqui se tratou tão bem o Senhor Presidente da República como tratamos os sem abrigo, como é o caso do" Pedro das vacas" ou o tio Zé como nós chamamos.
É esta a nossa divisa tratar e receber todos bem, desde que venham por bem.
Recebam um abraço deste amigo.
Diogo Sotero
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