33⁰ Almoço anual do BART 1914, em 15 de junho de 2024, no restaurante Vianinha Catering, em Santa Marta de Portuzelo. Organizador Daniel Pinto e seu filho Rui Pinto.
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“Se servistes a Pátria que vos foi ingrata, vós fizestes o que devíeis e ela, o que costuma”
(Do Padre António Vieira, no "Sermão da Terceira Quarta-Feira da Quaresma", na Capela Real, ano 1669. Lembrado pelo ex-furriel milº Patoleia Mendes, dirigido-se aos ex-combatentes da guerra do Ultramar.).
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"Ó gentes do meu Batalhão, agora é que eu percebi, esta amizade que sinto, foi de vós que a recebi…"
(José Justo)
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“Ninguém desce vivo duma cruz!...”
"Amigo é aquele que na guerra, nos defende duma bala com o seu próprio corpo"
António Lobo Antunes, escritor e ex-combatente
referindo-se aos ex-combatentes da guerra do Ultramar
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“Aos Combatentes que no Entroncamento da vida, encontraram os Caminhos da Pátria”
Frase inscrita no Monumento aos Heróis da Guerra do Ultramar, no Entroncamento.
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"Tite é uma memória em ruínas, que se vai extinguindo á medida que cada um de nós partir para “outra comissão” e quando isso nos acontecer a todos, seremos, nós e Tite, uma memória que apenas existirá, na melhor das hipóteses, nas páginas da história."
Não
voltaram todos… com lágrimas que não se veem, com choro que não se ouve… Aqui
estamos, em sentido e silenciosos, com Eles, prestando-Lhes a nossa Homenagem.
Ponte de Lima, Monumento aos Heróis
da Guerra do Ultramar
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terça-feira, 29 de novembro de 2011
Os xu-xus do Hipólito
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
domingo, 27 de novembro de 2011
sábado, 26 de novembro de 2011
O Fado é Rei
Abraços.
LG.
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
Pelotão Daimler 1131 - uma oportuna rectificação!
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quarta-feira, 23 de novembro de 2011
O REENCONTRO COM O MEU VELHO BAIRRO DAS FURNAS
Tens em troca
órfãos e órfãs
E campos de solidão
E mães que não têm filhos
Filhos que não têm pais·
(Zeca Afonso)
A tarde já vai alta.
Foi diferente a partida da Guiné. Desta vez não houve fanfarra e lenços a acenar. Apenas o soar da sirene do navio.
São menos os que partem naquela primeira segunda-feira do mês de Março de 1969. Não são os mesmos “meninos” de outrora, a guerra tornou-os homens e diferentes.
Ficam para trás as águas barrentas, o navio já vai distante. Na ânsia da partida não tive tempo para me despedir daquela terra de cor vermelha, do seu cheiro, das árvores centenárias, dos pássaros, das bolanhas, do seu magnífico pôr-do-sol, do silêncio das noites estreladas ou do medo quando da cor do breu, do seu povo. É um conjunto de imagens que a guerra e o tempo não conseguirão apagar.
Dos ausentes, em tempo, “Em nome da Pátria”, através de um qualquer oficial subalterno, naquela que foi sua morada, surge a notícia da morte. A família e os amigos choram para sempre a sua sorte. Também a guerra e o tempo não conseguirão apagar a imagem dos meus camaradas que tombaram com honra naquele chão que lhes era alheio.
Na partida, mas com a data de cinco meses antes, a mim, e aos demais que me acompanham, é-me entregue um “papel verde”, “O Comandante Militar atesta o seu apreço pelos serviços prestados á Pátria na Província da Guiné”. Aos que ficaram para a vida inteira mutilados, estropiados não sei se a “Pátria” também lhes atestou o seu apreço.
As mesas e beliches nos porões do Uíge, pelo seu uso, não se notam que são de madeira, negra é a sua cor. Ao contrário da ida, os vomitados do enjoo já não importam. A limpeza precária e a falta do banho diário, o barulho dos motores, pouco ou nada incómoda.
Repete-se a vida no convés.
Só nas conversas se observam excepções, são de contentamento e alegria.
Todos acordam cedo naquela manhã de 9 de Março, a brisa do mar gela-me a cara, os meus olhos já avistam a terra que me viu nascer. Uns choram, outros abraçam-se, procuro um lugar, como muitos, na amurada do navio.
Já vejo o Tejo e os “cacilheiros”. Todos estrategicamente se calam para após a passagem da ponte, dizerem em uníssono……JÁ PASSOU.
O navio prepara-se para atracar. Aqui, alem, vêm-se cartazes….Estou aqui Manuel…. Leiria. Esperamos por ti……. Família Santos Aqui…… Massarelos Presente.
Os gritos de alegria com o desembarque comovem. Mães, Pais, Filhos, Mulheres, Noivas, Amigos, todos se abraçam. A nuvem negra parece ter passado o e sofrimento acabado.
Quartel do RAL 1 nos Olivais. O aeroporto de Lisboa está por perto, entregamos o que resta dos fardamentos. Despeço-me dos meus camaradas com um até breve. Vou para casa onde a família me espera.
Reencontro o meu velho Bairro das Furnas. A guerra, essa, durou estupidamente mais cinco anos.
terça-feira, 22 de novembro de 2011
Hoje é a vez do ex-furriel Ramos fazer anos
domingo, 20 de novembro de 2011
O ZÉ MANEL NÃO GOSTA DO PAPAGAIO DO CONTIGE
O Carlos Reguila faz hoje anos.
sábado, 19 de novembro de 2011
ex-alf. António Moreira, da CART 1690 - mais uma crónica no jornal Badaladas.
Como é seu timbre, volta a fazer referencia aos ex-combatentes.
Cumprimentar, não dói nada...
Conta-se uma história de um empregado num frigorifico da Noruega.
Certo dia no término do seu trabalho, foi inspecionar a câmara frigorífica. Inexplicavelmente, a porta fechou-se e ele ficou preso dentro da câmara. Bateu na porta com força, gritou por socorro mas ninguém o ouviu, todos já haviam saido para as suas casas e era impossível que alguém pudesse escutá-lo. Já estava quase há três horas preso, debilitado com a temperatura insuportável. De repente a porta abriu-se e o guarda entrou na câmara e resgatou-o com vida. Depois de salvar a vida do homem, perguntaram ao guarda: - “Porque foi abrir a porta da câmara se isto não fazia parte da sua rotina de trabalho?”
Ele explicou:
- “Trabalho nesta empresa há 35 anos, centenas de empregados entram e saem aqui todos os dias e ele é o único que me cumprimenta ao chegar pela manhã e se despede de mim ao sair. Hoje pela manhã disse “Bom
dia” quando chegou. Entretanto não se despediu de mim na hora da saída. Imaginei que poderia ter-lhe acontecido algo. Por isso o procurei e o encontrei... ”
(enviado pelo meu amigo José Ferreira)
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
As abelhas do Hipólito e as vacas do Daniel Pinto
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
Excelente texto, enviado pelo Pica Sinos!
sábado, 12 de novembro de 2011
Encontros anuais
-do cap. Vicente, que eu sabia morar para os lados de Elvas. Telefonei para vários sitios até que alguém me disse que ele tinha falecido num acidente de viação;
-do Arrabaça que morava lá para os lados do Entroncamento;
-do Paraíso Pinto que alguém me tinha dito que trabalhava na Confederação do Comércio Interno;
-do Patinho que sabia estar em Cascais no quartel de artilharia;
-do Bagulho que morava para os lados de Sesimbra;
-do Reguila que estaria pelo Cacém e que mais tarde vim a saber que tinha emigrado;
-do Marinho que trabalhava na antiga EDP (CRGE…);
-do Fernando Alves que estaria no BES;
-do Pedro que era do Algarve mas do qual não sabia a morada certa;
-do Esmoriz; do Costa; do Luis Silva, todos eles morando perto, mas sem saberem uns dos outros.
-do nosso capelão, que foi das primeiras pessoas com quem falei ao telefone, minutos antes de iniciar uma missa, numa Igreja lá para os lados de Valença…… Este contacto consegui obtê-lo junto do Patriarcado, e, dessa conversa com o nosso capelão ficou ele incumbido de encontrar o “malandro” do seu assistente eclesiástico, uma vez que bem conhecia a sua morada.
-do Águas com quem também falei e que morava em Pereiró no Porto, cujo contacto telefónico me foi dado pela respectiva Junta de Freguesia.
-do Pereira que eu julgava residir no Gerês e por isso várias vezes liguei, sem sucesso, para diversos locais daquela zona……..,afinal a sua residência era em Barcelos.
-do Gentil, que foi também um dos primeiros a ser por mim contactado, dado eu saber que a sua residência era em Vila Verde dos Francos, relativamente perto de Torres Vedras.
-do Viana, que eu pensava ser mesmo de Viana, afinal era de Pedras Rubras e não consegui contactá-lo.
-do Cavaleiro, tendo conseguido localizá-lo já não me lembro bem como, mas acho que liguei directamente à secção de pessoal da Celulose de Viana e falei com ele.
-do Claro, que consegui localizar em Aveiro.
-do Brig. Helio Felgas, com quem estabeleci contacto telefónico, mas que infelizmente estava muito doente, assim como a sua esposa e por isso mesmo não lhe foi possível estar presente.
-Lembro-me de ter procurado o Alcântara mas não consegui contactá-lo;
-do João Maria e do Noné, nada consegui saber.
-do Melo…., o que eu procurei pelo Melo…..!!!!, a quantas portas bati e nada….!!! (Só apareceu há dois ou três anos atrás).
-o Pintassilgo também não foi fácil encontrá-lo…. Disseram-me que era inspector da PJ do Porto e eu, dando como certa tal informação, telefonei e pedi que me encaminhassem a chamada para o Sr. Inspector Pintassilgo….! – Quando concluí que não havia nenhum inspector com este nome, transferiram a chamada para o arquivo da PJ (que era o seu local de trabalho…. como arquivador!) e só então foi possível falar com ele;
-o Sousa, o Henriques, foram outros dos procurados.
-o Pica e o Justo, não me lembro como foram contactados.
-o Guilherme também o procurei pois lembrava-me que ele era da terra do furriel Cardoso que morreu ao atravessar o rio na noite da tragédia de Bissássema.
-o Serafim, liguei para o casino do Estoril e lá o encontrei.
-o Heitor, foi contactado pelo Arrabaça.
-o Domingos Monteiro, eu sabia que trabalhava na Marinha Grande e lá consegui localizá-lo na cimenteira.
-procurei o Guimarães que sabia ser de S.Jorge, na Batalha.
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
Chegou a vez do Arrabaça fazer anos
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
Lembrando uma caldeirada em Peniche
Porque vale sempre a pena lembrar, rever, reviver as coisas boas, aqui publicamos novamente um video feito pelo Pica, sobre uma bem festejada caldeirada em Peniche, organizada pelo Henriques e que aconteceu há dois anos atrás.
A messe de oficiais em Tite e outras fotos.
João Claro, dos Morteiros, faz hoje 66 anos.
Que passe um dia muito bem passado junto dos seus.
Um abraço de todos nós.
terça-feira, 8 de novembro de 2011
Hoje faz anos o Zé Manuel (Alcantara)
Muitos parabens.
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
As velhas do meu bairro...do blog do Pica Sinos
Vale a pena ler o artigo e ler o blog.
"Oh Ti Georgina! Chama alguém junto da cancela do quintal.
Quem é? Retorquiu.
Sou a Adélia.
Diz filha…, o que queres?
Olhe: A sua roupa que está estendida no estendal, já está toda enxuta. Eu preciso dos arames!
Ah é? Então vou já querida, vou já.
Por causa da ocupação, por uma só pessoa, de muitos dos arames por via da roupa estendida, havia por vezes discussão.
A Ti Georgina, bem cedo, ocupava quase todos os arames do lado direito do estendal do lavadouro existente ao fundo das ruas do Bairro.
A roupa que lavava, proveniente do Laboratório onde trabalhava, era imensa. Sobretudo toalhas, batas e alguns lençóis da casa das doutoras, que quando penduradas nos arames e estendidas no chão ao sol, pouco espaço deixava. Principalmente para quem também tinha muita roupa para estender.
As “velhas” do meu Bairro, em especial as da minha Rua, porque melhor as conheci, eram, (algumas felizmente ainda vivas), gente muito humilde, simpáticas e de bom trato para com todos. Sobretudo com as crianças.
Respeitavam o próximo e faziam-se respeitar.
Quase todas analfabetas, mas conhecedoras da vida como ninguém.
Eram “mestras” em ultrapassar as dificuldades com que se deparavam e, não eram embaraços tão pequenos como isso.
Eram tempos muito difíceis.
Quantas vezes comiam mal, para que o pouco que tinha não faltasse aos seus filhos e quiçá maridos.
Contudo, diga-se, que nem todas as “velhas” do meu velho Bairro das Furnas, pautavam pelo mesmo grau de dificuldades. Umas tinham menos dificuldades que outras. Mas todas tinham vidas sofridas. Contudo, também sabiam rir e brincar, sabe Deus, muitas vezes, a que custo.
Onde vais Georgina? Diz-lhe uma vizinha ao vê-la subir a rua dos Plátanos. Vou à praça. À Cármen. Vou fazer contas com ela, e comprar uma cenourita. Talvez também um nabo para pôr na sopa.
Olha…Não vou demorar. Tenho o feijão ao lume, há duas horas, e o “cabrão” ainda não cozeu. O Adriano vem comer ao meio-dia, não me posso atrasar.
A Cármen, vendia, frutas e as hortaliças na praça. Cujo edifício detinha diversas bancas de produtos hortícolas e de frutas. Também era provido de talho, padaria e mercearia. Ficava situado na entrada do Bairro.
A Cármen era uma mulher alta e bonita. A sua voz era forte. Amiga do seu amigo. Sabia das dificuldades de todos os seus clientes, e sempre que saldavam as contas ao “rol”, ajudava, na nova encomenda, com a oferta de uma ou outra peça da sua bancada.
Como eu recordo: Da mãe da Beatriz. Da mulher do Ti Cardoso, mãe do Meca. Da Ilda (dos óculos), da Ti Carolina. Da Ti Engrácia, da Ti Teresa, que vendia azeitonas e morava em frente à casa da Olga. Da Ti Rosa, da Ti Irene.
Como eu recordo: A mãe (e da irmã) do Zé Koi, que mais tarde foram para a rua das Oliveiras.
Como eu recordo: Da Maria do Carmo, Da mulher do alfaiate, que morava em frente à minha casa. Da Ti Matilde infelizmente pouco me lembro. A Ti Josefa, alentejana e mulher do sapateiro, que o seu ritual diário era estender, em panos colocados no chão, as ervas e pétalas das flores, que colhia, secando-as ao sol, destinadas à venda para chá.
Como eu me lembro da Adélia, felizmente ainda viva.
A minha casa, a pretexto do romance do “Tide”, que passava todos os dias na rádio, pela tarde, depois do almoço, era palco de encontro de diversas vizinhas.
Quer o romance, quer o que se passava depois dele, o que conversavam/contavam umas às outras, não me preocupava saber.
Confesso que não gostava de romances e muito menos de “encontros de cusquice”. Se bem que não podia deixar de as ouvir, mesmo fechando a porta do meu quarto.
Num dia… diziam as cenas passadas ou ouvidas de personagens suas vizinhas ou não. Salvaguardando o escárnio e o mal dizer, de alguém que pudesse estar presente.
Num outro dia… o “fado” era o mesmo.
Comentava-se as cenas de quem esteve na reunião anterior, e outras cenas entretanto acontecidas. Faziam uma espécie de “acta falada”.
Sabes o que disse a….daquela que mora…
O marido da fulana… bateu-lhe com a bebedeira.
A sujeita tal… deve-me dinheiro que lhe emprestei e há duas semanas e ainda não me deu. Se o meu marido sabe, tenho “sermão”.
O miúdo da…tem a cabeça cheia de piolhos…
O filho da…está com anginas.
Todos nós, rapazolas, respeitávamos as “velhas” do nosso Bairro. Mas também é certo que gostávamos mais de umas de que outras. Daquelas que nos metiam medos, dizendo que iam fazer queixas às nossas mães, quando encetávamos as barulhentas brincadeiras, gostávamos pouco. Não gostávamos mesmo nada, daquelas porque “dá aquela palha”, faziam queixas ao fiscal Costa. Como era o hábito da personagem chamada Estrela que à beira da sua casa tinha uma palmeira.
Desta senhora, a Estrela, não era só os miúdos que tinham medos. A vizinhança dizia que era irmã da governanta do Salazar. Se era ou não, da fama não se livrara. Como era uma senhora muito altiva, quiçá arrogante, as “conversas” com as suas vizinhas ficavam-se, por uns (entre dentes) bom dia ou boa noite, e mais falas não haviam.
Como eu recordo: A mãe do Luis Filipe, no seu passo pequeno mas ligeiro, a subir a minha rua. A mãe dos irmãos Espinha. Da do Armando Claro, da do José Silva, da Ti Virgínia, entre outras.
Fora da minha rua dos Plátanos, também recordo com saudade: A mãe do “Rabaloto” que era peixeira. Da mulher do Caixinha que era revisor da CP. Da ti Amélia que vendia fruta numa carroça. Da Pomposa das mamas grandes e de outras tantas.
Que saudades meu Deus.
Dada a proximidade do Bairro ao Jardim Zoológico e quando o vento soprava a norte…
Numa dessas manhãs, oiço perguntar:
Olha lá, não ouvistes toda a noite o uivar dos leões e o cantar dos pavões?
Não dormi toda a noite!
Não filha, não ouvi! Retorquiu a Ti Georgina.
O que ouvi, e que não me deixou dormir toda a noite foi o ressonar do meu marido, com a ressaca da bebedeira de ontem à noite! Raios o partam!
Pica Sinos."
DICA PARA FAZER COMENTÁRIOS
1- temos primeiramente que abrir o email com o qual queremos fazer o comentário
2- abrimos o blog que queremos comentar
3- inserimos o comentário na janela respectiva
4- em "comentar como", clicamos em "conta google"
5- clicamos em enviar comentário
6- inserimos o endereço do email aberto e respectiva senha, se ele pedir, pois nem sempre pede
7- a seguir ele pede para colocar aquelas letrinhas chatas
8- clicamos em "enviar comentário" e já está.
Ou seja, o segredo da questão está aparentemente, em abrir previamente o nosso email e todo o resto é igual ou parecido com o anterior.
Abraços.
LG.
domingo, 6 de novembro de 2011
Vamos dar corda ao blog? - pelo Cavaleiro (há uns tempos atrás...)
Companheiro,
Vamos dar “corda” ao nosso BLOG?!
Se estiveres de acordo, eu continuo com Fernando Pessoa.
Mesmo em tempo de crise é possível presentear os meus Amigos com uma PRECIOSIDADE, que no meu entender, considero uma maravilha ...
O Menino Jesus, nas palavras de Alberto Caeiro, pela voz única, grave e ternamente sentida de Maria Bethânia.
Espero que gostem………………………………………..de POESIA e de Maria Bethânia!!
Um abraço,
Cavaleiro
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Alberto Caeiro - Poema do Menino Jesus
Num meio-dia de fim de primavera
Eu tive um sonho como uma fotografia
Eu vi Jesus Cristo voltar à terra.
Veio pela encosta de um monte.
E era a eterna criança, o Deus que faltava.
Tornando-se outra vez menino,
A correr e a rolar pela relva
E a arrancar flores para deitar fora.
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir de segunda pessoa da Trindade.
Um dia, que Deus estava dormindo
e que o Espírito Santo andava a voar
Ele foi até a caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro, ele fez com que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo, ele criou-se eternamente humano e menino.
E com o terceiro ele criou um Cristo
e o deixou pregado numa cruz que serve de modelo às outras.
Depois ele fugiu para o sol
e desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje ele vive comigo na minha aldeia
e mora na minha casa em meio ao outeiro.
É uma criança bonita, de riso e natural.
Atira pedra aos burros.
Rouba a fruta dos pomares.
E foge a chorar e a gritar com os cães.
Nem sequer o deixaram ter pai e mãe
como as outras crianças.
Seu pai eram duas pessoas: um velho carpinteiro
e uma pomba estúpida, a única pomba feia do mundo.
E sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher, era uma mala
em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que justamente ele pregasse o amor e a justiça.
Ele é apenas humano,
limpa o nariz com o braço direito,
chapina as possas d'água;
colhe as flores, gosta delas,
esquece-as.
E porque sabe que elas não gostam
e que toda a gente acha graça,
ele corre atrás das raparigas
que carregam as bilhas na cabeça e levanta-lhes as saias.
A mim, ele me ensinou tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as belezas que há nas flores.
E mostra-me como as pedras são engraçadas
quando a gente as tem nas mãos e olha devagar para elas.
Ensinou-me a gostar dos reis e dos que não são reis.
E tem pena de ouvir falar das guerras e dos comércios.
Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente.
Sempre a escarrar no chão e a dizer indecências.
E que a Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meias.
E o Espírito Santo coça-se com o bico;
empoleira nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é tão estúpido como nas Igrejas.
Diz-me que Deus não percebe nada das coisas
que criou - do que duvido.
"Ele diz por exemplo que os seres cantam sua glória.
Mas os seres não cantam nada
se cantassem, seriam cantores.
Eles apenas existem e por isso são seres..."
Ele é o humano que é o natural.
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E é por isso que eu sei com toda certeza que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E depois, cansado de dizer mal de Deus
ele adormece nos meus braços.
E eu o levo ao colo para minha casa.
Damo-nos tão bem na companhia de tudo
que nunca pensamos um no outro.
Mas vivemos juntos os dois
com um acordo íntimo,
como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer, nós brincamos nas cinco pedrinhas do degrau da porta de casa.
Graves, como convêm a um deus e a um poeta.
É como se cada pedra fosse um universo
e fosse por isso um grande perigo deixá-la cair no chão.
Depois ele adormece.
E eu o deito na minha cama despindo-o lentamente
seguindo um ritual muito limpo, humano e materno até ele ficar nu.
E ele dorme dentro da minha alma.
Às vezes ele acorda de noite e brinca com os meus sonhos.
Vira uns de perna para o ar.
Põe uns encima dos outros.
E bate palmas sozinho sorrindo para o meu sono.
Quando eu morrer, filhinho, seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo.
E leva-me para dentro da tua casa.
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde, para eu tornar a adormecer.
E dá-me os sonhos teus para eu brincar...
(Alberto Caeiro)
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Cavaleiro:
A corda partiu-se???!!!
Estamos à espera de mais textos teus.
Abraços
LG.