(Lembrado neste Blog há dez anos…)
Meus amigos
Ao longo destes 52 anos que já se passaram, desde o nosso
regresso do Ultramar, têm sido com certeza inúmeras as vezes que todos nós nos
temos lembrado (e continuaremos certamente a fazê-lo), de companheiros de
guerra, de episódios por lá vividos, alguns deles em que tivemos intervenção
activa, outros onde fomos apenas figurantes e outros ainda, talvez, apenas
meros espectadores, ou ouvintes….
Mas toda essa vivência, todas essas experiências pelas quais
passámos, marcaram-nos a todos de forma tão intensa, que hoje continuamos a
recordar tudo o que por lá se viveu, quer nos encontros que realizamos, quer
através destes pequenos relatos que cada um se disponibiliza a escrever, quando
à sua memória chegam tais lembranças.
E é nessas alturas, quando me vêm à memória lembranças
desses tempos, que algumas vezes penso em dois amigos já falecidos, que, tal
como nós, também estiveram na Guiné e por isso hoje venho aqui
recordá-los novamente.
Ambos se chamavam “Tony”;
Ambos eram meus amigos;
Ambos estiveram a lutar na Guiné;
Ambos faleceram durante o período da nossa permanência por
aquelas paragens…..
- Um deles, o António Pinto, foi um amigo desde antes da
escola primária, companheiro de brincadeiras, tinha a alcunha de “Tony Galo”,
não sei bem porquê, mas talvez porque, sendo “Pinto”, um dia chegaria a “Galo”.
Era também contemporâneo do José Alberto Gonçalves.
- O outro, o António Lima, conheci-o mais tarde, já na fase
da escola secundária, mas era também um amigo, tinha a alcunha de “Tony Preto”,
talvez devido à sua côr muito morena.
Enquanto eu estive na Guiné nunca ninguém me disse que estes
meus amigos tinham falecido, um em Fevereiro de 1968 e o outro no inicio de Maio de 1968 . Talvez porque pensassem que em Tite não havia choro nem ranger
de dentes…. Os funerais foram a 21 e 22 de Maio de 1968.
Só soube das suas mortes, após o regresso à Metrópole.
Em conversas anteriores à nossa partida, tínhamos feito contas à
vida...
Mas, infelizmente, estes dois amigos faleceram em combate,
sendo que o Tony Galo se encontra sepultado no cemitério de Paranhos e o Tony
Preto no cemitério de Prado de Repouso, ambos no Porto.
Em jeito de homenagem a estes meus amigos, a seguir
transcrevo um poema escrito por uma amiga comum, também ela já falecida pouco
depois do nosso regresso da Guiné, poema este dedicado na altura ao Tony
"Preto":
"A UM AMIGO
MORTO
Ao Tony
Morreste-me irmão
(eras como se o fosses, podes crêr)
levaste contigo
saudades sem conta,
lágrimas salgadas
cheiinhas de dor,
que por serem tantas
estou da tua cor.
Eras-me tão querido
(a mim e a todos!...)
oiço-te falar, com
tua voz grossa,
porque embora longe,
continuas perto,
vejo o teu sorriso
tão franco e aberto...
A minha homenagem (a
minha e a dos meus)
fica nestes versos
sinceros, sentidos.
Sei que me escutas,
pois estás na Verdade:
recebe saudades,
saudades, saudades...
PT.
José Alberto Gonçalves, à esquerda, em Mapatá. O 4º militar da esquerda é o nosso amigo José Luis Patricio, alf. miliciano.
Mas recordo também os que regressaram.
O José Alberto Gonçalves esteve na Guiné , embora eu nunca o tivesse por lá encontrado. "Falo" também com ele várias vezes no Facebook.
O Daniel de Sousa que assentou praça nas Caldas comigo, mas
que não foi para o Ultramar. Falo com ele várias vezes pelo Facebook.
Daniel de Sousa
Outro amigo de juventude é o Emanuel. O Emanuel L.Leite um dia apareceu em Tite a pilotar um Hely Alouette da Força Aérea. Foi uma alegria quando nos encontrámos. Por coincidência ou não, a partir daí começou a vir mais vezes a Tite, trazendo ou levando principalmente correio e documentos classificados/confidenciais. Ele e o cap. Vicente tornaram-se amigos, porque o Emanuel passou a trazer-lhe encomendas da Esposa e da Filha, que moravam em Elvas. Nunca mais vi o Emanuel após o regresso. O Emanuel teve mais tarde funções de responsabilidade no Jornal de Noticias.
Enfim, recordações!
Helicóptero Alouette
Leandro Guedes
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De José Luis Patricio, alf. milº na Guiné:
Caro amigo, Leandro.
Estou na fotografia de hoje no blogue
do Bart Tite. A minha mulher enganou-se, à primeira, na identificação. A Isabel
descobriu logo, sem qualquer dúvida... Ao lado do José Alberto, está o
Agostinho, enfermeiro da CART 2519, com quem eu conversava muito e gostava de
conversar... A seguir ao Agostinho está o responsável por uma página do
facebook sobre a companhia dele... Entretanto, aproveito para pedir um exemplar
do livro de memórias da vossa experiência na Guiné e sequelas até aos dias de
hoje. Quanto a pagamento, faria uma transferência para número de conta a
indicar..., por exemplo. É possível, acho eu...
Um abraço