"Há 51 anos...
|
Alferes Rosa |
Bissassema, PU da Guiné, 2 de Fevereiro de 1968
Desta fatídica estadia em Bissassema, na noite de 2 para 3
de Fevereiro de 1968, no seu livro 'Memórias de um prisoneiro de guerra",
alferes miliciano António Júlio Rosa, relata-nos:
"Seria meia-noite, quando, quem estava já dormindo, e
era o meu caso, foi despertado violentamente!... Os 'turras' estavam a
atacar!... Ouviam-se rebentamentos e muitas rajadas. Era um fogo contínuo e
feroz. O ataque tinha sido desencadeado, a sul, no lado da mata... Estavam lá
os africanos de Tite e alguns de Empada. O tiroteio manteve-se muito intenso
durante cerca de meia hora. Depois... diminuiu até cessar completamente.
Quando o tiroteio acabou, ficámos convencidos de que o
ataque tinha sido repelido. Contactei o Maciel para darmos uma volta pelos
abrigos e ver se tudo estava bem. Deslocámo-nos até ao último abrigo do meu
pelotão, situado a uns cinquenta metros e verificámos que tudo estava normal.
Íamos prosseguir a nossa ronda para sabermos dos africanos,
quando, a uns cinquenta metros, se ouviu uma rajada de pistola-metralhadora. O
som parecia vir de dentro do nosso perímetro. Ficámos os dois perplexos porque
não tínhamos armas que “cantassem” assim!... Regressámos de imediato, à zona do
comando e alertámos para a possibilidade do inimigo se achar no meio das nossas
forças. Dentro do posto de comando encontrava-me eu, o Maciel, o Cardoso, o
Gomes e três operadores das transmissões. De repente, apareceu, transtornado, o
comandante da milícia de Tite. Só teve tempo de nos dizer que os ‘turras’
estavam dentro do perímetro e se dirigiam par o local onde nos encontrávamos.
Mal acabou de falar fomos atacados. Não deu sequer tempo para se tentar
encontrar uma solução!...
Rapidamente, procurámos sair para o exterior. Quando cheguei
à porta, seguido pelo Geraldino e pelo Capitulo, rebentou uma granada ofensiva
mesmo à nossa frente. Com o sopro da explosão fui empurrado para trás e não via
nada pois tinha os olhos cheios de terra. Com o estrondo, fiquei surdo!...
Foi uma sensação horrível!... Pensei que ia morrer!... Foi
impressão instantânea que passou em segundos. Entretanto, tive outra
sensação!... Tive o pressentimento que ia ser abatido!... Sinceramente fiquei
preparado para morrer!...
…
Senti-me agarrado, ao mesmo tempo que alguém me socava,
violentamente, mas não sentia qualquer dor. Estava prisioneiro!... O Dino e o
Capitulo tiveram a mesma ‘sorte’!... Seriamos levados para Conakry…”
…
Às 3 horas da fatídica madrugada do dia 3 de Fevereiro de
1968, militares da CCaç 2314 e dois pelotões da CArt 1743, estavam em marcha de
Tite para Bissassema para socorrer os seus camaradas, mas em vão, pois já os
não encontraram…
Após uma tentativa fracassada de fuga do cativeiro, Alferes
António Rosa e mais 25 prisioneiros portugueses, seriam libertados da prisão
'Montanha' na República da Guiné-Conakry, numa acção militar "Operação Mar
Verde" pelas Forças Armadas Portuguesas, realizada em 22 de Novembro de
1970, concebida e executada pelo fuzileiro capitão-tenente Alpoim Calvão, com o
apoio do Comandante-Chefe e Governador da Província Portuguesa da Guiné,
brigadeiro António de Spínola."
João Trabulo.
Sem comentários:
Enviar um comentário