USOS E COSTUMES SOCIAIS
na sociedade guineense, apesar do poder central e local ter contornos clássicos, o regulado – forma de poder tradicional exercido pelos herdeiros dos reinos pré-coloniais, representa ainda com muita expressividade o poder por excelência nas diversas etnias.
O RÉGULO - é a entidade máxima numa determinada comunidade local que funciona independentemente do estado, tendo responsabilidade em matéria de administração territorial, de arbitragem em questões de ordem social ou divisão fundiária e agindo mesmo na veste judicial. Detém também um papel crucial na regulação social e cabe-lhe, por exemplo no contexto da etnia Manjaca, determinar o início e o fim das colheitas por parte de todos os cidadãos da região subordinados ao seu poder, seguindo-se uma série de rituais pré-estabelecidos. Já nas etnias islamizadas, o régulo foi de certa forma substituído pelas autoridades religiosas.
É transversal a todas as etnias o enorme respeito pelos mais velhos e o conceito de família e de solidariedade é bastante amplo, havendo sempre lugar para acolher mais um, dois ou três em casa em caso de morte do familiar que lhes assegurava sustento.
os principais momentos da vida social guineense, como nascimentos, casamentos, funerais, cerimónias de iniciação dos jovens ou o princípio da época das colheitas estão sujeitos a cerimónias cheias de significado e que diferem de etnia para etnia.
O FANADO - ritual de iniciação da vida adulta é praticado por rapazes (trata-se, entre outras coisas, da circuncisão) e raparigas (em alguns casos envolvendo a prática da excisão, criminalizada na Guiné-Bissau desde 2011) e é efetuado por várias etnias, variando a idade dos intervenientes, a periodicidade com que é praticado ou a sua duração. Com o Fanado, estes jovens tomam consciência da sua função social e da sua personalidade, passando em algumas etnias, um período na floresta ou no mato, no cumprimento de uma série de cerimónias envoltas em grande secretismo de que não devem falar quando regressam e assumem o seu novo papel na sociedade.
O CASAMENTO - é um momento de grande alegria, com tradições que variam entre etnias. na sociedade guineense a poligamia é praticada por alguns grupos étnicos e os casamentos por acordo entre famílias são também comuns. Por exemplo, entre os Balantas acorda-se o casamento e há lugar ao pagamento de um dote, normalmente traduzido na entrega de uma determinada quantidade de animais de criação. ainda se verifica, de certa maneira, a preferência por casamentos dentro da mesma etnia embora a fusão seja uma realidade cada vez mais presente, principalmente na capital, Bissau, onde se concentra a maior parte da população e a multiplicidade étnica que habita um mesmo espaço é enorme.
A MORTE - para os animistas, a morte representa um prolongamento da vida e o funeral é um momento de alegria e motivo de festa quando o morto teve uma vida longa. a vida é o resultado de um equilíbrio entre forças materiais e espirituais que, quando perturbadas, se manifestam com doenças, mortes prematuras e mesmo desgraças
[Guia TurísTico] À Descoberta da Guiné-Bissau (17)
para as comunidades locais. se o morto foi uma pessoa de bem na vida terrena, encontra imediatamente a felicidade na nova dimensão, caso contrário, o seu espírito vagueia sem paz na floresta até, por fim, pagar as suas penas. o funeral, embora varie de etnia para etnia, tem uma matriz comum, o “choro”.
O CHORO, trata-se de uma cerimónia em que se juntam os familiares e os amigos do morto. Durante uma semana comem e bebem, num momento de alegria pela partida do espírito que se liberta do corpo, muitas vezes ao som do bombolom em verdadeiros momentos de transe.
O TOCA-CHORO - uma cerimónia de evocação do espírito do morto, é realizado um ano ou mais após a morte e familiares e amigos trazem alimentos e animais para serem sacrificados durante vários dias de festa e comunhão. Conforme a importância do falecido na sociedade, maior é a celebração e maior o número de animais sacrificados, daí que por vezes os familiares e amigos só realizem esta cerimónia alguns anos mais tarde, de forma a conseguir juntar o dinheiro necessário para realizar a cerimónia.
A LÍNGUA
a língua oficial da Guiné-Bissau é o português, embora seja falada apenas por cerca de 13% da população. os guineenses usam essencialmente o crioulo para a sua comunicação corrente (cerca de 60% da população) ou um dos cerca de 20 dialetos existentes na Guiné-Bissau, como o fula, o balanta, o manjaco, o mandinga, o felupe, o papel, o bijagó, o mancanha e o nalu, entre outros.
AS RELIGIÕES
Cerca de metade da população pratica a religião Muçulmana, essencialmente da corrente sunita. entre 10 a 15% são Cristãos e grande parte da população, professando uma ou outra religião ou mesmo nenhuma, tem um grande cariz animista e pratica de forma ativa as crenças tradicionais e ancestrais africanas. Para os animistas, os espíritos são omnipresentes (vivem nas rochas, nas estátuas, nas árvores, na água, nas pessoas, nos mortos) e são eles que dão vida e protegem as coisas e podem combater as doenças, as secas, as inundações, as tragédias mas também podem castigar e provocar o mal. É comum entre os animistas o sacrifício de animais para agradar aos espíritos, nomeadamente galinhas para se alcançar uma graça, uma boa colheita ou até para que se possa tomar uma decisão e o recurso a amuletos diversos para proteção de quem os usa.
(IN GUIA TURISTICO À DESCOBERTA DA GUINÉ-BISSAU, de Joana Benzinho e Marta Rosa, com a devida vénia)
2 comentários:
Gostei de ler este texto sobre usos e costumes sociais, desde país africano...!!!
E quanto aprendi....!!!
Já agora, parabéns pela foto que agora encima o blog... É muito bonita...
Foi uma boa escolha.
Bom fim de semana
AG
Olá Albertina boa noite
Muito obrigado pelo seu comentário.
Eu também achei muito interessante este conjunto de textos relacionados com a Guiné e que fazem parte dum trabalho exaustivo, condensado no GUIA TURISTICO À DESCOBERTA DA GUINÉ-BISSAU, de Joana Benzinho e Marta Rosa.
Abrange toda a Guiné. Mas só publicarei assuntos que ou são globais à Guiné, ou então dizem respeito mais à zona onde estive - Quinara.
De qualquer maneira é de consulta obrigatória para quem gosta daquela terra.
Os textos irão sendo publicados, um por semana até ao principio de Julho.
De realçar ainda, que na próxima semana será feita referencia à ONG, que tem estado na base duma ajuda preciosa à Guiné8/Bissau, tão necessitada de boas ajudas e boas práticas para educar aquelas crianças.
Quanto ao cabeçalho, é uma foto tirada pelo meu amigo Raul Soares, que já por várias vezes foi à Guiné e a Tite em particular, levar ajudas escolares e de medicamentos.
Bom fim de semana e muito obrigado.
LG.
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