Os primeiros vestígios da presença humana na Guiné-Bissau
datam de 200 mil anos a.C. mas os registos históricos mais evidentes iniciam-se
no 3.° milénio a.C. com a chegada de povos do deserto do sahara, ascendentes
dos atuais grupos étnicos do litoral e ilhas da Guiné-Bissau. no século IV a.C.
funda-se o império do Gana que perdura até ao séc. XI, quando os almorávidas
tomam Kumbi-saleh, a capital do Gana. É então que os povos naulus e Ladurnas
chegam à Guiné-Bissau, onde dominavam os povos Mandingas, pertencentes ao reino
de Gabú, instalados entre a região nordeste da Guiné-Bissau e a região de
Casamansa. o reino de Gabú era por sua vez vassalo do império do Mali (1230 a
1546), estado rico e sumptuoso que se estendeu entre a região do rio senegal e
do alto níger.
A chegada dos portugueses à Guiné-Bissau deu-se entre 1445 e
1447 e é atribuída a Nuno Tristão que terá morrido numa destas primeiras
investidas num ataque perpetrado pelas tribos locais no rio Geba. outros
historiadores atribuem-na a Álvaro Fernandes que, pela mesma altura, terá chegado
à praia de Varela.
A presença portuguesa no território inicia-se em 1588 na
vila de Cacheu, à altura sujeita administrativamente ao arquipélago de Cabo
Verde. esta localidade ficou conhecida pelo seu porto de águas fundas, ideais
para o transporte marítimo de ouro, marfim, especiarias e de escravos. Para
além dos comerciantes portugueses e cabo-verdianos, Cacheu foi a casa dos
portugueses “lançados” (aventureiros) e dos “degredados” (condenados ao
exílio). as ocupações portuguesas seguintes, onde também se instalaram
feitorias para fins comerciais, são posteriores a 1640 e foram taRRaFEs DE cachEU, sempre feitas a partir
dos rios: Casamansa, são Domingos, Farim, Bissau, e mais tarde, Bolama e
Bafatá.
Em 1753 é estabelecida pelos portugueses a Capitania de
Bissau. os ingleses conseguem, por sua vez, estabelecer-se em Bolama, ilha do
arquipélago dos Bijagós mais perto do território continental da Guiné, em 1792.
Em 1879 procede-se à separação administrativa de Cabo Verde
e constitui-se mais uma colónia de Portugal, a Guiné Portuguesa que teve como
primeira capital Bolama.
Após a Conferência de Berlim (1884 - 1885), em que Portugal
apresentou o falhado Mapa Cor-de-rosa, este país apressou-se a efetivar o
povoamento da Guiné-Bissau e a dedicar-se à agricultura, não sem antes a
população resistir e se travarem sanguinários combates. em 1936 dá-se a última
grande revolta que ficou conhecida como a revolta dos Bijagós de Canhabaque. a
população guineense foi então obrigada ao trabalho forçado, as infraestruturas
pouco foram desenvolvidas e foi dada a preferência para a nomeação de cabo
verdianos como funcionários.
Em 1951, face à pressão internacional, o estatuto de Colónia
da Guiné Portuguesa é substituído pelo de Província Ultramarina, mas a
resistência guineense e a luta pela autodeterminação sempre se fizeram sentir,
tendo como marco histórico a fundação do PaiGC (Partido africano para a
independência da Guiné e Cabo Verde) em 19 de setembro de 1956 por Amílcar
Cabral, Luís Cabral, Aristides Pereira e Júlio de Almeida. Durante três anos a
resistência do PaiGC foi pacífica mas endureceu após o massacre do Pidgjiguiti,
de 3 de agosto de 1959. neste dia, os trabalhadores do Porto de Bissau,
estivadores e marinheiros, encontravam-se em greve, exigindo melhorias
salariais mas as forças portuguesas da PiDe (Polícia internacional e de Defesa
do estado) interromperam a manifestação e mataram cerca de 50 pessoas, ferindo
ainda outros 100 manifestantes. o dia 3 de agosto foi transformado num dos
marcos da luta de libertação da Guiné e é atualmente um dos feriados mais
importantes do país.
Em 1963, o PaiGC inicia a luta armada de guerrilha de
oposição ao regime colonial, que fica registada pelo assassinato do seu líder e
doutrinário, Amílcar Cabral, a 20 de janeiro 1972, sem nunca se vir a
determinar quem foi o responsável. a 24 de setembro de 1973 o PaiGC declara em
Boé a independência unilateral da Guiné-Bissau — tornando-se a primeira das
ex-colónias portuguesas a tornar-se independente. Portugal só reconhecerá oficialmente
a independência da república da Guiné-Bissau, aquando da deliberação da
assembleia Geral das nações Unidas, a 17 de setembro de 1974.
A Guiné-Bissau independente começa então o seu caminho, com
alguns avanços e muitos recuos tendo como primeiro Presidente Luís Cabral,
irmão do líder do PaiGC assassinado em 1973, Amílcar Cabral. os primeiros anos
pós independência são muito agitados, registando-se até 1979 o fuzilamento de
ex-Comandos africanos e de cidadãos conotados com o Partido FLinG, bem como uma
tentativa do Presidente de implementar um governo de inspiração socialista, num
projeto de Unidade da Guiné-Bissau e de Cabo Verde que termina abruptamente em
1980, com um golpe de estado perpetrado pelo Primeiro-Ministro Nino Vieira, que
assim assume a liderança do país.
Em 1986 dá-se uma nova tentativa de golpe de estado, desta
feita encabeçado pelo Vice-presidente do Conselho da revolução, pelo
Procurador-Geral da república e vários oficiais superiores das Forças armadas
que acabam detidos e parte deles fuzilados no que veio a ser conhecido por
“caso 17 de outubro”. o regime de multipartidarismo chega em 1991 e, em 1994,
realizam-se as primeiras eleições livres na Guiné-Bissau com a vitória do PaiGC
e de Nino Vieira para a Presidência da república, com maioria absoluta.
Em 1997 a Guiné-Bissau integra a União económica e Monetária
do oeste africano (UeMoa) e adopta o Franco CFa como moeda nacional,
substituindo o Peso. o país é também membro da Comunidade económica dos estados
da África ocidental desde 1975.
1998 dita o início de um período muito conturbado e de má
memória para a Guiné-Bissau - uma guerra civil que opõe o governo eleito
democraticamente e uma auto-intitulada “Junta Militar”, tendo como base
rivalidades e lutas pelo controle de poder no PaiGC. esta guerra que durou
cerca de 11 meses, devastou infraestruturas, a economia, a sociedade, famílias
e ceifou muitas vidas. a destruição do tecido económico e social teve
consequências catastróficas no país e que perduram até aos dias de hoje.
A guerra civil termina em 1999 com a renúncia de nino Vieira
ao cargo e a assunção de funções interinamente pelo Presidente da assembleia
nacional Popular, Malam Bacai sanhá. entre as eleições de 2000, em que Kumba
ialá é eleito Presidente da república e 2015, o país viveu períodos políticos e
militares de alguma tensão que se traduzem em dois golpes de estado (2003 e
2012), oito Presidentes da república (um deles assassinado em 2010) e doze
Primeiros-Ministros. em agosto de 2015, depois de o Presidente da república
demitir o Primeiro-Ministro Domingos simões Pereira, o PaiGC, partido mais
votado nas eleições legislativas de 2014, formou novo governo encabeçado pelo
histórico membro do PaiGC, eng˚ Carlos Correia.
Falar da história recente da Guiné-Bissau e nos seus 42 anos
de independência, é na realidade falar de um estado com algumas dificuldades em
se consolidar, fruto de sucessivos golpes e conflitos causadores de
instabilidade política que se materializa numa economia débil e numa sociedade
fragilizada por anos de falta de paz e de perspetivas de futuro. De salientar
no entanto que estes conflitos político-militares não se replicam na sociedade
guineense que é pacífica e extremamente hospitaleira, recebendo qualquer pessoa
que ali chega com um sorriso e um brilho no olhar que nos marca para sempre.
Por isso, falar da história da Guiné-Bissau é também falar das suas gentes e da
sua generosidade, da sua riqueza étnica, da sua diversidade cultural, do seu
enorme potencial turístico e das belezas naturais que encontramos de norte a
sul do país e que justificam indubitavelmente uma visita.
(IN GUIA TURISTICO À DESCOBERTA DA GUINÉ-BISSAU, de Joana
Benzinho e Marta Rosa, com a devida vénia)
2 comentários:
Interessante "documento histórico"...
AG
Obrigado Albertina.
Também acho muito interessante, até para os naturais da Guiné.
Bom domingo.
LG.
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