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“Se servistes a Pátria que vos foi ingrata, vós fizestes o que devíeis e ela, o que costuma”


(Do Padre António Vieira, no "Sermão da Terceira Quarta-Feira da Quaresma", na Capela Real, ano 1669. Lembrado pelo ex-furriel milº Patoleia Mendes, dirigido-se aos ex-combatentes da guerra do Ultramar.).

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"Ó gentes do meu Batalhão, agora é que eu percebi, esta amizade que sinto, foi de vós que a recebi…"

(José Justo)

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“Ninguém desce vivo duma cruz!...”

"Amigo é aquele que na guerra, nos defende duma bala com o seu próprio corpo"

António Lobo Antunes, escritor e ex-combatente

referindo-se aos ex-combatentes da guerra do Ultramar

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Eles,
Fizeram guerra sem saber a quem, morreram nela sem saber por quê..., então, por prémio ao menos se lhes dê, justa memória a projectar no além...

Jaime Umbelino, 2002 – in Monumento aos Heróis da Guerra do Ultramar, em Torres Vedras
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“Aos Combatentes que no Entroncamento da vida, encontraram os Caminhos da Pátria”

Frase inscrita no Monumento aos Heróis da Guerra do Ultramar, no Entroncamento.

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Sem fanfarra e sem lenços a acenar, soa a sirene do navio para o regresso à Metrópole. Os que partem não são os mesmos homens de outrora, a guerra tornou-os diferentes…

Pica Sinos, no 30º almoço anual, no Entroncamento, em 2019
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"Tite é uma memória em ruínas, que se vai extinguindo á medida que cada um de nós partir para “outra comissão” e quando isso nos acontecer a todos, seremos, nós e Tite, uma memória que apenas existirá, na melhor das hipóteses, nas páginas da história."

Francisco Silva e Floriano Rodrigues - CCAÇ 2314


Não voltaram todos… com lágrimas que não se veem, com choro que não se ouve… Aqui estamos, em sentido e silenciosos, com Eles, prestando-Lhes a nossa Homenagem.

Ponte de Lima, Monumento aos Heróis da Guerra do Ultramar


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quarta-feira, 27 de julho de 2011

terça-feira, 26 de julho de 2011

Os avós...

Os avós vêm de muito, Muito longe…
E vêm cansados. De tão longa caminhada. Cheios de pó, metem dó!
E vêm vergados. Por tantos anos vividos a trabalhar.
Também vêm sós. Tudo perderam pelo caminho: A Elegância, A Formosura,Toda a frescura, Os mais belos sonhos, Anos risonhos, Os seus amigos, Os seus parentes. Mesmo seus maiores afectos.
Apenas lhes resta o coração.
Esse, guardam-no religiosamente - Para amar, e para dar de presente...
...Aos seus netos.
(do blog Educação de Infancia, mas de autor desconhecido.)

quarta-feira, 20 de julho de 2011

FINALMENTE FOMOS À FUZETA ENTREGAR A PLACA DO ANIVERSÁRIO DO NOSSO EX-1º CABO HIPÓLITO DE SOUSA

A placa comemorativa das 66 primaveras do nosso ex-1º Cabo Hipólito de Sousa, insere a data do aniversário natalício do nosso SPM em Tite, que foi a 19 de Junho passado, se bem que ele só fosse aceite no registo civil, cerca de um mês mais tarde.

Este atraso, no registo civil, tem uma longa história, deve-se a várias vicissitudes, que hoje não interessa comentar. No entanto sabemos que “obriga” a família a festejar 2 vezes, no ano, o seu aniversário, argumentando que ele não foi o culpado pela doença do burro que fazia o transporte do seu povoado à cidade. Mas deixemos isto para mais tarde.
Estávamos a dizer, que o seu aniversário biológico foi a 19 de Junho passado e, o nosso amigo, como os demais a quem já ofertamos placas de aniversário, não tinha só a obrigação de se deslocar de Baltar a Lisboa, para receber o “mimo” dos seus ex-camaradas de armas, mas também, a obrigação de pagar o almoço aos mastigantes responsáveis pela oferta. “Tá quiéto! pensou e melhor fez ele” Não apareceu.

A distância, o preço do combustível, a reforma que só recebe lá para meados do mês, etc., serviram de desculpa.
Sendo assim, e com desculpas mais que justificadas, na falta de outras alternativas, vimos da hipótese de sermos nós a deslocarmo-nos.

Munidos da procuração de muitos, a tarefa para a deslocação para a entrega da placa, no mais curto espaço de tempo, seria na Fuzeta, local onde o nosso amigo todos os anos passa férias com a família. E os responsáveis desta incumbência, o Mestre e o Pica Sinos.

Como o mais comum dos mortais sabe, não é fácil fazer deslocar, a uma 2ª feira, dois humildes cidadãos, a esta bonita terra de pescadores situada no fim do continente e, que ainda conserva muitas das suas casas de forma cúbica, rematadas por terraços – as açoteias – de onde ainda se vai avistando, em algumas, a ria e as ilhas.

No caso do Mestre, a deslocar-se do coração do Alentejo - Monte Fialho – só era possível se a “menina”, sua cabra de estimação o acompanhasse. Diz ele que “transportar a cabra no seu Mercedes são grandes as dificuldades de colocar nela o cinto de segurança”, portanto esteve bem difícil a sua deslocação à Fuzeta, só pela insistência em vários dias, foi possível convencê-lo a vir ao nosso encontro sem a cabra.

No caso do Pica Sinos, este não foi de modas, chegou na véspera, desculpando-se que era necessário organizar atempadamente todo o aparato da entrega da placa para o dia seguinte, e levou para o ajudar, a mulher, filha, netas e a cadela a “tucha”.

Chegado o dia (18 de Julho 2011), a placa foi devidamente entregue por estes dois bons cidadãos. Durante a manhã numa cervejaria local do “larguinho da Fuzeta” saboreamos umas cervejas fresquinhas, com o olho na “celulite feminina” de quem passava. O almoço foi na esplanada de um restaurante, tendo como cenário a ria, concluindo-se que a operação foi um êxito. Na falta de peixe fresco por ser 2ª feira, e ainda pela ausência do Guedes para nos confeccionar o Xarêm com conquilhas, podemos dizer, fiquem descansados os camaradas que a “bula” foi paga por quem de direito. Que foi bom o menu (alternativo), composto por bifes de novilho, mistas de carne, salada, vinho, cerveja, pudim, café e vistas de biquínis no tope.

Tenham um bom dia e quando puderem vão à Fuzeta

Mestre e Pica Sinos

terça-feira, 19 de julho de 2011

Xarém com conquilhas

Segundo consta, estão vários mastigantes na casa do Hipólito, na Fuseta. A passar alguns dias de férias. Pois bem
Aqui lhes envio a receita do Xarém com conquilhas, prato que está a concorrer às Sete maravilhas Gastronómicas de Portugal. É só comprar os aviamentos e fazer.
Esta receita é copiada, com a devida vénia, do blog do nosso colega de escola Leal, cujo titulo é XARÉM COM CARNE. É um Olhanense de gema, a par da Albertina Granja e do Domingos.
Então aqui vai:
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Xarem com Conquilhas

É mais ou menos assim:

Põe-se uma panela de água temperada com sal ao lume.
Quando a água sair do frio começar a juntar aos poucos, farinha de milho peneirada (fina) e mexer sempre para não encaroçar.
Juntar umas tiras finas de toucinho (ou bacon) fritos e deixar cozer em lume brando.
Assim que o milho começar a fazer bolhas, juntar as conquilhas, muito bem lavadas e sem areia, e deixá-las abrir.
Quando a papa estiver mais consistente juntar banha, mexer até a banha derreter e servir quente.

As quantidades para 4 pessoas são aproximadamente:
  • litro e meio de água
  • 1 kilo de conquilhas
  • meio kilo de farinha de milho
  • 200 gramas de toucinho
  • 50 gramas de banha
e …. “ bom provête”
__________________________
Albertina Granja disse...
Exactamente......., é mesmo assim que se confecciona este delicioso prato "XARÉM COM CONQUILHAS".
Quem não conseguir fazer, desloca-se a Olhão, ao RESTAURANTE HORTA e aí encontrará, com toda a certeza, o melhor Xarém do Algarve.......

domingo, 17 de julho de 2011

Nós os ex-combatentes, e a guerra colonial

A nossa relação com a guerra colonial

Há guerra quando existem conflitos entre pessoas, entre povos, entre nações, entre familias, entre vizinhos, pela independencia, por um regato de água, por um marco mal posto, eu sei lá mais porque motivo.

A nossa guerra, a guerra colonial, aconteceu porque uns teimavam em ser donos de algo e de alguém e esse alguém assim não o entendia.

E como resultado de tudo isso fomos convocados para ir para a guerra, a guerra colonial – uns por convicção, outros por ambição e a maior parte por obrigação.

Mas a guerra colonial para nós, não foi apenas os 23 meses que por lá estivemos, mas perdurou nos tempos até hoje, para uns com marcas fisicas e psiquicas mais visiveis, do que para outros.

E vem a propósito falar das várias etapas que nas minhas meditações, entendo terem sido os mais marcantes, à nossa chegada e nos primeiros dias - nós os Piriquitos, ou seja, os recém chegados:

O porto fluvial do Enxudé, os transportes, as Lavadeiras, Spm, alimentação, as relações com os civis nativos, a guerra própriamente dita e as relações entre nós militares.

Enxudé – Quando chegamos a Bissau desembarcamos directamente para s LDM que nos aguardavam. Foi para mim um espanto chegar de LDM ao porto do Enxudé. Ver a primeira enxurrada de nativos, quase nus e também os militares que iamos render, com ar de quem sendo mais velho, tem direito a gozar com os piriquitos (nós, recem chegados). De onde és tu?. Há alguém de Lisboa, de Santarém, do Porto?. O desembarque das malas e o carregamento nas viaturas que nos levaram depois até Tite.

Transportes – depois de carregadas as malas e outros mantimentos nas viaturas, lá fomos na direcção de Tite. Ao passar por Foia, vimos as primeiras tabancas, expressão que não conheciamos mas que os mais velhos nos iam explicando. Alguns miudos estavam à beira da estrada a dizer adeus aos Piriquitos acabados de chegar. Chegamos a Tite.

Lavadeiras – Achei engraçado que estivesse na altura uma pequena multidão de "mulheres grandes" e "bajudas" nativas, junto ao aquartelamento, vestidas com os seus panos (vestidos) novos. Muitas delas com os filhos às costas, como é tradição. Os torvantes nas cabeças. Logo que desambarcamos fomos quase assaltados pelos companheiros que iamos render, aconselhando-nos a ficar com as suas Lavadeiras, que iriam tratar da nossa roupa no futuro. E assim eu fiquei com a Lavadeira que já lavava a roupa ao meu antecessor e o mesmo aconteceu com quase todos os outros. A Marcelina, A Anssel, a Maria, a Satu, a Maria Mancanha, a Teresa, eu sei lá quantas mais. Cada um saberá o nome das suas. Logo ali acertamos preços e numero de lavagens por semana.

SPM  (serviço postal militar)– uma das maiores preocupações de cada um de nós, foi saber como iamos receber e despachar correio. E logo nos foi dito que o serviço estava montado, faltava apenas ser nomeado um responsável . No nosso caso foi nomeado o cabo Hipólito que, graxa lhe seja dada, desempenhou muito bem a sua tarefa. Em parte time ficou também com a assistencia eclisiastica. Nesta ultima, como ele era o maior pecador, algo ficou por explicar quanto a esta nomeação.

Alimentação – esse foi outro dos assuntos quentes que era preciso resolver. Tão quente que ainda hoje se aguçam unhas quando se toca neste ou naquele ponto mais frágil. Cada um queria saber onde ia comer,como era anteriormente e como se processava tudo isso. Também nesta área era preciso nomear alguem e no nosso caso, graças a Deus foi nomeado o Serafim, pois eu estive mesmo à bica para exercer o mandato. Mas como tinha alguma pratica de escrever à máquina fui requisitado para os reabastecimentos, pelo Cap. Vicente. Tite, embora no Mato, era bem organizado nas refeições, havendo o Rancho Geral, uma Messe de Sargentos e outra de Oficiais. Não vou agora tecer considerações sobre a boa ou a má comida, digo apenas que, no que me toca, fui gerente de Messe durante dois  consecutivos – no primeiro mês correu muito bem porque arranjei um nativo que me ia fornecendo petiscos de que a malta gostava. Mas como era de prever tive prejuizo. No segundo mês houve que recuperar o perdido e no fim do mandato fui dispensado...

As relações com os civis nativos – Eram razoáveis no essencial. Havia alguns que nos fintavam com informações que levavam para o IN, e as informações que  traziam do IN eram aquelas que o IN pretendia que soubéssemos para nos distrair. Na sua maioria os homens não trabalhavam, nem no campo (eram as mulheres que o faziam com os filhos às costas e muitas vezes a dormir) e por isso precisavam do dinheiro das mulheres que eram lavadeiras. E daí as coisas correrem mais ou menos bem. Acho eu. É justo aqui lembrar o nosso companheiro já falecido, Luis Filipe, que mantinha com as crianças e jovens nativas, uma saudavel relação, fomentando a ginástica e a Mocidade Portuguesa, que diga-se o que se disser, era para as crianças um orgulho nela participar. E também tinha com elas algumas aulas de instrução primária, não me lembro bem em que regime.

A guerra própriamente dita – bem a guerra, era o que é – uma guerra. Muitas vezes entende-se a guerra como algo em que é preciso pedir licença para atirar, tipo Raul Solnado. Mas a guerra é bem diferente, sejam quem forem os intervenientes. Houve desvios violentos de parte a parte. No nosso quartel a guerra estava entregue a Sapadores, Atiradores, Artilheiros, Morteiros, Daimlers, Transmissões, Serviços de Saúde. Peço desculpa se me esqueço de alguém. Mas era a guerra nas suas várias Armas. Uma foto que espelha bem o que era a guerra, tivemos há tempos publicada no cabeçalho do nosso blog, enviada pelo ex-alf. Vaz Alves, e de quem estamos à espera duma descrição pormenorizada daquilo que se passou antes, durante e após aquela foto. Tem uma história aquela excelente foto, quanto mais não seja em saber qual o motivo por que está o Comandante Chefe da Guiné, Gen. Antonio de Spinola, a falar às tropas desde o soldado ao brigadeiro, estando alguns em tronco nú, barba por fazer, com barrete, sem barrete. Tem que haver uma justificação e uma permissão muito especial para que assim acontecesse naquele cenário aparentemente tão tranquilo, mas na verdade tão trágico..
É isso que o alf. Vaz Alves nos há-de contar.

As relações entre nós militares – por fim, este é o ponto mais delicado e por causa dele escrevemos este modesto artigo. Tinhamos em Tite, duas Companhias, chegamos a ter três, dois Pelotões e uma Secção. Ao todo devia prefazer perto de 300 homens. Fechados num quadrado, vedado a arame farpado e bidons de chapa cheios de terra, no meio do mato, junto a uma Tabanca. A tensão era muita. A 19 de Julho de 1967, sofremos o primeiro ataque de noite, sem sabermos própriamente o que isso era. Os estragos foram muitos como demonstram varias fotos publicadas neste blog. Outros ataques se sucederam. A enfermaria era o local onde eram recebidos feridos e mortos em combate e foram bastantes. Acidentes mortais com viaturas e armas de fogo. Era o stresse total. As relações neste ambiente, muitas vezes degradavam-se e as coisas não corriam bem. Era o soldado com o cabo, o cabo com o furriel, o furriel com o sargento, com o alferes, ou mesmo com o capitão (foi o meu caso, por uma coisa simples), o sargento com o alferes e por aí fora. Mas todas estas quesilias serviram para cimentar aquela frase que nós temos vindo a dizer e que é “AMIGOS NA GUERRA AMIGOS PARA SEMPRE”. Todos tivemos pequenos problemas com este ou com aquele, culpa nossa, culpa do outro, não interessa, agora passados que são 42 anos.Mas nem sempre as feridas se sararam.

Há uns meses tivemos um almoço organizado pelo Henriques em Peniche, e no qual vieram à baila queixas mutuas, entre um furriel e o capitão ali presentes. Falaram, falaram, falaram... E as coisas aparentemente sanaram. No almoço em Macedo de Cavaleiros até pareciam marido e mulher, tal o “amor” que os envolvia, em atenções mutuas.

Por isso meus caros companheiros, para finalizar este escrito que já vai longo, vamos esquecer os problemas com a alimentação no rancho geral ou noutro lado qualquer, o isqueiro que ficous em gasolina, o furriel que foi bruto para o responsavel por esta ou aquela secção, o alferes que foi mal educado, o capitão arrogante, ou o sargento presunçoso. O José Justo retrata muito bem, num comentário a um anterior artigo sobre o reencontro com o Gasolinas, como as relações se complicavam por causa de meio dedal de gasolina para abastecer um simples isqueiro...

No cabeçalho do nosso blog, dizemos que tem sido uma alegria reencontrar companheiros que não vemos há 42 anos. Sem querer dar conselhos a ninguém nem estar com moralismos excessivos, vamos levar isso à letra, abraçando os que chegam e esquecendo coisas antigas, pois tudo tem solução. Vamos exercer uma atenção especial para esses casos e procurar activamente o reencontro entre os desavindos – só àqueles que antes de nós partiram, não podemos já pedir reconciliação. E no meu caso gostaria imenso de esclarecer com o Cap. Vicente aquilo que nos afastou, mas já não vou a tempo!

Abraços fraternos.
leandro guedes

nota - no comentário que o Pica faz a seguir, trouxe-me à memória a côr da terra - avermelhada. Esse foi também outro motivo de admiração para mim e que esqueci nesta breve crónica. Tudo era avermelhado à volta. Não havia terra castanha ou preta. Tudo era avermelhado. Além disso a vegetação, que não era igual à nossa da Metrópole.
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Muito bom artigo este do Guedes.

Resume de forma clara muita da vivência em Tite. Gostei!
Este artigo, digamos que é um "retrato" tirado por este "fotógrafo".
Outros (poucos) o têm feito em areas especificas.
Levou tempo, mas.....


É pois um bom exemplo, para outros que connosco viveram naquela terra distante de cor vermelha, o sigam.
Basta tão só "retratarem" o que fotografaram e, a história acontece.
Aquele Abraço

Raul Pica Sinos

sábado, 16 de julho de 2011

Hoje é noite de carnaval de verão em Santa Cruz. E como tal, ninguém leva a mal...

Sape, gato ! . . . .Arreda ! . . .
Ora, aqui está uma sarrabulhada, à antiga, como gosto . . .
Não estou a perceber nada do que, “ambos os dois abana a caganita”, estão pr’áqui a terçar armas.
E, a sobrar para mim ?!!! . . .
Estarei de férias ? Estarei, estarei . . .
Palavra, estou “esbarbalhado” e a “coçar a mona” de tanto inquisitório . . .
Pior, muit’a pior que a do lápis azul . . .
Estive, toda a noite, sem pregar olho, a matutar e, ainda, estou of line . . .
Do que consigo recordar, apenas retenho que o tal valor declarado iria endereçado a

Exmº Senhor
Pthirus pubis
SPM 4218

Ou, a
Tunga penetraus
SPM 4218

A esta distância, suponho, serem, ambos, identificação de alguma “monhé”, ou nativa, a residir lá por Tite e analfabeta, a quem, um benemérito, a rogo, assinou a recepção do tal valor declarado, cujo conteúdo, como é óbvio, me era vedado descortinar.
Em verdade, em verdade vos digo, o cap. Vicente, na hora, ficou tão estarrecido . . ., tão estarrecido com a eficiência e excelência do serviço prestado pelo SPM . . . que até ficou sem palavras . . .
Esperando ter satisfeito o inquérito, para qualquer coisinha, ficarei emigrado no facebook, antes que a santa inquisição me pregue com os costados no Tarrafal.
Foxtrot oscar delta alfa  sierra eco !!! . . .

Hipólito
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pela conversa entrelaçada e cheia de quiprócócós, parece chegar-se à conclusão que irás para a Fuseta.
Mas tem cuidado, pois vou aqui transcrever uns versos dum poeta falhado e que nos alerta para certos problemas. Aqui vão eles...


À Branca noiva do mar, a linda Fuseta,
Alfobre de pescadores, cães e santos . . .
Outrora da tia anica, a da saia preta
Hoje, com trampa por todos os cantos . . .

Conheces?
Abraços e boas férias.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

O “GASOLINAS VAI AO NOSSO 23º ALMOÇO/ CONVIVIO EM LISBOA

O ENCONTRO FOI ÁS PORTAS DA CIDADE VIDREIRA
Telefone 244569448
O dia 12 de Julho estava solarengo, embora o vento incomodasse, não foi impeditivo de ir ao encontro do “gasolinhas”, camarada que a maior parte de nós não o víamos há 42 anos.

Este homem de 66 anos, com o nome de baptismo, Nelson Vreia Alves, é natural de Alfarelas de Jales, freguesia do concelho de Vila Pouca de Aguiar, em plena Serra da Falperra/Minho. É o 10º de 11 filhos, casado e pai de 2 filhos (um casal), tem netos/as e, uma delas vai ficar encarregada de abrir o Blog do Bart 1914, para lhe dizer as últimas dos seus antigos camaradas de armas.

Este homem que em Tite estava adido ao parque auto, para além de ser responsável pela manutenção de fornecer combustível à frota automóvel, tinha também a tarefa de abastecer, ligar, desligar e, manter em perfeitas condições de funcionamento os 2 enormes geradores de electricidade em Tite. A sua presença era sempre reclamada por todos quando a luz exterior era tardiamente ligada, ou de pronto desligada quando na presença dos ataques ao aquartelamento que foram muitos.

Veio para a Marinha Grande com 17 anos de idade, para trabalhar junto de um seu irmão numa oficina de automóveis. Trabalhou em diversas fábricas deste concelho, mas a sua maior parte do tempo do trabalho foi na área do fabrico de plásticos de quem foi colega, por vários anos, do Vítor Barros ex-rádio telefonista.

Aliás este encontro, que visou abraçar este companheiro há largos anos ausente de nós e com ele travar conversas do passado e do presente, teve lugar num restaurante às portas da Marinha Grande. Foi organizado pelo Vítor Barros e, foram convidados para além do Nelson e a sua mulher. A  Mª de Jesus, mulher do Vítor, o Pica Sinos, e a sua mulher, a filha mais nova e a sua neta Lara, e imagine-se, e também a senhora sua sogra.

Depois de se comer os finalmentes, doce “sopa do bosque” e o tradicional cafezinho, despedimo-nos do “gasolinas” com a promessa que teremos a sua presença no próximo 43º aniversário da nossa chegada da Guiné, comemorado em simultâneo com os festejos do 23º Almoço/convívio, em Lisboa.

Vitor Barros e Pica Sinos

O “ZIPPO” da treta e a gasolina em bidões!


Gostei de rever o “Gasolinas”, passadas tantas décadas...a ele e a sua proeminente “curva da abastança” !!!
Vou contar um episódio passado em Tite entre mim e o Nelson, que duvido ele se recorde, mas que eu nunca mais esqueci.


Não lembro como me veio parar as mãos, mas tinha na altura um isqueiro imitação do famoso Zippo, com o logos Cruz Vermelha, semelhante ao da foto.
Para estes isqueiros de torcida, convinha usar gasolina própria, muito diferente da convencional, pois a sua cor branca, indicava ser tratada especialmente para os fins em vista.


A utilização de gasolina convencional, provocava uma fumarada e cheiro difíceis de suportar.
Tinha levado de cá, uma lata de gasolina da que se vendia para os isqueiros Ronson, mas tinha acabado.
Acabou-se a gasolina, mas não se tinha acabado e vicio do cigarro, e como mesmo não sendo grande espingarda o “zippo” da Cruz Vermelha, fazia-me muito jeito.


Quando ia para o duche, passei pelo “gasolinas” e lembrei-me: E pa, ele e que pode safar-me, vou-lhe pedir um pouco de “gasosa” para o maçarico.
Peguei numa garrafa de refrigerante, e lá me dirigi as bombas de gasolina, onde abasteciam todas as viaturas do batalhão, quartel-general do nosso “responsável gasolineiro”.
Devo dizer, que ao contrário do que sobressai nestas fotos recentes, o nosso amigo sempre me pareceu um pouco antipático, e o seu ar sempre sisudo, afastava o pessoal.


A necessidade faz a situação, e lá o abordei com a garrafita, a pedir um pouquinho de gasolina na garrafa, explicando-lhe para que era.
Bem...sabem qual a foi a resposta dele, sempre com aquele “ar simpático”???
E pá, gasolina aqui só aos bidões, e estão todos fechados??!!!!!!
Imaginam como fiquei, ou como qualquer um ficaria!
Gelei, bloqueei totalmente e contrariamente ao meu hábito, nem reagi...virei-lhe costas e jurei que aquilo não ficava assim.


Bem, acabou por ficar assim, gasolina CA TEM, acabei por arquivar o assunto e lá pedi umas latitas para o papa, que nunca recebi, pois informou-me que não era permitido o envio de inflamáveis em encomendas.
Uma coisa vos garanto, nunca mais olhei para a cara do “gasolinas”!!!!


Tudo já lá vai, as crises da guerra, isolamento, saudades e tudo o mais que nos ABRASAVA, provocaram situações caricatas e por vezes penosas que hoje ao longe, se calhar ate aceitamos.
Repito que ele decerto não recordara esta aventura, mas ao ler estas linhas, possivelmente o episódio seja lembrado.
O que lá vai, lá vai.....Para o camarada Nelson, um abração e tudo de melhor para ele e família.

Jose Justo

As macaquices do Hipólito

Dura Realidade

DEUS CRIOU O BURRO E DISSE:
Trabalharás incansavelmente de sol a sol, carregando fardo nos lombos.
Comerás capim , não terás inteligência alguma e viverás 60 ANOS.

SERÁS BURRO
O BURRO RESPONDEU:
Serei burro, mas viver 60 ANOS é muito, Senhor.
Dá-me apenas 30 ANOS
Deus lhe deu 30 ANOS.

DEUS CRIOU O CACHORRO E DISSE:
Vigiarás a casa dos homens e serás seu melhor amigo.
Comerás os ossos que ele te jogar e viverás 20 ANOS.
SERÁS CACHORRO
O CACHORRO RESPONDEU:
Senhor, comerei ossos, mas viver 20 ANOS é muito.
Dá-me 10 ANOS.
Deus lhe deu 10 ANOS.

DEUS CRIOU O MACACO E DISSE:
Pularás de galho em galho, fazendo macaquices, serás divertido e viverás 20 ANOS.
SERÁS MACACO
O MACACO RESPONDEU:
Senhor, farei macaquices engraçadas, mas viver 20 ANOS é muito.
Dá-me apenas 10 ANOS.
Deus lhe deu 10 ANOS.

DEUS CRIOU O HOMEM E DISSE:
Serás o único ser racional sobre a face da Terra, usarás tua inteligência para te sobrepores aos demais animais e à Natureza.
Dominarás o Mundo e viverás 30 ANOS.
O HOMEM RESPONDEU:
Senhor, serei o mais inteligente dos animais, mas viver 30 ANOS é muito pouco.
Dá-me os 30 ANOS que o BURRO rejeitou, os 10 ANOS que o CACHORRO não quis, e também os 10 ANOS que o MACACO dispensou.

E ASSIM DEUS FEZ O HOMEM ...
Está bem...
Viverás 30 ANOS como HOMEM.
Casarás e passarás a viver 30 ANOS como BURRO, trabalhando para pagar as contas e carregando fardos. Serás aposentado pelo INSS, vivendo 10 ANOS como CACHORRO, vigiando a casa.
E depois ficarás velho e viverás mais 10 ANOS como MACACO, pulando de casa em casa, de um filho para outro, e fazendo macaquices para divertir os NETOS....

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Algumas mentes...

ALGUMAS MENTES, PASSADOS 42 ANOS, AINDA TREMEM DE MEDO SÓ DE LEMBRAR O PTHIRUS PÚBIS E O TUNGA PENETRANS, TAL NÃO FOI O MARTIRIO


PTHIRUS PÚBIS – 1, com cheiro a naftalina

Já não é a primeira vez que dou comigo a rir sozinho e, fico interrogado. Será que já estou a ficar pírolas? Será que está na hora do “alemão”? Ou é uma parte de mim, que ri da outra parte, quando na mente funciona o disparate?

Por um lado, também vem a propósito este pensamento, tendo em conta da ameaça do “Pthirus - 1” com o lápis azul, que diz ter ainda guardado e, possivelmente entrar em funcionamento no que a minha mente possa brotar, e de seguida os meus dedos escrevinharem, justificado pelo simples facto de eu ter manifestado vontades de relembrar situações vividas, com “personagens” que por vezes “passeavam”, melhor dizendo, que por vezes eram “transportadas”” em Tite e, davam (dão) pelos nomes de Pthirus púbis e Tunga penetrans.

Por outro lado, creio que a camada de ozono, não afecta apenas as bandas da praia da Costa da Caparica, mas também as bandas da praia da Areia Branca. O perigo da exposição excessiva ao sol, dizem os entendidos, origina malefícios na pele. Pessoalmente, estou convencido que não só. E à medida que a idade vai avançando….

Mas, o perigo já lá vai, perante a ameaça de nada escrever em termos de futuro, já tive a garantia que o bico do lápis se partiu e, o apara-lápis anda perdido. E assim sendo, vamos lá desenvolver aquilo que a mente me brota e, os dedos escrevinham, com o devido cuidado, não vá o apara-lápis ser encontrado.

PTHIRUS PÚBIS – 2, com cheiro a bagaço e não só

Comparar fotografias de hoje com as do passado em Tite, dá-me um gozo do caraças!

Como éramos, todos, belos! No passado não tínhamos preocupações com a beleza. Esta era natural em nós, jovens, com uma vintena de anos. Ninguém se preocupava com os “pneus” e/ou com a “celulite”, porque “cá tínhamos”. Coradinhos, sim, porque todo o ano, a maior parte frequentava a “praia” do Enxudé, ou “apanha” dos banhos de sol nos “solários” das torres dos postos avançados. A camisa da farda, para não se estragar, muitos dos dias não era vestida, não só para justificar maior “bronzeado”, mas também para não estragar as entretelas e o que restava das mangas. Só incomodava uma coisa, a mim particularmente, era o cheiro a bagaço, misturado com o cheiro de variados perfumes ou ainda o cheiro de after shave barato, do meu companheiro de quarto, ou ainda, o mais comum, quando alguém passava, em passo largo, e na prática de uma infernal coceira direitinhos ao “SPA” que existia no final do quartel. Coceira, que não sei se devo explicar o porquê.

PTHIRUS PÚBIS – 3, a arte da escovagem e da depilação

Ingerir drogas para o emagrecimento, hoje muito em voga, em Tite, não se colocava. Bastava cortar na ração semanas a fio, como nos era “aconselhado”. Aliás, melhor dizendo, as drogas que então tomávamos davam para tudo o que fosse necessário naquela terra paradisíaca.

Qual, agora, modernização dos homens. Já naquele tempo, e naquele lugar, a vaidade masculina não se limitava à barba bem-feita e a bom corte de cabelo que qualquer companheiro mais jeitoso nos fazia, ou outros barbeiros de “serviço”. O “corte”, quando o Pthirus dava connosco, ia de norte a sul, leste a oeste do corpo. Quando atacava a coceira, qual creme depilatório, pinças ou cera. Isso era de “maricas”. Para desencadear as “operações de limpeza e estética”, só tínhamos que transportar na pochete, quando deslocados para os lugares algo escondidos, quiçá “exóticos”, uma gilette com lâmina, escova e um “bronzeador”. Este, tinha que ser à base de bagaço, ou algo cuja composição fosse de grande percentagem de álcool, para que resultasse num profícuo resultado imediato. Era vê-los, depois de as operações desencadeadas, sim, era vê-los, aliviados, aos saltos, ou passear aqueles esbeltos corpos, vaidosos de satisfeitos, porque os indesejáveis Pthirus púbis tinham acabado de ser abatidos e, a batalha, não a guerra, tinha sido ganha.

Com o “produto” Tunga penetrans, a conversa é outra. Ficará para uma próxima oportunidade, mas por causa do Tunga penetrans grande parte da malta deixou de andar de chinelos de enfiar o dedo, garanto-vos que deixou.

Pica Sinos

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Museu RTP - vale a pena

Companheiros
Foi-nos enviado pelos n/amigos A.Camelo e Joaquim Caldeira, este site do Museu da RTP.
Vale a pena visitar via net. Vai passar a estar no nosso blog, na coluna da esquerda.
Obrigado aos companheiros que nos enviaram este endereço.
Abraços para todos.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Carlos Sousa - A minha Guerra - Guiné 68/70

Companheiros
Com a devida vénia ao Correio da Manhã, transcrevemos a seguir uma noticia que veio inserida na sua revista do passado domingo.
É uma história tantas vezes ouvida e que se repete a cada passo...
Abraços.
LG.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

O MISTÉRIO DA CAMISA RASGADA AO SR. SPM FOI DESVENDADO

Oh artista:

Aqui vai o texto que, sobre o SPM e não só, escrevi e está já no blog, publicado a 21 de Setembro de 2010.
Como vês, não precisas de te atirares para o chão que já vens de carrinho.
Um abraço e continuação de boas férias
Hip
………………….
Por imposição do Guedes, presumivelmente, a alvitre do “agulheiro” Pica, a quem (aleluia!) reputo, do que conheço, honra lhe seja feita, como homem recto, lutador indómito e de convicções fortes, nas causas que considera justas, seriíssimo e, acima de tudo, apesar dos seus engulhos particulares, que não são pequenos e fáceis, amigo do amigo e sempre preocupado com o semelhante, sobretudo com todos os que, com ele, conviveram na Guiné:

Mal chegados a Tite, um ou dois dias após, creio que o major, 2º comandante, dispara:
- Oh nosso cabo, foste indigitado para SPM.
- Meu major, mas eu não pesco um corno disso.
- Não sei. Desenrasca-te, retorquiu, voltando-me as costas . .

Bonita encomenda ! Manda quem pode, obedece quem deve .. . e logo, a mim, que nem sabia do que se tratava, nunca tinha tido (nem vim a ter) qualquer formação para o cargo e não fazia a menor ideia do assunto.

O SPM (serviço postal militar) tinha as funções de uma estação dos correios e, em Tite, tinha bastante movimento, na medida em que abrangia um grande número de militares (mais de 500 militantes escrevinhadores), quer da sede do batalhão, quer de outros destacamentos, como o Enxudé, Nova Sintra, Jabadá, Fulacunda e S. João.
    Aí vendia-se selos, processava-se o recebimento e expedição, via aérea ou marítima, de todo o tipo de correspondência, desde os célebres aerogramas, cartas simples e registadas, encomendas de todo o tipo e até valores declarados que eram, nem mais nem menos, um meio de os familiares dos militares enviarem “patacão” da metrópole, com segurança.
    Talqualmente, como hoje, um posto dos CTT da metrópole, menos a venda, para alcançar objectivos, de lotarias, bijuterias e quejandas .


Retenho, à distância de 42 anos, os dias da chegada do “correio”. Era um sufoco, um frenesim, que, só quem viveu esses momentos da chegada de notícias dos entes queridos, pode avaliar.
    Era ver os militares, de olhos esgazeados, a sair das órbitas, ansiosos e à espera de que, em voz alta, se pronunciasse o seu nome.
    A ponto de, ainda inexperiente, me terem, nas primeiras distribuições, rasgado a camisa, na ânsia de receberem , rapidamente, as missivas.


Estes momentos são retratados nas fotos acima (abaixo).


Uma guerra, dentro de outra. Um alvoroço que, por artes mágicas, repentinamente, desaparecia, logo que feita a distribuição. E, durante uma hora, no quartel de tanta viv’alma, não se ouvia sequer o restolho de uma folha. Um silêncio sepulcral, enquanto, cada um, isoladamente, no seu recanto, saboreava e devorava as últimas do seu mundo.
    E, depois, a descompressão e o bulício do quartel, regressavam à normalidade . . .


Dos, quase, dois anos que penei na tarefa, recordo, apenas, uma reclamação de um familiar, sobre um valor declarado, isto é, de uma quantia enviada a um militar e provinda, creio eu, de Paranhos-Porto.
    Estava no SPM, a tratar do expediente, quando me vieram intimar para, no gosse-gosse, ir ao gabinete do capitão Vicente, chefe da secção de reabastecimentos e que superintendia no SPM.

- Tenho aqui uma reclamação de um valor declarado que não chegou ao destino, disparou o capitão, desconfiado e militarão.
- Pode, por favor, meu capitão, fornecer-me o número desse valor declarado, gaguejou o SPM.
- Faça favor, nosso cabo.
- Um momento e se me der licença, irei ao SPM consultar o livro de registos que, à cautela e precavendo equinócios, mantinha assinado por todos os que recebiam aqueles valores.
- Aqui está, meu capitão, exibindo o livrinho à merceeiro. Recebido e assinado no dia x .
- Ora, deixe cá ver . . . mas, . . . a assinatura é aqui do fur.mil, que, a meu lado, trabalha !!!

[O dito juvininho, cujo nome se me varreu, vendo gorada a expectativa, digo eu, de os familiares, face à demora propositada em acusar a recepção, remeterem 2ª dose monetária, assentia, enquanto assistia à cena, e lá ia abanando, afirmativamente, a cabeça, desconsoladíssimo].

- Muito bem ! Esclarecido. Pode retirar-se, despachou-me o chefe.

Prova superada. Por pouco, não ia recebendo mais uma medalha ! . . .
Sou, quem sabeis
Hipólito



domingo, 10 de julho de 2011

O SERVIÇO POSTAL EM TITE

O S.P.M. 4218
Creio não ser a pessoa mais indicada para escrever sobre o serviço postal militar em Tite. Mas cada vez que vou ao blog do Bart 1914, e vejo a fotografia histórica, retratando um montão de camaradas sorridentes, alegres, acotovelados, chegadinhos, de braços estendidos, também levantados, na ânsia e na esperança de receber uma cartita que lhe traga as notícias dos seus, não resisti. E, consequentemente, pensei escrever umas modestas linhas tendo em conta o importante serviço militar que nesta área nos era “oferecido”.

Não sei se tal fotografia vos faz hoje meditar quanto sofrimento, alegria ou misto, de que estes momentos em todos nós se reflectiam. Quiçá caprichoso, não posso deixar de relembrar e fazer relembrar da importância que tinha o SPM para todos nós. Isolados na mata, rodeados de chapa de bidões e de arame farpado, na maior parte das vezes com fome e incertos com o dia de amanhã.

Quantas vezes os vi nervosos, agitados e impacientes com o aproximar da pequena dornier a sobrevoar o quartel em direcção à pista e o “frenesim da marcha” dos jipes no seu alcance. Era o correio que chegava. Quantas vezes ouvi camaradas a ler, em voz de tom abafado, a correspondência de outros e, para outros a seu pedido, motivado pelas dificuldades que tinham em juntar as letras. E ainda, outras vezes sem conta assisti, no refeitório, fora das horas das refeições, como se uma sala de biblioteca se tratasse, o comentar parte dos textos das cartas das madrinhas de guerra, mesmo de familiares e amigos, a outros camaradas, que desta vez não ouviram chamar pelo seu nome no momento da distribuição do correio na parada.

Confesso que estou num dilema. Como é sabido alguns dos camaradas, para além de outras tarefas, tinham também a responsabilidade da tarefa do SPM em Tite. Mas, esta responsabilidade só foi descentralizada, um ou dois meses depois da nossa chegada. Até lá o principal responsável era o Hipólito. Ora, se o nosso ex-cabo Hipólito, era um dos principais responsáveis pela organização, recepção e da distribuição aos destinatários, na parada e não só, deste importante serviço, creio que deveria ser ele a escrever sobre toda a problemática que encerrava o mecanismo deste serviço postal. Não o fez ainda! É verdade que já tenhamos tido a oportunidade de ter conversado, de fugida, sobre o tema, mas das razões porque ainda não botou uma letra, não sei. Contudo, não me fica a menor dúvida que o nosso amigo, ao ler este texto, decerto vem à liça para o complementar com histórias, que são muitas, que só ele pode precisar. O desafio fica feito, no entanto, uma dica: Explica lá porque é que te rasgaram a camisa na parada numas das primeiras entrega do correio?

Mas continuando. No terreno onde nos encontrávamos, não havia outra forma de comunicação senão o correio. Aqueles que ainda guardam (o Costa de Ovar é dos melhores exemplos que conheço) os aerogramas, bate estradas como todos os chamávamos, a correspondência postal que vinha da família, amigos, namoradas ou madrinhas de guerra, sabiam, que não poderia haver omissão no número do código postal (SPM 4218), caso contrário a correspondência era devolvida. O nome, o posto e o número do referido militar era importante, mas se não fosse acrescentado o SPM, dificilmente a correspondência seria entregue em Tite, correspondência ou outro serviço postal que, em média, levava 4/5 dias a ser entregue nas nossas mãos quando vindo de avião dos vários pontos da metrópole. Este serviço prestado pelo SPM foi notável, foi talvez o melhor serviço prestado aos militares da Guiné, direi mesmo a todos aqueles que se encontravam a prestar serviço no chamado Ultramar.

Numas voltas que dei pela NET e dos artigos que encontrei sobre este serviço, poderei acrescentar mais umas notas que me parecem relevantes:

…Muito para além dos números impressionantes de milhões de aerogramas, cartas, encomendas, vales do correio e valores declarados, por eles tratados e enviados (SPM); durante os anos de guerra a expedição média diária foi de 10 toneladas de correio (!!!) para um total transportado de 21 mil toneladas. E numero e o indicativo de SPM nunca falhou, mesmo nos locais mais perigosos difíceis e isolados, e os prazos médios entre a expedição e a recepção eram mínimos…

…A expedição dos aerogramas do Ultramar para a Metrópole, funcionava de forma inversa, isto é, os militares entregavam a correspondência nos Comandos ou em qualquer estação dos CTTU que, por seu turno a enviavam pelos aviões da Força Aérea e aviões das linhas comerciais, para Lisboa cabendo depois aos CTT a sua distribuição pelos destinatários, dos vários pontos do Pais….

…Os primeiros aerogramas editados pelo MNF, foram impressos em papel azul pálido. A partir de Março de 1962, passaram também a ser impressos aerogramas em papel amarelo, e que eram destinados ao uso exclusivo no sentido Ultramar – Metrópole, enquanto que, os aerogramas impressos em papel azul, deveriam ser utilizados no sentido inverso, Metrópole - Ultramar…

…No Continente, a aquisição dos aerogramas era feita ao preço unitário de 20 centavos. Os aerogramas podiam ser vendidos ao público, (entre outros locais) na sede do Movimento Nacional Feminino, nas Juntas de Freguesia, e também estavam disponíveis em muitos estabelecimentos comerciais que os vendiam, sem aumento de preço, sendo a contrapartida pela venda, saldada em aerogramas. Sabemos que, em alguns bairros mais carenciados, os aerogramas chegaram a ser distribuídos gratuitamente…

Pica Sinos
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E O Hipólito, aquele que foi responsável pelo SPM em Tite, disse:

Oh fá'xavor, vamos lá dobrar essa língua . . .

SPM = Senhor Primeiro Ministro.
Só por isso, estão a topar a cagança do meu desempenho ! . . .
E para que conste, em Tite, SPM só havia um, cá o rapaz e mais nenhum . . .
Carteiros, digamos, é que haveria alguns . . .
Olhem-me este usurpador de funções . . .
E, sobre o SPM, já fiz uma crónica há uns tempos, bem bonita por sinal.
Só que não a consigo encontrar, de tão "jalbote" que sou nestas informáticas.
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Pica!

Boa ideia a tua de falares sobre o SPM. Sem dúvida um dos melhores serviços prestados aos militares desterrados nas antigas colónias.

Todos os que por essas “Áfricas” e “Ásias” passaram, se relembrarão desse extraordinário serviço. Onde quer que houvesse um pequeno destacamento, o pessoal encarregue da correspondência, lá faria chegar o mais rapidamente possível as cartas dos seus familiares.

Sobre o “nosso” SPM, 1º Cabo Hipólito, era vê-lo a bordo do Jeep em direcção á pista todo garboso, pois ele sabia quão importante era o serviço que ele prestava.

Na 1ª foto, lá estou eu “emplastrado” pelo Amador que, tal como eu, era-mos dos poucos que mais cartas recebiam. Ao contrário do Silva, (que faz ele ali na 2ª foto assustado no meio da rapaziada?) como ia a dizer, que faz ali o Silva? É que este marmanjo era um preguiçoso para escrever á família, mas queria receber cartas. Ai Silva, Silva!

Abraço
Costa


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sábado, 9 de julho de 2011

Tete, Moçambique

Caros companheiros
Não é nosso hábito direccionarmos as nossas crónicas para outras Colónias da então Guerra Colonial, mas dada a simplicidade e originalidade da história aqui contada, transcrevemos o email do companheiro que nela tomou parte, bem como o video em que o mesmo a relata.
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"Caros ex-Combatentes do Bat ART. 1914!


Venho com muito gosto, convidar-Vos a visionar uma história de guerra por mim vivida há mais de 40 anos, em Tete, Moçambique, e que ainda está à espera de conhecer um epílogo: procuro um ex-guerrilheiro da Frelimo para lhe dar um abraço e devolver-lhe algo que lhe pertence.

Se gostarem conforme espero, nesse caso peço-Vos por favor que divulguem este episódio. Há um conjunto de razões com raízes fundas em mim que me levam a fazer-lhes este pedido.

Uma dessas razões facilmente a descortinarão através do visionamento do vídeo publicado no Youtube e de que aqui Vos deixo o respectivo link

http://www.youtube.com/watch?v=KrR0G262dqU

Entretanto, permitam-me ainda chamar-Vos a atenção para um detalhe relevante da história. Trata-se de uma imagem do referido guerrilheiro que segue em anexo. Eu não costumava levar máquina fotográfica para as operações, mas dessa vez aconteceu. Ainda bem, digo-o agora.

A imagem (para mim) é dolorosa por destapar um dramatismo não ficcionado. Se a tivesse de legendar, escreveria:
Ecce homo - Eis o homem a quem devo o rádio e um abraço.

Grato pela Vossa atenção, envio-Vos um abraço de camaradagem.
Jaime Froufe Andrade.
Telem. 93 93 20 807 "

sexta-feira, 8 de julho de 2011

CCAÇ 1787

PERTENCI Á CC 1787 QUE ESTEVE EM EMPADA DE 24 DE JAN.1968 ATÉ 05 DE JUN.1969.
CREIO QUE FOI EM MEADOS DE MARÇO DE 1968(O BART 1914 JA ERA COMANDADO PELO TEN-COR. HÉLIO FELGAS) QUE ATERREI EM TITE ONDE FIQUEI OITO DIAS, LEVADO PELA AVIONETA DO CORREIO.
NESSE DIA Á NOITE TITE FOI ATACADO C/CANHÃO S/RECUO.ESTAVA EU NA SALA DE SARGENTOS, DEPOIS DO JANTAR, JOGAVA-SE Á CARTA. FIQUEI SENTADO Á MESA ESPERANDO QUE AS LUZES SE ACENDESSEM, POIS NÃO CONHECIA NADA DO QUARTEL.
PARABÉNS PELO V/BLOGUE, SÃO RECORDAÇÕES PRECIOSAS QUE NÃO SE PODEM PERDER.
UM ABRAÇO GRANDE DO
EX-FUR.MIL.GONÇALVES - C.C.1787

domingo, 3 de julho de 2011

Festa rija nos montes Altos


Na primeira aldeia do país a ter luz eléctrica, na senda,  e com o objectivo de ir festejar, no Centro Social dos Montes Altos, as 66 primaveras do Zé Pedro, era já manhã alta, quando o grupo de ex-camaradas de armas e, respectivas mulheres, reuniu para descanso, aproveitando, na berma da estrada, as sombras originadas por um enorme chaparro,

Esta aldeia de nome S. Domingos, acrescentado mais tarde de primeiro – Mina -justificado pela existência e construção nos seus terrenos de um vasto complexo mineiro. Povoação alentejana, há época auto-suficiente na esfera social, mas praticamente desertificada no principio dos anos 60, pela razão do esgotamento da predominante pirite. Segue-se o consequente abandono da exploração da responsabilidade inglesa, a retirada de materiais e dos equipamentos.


Contudo, não estava nos objectivos do ora agrupamento a discussão desta problemática questão. Sobressaltava-nos, alvoraçava-nos, isso sim, a reacção do esperado regozijo em rever e abraçar um camarada que acerca de 42 anos não o avistávamos.


Referimo-nos ao Joaquim Chaparro. Este camarada natural de Moura, já reformado há um ano da autarquia desta linda cidade, ainda solteiro, prometia vir a conferir, como veio a acontecer, uma enorme alegria a revê-lo. Mas também, diga-se, pela expectativa do contentamento que ia proporcionar o encontro entre o Chaparro e o Zé Pedro. Dois homens que tiveram idênticas tarefas profissionais e grandes amigos que, todos nós tivemos a oportunidade de verificar em Tite.

Finalmente chegámos. À nossa espera o Pedro, que nos recebeu, como sempre, de braços abertos. Criou-se alguma expectativa quando observamos o Quim Chaparro de lágrimas nos olhos a abraçar o Pedro. Numa primeira fase, o nosso guardador das vacas e da horta em Tite não conseguiu recordar imagem do seu companheiro. Todos, nervosamente, ajudavam o Pedro a recordar o seu companheiro. É o Chaparro Pedro! É o teu camarada na guarda das vacas, diz um. Conformado, dando as responsabilidades do esquecimento ao tempo passado, dizia outro. O Pedro olhava o companheiro emocionado há espera de respostas que tardou a acontecer. Mas dado o tempo ao tempo, tudo se recompôs como mais à frente iremos verificar.


O menu para a festança foi excelente; Gaspacho acompanhado de carapaus fritos, borrego estufado acompanhado com arroz branco, salada de tomate com cebola e orégãos. Vinho branco e tinto, sumos, fruta e arroz doce. Para assentar um cafezinho e quem quis ainda bebeu um desestivozinho. O convívio com todos foi do melhor. Muitas palmas de agradecimento às cozinheiras e outros/as trabalhadores/as que tornaram possível este grande convívio.

Chegados os momentos solene, ofertamos ao Pedro uma placa comemorativa do seu aniversário e pequenos mimos: meias, uma ou outra camisa, um pijama, uma ou outra t-shirts, um boné e, um ou outro frasco de “cheira bem”. Pedimos discurso não foi conseguido por emocionado. Também ao Presidente da instituição, Sr. Diogo Sotero a oferta de uma placa de agradecimento. Um porta-chaves com o emblema do nosso Batalhão aos Srs. Mário e Hugo, responsáveis na vinda do Pedro para esta casa de solidariedade social.


Mas é o filme apresentado que melhor espelha o que por palavras dificilmente seria conseguido. Carrega neste endereço duas vezes.


http://www.youtube.com/watch?v=hEXjx_9tQmk

O Centro Social dos Montes Altos, é uma Instituição Particular de Solidariedade Social sedeada na povoação de Montes Altos inserida no concelho de Mértola. Situa-se a 3 quilómetros da aldeia mineira aqui já referida, fincando à mesma distância a fronteira espanhola.


Já foi referido no Bloog, que o Pedro é natural da região do Algarve e, as razões da sua deslocação para esta instituição também.
Nunca nos cansaremos de manifestarmos o nosso agradecimento à instituição, à direcção ao pessoal e em especial ao seu Presidente Sr., Diogo Sotero, o carinho e bem-estar que conferem com ao nosso amigo Pedro.

É muito gratificante ouvir, sobre o Tio Zé, informações, justificadas pela razão de sermos considerados, pela instituição, os seus únicos “irmãos”.


Viemos a saber que o Pedro embora tenha nascido a 29 de Junho, só foi registado 2 meses depois. Que o seu processo de reforma está concluído e detêm uma pequena poupança no banco. Concluindo que em termos de futuro a responsabilidade da instituição para com ele está assegurada. Bem hajam.

"…Os que me conhecem sabem que a minha atitude ou vocação social não se iniciou há dez anos com a fundação do Centro Social dos Montes Altos. Sabem também que a trave mestra que tem conduzido o meu percurso de vida tem sido a solidariedade, a luta contra a pobreza e a exclusão, numa atitude permanente onde os mais frágeis ocupam um lugar especial no meu coração e constituem a minha principal preocupação. Falo dos idosos, dos deficientes, dos toxicodependentes, das crianças vitimas de maus tratos e de todas as minorias em geral.

Entendo que o mundo é pertença de todos e todos cabemos nele: todos diferentes, todos iguais! E assim sendo tem de haver um sentido de responsabilidade colectiva. Ninguém se deve desresponsabilizar por aquilo que está mal ou por aquilo que acontece ao seu próximo. No meu mundo não cabe a hipocrisia, o aproveitamento ou a inveja estúpida de quem muito tem e nada reparte, de quem não faz, não sabe fazer, não quer fazer e critica tudo o que o outro faz…"

Diogo Sotero, In Prefácio Centro Social dos Montes Altos 10 Anos de Vida – Agosto/1993 – Agosto de 2003
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Albertina Granja disse...


Costumo muitas vezes dizer que: "a dignidade dos espaços depende da dignidade de quem os frequenta....."

Na situação em apreço eu acrescentaria que a dignidade desta instituição não depende só da dignidade de quem a frequenta mas também e acima de tudo, da dignidade de quem a dirige......

Parabéns
3 de Julho de 2011 21:14
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Hipolito disse...

Deve ter sido, de facto, emocionante presenciar o reencontro, após 42 anos, destes dois "ex-libris" do nosso batalhão.

Um bem-haja ao director e funcionários do Centro Social de Montes Altos por terem proporcionado esta significativa festa ao n/Pedro, bem como aos companheiros que se dispuseram a nela participar.
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Um publico agradecimento ao Sr. Diogo Sotero e restante equipa dos Montes Altos, pela agradavel festa que proporcionaram ao amigo Pedro e também à maneira fraterna como receberam os camaradas que se deslocaram aos Montes Altos, e que assinalou também o reencontro com o nosso companheiro Chaparro.
Para todos o nosso muito obrigado.
LG.
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Diogo Sotero disse...


Caros amigos do Batalhão Art 1914-Guiné,em especial para aqueles que tive o previlégio de conhecer, como o amigos Pica Sinos,Leandro guedes, O meu conterrâneio Mestre de S.Pedro de Solis, os de Moura e todos vós, que bem hajam que familia são para o Zé Pedro e para mim mesmo.É uma emoção ver esse grupo de homens, agora acompanhados das suas companheiras,endireitarem caminho ao fim do mundo, no Cú do alentejo (Montes altos) onde Deus recomendou que olhassemos uns pelos outros e o José Pedro Conceição e Sousa, teve a sorte de nos encontrar e nós de o conhecer a ele.Todas as historias são bonitas quando tem um final feliz e a do Zé Pedro é isso mesmo. Pró ano quero estar convosco na vossa Festa (em Almada) vou com o Mestre e Zé Pedro, partilhar convosco as coisas boas e más do Bart1914 na Guiné. Já sou um de vós.

Um abraço sentido a todos vós, contem todos comigo.Diogo Sotero