A GUERRA DA GUINÉ"
Por António Trabulo
António Trabulo, nasceu em 1 de julho de 1943, em Almendra,
Vila Nova de Foz Coa e formou-se em Medicina em Coimbra para onde veio depois
de viver desde a sua infância em Sá da Bandeira, Angola, com a sua família.
Especializou-se em Neurocirurgia. A sua carreira médica
decorreu nos hospitais de S. José e dos Capuchos, mas manteve uma forte ligação
à cidade de Setúbal, onde reside há mais de 40 anos, através da clínica
privada. Reformou-se, como chefe de serviço, no início de 2009. Cumpriu o
serviço militar obrigatório como médico a bordo do navio hospital Gil Eanes,
nos mares da Terra Nova.
Escreveu o livro sobre "A GUERRA DA GUINÉ" que foi
lançado em Outubro de 2014.
Sabe-se que procurou fundamentar-se ao pormenor sobre a
guerra naquele território português de modo a analisá-la com imparcialidade e
veracidade e que, inclusivamente, se apoiou em pessoas que viveram aquela
guerra, inclusivamene na família de Amilcar Cabral.
No livro, diz-nos:
"Portugal reconheceu a independência da República da
Guiné-Bissau em 10 de setembro de 1974. Para trás, ficavam mais de onze anos de
combates. Ao contrário de Angola e de Moçambique, a Guiné era pequena e pobre.
Era também insalubre. Quando a CUF se viu forçada a suspender a sua atividade,
a colónia deixou de ter qualquer valor económico. No entanto, os responsáveis
políticos portugueses acreditavam que uma independência abriria as portas às
restantes. Era a teoria do dominó. Para manter a Guiné sob a sua bandeira, o
estado português obrigou-se a um esforço militar claramente desproporcionado ao
tamanho e à importância do território. Apesar disso, por altura do 25 de Abril,
a guerra da Guiné era a única que o nosso país estava em vias de perder. O
desgaste produzido por um conflito prolongado e sem fim à vista lançou o descontentamento
no seio das forças armadas portuguesas. O regime ditatorial acabou por ser
derrubado por não ter sabido negociar a questão colonial.
Este livro tem múltiplos protagonistas. Do lado português, e
falando apenas do Exército, lutaram na Guiné mais de 100 mil soldados
metropolitanos, em comissões de serviço de dois anos. Tombaram 1600. Entre os
comandantes, a figura do general António de Spínola é incontornável. Do lado
oposto, sobressai o vulto de Amílcar Cabral.”
Diz-nos também que: “Amílcar Cabral não confinava a sua
estratégia aos ataques a quartéis, a fazer emboscadas, a pôr minas e armadilhas
nas picadas, foi um incansável diplomata, em 1972, o ano que precedeu a sua
morte viajou 31 vezes, as Nações Unidas eram o seu objetivo maior, mas não descurava
os fornecedores de armamento, alimentos e medicamentos, promovia todos os
contactos necessários para arranjar bolsas de estudos para os futuros quadros.
Do mesmo modo, o autor lhe dedica um texto de referência sobre o pensamento
político. E assim chegamos à frustração de Spínola quando percebe que o
Marcello Caetano lhe nega a abertura de negociações para uma solução política
da guerra. Esta obra constitui uma aproximação à vida e à obra do pensador e
revolucionário africano e comporta muitos traços de biografia. Escolhi falar
primeiro na sua morte. Não será a primeira vez que se começa uma história pelo
fim."
O autor também não esconde o seu desalento: “A Guiné-Bissau
não voltou a atingir o nível de cuidados primários de saúde e educação
assegurados no tempo da guerra pelos militares portugueses. Os camponeses
continuam a predominar no conjunto da população e a sustentar o país, mas pouco
ou nenhuma influência tem na gestão da república, em que, apesar das
realizações periódicas de eleições, mandam os antigos comandantes militares”.
Sem comentários:
Enviar um comentário