Histórias à volta
do nosso almoço em Ovar.
UMA HISTÓRIA QUE FICOU POR CONTAR
Talvez não saibam, logo após “descobertos”, 4 décadas
passadas, os telefonemas e as falas aqui ali embargadas, sobretudo na casa do
Mestre, não deixaram de parar tal as saudades (chorosamente) manifestadas.
Estou a relembrar 3 grandes camaradas que vivem no Baixo
Alentejo. Em Monte Fialho - o Mestre, em Moura - o Ramos, e o Pedro - em Montes
Altos, no concelho de Mértola, como se sabe protegido num lar para idosos.
Com as presenças do Guedes, do Mestre, do Ramos e da
minha pessoa, num encontro prévio, em Montes Altos, no passado mês de Março, no
objectivo de visitar o Pedro, que antes julgávamos ter morrido, ressaiu a
possibilidade de todos se deslocarem a Ovar, quando e por ocasião do nosso 20º
Almoço Convívio marcado para 23 de Maio de 2009. A partir daqui foi o
desassossego, ninguém calava ninguém ao ver surgir da possibilidade de
encontrar amigos que há longa data, os “perdidos” não abraçavam.
Uma vez que os nossos amigos, partiriam de pontos
diferentes do Alentejo, para um comum (Castro Verde), estava fora de hipótese
viajar de noite ou pela madrugada. Tal facto (e isto com os alentejanos tem que
ser devagar e com tempo) umas semanas antes do evento foi discutido
exaustivamente o melhor trajecto e transporte, chegando-se á conclusão, (três
dias antes), que para utilizar o comboio que partiria de Lisboa a tempo de
respeitar o horário do encontro marcado para o Jardim dos Campos (ou das Rosas)
em Ovar, teria que ser antecipada a partida em um dia, facto que acarretaria
despesas com alojamentos e na restauração. Mas a surpresa estava guardada.
Camaradas…avancem, adianta o autor do texto, …embora não
tenha casa para os albergar (não era no chão da minha casa que os amigos do
peito iam dormir), …não é problema, tenho uma tenda roulotte no Parque de
Campismo na Costa da Caparica, com tudo o que é necessário para passar meses de
férias, quanto mais para uma noite…Avancem camaradas! Assim aconteceu!
No dia que antecede o 20º Almoço de Confraternização,
eram cerca das 12,30, quando nos encontrarmos na Rotunda do Centro Sul, em
Almada, arrumamos o carro do Ramos na frente da minha porta, em Corroios,
visitam a minha mulher e a minha neta Inês, partindo de seguida, agora, todos
conduzidos por mim, para o almoço num dos mais afamados restaurantes de Almada
– o Horácio -.
Bem almoçados e melhor regados, fomos largar a bagagem na
“casa de férias” com vistas para Oceano Atlântico, para logo depois rumarmos á
estação do caminho de ferro Oriente, onde adquirimos os bilhetes para a viagem
do dia seguinte. Já no Centro Comercial Vasco da Gama, o Pedro manifestou
alguma dificuldade nas escadas rolantes, na primeira que
pisou, não fora o Mestre segurá-lo, a descida tornava-se mais rápida. Nas
subidas o desequilíbrio era menor, também já éramos 2 a “montar segurança”.
Fiquem sem saber dos “acidentes” que se passaram com Mestre e com Pedro e um
outro utente nas casas de banho deste Centro Comercial.
Depois das compras feitas, com vistas a servir umas
patuscadas previstas para as viagens na ida para Ovar e na vinda, apreciamos,
na Cova do Vapor, sitio outrora de pescadores, a foz do rio Tejo. Passeamos no
recente passadiço, junto ao mar, da Costa da Caparica. O silêncio dos meus
convidados foi bem patente face à oportunidade em admirarem a beleza e a
grandeza deste mar que se esgota com o olhar e no horizonte.
No regresso à vila do Pragal, (terra onde Fernão Mendes
Pinto foi desterrado por castigo das mentiras que se pensa ter infligindo ao
reino, quando da sua viagem à China), o restaurante – Geraldos – foi o local
escolhido para jantar, seguindo-se após o repasto, já na “casa de férias”, a
preparação e os cortes de jeito afatiado: do queijo, do presunto, do paio e do
pão, que o Mestre fez transportar e na manhã seguinte, na viagem para Ovar,
serviu no bar do comboio, acompanhados por “tintos” de região demarcada, estes
ofertados pelo Ramos. Diga-se que foram muito admirados, por muitos dos “guerreiros”
tendo em conta as suas elevadas qualidades. (os menus e os tintos)
23 de Maio de 2009, a expectativa de abraçar muitos dos
camaradas é muito grande. O Carlos Azevedo e eu vamos buscar os “perdidos” ao
portão do parque de campismo, são 6 horas da manhã, rumamos à estação do
Oriente porque outros nos esperam. Como foi bonito abraçar e ver abraçar homens
que as vicissitudes do tempo não permitiram durante 40 anos.
Pica Sinos
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