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FUTURO A Guiné-Bissau tem um passado, mas
devido à instabilidade política não consegue sonhar com o amanhã |
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Companheiros
Conforme prometido, publicamos hoje mais um artigo sobre a Guiné-Bissau, desta vez sobre a famosa opareção MAR VERDE, que libertou da prisão os nossos companheiros, entre outros, que tinham sido capturados em Bissássema, na noite de 2 para 3 de Fevereiro de 1968, de triste memória.
Sobre este assunto existe um livro escrito pelo alferes Rosa da CART 1743 e que nos elucida sobre o sucedido, desde a captura até à libertação e tempos imediatos.
Este artigo insere-se numa reportagem dos Jornalistas do Jornal Expresso, Luis Pedro Nunes e Fotografo Alfredo Cunha, a quem agradecemos a partilha.
DO
“MAR VERDE”
ATÉ
CUBA
22
DE NOVEMBRO DE 1970, GUINÉ-CONACRI
Deverá
ser uma das operações militares mais conhecidas na Guiné. Pela sua espectacularidade.
O então capitão-tenente Alpoim Calvão levou 400 homens, entre comandos
africanos e opositores ao regime de Sékou Touré, para atacar a capital da
Guiné-Conacri. No final, a maioria dos objectivos falhou — 0 regime não foi
deposto, Amílcar Ca¬bral não foi capturado, os MIG não foram destruídos. Apenas
os prisioneiros portugueses do PAIGC foram libertados. Nas Nações Unidas os
problemas de Portugal — que negou o envolvimento na missão — agudizaram-se.
Hoje culpa-se a PIDE pela má informação (e é capaz de ser verdade).
Abulai
Djao é um homem fino e elegante. Já sabíamos, de uma viagem anterior, que era
professor. Mas tinha sido aquela frase, “na guerra estive a pescar em São
Tomé”, juntamente com “tive tuna discussão séria com o Alpoim Calvão em mar
alto”, que nos tinha intrigado. Djao, aos 18 anos, no final do Liceu, acabou
recrutado para uma tropa especial e foi levado para um treino militar, no qual
foi “torturado” até estar pronto para se tornar um operacional. A força a que
pertencia tinha outro nome pomposo. Mas se procuramos nos livros o nome correto
será Flechas, forças especiais da PIDE formadas por africanos e que tinham como
missão a recolha de informação com vista a operações de contraguerrilha. Djao
só lá esteve seis meses. Que mudaram a sua vida. “Foram seis meses a pescar em
São Tomé”, repete. “Tivemos umas passeatas por Angola e Moçambique e depois
aquilo do Alpoim. ” O grupo era composto por 19 operacionais, entre angolanos e
moçambicanos, mas também dois açorianos, um madeirense e um natural do Porto.
Para o mar alto foram cinco. Todos africanos. Como era a farda? “Era muito interessante,
porque tinha espaço para tudo, preta, cheia de bolsos, era checa e tínhamos uma
pistola Makarov. ”
“Chegados ao mar alto, Alpoim Calvão mandou-nos
analisar o cenário e disse qualquer coisa como ‘meus merdas, têm dez minutos
para olhar para isso’” (risos). “Era evidente que não podia funcionar. A
informação era escassa e havia um erro crasso: bastava um soldado ficar ferido
e não havia forma de desconectar Portugal da operação. E houve uma discussão,
digamos, acesa.” Mesmo assim, Djao acha que a operação teve um sucesso relativo
para Portugal, um objectivo psicológico: Conacri ficava a saber que não era
invulnerável e que Portugal tinha impedido Cabral de proclamar uma
independência iminente... “ Claro que diplomaticamente foi um desastre e
politicamente foi nojento.”
Chegada
a independência da Guiné, este passado não foi fácil de apagar. A Guiné-Bissau
destacou-se pela matança aos soldados nativos (nomeadamente de tropa especial)
que serviram nas forças especiais portuguesas. Djao era então director da
escola em Bafatá. E o destino abriu-lhe uma janela que lhe terá salvo a vida.
Concorreu a uma bolsa de estudo em Cuba. Na noite antes de partir, o temido
António Buscardini, o chefe da Segurança do Estado do tempo de Luís Cabral,
chamou-o, era um homem que todos retratam como muito especial. A conversa foi
tensa e cifrada. Djao dá a entender que o terá tentado recrutar. Ficou cinco
anos em Cuba sem voltar à Guiné. Em 1980, quando regressou, tinha quase a
certeza de que seria mais um dos que acabariam mal. A Segurança de Estado de
Buscardini era um misto de PIDE com KGB. Certos amigos, já colocados dentro do
aparelho do Estado, fizeram- -lhe alguns favores para que se safasse, dado que
tinha salvo muita gente. A 14 de novembro de 1980, Buscardini suicida-se (ou é
pulverizado por um tanque) durante o golpe de Nino Vieira, por se ter recusado
render-se. Djao levou tempo a recompor- -se desta angústia. Casou-se tarde.
Vive em Gabu (Nova Lamego). É professor. Tem uma família linda. É um homem
calmo, culto, discreto e respeitado. Esta história estava encarcerada nele,
pareceu-nos...
NOTA - PARA A SEMANA CONTAMOS PUBLICAR OUTRO ARTIGO DESTA INTERESSANTE REPORTAGEM E QUE FOCA O "MASSACRE NO PORTO DE PIDJIGUITI EM BISSAU, CONTADA PELOS INTERVENIENTES.
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