guerra do Ultramar,
guerra colonial,
guerra de África,
guerra da libertação,
…guerra.
Qualquer objecto, qualquer que seja a sua forma, tamanho ou aparência, dificilmente transmitirá a coragem, o valor e o sofrimento dos que pela Pátria partiram e que por ela combateram a milhares de quilómetros da sua terra natal.
A esses Heróis dedico esta peça.
É impossível compreender na sua totalidade a dimensão das marcas deixadas à passagem por tão extremo episódio.
Conhecer quem a viveu, ouvir as histórias, perceber os medos e conviver com alguns dos traumas, permite que se tenha uma leve noção dessa realidade.
Na peça que ora se apresenta, materializada no “Tributo aos combatentes da Guerra do Ultramar, 1961-1974”, pretende-se invocar um sentimento superior, desde logo evitando uma representação figurativa da guerra, mas antes enaltecer o sagrado, o intenso, os valores nacionais, a homenagem sentida aos que pela pátria tombaram e aos que sobreviveram à guerra.
Quanto à forma global, uma primeira leitura rapidamente desvenda a carga simbólica, que se quis simples e de comunicação imediata.
O conjunto define um percurso, uma via de saída do mundo profano que ao ser percorrido vê aumentar a intensidade da carga simbólica.
Salvaguardando as óbvias diferenças e, numa abordagem simplista, poder-se-á inclusivamente comparar ao percurso interior numa catedral que, para chegar a um altar, somos obrigados à transposição da Nave.
A base branca, que isola o conjunto na sua relação com o espaço envolvente, cria uma barreira sensorial conseguida através das diferenças de textura entre aquela e o restante pavimento que lhe está adjacente. O ligeiro rampear da base visa reforçar o destaque do conjunto, indicando ao observador que estamos no domínio do simbólico, gravando também no chão sob o “pórtico” o período temporal da guerra.
À passagem pelo “pórtico” constituído pelos dois elementos verticais, quais asas onde repousam os nomes dos combatentes, indica-se os nomes daqueles de Olhão que tombaram em África. À direita a dedicatória e as armas da cidade encimados pelo símbolo da Liga dos Combatentes – Núcleo de Olhão.
Seguidamente destacam-se três elementos em pedra, pousados sobre a base, como que urnas homenageando todos os que tombaram ao serviço da nação nas três ex-colónias palcos de batalha, Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.
A esfera armilar, representação simbólica de Portugal, remata o conjunto como que a pairar, enquanto metáfora à ilusão de poder que se julgava deter sobre as ex-colónias e que depressa se apercebeu quão efémero era.
Um olhar afastado permite que se apreenda um conjunto, sem no entanto perder a noção de que esse conjunto é apenas o somatório do contributo de cada elemento individual, querendo por isso ilustrar o grupo, sem o qual nada seria possível.
Os materiais escolhidos visam reforçar as ideias já referidas, tentando materializar ideias como frieza, brutalidade, força, coragem, bem como a alusão à nobreza, à esperança e ao luto branco dos que ficaram.
Miguel Caetano
Este Monumento foi inaugurado no dia da cidade de Olhão, a 16 de Junho de 2013
(Oferta ao Núcleo Regional de Ohão em construção no Jardim da Urbanização Mariana Saias)
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