De profundis por um amigo
Viagem à Russia??!!...porque sim!!!!
De súbito como os relâmpagos, assim se esfumou uma vida.
Mais uma vez ausente em funções de formação da sua Lisboa, e desta vez em Angola, assim de repente, partiu este companheirão de tantas aventuras, sucessos profissionais conjuntos e horas até às tantas da madrugada...
O Henrique, era assim, como que um remédio bom para a alma da gente.
Não conheci ninguém com tanto espírito e capacidades múltiplas que o faziam inevitavelmente o fulcro das atenções.
Autêntica enciclopédia de saber de vida vivida e de anedotas, parecia ter um catálogo mental humorístico, que abria sempre na página certa para a situação oportuna.
Repentista como poucos, nas respostas e trocadilhos, prendia ouvi-lo quando ministrava os cursos técnicos sobre os sofisticados e complexos equipamentos electrónicos de soldadura de terceira geração, departamento que chefiava.
Que grande lição para certos professores, pensava eu por vezes, ao ver a sua desenvoltura e capacidade de ministrar o conhecimento.
Muitos instrutores, são autênticos papagaios, debitando matéria a papel químico, e que ao contrário de prender os instruendos, os entédiam e por vezes, até a eles próprios.
Profissionalmente o Henrique, também tinha toda a minha admiração.
Muito cedo começou a dura vida do trabalho (com vinte e um anos, já tinha duas filhas), e sempre canalizada para o difícil, campo da Soldadura de Precisão.
Extremamente dotado no seu metier, quase garanto que três quartos da sua vida foram a percorrer meio-mundo, sempre nas mais qualificadas empresas mundiais, desde as industrias do petróleo, Metalomecânica, Industria Pesada, e sei lá quantas mais.
Andou pelos quatro Continentes, por vezes longos anos, e as suas experiências de vida por essas paragens agarravam-nos de tal forma, que durante os nossos animados almoços, só ele praticamente falava.
Quando não andava em viagem por todo o país ou estrangeiro, fazia sempre questão de almoçar com o nosso grupo...dito da desgraça !!
Falava muito, de, creio que sete anos seguidos, que trabalhou em Voljsky - na então União Soviética.
Eram interessantes os relatos, não só da especificidade técnica dos trabalhos que executava, mas as próprias condições climatéricas, com temperaturas de até 30º negativos.
Tanto falava sobre a Russia, e com tal entusiasmo, sobre a beleza e grandeza das cidades, e realçava tanto a grande beleza da mulher Russa, que um dia por graça lhe disse:
- Ó Henrique, ainda havemos de ir os dois ver essas belezas todas.
- Vamos embora, caneco, amanhã vamos marcar passagens.
Claro que a conversa ficou por ali, acabamos mais um almoço, e cada um foi à sua vida.
No dia seguinte foi uma vez mais dar formação para várias zonas do país, e só nos voltamos a juntar ao almoço mais de uma semana depois.
A meio do dito almoço, virou-se para mim e disse:
- Então, quando é que vamos marcar as passagens, tratar dos vistos e essa treta toda ?
- Qualquer dia destes, respondi eu, em tom de galhofa.
- É pá, estou a falar a sério, isso é só conversa ? vamos ou não vamos ?
- Vamos, respondi.
- Ok, amanhã vou pedir ao B... para ligar à agência de viagens, saber horários de voos, tratar dos seguros etc.
- Fazes bem, fazes bem, respondi mais uma vez, sempre na desportiva.
No dia seguinte o nosso colega B...do Contencioso, foi à minha secção, olhou para mim com aquele seu característico sorrisozinho malandro e comentou.
- Com que então, férias na Russia heim !!
- Fiquei embasbacado a olhar para ele.
- Perante o meu ar espantado, continuou: - O Henrique M... disse-me que já tinha falado com o patrão H...e que está tudo OK, para ver com vocês as datas, marcar férias e claro, salvaguardar o andamento dos respectivos departamentos.
Se já estava meio zonzo, acabei por ficar zonzo completo !! perante aquela afirmação, de já o nosso patrão estar ao corrente, e ter dado o OK a tudo.
Abreviando.
Já com os vistos da Embaixada da Rússia, e como motivo da visita “convidados em negócios pela Embaixada do ..... em Moscovo” (estratégia e conhecimentos do Henrique e de seus dois amigos, engenheiros Portugueses radicados em Moscovo), viagem marcada na Aeroflot, notas de 100 dólares compradas (eram as mais correntes para os câmbios clandestinos, pratica comum à época de 1993), lá seguimos rumo á Russia.....
Segue o próximo capítulo, ainda em trabalhos de parto. Até já !!
José Justo
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