33⁰ Almoço anual do BART 1914, em 15 de junho de 2024, no restaurante Vianinha Catering, em Santa Marta de Portuzelo. Organizador Daniel Pinto e seu filho Rui Pinto.
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“Se servistes a Pátria que vos foi ingrata, vós fizestes o que devíeis e ela, o que costuma”
(Do Padre António Vieira, no "Sermão da Terceira Quarta-Feira da Quaresma", na Capela Real, ano 1669. Lembrado pelo ex-furriel milº Patoleia Mendes, dirigido-se aos ex-combatentes da guerra do Ultramar.).
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"Ó gentes do meu Batalhão, agora é que eu percebi, esta amizade que sinto, foi de vós que a recebi…"
(José Justo)
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“Ninguém desce vivo duma cruz!...”
"Amigo é aquele que na guerra, nos defende duma bala com o seu próprio corpo"
António Lobo Antunes, escritor e ex-combatente
referindo-se aos ex-combatentes da guerra do Ultramar
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“Aos Combatentes que no Entroncamento da vida, encontraram os Caminhos da Pátria”
Frase inscrita no Monumento aos Heróis da Guerra do Ultramar, no Entroncamento.
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"Tite é uma memória em ruínas, que se vai extinguindo á medida que cada um de nós partir para “outra comissão” e quando isso nos acontecer a todos, seremos, nós e Tite, uma memória que apenas existirá, na melhor das hipóteses, nas páginas da história."
Não
voltaram todos… com lágrimas que não se veem, com choro que não se ouve… Aqui
estamos, em sentido e silenciosos, com Eles, prestando-Lhes a nossa Homenagem.
Ponte de Lima, Monumento aos Heróis
da Guerra do Ultramar
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domingo, 4 de julho de 2010
Bissassema - texto do ex-alferes Trabulo, hoje Coronel:
Com a gentileza do Joaquim Caldeira, da CCAÇ 2314, transcrevemos este seu artigo, que relata o que se passou no desastre de Bissassema, em Fevereiro de 1968.
Conjunto João Paulo e o Alferes Rosa
Hoje vou recordar um dos mais terríveis e tristes dias que vivemos em Tite.
O conjunto João Paulo estava em Tite quando chegámos da Operação " Velha Guarda" em 31Jan/01Fev68 que efectuamos na região de Bissássema e Banaussa e deixámos em Bissássema o Alferes Rosa, da CART 1743, com e seu pelotão de europeus e mais 3 pelotões de milícias, estes armados de mauser; para guarnecer e controlar a região de Bissássema pois esta situava-se em frente de Bissau do outro lado do rio Geba. Pensou-se que ocupar Bissássema não parecia ser muito difícil. Tratava-se de uma tabanca de onde as forças do PAIGC tinham desaparecido sem deixar rasto. Foi nesta operação que tivemos os primeiros militares feridos: o Augusto José Rebouta e o Manuel Branco, na região de Brandãozinho. O conjunto João Paulo era, na altura, um conjunto de renome nacional e foi a Tite para dar um espectáculo para "levantar a morar das tropas" o que pelos vistos não se verificou. Viram, foi os horrores e amargura de uma guerra e nunca lhes passou pela cabeça o que iriam viver e presenciar na sua vida de cantores e de militares. Encontram-se na foto tirada com os outros oficiais junto ao monumento da parda do quartel de Tite.
Diz a História da Companhia:
" Depois do ataque IN, em 030000FEV68, a BISSÁSSEMA, as posições das NT que se encontravam naquela tabanca ficaram desguarnecidas.
Encontrando-se esta C. Caç. em TITE, recebeu ordem para se deslocar para BISSÁSSEMA a fim de socorrer as NT que se encontravam nessa tabanca. Á chegada a BISSÁSSEMA, verificou-se que o IN já havia retirado, apenas se encontravam na tabanca um pequeno número de elementos da população. Foi dada ordem a esta Companhia para guarnecer BISSÁSSEMA a fim de proteger a população."
Tinham apenas passado 19 dias da nossa permanência na Guiné. Em consequência da forte flagelação, o IN na madrugada de 3 de Fevereiro de 1968 ocupou Bissássema, tendo feito prisioneiros o Alf. Rosa e mais dois militares e os restantes puseram-se em debandada para salvar a vida. Na retirada desapareceram um furriel e sargento da milícia de Tite que mais tarde foi encontrado morto no rio Geba. No percurso para Bissássema deparámos com a terrível visão do que tinha acontecido aos nossos camaradas.
Ainda hoje temos nos nossos olhos o doloroso estado em que se encontravam na fuga para Tite, bem como as lágrimas que lhes vimos na face, os olhos cobertos de lama e a maioria descalços e rotos ou mesmo nus, parecendo figuras de filmes de terror, apenas com forças para agarrarem desesperadamente a G3, a sua própria e única salvação para manter a vida, quando em redor somente havia a morte...
Pela meia-noite começou um ataque do PAIGC, meia hora depois o tiroteio parecia ter acabado. Foi esperança de pouca dura, pois logo a seguir começou um novo ataque, a força do PAIGC entrou dentro do quartel lançando granadas e semeando o pânico. Abalado com a explosão de uma granada, António Rosa e dois soldados, Capitulo e Contino, todos da CART 1743, foram apanhados à mão. Na noite de 21 de Novembro de 1970, no decurso da operação "Mar Verde" portugueses na Guiné-Conacri irão ser libertados e transportados em navios de guerra até aos Bijagós e daqui para Bissau e depois Lisboa. Segue-se o regresso a Abrunhosa-a-Velha do António Júlio Rosa.
Joaquim Caldeira
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2 comentários:
Este artigo foi escrito pelo Alf. Mil. Trabulo da CCAÇ 2314, agora Coronel Reformado da GNR
Caro Leandro. O artigo escrito no BLOG C CAÇ 2314 sobre O Alferes Rosa e a aventura de Bissássema é da autoria do coronel Trabulo a quem solicitei que relatasse algumas das suas memórias. Tive o cuidado de fazer alusão ao facto de terem sido escritas por ele, a quem fico grato. Gostei de ver o artigo transcrito no BLOG do BART 1914. Afinal o Alferes Rosa nem pertencia à minha companhia.
Um abraço, caro amigo.
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