Tardia homenagem, quiçá, mas com propósito, pois se dele ''bebo'' cada dia inspiração e jeito, aí vos deixo reposto poema feito a pensar em FERNANDO PESSOA.
Lêde, relêde-o. Apreciai e dai-me alguma nota disso.
Abraço-vos, a todos, com amizade total.
(LMD, 05.07.23)
À leitura, pois:
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A FERNANDO PESSOA
Do amigo, pela miríade de linhas deixadas, reconhecido…
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Nos dias terminais teimava, persistente e fino,
Em continuar isolado, naquele primeiro piso,
Propício e amplamente desguarnecido.
Cigarro após outro, fechado no quarto a fumar,
Melancólica ou freneticamente escrevia.
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Folhas manchadas a negro,
Com hesitações borradas e bela caligrafia…
Horas a fio, pela madrugada, a beber e fumar…
Tudo feito para se evadir, a fugir… de si,
Como um ignorante do mundo, sabendo-o, e perdido…
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Para não estar lá onde estava,
Onde estava e não voltar mesmo queria,
De vez acabar com ‘aquela’ vida de farsa,
A ‘correspondência comercial’, de dia, basta…
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Pela noite adentro, a Musa outra, a feérica Poesia!
Que lhe era medonha, dolorosa, crua, viva ciranda,
A vida de empregado de escritório… Uma zanga!
Bondava a náusea do que lhe sempre fora a vida!
Poetava:‘’Raios partam a vida…’’
Acrescentando: ‘’E quem lá anda!’’
-
De beber proibido, por atenção e mérito,
O fim prestes estaria se bebesse, lhe dizia médico.
Um cálice só, só um mais, ainda!
Serena, confiadamente, pedia…
-
E continuava a lide, a fumar e a beber,
Como alguém realmente persuadido
De a morte nunca ter existido!
Saía, pasta na mão, caminhando à vida, a beber e a fumar…
O fim previsto, vezes intimamente pedido,
Era assim falado: ‘’Neófito, não há morte.’’
-
Pela vez última na Baixa, a derradeira,
Na taberna do Manacés, como se fora a primeira,
Uma vez mais, ali parou a fumar e a beber…
E sussurrou um segredo, do balcão abeirado,
Ao taberneiro, confidente e amigo, mui dobrado:
‘’Devo tomar qualquer coisa ou suicidar-me?
-
Não; vou existir. Arre! Vou existir.
E-xis-tir…
E-xis-tir…
-
Dêem-me de beber, que não tenho sede! ‘’
A morte, como bálsamo, não procurava:
‘’Não há morte’’, afirmava.
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Sim, a existência, o existir…
O ‘’e-xis-tir’’, largo, compassado, bem repetido,
O ‘’e-xis-tir’’ que nunca houvera conhecido!
LMD, 05.07.20.
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