ILHÉU DO REI – BISSAU
O ilhéu que existe no rio Geba, em frente do cais do
Pidjiguiti, em Bissau, chama-se Ilhéu do Rei. Pertenceu ao rei nativo Ondotô,
rei de Bissau, até que, a 22 de Novembro de 1838, Portugal o adquiriu, sendo o
Tenente-coronel, Honório Pereira Barreto, Governador da Guiné Portuguesa.
Diz-se que ambos foram sepultados no ilhéu.
O auto de Cessão foi assinado na Praça de Guerra de São José
de Bissau, Quartel do Governo e escrito por José António Silves, encarregado de
Secretaria do Governador Geral da Província, a 30 de Fevereiro de 1839: “Cedia
à Nação Portugueza para ali fazer um Estabelecimento, à excepção da parte onde
tem a árvore para elles sagrada, e de um terreno suficiente para fazerem suas
libações, devendo dar ao rei Ondotô o valor de, oito escravos (por ser esta a
única maneira de contar dos Gentios) da parte do Governo e mais dois que da sua
parte lhe offerta.”
O Ilhéu do Rei tem uma largura máxima de 3,18 quilómetros
com uma atitude máxima de 37 metros. É habitado e guarda as ruínas do que ter
sido uma antiga fábrica de óleo de palma. A ilha tem 493 habitantes de 50
famílias da etnia papel que sobrevivem basicamente da pesca e enfrentam grandes
dificuldades.
Não têm luz, água potável, nem sequer um posto de saúde. Já
teve escola pública que se chamava ‘14 de Novembro’ com ensino da 1ª. à 4ª.
classe.
O acesso ao ilhéu é feito de barco que, por vezes, enfrenta
as águas agitadas do rio Geba, o ‘macaréu’.
Embora o português seja a língua oficial do país, poucos o
entendem ou falam, comunicando entre si pelo dialeto próprio da sua etnia papel
ou pelo crioulo.
A chegada dos portugueses à Guiné deu-se entre 1445 e 1447 e
é atribuída a Nuno Tristão que terá morrido numa destas primeiras investidas
num ataque perpetrado pelas tribos locais no rio Geba. Outros historiadores
atribuem-na a Álvaro Fernandes que, pela mesma altura, terá chegado à praia de
Varela.
No Ilhéu do Rei, encontra-se uma construção em avançado
estado de degradação, daquela que foi uma unidade industrial de excelência na
segunda metade do século XX, saqueada após a Independência por senegaleses e
alguns bissau-gueneenses para venderem metal e bronze. Aqui se descascava a
mancarra (amendoim), produzia-se óleo de amendoim, óleo de palma, descascava-se
o arroz e, com as cascas e desperdícios, produzia-se a energia que alimentava a
ilha. Os produtos aqui transformados eram escoados por via marítima para outros
pontos da Guiné e para exportação. Hoje, restam as ruínas e um encarregado da
fábrica que guia os raros visitantes por carreiros reconquistados pelas ervas
altas e mostra a Tabanca dos que ali ficaram após o encerramento da fábrica.
É uma Tabanca muito pobre que vive essencialmente da seca do
Bagre (peixe) que as mulheres vão vender diariamente em Bissau e constituída
por uma enorme multiplicidade étnica, o que se deve ao facto de ser uma
comunidade criada com base na classe operária recrutada para trabalhar na
unidade fabril.
Gouveia, 28/06/2020.
João Trabulo
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