"BISSASSEMA 52 ANOS DEPOIS...
Recordando... Um dia fatídico de há 52 anos
Foi há 52 anos que António Júlio Rosa, Alferes Miliciano,
natural da Abrunhosa, Mangualde, e mais dois seus militares, cabo cripto
Geraldino Marques Contino e soldado Victor Manuel Jesus Capitulo, da CArt.
1743, foram feitos prisioneiros, na madrugada de 3 de Fevereiro de 1968, por
forças do PAIGC.
A tragédia ocorreu numa acção militar na região de
Bissassema, tabanca situada na península a sul do rio Geba, em frente de
Bissau. Alferes Rosa comandava uma força, composta por um pelotão de europeus e
três africanos, ali instalada, no dia 31 de Janeiro, para subtrair o apoio
logístico, manter a segurança afastada e impedir qualquer flagelação sobre
Bissau pelo PAIGC. Num ataque violento de 250 guerrilheiros, penetraram no
dispositivo e obrigaram a força portuguesa a abandorar em pânico, apressada e
desornamente a tabanca para salvar a vida. A fuga foi trágica, com
consequências
imprevistas, a que assisti e que, ainda hoje, está no meu
subconsciente. Fazia parte da força que, saída de Tite, nessa madrugada, e que
foi impotentemente em seu auxílio. Após uma tentativa fracassada de fuga do
cativeiro, Alferes António Rosa e mais 25 prisioneiros portugueses, seriam
libertados da prisão 'Montanha' na República da Guiné-Conakry, numa acção
militar "Operação Mar Verde" pelas Forças Armadas Portuguesas,
realizada em 22 de Novembro de 1970, concebida e executada pelo fuzileiro
capitão-tenente Alpoim Calvão, com o apoio do Comandante Chefe e Governador da
Província Portuguesa da Guiné, brigadeiro António de Spínola.
Entretanto, após a chegada a BISSÁSSEMA, verificou-se que o
PAICG já havia retirado, apenas se encontravam na tabanca um pequeno número de
elementos da população. Foi dada ordem para guarnecer BISSÁSSEMA a fim de
proteger a população.
Mas isto não acabou por aqui, o PAICG não queria perder
aquela posição estratégica e a todo custo desenvolveu ações no sentido de
recuperar a tabanca. Assim, na noite do dia 4 e na madrugada do dia 5,
desencadeou ações com a finalidade de experimentar e recolher informação sob o
posicionamento dos militares ali instalados. E 10 minutos antes da meia-noite
do mesmo dia 5 de fevereiro, uma forte flagelação, que apenas durou cerca de 25
minutos por, ao pretenderem tomar de assalto o dispositivo, sofreram baixas o
que os levou a retirar. Mas no dia 9 de fevereiro, pela uma da manhã,
regressaram com maior efetivo e melhor armamento, talvez comandado por Nino
Vieira, com a vontade de tomar de assalto, capturar e desalojar os militares
portugueses. Conseguiram abrir uma brecha no dispositivo de defesa em
consequência de terem sido feridos 4 elementos de um abrigo, tendo penetrado no
interior do dispositivo de defesa. Mas a forte reação das NT obrigou as forças
do PAIGC a retirar com pesadas baixas, deixadas no local, abandonando grande
quantidade de material de guerra e, apressadamente, transportar elevada
quantidade de feridos que sofreram no ataque. Finalmente, passados cerca de 15
dias, no dia 25 de fevereiro, o PAIGC voltou a desencadear mais uma ação
violenta de flagelação, agora com menor efetivo e armamento, tendo retirado,
novamente, com várias baixas.
Em face do falhanço tido na efetivação da instalação de um
aquartelamento e também aos resultados que se registaram no início, foi
decidido abandonar a tabanca de Bissassema no dia 10 de março, procedendo-se à
recolha de arroz, e ao reordenamento das populações na região a norte de Tite.
Por isso, foram destruídas todas as moranças das tabancas que o PAIGC tinha
aliciado na região, bem como os próprios abrigos que tínhamos construído para a
defesa de Bissassema. Nunca mais lá voltámos.
Sabesse que esta intervenção, em Bissassema, foi um fracasso
para ambos os lados que o PAIGC sempre ocultou no seu historial. Se pelo lado
português, para além dos prisioneiros e dois desaparecidos e feridos não se
conseguiu contretizar os objetivos propostos; para o lado do PAICG, o elevado
números de baixas, levou a que o PAIGC sempre escondesse as suas consequências
tendo, inclusivamente, ter sido considerado por alguns, como um dos maior
desaires que sofreu no seu movimento de libertação da Guiné.
Passados que foram estes 52 anos, a visão dolorosa do estado
dos militares em fuga para Tite, as lágrimas que corriam nas suas faces, os
olhos cobertos de lama, a maioria descalços, ou mesmo nus, parecendo figuras de
terror, apenas com forças para agarrarem, desesperadamente, a arma, a sua única
salvação para manter a vida, em redor da morte, hoje, podemos questionar-nos:
"será que valeu a pena o sacrifício e a vida destes jovens de ambos
intervenientes na guerra…?"
A minha recordação vai para o Alf. Rosa entretanto já
falecido e para todos os militares participantes nestas ocorrências ...
João Trabulo".
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Lembro com saudade o amigo Furriel Manuel Nunes Reis Cardoso
bem como 2º. sargento Milicia Manga Colubali, ambos falecidos em combate nessa
noite. Lembro ainda os companheiros que foram aprisionados nessa noite e também
aqueles que tiveram de fugir para Tite para não serem mortos ou capturados e o que
tanto sofreram nessa noite. Leandro Guedes.
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Um agradecimento muito sincero ao nosso Coronel Trabulo,
pela homenagem aqui prestada. Bem haja. Leandro Guedes.
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