Há muito que andava a magicar que prenda te ía oferecer
neste Natal.
Dei voltas e mais voltas para saber o que ficava de melhor
este ano nas tuas vitrines.
E eis que a sugestão surgiu, espero que gostes.
Tem um bom Natal na companhia daqueles que mais amas.
Com saude e trocos.
E eu que vá lendo as tuas publicações nos blogs e nos emails
que envias.
QUE IDEIA MAIS SUBLIME, E COMO APANHASTE TODOS OS RECANTOS,
MESMO O BECO DA RICARDA??!!..
RAULÃO, JÁ ABRI UM ATALHO, E VOU TOMAR UMAS NOTAS PARA TE
ENVIAR PORMENORES DE TODAS AS FOTOS, ESPERO SER UM TRABALHINHO COM ALGUM
VOLUME, QUE LOGO QUE PRONTO TE ENVIO.
OS PORMENORES DE MUDANÇAS DE TOM É CINCO ESTRELAS E MAIS
CINCO SÓIS....
DECERTO PERDESTE UM DIA PARA ESTAS RECOLHAS!!!...
MIL ABRAÇOS, E BREVE TE DOU NOTÍCIAS.
e a tarde de domingo para compor o filme.
Mas também gosto do resultado.
Pica
_____________________
Transcrevemos a seguir um texto do Justo, escrito em resultado desta simpatia do Pica, em que ele
descreve minuciosamente todo o ambiente que vivia naquelas ruas de Lisboa, na sua
juventude:
AS MINHAS ORIGENS
Uma prenda de Natal 2013 do Pica Sinos, que não mais vou
esquecer!!
Raulão:
Em cima já disse tudo, mas vou realçar o trabalhão que deves
ter tido, e o tempo que dispensaste neste primoroso trabalho, e ainda por cima, com
nuances lindas.
Armazéns do Chiado - Onde eu, em miúdo ia por as meias da
mãe a “apanhar malhas”, o que como deves calcular era um frete de todo o tamanho,
inclusive, tinha imensa vergonha da “apanhadeira” Dª Estela, sentada numa banca
pequenina, logo entrando nos Armazéns á direita.
Também era lá que á época que ela se abastecia de materiais
para o atelier de costura, pois os Armazéns eram grandiosos em espaço e artigos e
tiveram uma certa auréola nos anos 1950.
Elevador de Santa Justa - Acesso da Baixa ao Carmo, e donde,
do cimo, no gradeamento de fronte aos elevadores, nos velhos tempos da
Veiga, deitávamos balões cheios de água, e não só!! sobre os policias, que á
cacetada dispersavam os manifestantes na rua do Ouro. Serviram também algumas vezes
para a rapaziada se “pirar” das cargas da GNR, quando o pessoal se lembrava de
os provocar frente ao quartel. O número era sempre o mesmo, e sempre com os mesmos
intervenientes; alunos dos anos mais avançados, gritando em altos berros,
perante o espanto das pessoas que estavam na fila para apanhar o eléctrico, cuja
paragem era em frente ao quartel, e que há anos não existe.
“Li-ber-da-de…Li-ber-da-de…Li-ber-da-de…vamos p’ra avenida
da Liberdade…vamos p’ra avenida da Liberdade”. E p’ra quê?,
gritava um…dar milho aos pombos, dar milho aos pombos…do…Ro-ssio…do Ro-ssio…do
Ro-ssio”. Também por duas vezes a GNR entrou pelo portão a dentro da Veiga,
distribuindo cacetada que não foi brinquedo, mas a malta reagiu, e ficaram dois bonés dos
gajos no chão, depois da
nossa debandada geral.
Estação do Rossio – Que vi diariamente durante anos da
infância e parte da juventude, das janelas do quinto andar da Calçada. Á direita da foto,
hoje um espaço muito agradável, era naquele tempo chamado de “A Casa dos Cavalos”
por ter um chafariz onde os cavalos bebiam água, antes de rumarem ás santas
terrinhas, findo o Mercado da Praça da Figueira, e mais tarde do da Ribeira.
Não esqueço, pelo Natal, os bandos de perus ás centenas, com
os respetivos guardadores de cajado e tudo. Era nesse largo que se fazia o
comércio destes bichos, que na altura eram todos pretos e era uma chinfrineira com
os Glu…Glus. Era minha avó que todos os anos embebedava o bicho, enfiando-lhe
aguardente por funil, goela abaixo.
Já depois de vivermos na linha de Sintra, e também até á
tropa, lá fazia o trajeto Café Nacional, Estação do Rossio, para apanhar o último comboio,
o das 2,25 H, o que adorava. Já contei que era o “comboio dos artistas” pois
vinham sempre as beldades dos teatros, sempre muito bem maquilhadas e o impagável MAX,
que tinha um espirito de eleição, e nos bancos da carruagem ao redor, os notívagos
de Lisboa…sem pópó
claro…mas super atentos ás conversas.
Calçada do Duque – Lá está o último andar de varanda
corrida, com as três janelas.
À esquerda o nosso quarto, meu e de meu irmão, ao centro o
atelier da mãe, á direita os quartos dos avós maternos. Além disso havia mais nove
divisórias??!!, divididas também por um grande sótão, que dava acesso ao telhado, onde
o pai nos tirou algumas fotos. Ainda tenho a máquina fotográfica dele comprada
durante a sua comissão militar em Cabo Verde.
Nas fotos das escadinhas, com portas verdes, o restaurante
que pertenceu a um primo do pai. Lá estão as esplanadas, coisa relativamente recente,
e que no meu tempo não existiam…turismo!!… Mas acho bem, porque se tem uma vista de
eleição, nas noites, de verão, com o Castelo de S. Jorge iluminado, e uns
petichiers pra criar peito…È super bom.
A entrada do nº3 tinha á direita e esquerda duas tascas.
Estava bem protegido o prédio!!
Na tasca do lado direito da entrada, serviam no inverno uma
bebida, que só conheci naquele tasco, com um bocado de mau aspeto. Tratava-se de
café a ferver em copo de vidro, com aguardente, canela, e raspa de limão, Bebia-se
sempre com as duas mãos a envolverem o pequeno copo e…goela baixo. Era uma maravilha,
e houve tempos que fazia muito em casa.
Beco da Ricarda – Estas fotos foram as mais inesperadas. Não
me lembro de em Tite ter feito referência a este local, mas decerto o Sherlock
Pica Sinos lá deu com ele!!
Está muito ligado aqueles meus tempos por vários motivos: No prédio da direita vivia a minha avó paterna, e onde o pai
viveu até casar, indo viver depois de casados com a mãe, para o quinto andar da Calçada.
Acontece que ao fundo á direita da foto ainda se vê um pouco
das traseiras do nosso prédio. Portanto os pais em solteiros eram vizinhos próximos
de poucos metros, e exatamente por causa disso é que começou o namorico de
varanda á varanda!!
A mãe conta coisas maravilhosas desses piscar de olhos entre
ambos, que começou praticamente na infância, e da procura que o pai tinha no
meio feminino, da rua do Duque, que tinha acesso pelas escadinhas ao Beco.
Minha mãe, era também muito bonita, e fizeram um casal de
eleição, até á partida do pai, depois de 52 anos de uma perfeita comunhão de
espíritos.
Na mesma foto, no rés-do-chão á direita, vivia a minha tia A.,
irmã da avó paterna M,
com a filha e o genro, primos portanto dos meus pais, e com
quem fizeram algumas viagens de férias pelo nosso belo Portugal. Esta minha tia,
”tinha poderes” o que a irmã M. não via com bons olhos, e certa vez, para me curar
de uma constipação, pôs a arder num fogareiro de barro muito pequenino, o raio de uma
ervas, que me puseram a chorara sem parar, mesmo saindo de casa dela, mais de 15
minutos??!! Nunca mais me apanhou lá em casa durante anos!!
Era também neste Beco, que nos santos populares de fazia uma
fogueira, e a vizinhança toda. lá ía dar os saltinhos da praxe, e começar alguns
namoricos. Nós assistia-mos a tudo isto do alto da varanda, que nas traseiras só tinha
três andares. Portanto até o calor da fogueira nos aquecia as bochechas. Eu e o meu irmão,
fazia-mos muitas visitas esta avó M. (avó tété, porque tinha galinhas e em miúdos nos dava
muitos ovos).
Claro que as visitas eram sempre com ela fisgada!!…venham lá
as moedinhas!!.
Rua do Duque – A rua em que mais tempo passei várias fases
da minha vida, e também, de certo modo ligada á fada do meu lar!
No que respeita a ela, teve explicações durante dois anos no
dr. R., pai do C., com quem estiveste a falar numa das tuas anteriores visitas aquela
rua….lembras-te??!!
A fábrica da famosa e antiga Confeitaria Nacional, na Praça
da Figueira e que agora também já existe a poucos metros de mim, é logo a seguir ás
escadinhas de acesso ao Beco da Ricarda.
Já contei que a miudagem do beco, todos os dias da parte da
tarde, concentrava- se á porta da fábrica esperando a vinda do sr. Castanheira
e do filho, e assim que despontavam junto a gradeamento da foto, logo se iniciava
uma correria, - Olha o sr. Castanheira…olha o sr. Castanheira…e ele, dando a mão aos
mais pequenitos, lá nos encaminhava para dentro da fábrica, onde estava sempre um
tabuleiro de chapa enorme, com bolos. Era de fartar!!
Também tinha o Grupo Desportivo do Carmo, onde se jogava
ping-pong, via o Bonança na TV e á noite as velhotas da rua enchiam uma saleta para
ver televisão.
Também de quando em vez havia bailarico, mas as miúdas da
rua eram poucas, e o pessoal acabava por ir para o carvoeiro/tasca, poucos
metros á frente jogar matraquilhos. Estes ficavam mesmo pegados á tulha do carvão,
que muitas vezes a malta tinha que pisar para lá chegar.
Tinha um grande e saudoso amigo que era um craque nas “bolas
dos três”. A Veiga também tinha malta que fazia jogatinas “perde paga” e “algum
por fora” contra a malta da rua, mas invariavelmente levavam na corneta. O E. era
mesmo um caso raro de habilidade nos bonecos. Havia também muitas “purrias” entre
a miudagem (alguns já espigadotes) entre a rua do Duque e da Condessa, rua logo
a seguir, subindo as escadinhas ou indo pelo Largo do Carmo.
Eu e o meu irmão, andava-mos sempre a levar porrada, até que
um dia demos a volta á coisa, por tão fartos de enfardar, treinava-mos movimentos
de boxe, á noite, no quarto, e na entrada do nosso prédio com outro amigo, filho do cabeleireiro
das escadinhas.
Fomos fazendo algumas demonstrações, agora a três, e a coisa
a partir daí acalmou.
Este meu amigo, campeão de matraquilhos, foi com quem
começou a “reviravolta” a sério. Estava eu e o meu irmão á porta da Leitaria A
Beirense, na foto, no fundo á direita, frente á entrada do meu prédio, quando ele vindo
dos bilhares do Nacional, espeta um murro no estômago do C, com tal força, que ele se
vergou todo??!!…Olha, virei-me a ele ao murro, e andamos os dois rebolados no
passeio, mesmo no meio
das vendeiras de fruta!!! Foi um show, com espectadores ao
redor e tudo. Por sorte ninguém se apercebeu de minha casa. A minha preocupação,
finda a contenda foi olhar para cima, e a longa varanda deserta tranquilizou-me.
Ele era o galã do bairro e pertencia ao grupo dos quatro “mauzões”!!… mas ficou a
sangrar e eu com o punho todo lixado. Poucos anos mais tarde, viemos a ser amigos
inseparáveis. Chegamos a ser
colegas de trabalho na mesma empresa, e grandes farras
fizemos em conjunto durante trinta anos. Foi ele que tramou o tal almoço no Tavares
Rico, naquele ano de 1977 ou 78.
Não sei onde estará para além das nuvens. Mas decerto está
como sempre viveu; muito e depressa… e a recordar as princesas do Príncipe Negro…
Mesmo debaixo do gradeamento, descendo a Calçada, ficava a
pequena capelista onde em miúdo, comprava cadernos, lápis de cor, e pelo
carnaval, os estalinhos, tric-tracs e garrafinhas de mau cheiro, que pela surra
espalhava-mos pelo chão dos estabelecimentos dos comerciantes com quem embirrava-mos
…sacanagem né!!. Vê-se também, á direita da foto a entrada para as cavalariças
do quartel do Carmo da GNR, onde eu e o meu irmão nos entretinha-mos a ver ferrar os
cavalos, e onde nasceu a minha grande paixão por esses esbeltos animais.
Foi também numa das alfaiatarias da Calçada que os pais nos
compraram os primeiros casacos “á homem”!!
Já nos anos 1980 e seguintes, trabalhando nas Picoas, e no
tempo das duas horas para almoço, muitas vezes me metia no metro para o Rossio, e ia
almoçar uma dobradinha com broa de milho, mas daquelas amarelas por dentro, mesmo
próprias para fazer sopinhas no espesso molho das feijocas. Um bravo penalty
tinto, e para sobremesa, café e duas meias águas em balão, sem gelo.
Largo do Carmo – Já muito falei sobre este Largo, ligado por
décadas aos meus passos. Destaco só desta vez, a Escola Primária 73. Só lá
andei metade da primeira classe. Sempre tive um problema, decerto congénito, de que
quando me enervo em excesso, de imediato se reflete na barriga e…casa de banho,
precisa-se urgentemente!!.
Ainda hoje a coisa acontece assim ??!!
Ora a professora primária da 73, a Dª L. de seu santo nome,
era uma víbora!! Certa vez, durante a aula, estando necessitado, pedia insistentemente
para ir a casa de banho. Por proibição da víbora, não pude evitar, e a coisa deu-se mesmo
na aula. Chamada a minha mãe, a coisa foi o bom e o bonito, e no dia seguinte os pais
decidiram que não mais voltaria aquela escola. Fui para a 78 na Praça da Figueira,
onde acabei por me licenciar com a antiga 4ª classe.
Claro que há que recordar a velha Veiga Beirão, a Leitaria
Académica, a Papelaria do Carmo, onde tinha reservado semanalmente o Cavaleiro
Andante, o quiosque frente á Veiga, a paragem do elétrico, que nos servia amiúde para
patifarias aos esperantes do amarelinho, claro a GNR e o de boa memória e grandioso 25 de
Abril.
Largo Rafael Bordalo Pinheiro - Poucos saberão onde fica
este largo. Não é muito grande, e situa-se entre o Largo do Carmo e o Teatro da
Trindade. Em miúdo passava por ele todos os dias a caminho do Passos Manuel, e outras
vezes para comprar bilhetes de cinema para os pais, no velhinho Chiado Terrase, que
ficava na rua da PIDE!!
Antes de ir trabalhar para a firma de A. O. na rua dos
Fanqueiros, trabalhei em três lojas de moda. Duas neste Largo: Meia Hora e Rainha das Malhas.
Ambas tinham uns sótãos para arrumação das centenas de caixas vazias, manequins e
material para montras, e onde o colega R. tinha feito uns mini furos mesmo por cima
dos WC…para arejar claro!!
Também na Hora Bela, do mesmo patrão, na Calçada do
Sacramento, frente á Igreja do mesmo nome, por onde toda a família passou, deste batizados,
casamentos, comunhões etc. etc.
Teatro da Trindade – Tão perto e tão distante!!!…por
incrível que pareça, só fui a este teatro uma vez??!! Já nos anos 1990, acabei por o ver
diariamente uns anos, pois a A. ficou sem emprego e sem vencimentos devidos, convenceu-me
a adquirir-mos uma pequena loja de brindes etc. mesmo colada á Cervejaria da
Trindade. Acabamos por fechar, pois a coisa já estava a dar mais chatices que
lucros.
Neste período, fomos clientes assíduos de dois restaurantes
muito bons da zona. Um na rua que liga a da Trindade á rua da Oliveira ao Carmo, e
outro, o primeiro da rua do Duque, que quase se vê na foto do teu filme.
Rua Diário de Notícias – Decerto a rua mais simbólica da
minha vida, no coração do velho BA. Como o outro dizia: “já fui tão feliz nesta
rua”!!.
Na foto vê-se a entrada do Luso, onde também só entrei duas
vezes. Á época estava virado para Fados e um pouco mais tarde para o folclore,
sempre com montes de turistas todas as noites. Era dono do Luso o Oliveira, também
proprietário do Lua Nova.
Este pequeno bar, ficava imediatamente a seguir á porta do
Luso, na travessa da Queimada. O Lua Nova era o nosso escritório de dia e de
noite. Foi lá que depois de um casamento de seis meses, voltei ás lides, porque estar
solteiro para mim não dava e conheci no Lua uma senhora que me ajudava, e que á pressão,
ao fim de dois anos, tive que deixar, poucos meses antes de casar.
Nesta rua Diário de Notícias, vivia com ela, logo no 1º
andar do prédio á esquerda que faz esquina, entrando pelo lado do Luso. Preste a dar o nó, tive que dar o “piro heróico” e como
tinha muita roupa que não queria deixar, combinei com o meu irmão e um taxista, tirar tudo de
casa, á noite e pela surra.
Assim fizemos e lá mudei de poiso as minhas quase vinte
camisas e cinco ou seis pares de sapatos. Sei que foi uma atitude muito imprópria da minha
parte, mas não conseguia dar explicações aceitáveis. Poucos anos mais tarde, tive
oportunidade de falar com ela, ficamos amigos e o que lá vai, lá vai!!
Aliás ela estava informada de tudo sobre mim, pois
trabalhava no Princípe Negro e o resto do meu Grupo da Desgraça continuou as visitas 2 ou 3
vezes por semana. Soube do meu casamento, e sem ironias comunicou aos colegas que
desejava que eu fosse feliz., e que quando quisesse, podíamos beber um copo.
Era pequenina, muito morena (embora prefira as loiras)
roliça de carnes, super minha amiga e protetora. Durante dois anos, jantava-mos
diariamente no Restaurante Alfaia, pouco mais abaixo do Luso no mesmo passeio.
Nesta mesma rua, Diário de Notícias, mesmo no último prédio,
e do mesmo lado esquerdo, num terceiro andar. Tinha um privado em casa da
madrinha do meu grande amigo E. Era lá que tinha as minhas coisas, como o TV
oferecida pelo pai, móveis, estantes, muitos livros, já na altura, rádio gira-discos
trazido da Guine, e que dava como
morada e telefone oficiais para a família e A.??!!…
Era lá que fazia as minhas primeiras pinturas, depois
daquela experiência na Guiné com os óleos do nosso amigo Cavaleiro.
Acabei por os levar para casa do meu cunhado, em S. Mamede á
rua da Escola Politécnica, depois de casar, pois vivemos até 74 num
apartamento pequenino porta ao lado da minha sogra. Foi o pai e eu que fizemos a nossa
cama de casal, com os dois divãs de solteiros, meus e do C. Ficou uma cama á
barão!!…tinha 1,70 de largo e uma cabeceira enorme, toda acolchoada com um acrílico mate,
mesmo idêntico á pele de foca.
Foi também numa das salas de minha sogra, que montei o meu
primeiro atelier de pinturas e móveis originais, todos dourados e patinados, que
um dia qualquer vou fotografar com calma.
Severa – Pouco frequentava casas de fado, mas pós Guiné, com
a nova família de cunhadas e cunhados, começou-se a dar umas perninhas nestes
ambientes, no BA e em Alfama. A Taverna Del Rey era da Maria Valejo, da mesma
terra alentejana e de famílias próximas do meu ex-cunhado.
Tenho uma foto de grande grupo que reunimos numa jantarada e
de fados na Severa.
Vou ver se encontro.
Largo de Camões – Claro que tecnicamente o Camões é Bairro
Alto!!
Lembro-me na juventude pelo Natal ir comprar figuras de
presépio nas tendas que por essa altura ali eram montadas. Ficava fascinado e ainda hoje
fico, com as iluminarias dessa época. Tenho um empatia muito grande com a noite e as
luzes. Adoro a noite, e tudo o que ela é, e o que nela se faz e vive!!
Sempre gostei de quando em vez, ir para a noite sózinho.
Começava normalmente pela rua da Conceição, O 33 dos passarinhos fritos e na rua do
Comércio, os caracóis de cebolada e caracoleta assada com molho picante, e as
cadelinhas á Bulhão Pato. Num desses deambulamentos, e desta no Caracol da Esperança, meti
conversa com um tipo, numa mesa ao lado e também sózinho, talvez na casa dos
cinquenta e tal. Um autêntico filósofo de bairro, dos muitos da nossa Lisboa, daqueles
tempos. A conversa tornou- se nteressante, durou umas três horas, enchemos a
mesa de pires de cascas, copos e garrafas de cerveja, e entre várias tiradas altamente
filosóficas, mas de uma lucidez tremenda. Lembro-me destas:
- Você já reparou que as pessoas á noite olham umas para as
outras, principalmente as mulheres. Ninguém anda com os cornos enfiados nos passeios.
Os grupos que se vêm ás mesas ou na rua, estão todos a rir, abraçarem-se e
beijam-se!!…Já sentiu bem o cheiro da noite, das ruas a serem lavadas á magueirada, a força que
o neon dá á nossa vida. O imenso prazer de estar a fazer um pecadinho fora de horas.
Fazer uma grande mijada numa esquina furtiva, tendo a certeza que daí a pouco está
outra vez a tirar a falta?!?!
Á noite, a gente sente-se a viver caraças!!
Rua do Alecrim – O grande declive para a zona Red Light do
Cais do Sodré.
Do texas, com as porta de vai-e-vem, do Flamingo e
principalmente do Bar Europa, o do nosso cabeleireiro das sextas-feiras, com o penteado
Hardy cheio de laca e cheirinho.
Era a pré romagem até mais uma noite de Príncipe Negro. As
boas noites ao Grande Alberto porteiro, mesa de pista para quatro e cervejas
grandes, iguais as da Guiné??!!
…que ao que sei seria o único cabaré de Lisboa a servir as
Bazzokas.
Antes de dar a curva para os bares, quase no terminus da
rua, A Cervejaria Alemã…caróta que se fartava, mas faziam umas salsichas
grelhadas cortadas ás rodelas que sabiam pela vida.
Mais tarde na Feira Popular, abriu num grande espaço a
Cervejaria Alemã, que entre outras especialidades, como o Einsbein (joelho de porco
assado ou cozido) e Chucrute (couve branca envinagrada), serviam as ditas salsichas grelhadas
com uns molhos em pequenas taças, dignas de constelações Michelin. Eu e a
luzinha dos meus olhos, durante dezenas de anos, era-mos visita assídua da Feira,
únicamente aos dias de
semana. Depois de várias experiências, acabamos nos últimos
anos por nos fixar na Alemã ou naquele, frente ao Júlio das Farturas. Lobos do Mar
de seu nome, que tinham além de ótimas sardinhas, pessoal bastante afável, e
ambiente sem grandes barulhos.
A filha, de forma diferente, seguiu os nossos paços, embora
sem sardinhadas. No fim dos anos letivos, o colégio organizava uma festa, e á noite
rumavam todas para a feira, e era ponto de honra, nós fazermos de conta que não a
conhecia-mos!!. Era um espanto ver tanta rapariga junta, vestida de igual, gritando,
pulando, correndo…com as saias cheias de inscrições, votos e desenhos, e que alegria!!…
“pareciam bandos de pardais á solta”. Claro que as saias ficavam offshore e esta praxe só
era feita no último ano.
Cacau da Ribeira – No mesmo cais do Sodré, o famoso e
conhecido em todo o mundo matinal e notívago; Cacau da Ribeira e mais tarde a Sopa da
Avó. Era o remate perfeito de uma noite bem passada e regada, e dizer bom dia ao senhor
Sol!!
Primeiro a Sopa da Avó (feijão encarnado, couve, batata e
todos os segredos para criar aquele néctar) seguia-se o cacau bem quente, e a pedido com
licor beirão, aguardente ou Whisky, pagando, e bem, o extra, claro…..
Raulão, muito do que aqui está, descrito, o estará de uma
forma mais ilustrada na tal “Camisa da Minha Vida” que como já disse, retalhei de onício
em 60 fotos, para editar.
José Justo