Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?
Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
Que não tem coração dentro do peito.
Chamo aos gritos por ti — não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.
Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!
Miguel Torga, in 'Diário IV'
Se a minha Mãe fosse viva, faria hoje cem anos.
Este belo poema de Miguel Torga reaviva a sua memória.
LG.
3 comentários:
Este é sem dúvida um belo poema de Miguel Torga e uma bonita forma de prestar homenagem à sua mãe.......!!!
Também já a ele recorri para, em dia de aniversário da minha mãe, poder dizer o que senti no momento da sua partida.....
Não se dá parabéns a quem já não está entre nós, mas dá-se parabéns a quem, com tanto carinho, faz aqui esta homenagem...
Gosto imenso de ler Miguel Torga. Este poema é lindo para o Leandro recordar a mãe. A minha mãe se fosse viva já teria feito 122 anos.
Um abraço, Leandro.
Joaquim Cosme
Aos amigos Albertina e Sr. Cosme, os meus sinceros agradecimentos pelas palavras que me dirigem.
Ambos passaram já pela mesma provação por isso compreendem bem aquilo que se sente por alguém que foi tão importante para nós.
Os meus agradecimentos mais uma vez.
Leandro Guedes.
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