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“Se servistes a Pátria que vos foi ingrata, vós fizestes o que devíeis e ela, o que costuma”


(Do Padre António Vieira, no "Sermão da Terceira Quarta-Feira da Quaresma", na Capela Real, ano 1669. Lembrado pelo ex-furriel milº Patoleia Mendes, dirigido-se aos ex-combatentes da guerra do Ultramar.).

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"Ó gentes do meu Batalhão, agora é que eu percebi, esta amizade que sinto, foi de vós que a recebi…"

(José Justo)

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“Ninguém desce vivo duma cruz!...”

"Amigo é aquele que na guerra, nos defende duma bala com o seu próprio corpo"

António Lobo Antunes, escritor e ex-combatente

referindo-se aos ex-combatentes da guerra do Ultramar

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Eles,
Fizeram guerra sem saber a quem, morreram nela sem saber por quê..., então, por prémio ao menos se lhes dê, justa memória a projectar no além...

Jaime Umbelino, 2002 – in Monumento aos Heróis da Guerra do Ultramar, em Torres Vedras
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“Aos Combatentes que no Entroncamento da vida, encontraram os Caminhos da Pátria”

Frase inscrita no Monumento aos Heróis da Guerra do Ultramar, no Entroncamento.

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Sem fanfarra e sem lenços a acenar, soa a sirene do navio para o regresso à Metrópole. Os que partem não são os mesmos homens de outrora, a guerra tornou-os diferentes…

Pica Sinos, no 30º almoço anual, no Entroncamento, em 2019
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"Tite é uma memória em ruínas, que se vai extinguindo á medida que cada um de nós partir para “outra comissão” e quando isso nos acontecer a todos, seremos, nós e Tite, uma memória que apenas existirá, na melhor das hipóteses, nas páginas da história."

Francisco Silva e Floriano Rodrigues - CCAÇ 2314


Não voltaram todos… com lágrimas que não se veem, com choro que não se ouve… Aqui estamos, em sentido e silenciosos, com Eles, prestando-Lhes a nossa Homenagem.

Ponte de Lima, Monumento aos Heróis da Guerra do Ultramar


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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Bom Ano - da prima Teresa Martins

Tudo morre um dia.
Um ano também morre, implacável,
Na hora determinada.
Morrem amores e morrem sonhos,
Morrem as horas passadas.
...
Mas quando a última porta se fecha,
Uma nova janela se abre,
Promissora.

Renasce o ano,
Na hora marcada.
Novos amores e novos sonhos,
Novas horas esperadas.
E quando a janela se abre,
Plena de promessas,
Abre-se nosso coração
Cheio de esperança.

Vistamos então
Nossos melhores sonhos
Calcemos nossos melhores sapatos.
Olhemos para o ano que passou
Com olhos agradecidos
E para o que chega
Com o coração aberto
Para receber
Com alegria, fé e coragem
Tudo o que ele tem
Para nos oferecer.

Letícia Thompson

BOM ANO DE 2013

 
Para todos vós, meus caros COMPANHEIROS, AMIGOS, FAMILIARES E VISITANTES, dedicamos esta bela melodia, interpretada com uma imensa alegria.
Que o Novo Ano vos traga, nos traga, a todos, bons caminhos pela vida.
E que aqueles, que poderem logo à noite dançar ao som desta eterna canção, saibam saborear tanta beleza.
Para vós todos os nossos votos de Bom Ano, tudo de bom nas vossas vidas, que tenhais saúde, muita saúde e que aqueles que entre os nossos companheiros, amigos, familiares e visitantes, se encontram doentes, recuperem depressa e possam ultrapassar as vissicitudes que a vida lhes trouxe.  Todos juntos logo à noite, com uma taça de champanhe e 12 "passas" na mão, vamos lembrar-nos uns dos outros e fazer votos para que o nosso caminho seja sempre à nossa maneira...
A todos um forte abraço de Bom Ano, um verdadeiro
Bom Ano de 2013!
 
(orquestra de André Rieu com seu violino, simpatia da Radio City de NY.)
 
Leandro Guedes

Bom Ano - do Santos Oliveira

Aos meus Caros e estimados Amigos de percurso
A todos, agradeço e retribuo os desejos de um belíssimo Ano Novo.
Como o Velho do Restelo não teve razão, também não desejo que as sombras anunciadas, nos projectem para o vazio, ou sejam capazes de apagar o Espírito de renovação que há em cada um de nós. A Esperança, existe.
Um abraço fraternal, do

domingo, 30 de dezembro de 2012

A tragédia voltou à Guiné-Bissau

 
A agência Lusa esteve no cais do porto comercial de Bissau quando cerca de uma dezena de vedetas rápidas da Marinha de Guerra e pirogas se faziam ao mar em direção à zona onde, na sexta-feira, uma piroga naufragou matando, até ao momento, 24 pessoas.
Fontes da direção da capitania dos portos da Guiné-Bissau, disse à Lusa que as operações de busca serão difíceis "justamente porque não se sabe quantas pessoas seguiam na piroga naufragada".
Oficialmente a capitania dos portos de Bolama tem registado 107 pessoas como sendo aquelas que compraram a passagem para a viagem, mas os passageiros sobreviventes admitem que a piroga, de 18 toneladas, poderia estar a transportar entre 150 e 200 pessoas.
As autoridades portuárias evitam falar de salvamento já que cerca de 24 horas após o naufrágio seria difícil encontrar pessoas com vida.
Na mesma altura em que se faziam ao mar as embarcações de busca de corpos, um navio, fretado pelo Governo, também se preparava para remover os cadáveres das vítimas originárias da ilha de Bolama.
O porto de Bissau era um local de tristeza e de lamentos, com várias famílias a prestarem homenagens aos mortos.
No local a Lusa ainda tentou obter reações dos elementos do Governo, mas todos se mostraram indispostos para falar.
Consternação também é o ambiente que se vive no hospital Simão Mendes, sobretudo, junto à morgue onde varias famílias continuam sentadas a espera de notícias sobre os seus entes que poderão ter morrido no acidente.
"Estamos aqui sentados com esperança de sabermos pelo menos se os corpos dos nossos familiares que estavam naquela canoa, que pensamos terão morrido, foram encontrados", disse à Lusa, Júlio Candé, que tinha na piroga três membros de família mas de cujos paradeiros ainda não sabe.
A direção do hospital colocou na vitrina duas listas, uma com os nomes de mortos confirmados e outra com os nomes de pessoas sobreviventes e assistidas.
São 24 mortos (23 confirmados no hospital) e 74 sobreviventes. Destes apenas uma pessoa ainda continua nos cuidados intensivos do Simão Mendes, contou à Lusa, o medico Waldires Jaló.
A Lusa apurou também que o proprietário da piroga naufragada, um cidadão da Gâmbia, mas que vive na Guiné-Bissau há vários anos, já se encontra sob custódia da Policia Judiciaria para apuramento de responsabilidades.
Esta embarcação fazia a viagem entre Bolama e Bissau. 

Lusa (google)

sábado, 29 de dezembro de 2012

Bom Ano - do companheiro Alcântara


Amigos e companheiros desejo-vos um bom natal e um ano novo, o melhor que poderem são os votos sinceros da familia Santos.
Lurdes e José Manuel.

Bom Ano - do Julio Garcia da CCAÇ 2314

Votos de BOM ANO de 2013 para todos os companheiros ex-combatentes de Tite.
Julio Garcia

Boas Festas - do amigo Carlos Pinheiro

 

 
"Boas festas amigos facebookianos, A proximidade do Natal abre-nos os olhos para as grandes sequelas sociais, aumenta a solidariedade para com os outros, e relativiza os pequenos problemas do dia a dia. Que o Novo Ano nos mantenha com saúde, amizade, amor, espírito de família, emprego (quem está desempregado que o deixe de estar o mais rapidamente possível!), motivação e capacidade de sonhar… Estas são as melhores prendas imateriais que poderemos receber no difícil ano que se avizinha! Prendas materiais, embrulhadas em papel e fitas coloridas... é agradável receber, não o nego, mas, é um quase nada, um vazio, uma dependência consumista. Eu sei que estou a ser utópico! Que o novo ano vai aumentar a fome, a pobreza, a desigualdade social, a emigração dos jovens, a degradação do estado social, etc. mas o espírito do natal faz-me sonhar com um mundo mais justo e solidário! Como disse o poeta Sebastião da Gama "pelo sonho é que vamos"! Para TODOS os meus sinceros votos de Boas Festas!"
 
Carlos Pinheiro

Bom Ano - do Serafim e familia.



do Vitor Serafim, ex-furriel de alimentação
e familia.

Ainda o aniversário do Costa.


    Quero agradecer, a todos que carinhosamente gastaram um tempinho do seu dia pra me desejar feliz aniversario.
    Deus dê em dobro tudo que me desejaram!
    Sou uma pessoa muito feliz, feliz mesmo... Pois tenho pessoas maravilhosas que me cercam... Uns bem de perto... Uns de longe... Outros de bem longe... Não importa a distância e sim o carinho...
    Obrigado.

    José Costa.

Bom Ano - do Luis Manuel Dias

 
 
A TODOS OS CAMARADAS DO BART1914
AOS AMIGOS DE SEMPRE - dos vários quadrantes

NESTA QUADRA NATALÍCIA, DO FUNDO DO MEU CORAÇÃO ENVIO:
- UM ABRAÇO ESPECIAL PARA QUEM COMIGO VIVEU OS TEMPOS GUINÉUS.
- IGUALMENTE A QUEM, COMPANHEIRISTICAMENTE, PARTILHOU ANOS DE TRABALHO E CONVIVÊNCIA.

O MELHOR NATAL E FESTAS DE NOVO ANO POSSÍVEIS, DADAS AS CIRCUNSTÂNCIAS.

DO V/SEMPRE AMIGO, EMBORA NÃO TANTO PRESENTE,


Luís Manuel Bastos Silva Dias
tm 918346325

email:

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Bom ano - Justo

Caro Guedes
Mais um boneco e mais uma tua opção!!
Se "não nos virmos até lá"....Um BOM ANO 2013, para ti e para todos os nossos companheiros, familiares, amigos e visitantes.
Como sempre, e principalmente, com muita saúde.
Um abraço
Justo

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

O COSTA FAZ HOJE 67 ANOS


O nosso "Faquir do Dubay", faz hoje 67 anos.
Para ti companheiro um grande abraço, que continues fresco e belo a passear por esse mundo fora.
Um grande abraço amigo e que tenhas muita saude junto dos teus.
BOAS FESTAS para ti.

Um belo Conto de Natal

Do blog da nossa amiga e visitante assídua Albertina Granja, com a devida vénia, recortamos este artigo, que pela sua beleza e uma vez que se refere a uma criança guineense, merece ser aqui publicada.
É na verdade mais um belo Conto de Natal, a juntar a tantos outros neste blog:
 
"Julião Sambu"
 
 
 "Julião Sambú é um menino guineense, residente em Canchung (antiga Vila Teixeira Pinto), que, como muitos outros daquela cidade e de outras em toda a Guiné, tem a sorte de receber ajuda de uma das Missões Franciscanas que exercem a sua acção na região de Bissau.

A Missão em apreço desenvolve um trabalho primoroso, quer ao nível da saúde, quer do ensino e para tanto, conta com a ajuda de todos os que se disponibilizam para apadrinhar crianças que frequentam, quer o Jardim de Infância, quer o 1º ciclo….

Quando me falaram neste tipo de ajuda, de imediato aderi e estou muito orgulhosa por ter decidido ser a Madrinha do Julião Sambú…..

Como se vê pela foto, é um menino encantador, com um sorriso lindo, e que parece viver feliz….!!!

Hoje recebi do Julião Sambú pequenas e simples lembranças que me sensibilizaram:



Um pequeno saco com cajú, uma bolsa de tecido com um padrão africano e alguns “escritos” que transmitem mensagens de Paz, Esperança e Alegria…. para este Natal e para o novo ano….!!!!
 
Albertina Granja"

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O Natal do nosso companheiro Hipólito

 
Falei há pouco com o nosso companheiro Hipólito, que me contou os seus problemas não só com os dentes, mas também com os olhos.
Pela sua descrição tem passado um mau bocado, e daí estar um pouco ausente das escritas no nosso blog, que tanto têm encantando o nosso grupo de companheiros, familiares, amigos e visitantes, sempre ávidos dos seus artigos.
Desejamos ao Hipólito boa recuperação, que não será rápida infelizmente, mas que esperemos seja definitiva.
Far-lhe-ia falta nesta altura um pouco daquele nectar Lacrima Christy, lá de Tite, cujo destino era a Pedra d'Ara, mas que por valores mais altos se desviava para o gabinete do SPM, qual aerograma entregue em mão e registado...!
Mas que fazer, a vida já não é o que era...
Abraços companheiro, que passes um Feliz Natal junto dos teus e que o Novo Ano te traga as melhoras a tempo de ires ao almoço em Maio, lá para os lados da Figueira da Foz.
Assim desejamos!
Um forte abraço.
LG.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Crónica de Natal - pelo alf. Vaz Alves

Feliz Natal e Bom Ano Novo são os votos do Alf. Vaz Alves.
 
Há dias havia uma sugestão para falar do Natal.
Talvez diferente da maior parte do comando de batalhão foi o meu ( e de alguns mais) - o Natal de 1967.
Tinha chegado de ferias e fui encarregado de, com um pelotão da 1743, fazer patrulhamento até à meia noite. Dessa maneira a noite de Natal dos que se encontravam no interior era mais calma.
Lembro-me que, depois da meia noite fiz a minha consoada com o Alf. Rosa (que mais tarde foi feito prisioneiro pelo IN) frente a frente numa mesa a dois. Daí ficou uma certa amizade com o Rosa e todos os anos por esta altura comunicamos e conversamos um pouco.

Do Natal de 68 não tenho referencia especial embora tenha ideia de estar de oficial de dia.

 

Reitero os votos de Bom Natal e Bom Ano e até Maio na Figueira da Foz.
 
Vaz Alves

Feliz Natal, do ex-alferes Vaz lves


Para todos os nossos companheiros, envio votos de Feliz Natal e que o Novo Ano nos traga saúde e alguma alegria.
Um abraço
Vaz Alves.

Feliz Natal - do cap. Paraiso Pinto

A todos os companheiros, desejo um Feliz Natal e que o Novo Ano seja venturoso para todos e seus familiares.
 Um abraço.
Paraiso Pinto

sábado, 22 de dezembro de 2012

Boas Festas - do Costa

 
Amiga(o)s
O Natal é um tempo de benevolência, perdão, generosidade e viver com alegria, coragem determinação de seguir adiante.
Apesar da crise que nos assola, vamos viver o presente com sabedoria e plenitude para que o ontem seja sonho de felicidade e cada amanhã seja uma visão de esperança!
FELIZ NATAL e um Ano Novo cheio de realizações pessoais e familiares.
Um abraço do vosso,
José Costa y família
NATAL 2012

Feliz Natal - do Pedro


 
Centro Social Montes Altos
 
 
 

Obrigado amigo, e retribuímos com muita amizade.

Aproveito para vos dizer que o Zé Pedro, vai bem e vos envia abraços a todos os colegas da guerra da guiné.

Diogo Sotero

Neste Natal, o Gentil está melhor...

 
Falei ontem com o Gentil que me disse que desde que, há cinco meses fez o transplante de medula, se encontra muito melhor.
Está a preparar-se para o próximo almoço em Maio, ou outro que apareça entretanto...
Para o Gentil votos de Boas Festas e que o Novo Ano lhe continue a trazer boas noticias sobre a sua saúde.

Feliz Natal - do Cavaleiro

Votos de muita saúde e muita paz.
Manuela e António Cavaleiro

A falta de saúde, neste Natal.


 
"Pela memória de alguém que conheças que foi vencido pelo cancro ou que ainda vive com ele. Pelas melhoras destes!
Uma vela não perde nada quando acende outra vela.
O espírito é invisível aos olhos e só germina lentamente no coração do amigo.
Pela memória de nossas mães, pais, esposos, irmãos e irmãs, amigos e seres queridos.

Este ano há muitos diagnosticados que têm estado próximo de nossos
lares. Por todos os amigos, família, seres queridos e aqueles que talvez não conheçamos..."

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Feliz Natal, Pica Sinos...


O NATAL E O AVIÃO QUE DAVA CAMBALHOTAS

...Bom dia Georgina… disse sorridente a Ti Rosa, no momento que empurrava a porta de entrada da minha casa.
…Bom dia…respondeu-lhe
…Que frio que está hoje e, tu pela manhã, já a limpares e, a arrumares o tampo da comoda…

A comoda que, em casa existia, ficava situada no lado esquerdo da entrada. Quando pequeno, a altura do móvel dava pelo meu peito. No comprimento, tinha 3 gavetas sobrepostas. Ocupava todo o espaço da parede até ao quarto.
No tampo, estava colocada uma toalha de renda, alguns biblôs, uma jarra, sempre composta com as flores do quintal e, algumas imagens de santos. O candeeiro de vidro, a petróleo, estava ali mesmo à mão, uma ou outra fotografia, por lá, também se via.

…Não filha…ripostou minha mãe
…Estou a tirar tudo do tampo da cómoda para construir o presépio…
…O Raul foi à mata, buscar musgo, não deve tardar…

Apanhar e carregar o musgo, todos os anos, para o presépio, era da minha responsabilidade.
De balde de zinco na mão, uma faca, alguns velhos papéis dos jornais para separar as camadas do musgo que, viria a ser arrancado da terra, lá ia eu a caminho da mata de São Domingos de Benfica, ou da serra de Monsanto.
O balde já por si era pesado, carregado com o musgo, pior um pouco. Era um recado/trabalho que fazia com muito gosto.
O presépio, lá em casa, era muito bonito! Todo ele era feito de bonecos de barro, excepto a cabana que era de palha.
Na cabana de palha estava o menino deitado nas palhinhas da manjedoura, acompanhado das imagens exigentes da tradição.
Tinha na sua frente, ao longo do tampo da comoda, espalhados no musgo, todo um aparato de pequenos bonecos. Uns representando a vida numa aldeia. Outros, a vida do pastor no monte, com o cão e, as ovelhinhas a pastar.
Não faltava uma pequena cascata, feita da folha de prata, a imitar a água a correr para um lago, não mais que, um pequeno espelho, contendo um ou dois minúsculos patos.

…Anda cá oh Rosa…disse-lhe a D. Georgina, minha mãe.
…Quero-te mostrar o brinquedo que vou pôr no sapatinho do Raul…
…Comprei-o na papelaria do Chico…
O Sr. Chico tinha uma papelaria na Cruz da Pedra. Vendia também brinquedos.
Estava situada um pouco à frente da Pastelaria (A Colmeia), na Estrada de Benfica, perto da loja de eletrodomésticos, onde o Bica, da minha rua, mais tarde veio a trabalhar para aprender a profissão de eletricista.
A loja do Sr. Chico, por esta época festiva, era das poucas lojas, em redor do velho Bairro das Furnas, que, tinha a montra mais recheada de brinquedos.
Era costume ver a pequenada, pasmada, encostada aos vidros da montra, a admirarem todo aquele aparato.
Eu já fizera há muito a minha escolha, “perdendo”, quando pela loja passava, largos minutos a vê-lo trabalhar.
Maravilhado, perguntei à minha mãe se o Pai Natal me podia dar?
Da resposta apenas obtive o silêncio.
…Oh Georgina foi caro? Pergunta-lhe a Ti Rosa.  
…O Sr. Chico deixa-me pagar por 3 vezes… retorquiu
…Eu, para a minha mais velha, vou comprar umas meias de vidro, destas agora, sem costura. Para os outros ainda não sei…avançou indecisa a Ti Rosa.
Naquela noite, 24 de Dezembro, do ano de 1953, o poial da chaminé da minha casa estava muito branquinho. Não passara uma semana que fôra caiado.
Tinha em cima dos azulejos uma pequena toalha de cor branca, 2 sacos de flanela de cor vermelha, um meu sapato cardado na sola, couro amarelo e ensebado, onde supostamente, o Pai Natal iria colocar os brinquedos por mim solicitados e, ainda, os pedidos pela minha sobrinha Madalena, então com 4 anos.
Bem fiz aturados esforços contra o sono, na espera da meia-noite, mas o “joão-pestana” foi bem mais forte.
De manhã cedo, ainda noite escura, corro para a chaminé para ver das minhas sortes!
Eu o pressentia!
Lá estava a minha paixão!
…O meu primeiro brinquedo de corda. O avião que dava cambalhotas e que, durante alguns dias, o via deslizar nas improvisadas pistas na montra da loja do Sr. Chico… 
Não posso descrever o sentimento dos meus pais ao assistirem à minha alegria, mas recordo de
como era bonito ver contentes, com os novos brinquedos, nesse dia de Natal, os miúdos/as da minha rua.
Que vaidoso estava, por brincar com os demais, vendo o meu avião de corda “voar” e a dar cambalhotas na “pista” da velha Rua dos Plátanos.
Foi assim o dia de Natal, naquele ano.
Hoje, nesta quadra natalícia, quero os dias a correrem depressa. Quero ver retratado, nos lindos rostos, das filhas e das/o netas/o, a alegria originada pelas prendas “oferecidas” pelo velho Pai Natal.
Dezembro de 2012
Nota:A imagem do avião, igual ao brinquedo que me foi oferecido neste Natal, foi copiada, com a divina vénia, do Blog Meus Brinquedos Antigos

Pica Sinos
FELIZ NATAL e
BOAS FESTAS

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Feliz Natal - do Hipólito


 
Um bom Natal para todos, especialmente para os netinhos (os que os têm).

Hipólito

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Os Natais - pelo José Justo!




O nosso amigo Guedes fez-me uma encomenda, tipo faca ao peito!!...
Falar de Natais em Tite...
Francamente, com alguns pormenores não me lembro de nenhum Natal a destacar, mas de uma grande ceia de fim de ano de 1967, primeiro ano do nosso Batalhão em Tite, já sobejamente relatado e  para mim e companheiro de apartment, Pica Sinos, de triste memória!!!...

Aqui vai um resumo:

Como sempre no pouco que escrevia para casa (o que me dói hoje pensar nisso) sempre tive o cuidado de compor o ramalhete sem pormenores de guerra nem lamentos, o que a juntar á desinformação e habitual escondidinho impostos pelo regime, tranquilizaria os pais, mau grado as saudades e o afastamento.

Fotos sempre limpinhas e felizes, relatos sobre caçadas, jogos de futebol (em que eu inábil nesse mister e devido a ter dois pés esquerdos, nunca participei) e principalmente relatos dos muitos petiscos que fazia-mos, o que até era pura verdade.

Numa das cartas da costumada pedincha que habitualmente antecedia as saudades e os beijinhos, pedia entre outros, um daqueles medidores plásticos de líquidos, porque já não lembro porquê, fazia-nos falta para as petiscadas.

Creio que foi no Natal de 67, o Palma arrancou com a ideia de se fazer uma festa com o maior número possível de pessoal, o Cavaleiro encarregou-se do MENU, que ficou super giro e combinou-se que cada um dos convivas arranjaria os comes & bebes  que entendesse para compor a mesa, sendo o lema; tudo para todos.

Foi mesmo um sucesso (tenho umas fotos que vou ver se descubro).

Comeu-se e bebeu-se em substância, e as vitualhas apareceram em quantidade e variedade. Vinhos e cervejas e creio que até houve um grupo que fez uma grande sangria num tacho de ferro.

Nesse tempo, e antes da tropa, como Lisboeta de gema BA, já tinha o vício dos petiscos e como, pouco a pouco, lá fui chegando a casa cada vez mais tarde (durante anos apanhava sempre na Estação do Rossio o último comboio, o das 2,25 h, o que adorava, pois apanhava todo o pessoal dos teatros do Parque Mayer, no regresso a casa, depois da segunda sessão, com as lindas coristas e principalmente com o MAX, que era um espanto de humor e boa disposição.  Eu e o grupo bilharista do Café Nacional, tinha-mos conta aberta, a pagar no fim do mês, nalguns tascos conhecidos e eram jantaradas de horas. O dono era galego, e a oração era sempre a mesma “si num pagas una vez, te corro com lo porro (pau)”.

Lembro-me do Bife do Luanda, do Relento de Algés e da Trindade, embora este último já fosse puxado para os nossos bolsos.

Dessa ceia de  Natal em Tite, ainda hoje tenho no palato o sabor dos enchidos da província que a maioria dos camaradas tinha pedido para casa. Não se via muito por Lisboa material daquele...chourições, linguiças, alheiras, torresmos e sei lá que mais, em que até a gordura era divinal.

Claro que queimei bem, pois o motor estava a aquecer com tanto petisco de eleição...

Abreviando:
O tal copão plástico que tinha pedido para casa, estava-me a servir de copo, e recordo que me deu um travadinha que comecei a deitar-lhe um pouco de cada bebida da mesa??!!...e ato contínuo...em duas ou três goladas...ficou vazio??!!....

A ceia, fez bastante sucesso no aquartelamento e alguns furriéis e oficiais, depois das suas ceias nas messes próprias, vieram até à nossa para continuar a petiscada.

Entre eles o Alferes Médico do Batalhão...que eu admirava imenso.

Virei-me para ele de copão em riste e disparo: - É pá és um médico porreiro, és de Lisboa??!!...e passados momentos, caio redondo no chão??!!...

Pobre do Pica Sinos e do médico que me aguentaram creio que dois dias, in extremis com coma alcoólico, resultado final da brincadeira do copão.

Gostava de ter tido durante todos estes anos a oportunidade de por feliz acaso reencontrar o nosso Médico.

Ao Pica, não há obrigados que cheguem...devo-te a vida companheiro!!

Outros Natais!!

Desde muito criança que os Natais eram vividos em nossa casa de uma maneira muito intensa.

Havia sempre o presépio com muitas figuras e o pinheiro de Natal enfeitado com pinhas, bogalhos e estrelinhas, abrilhantados com anelinas multicores, tudo feito pelo pai, que cada ano juntava um figura nova no presépio e um adereço novo o pinheiro (que recordação do cheirinho a resina pela casa fora), que com muitos cuidados era sempre feito às escondidas para nossa surpresa suprema na abertura do Natal.

O pai tinha umas mãos quase sobrenaturais...já muito miúdo eu ficava horas a apreciar e ajudar as suas múltiplas facetas. Móveis, obras em casa e até um enorme fogão a lenha de ferro maciço, que para o trazer do sótão para baixo foram precisos oito homens,  alargar a escada, e construir uma rampa.

Tenho em mãos uma pequena homenagem escrita de louvor a esse grande homem, que só mais tarde vim a compreender e a amar como ele merecia. A sua vida e sucesso profissional, sempre os admirei e pós Guiné foi por ele que me facultou o curso com que reiniciei a minha vida de trabalho.

Ponhamos os sapatinhos na chaminé e no dia 25 logo de manha lá ia-mos numa correria embasbacar com os brinquedos, doces (as célebres sombrinhas da Regina que nos sabiam pela vida) e algumas peças de roupa, a que eu e o meu irmão não ligava-mos nenhuma, pois os olhos iam só para o que interessava??!!

Pós Guiné, continuamos os rituais Natalícios, que intensificamos a partir de 23 DEZ 71 fatídico dia para uma dama, que me tem aturado deste então.

Se eu gostava do Natal e tudo o que ele engloba de lúdico, minha mulher superava tudo, e sempre fez questão que a ceia fosse na nossa casa.

Eram festas, com quase três centenas de familiares e amigos, em que ela se desdobrava numa trabalheira que a mim por vezes me levava a extremos de irritação, porque teimava em fazer praticamente tudo sozinha, mas caindo em mim refletia e lá dava uma mãozinha na loiça e muitos beijinhos.

Hoje, pela lei da vida, a família e amigos foi-se reduzindo, mas já poucos, continuamos a fazer tudo como se continuasse-mos muitos.

NATAL 1965


Dos Natais pré tropa, recordo um; o de 1965 meu último ano como cívil....

Nos anos 1960, entre muitos sítios típicos para petiscos, havia um que talvez fosse dos mais frequentados pela boémia Lisboeta: O Vinho Verde, Caramão da Ajuda ou Mata Verde.

Três alcunhas que designavam o mesmo restaurante com tasca anexa, situado no cimo da Serra de Monsanto. Hoje totalmente remodelado dá pelo nome de Mercado do Peixe, sendo como o nome indica o seu enorme interior uma réplica do mercado Ribeira, com banca de pedra, peixe fresco, que o cliente escolhe e manda cozinhar ao momento.

A convite gentil de meu administrador, almocei lá um robalo escalado, que me soube pela vida!!!.

O antigo restaurante era enorme, e a tasquinha embora relativamente pequena juntava muito pessoal, principalmente noite-a-dentro.

Foi a primeira vez que bebi vinho verde tinto, e não fiquei cliente!!...cá por baixo, no Sul, tirando o velho tinto, verde...só branco.

Como um velhote muito sábio, certa noite de copos na Casa do Caracol na Rua do Comércio, degustando umas supremas caracoletas assadas ao piri-piri, e em amena cavaqueira, me disse: - Amigo, vinho: só tinto, o branco é para vinagre e o verde é a cor da garrafa!!!...

Exatamente dois dias antes do Natal de 65, baseados à volta do bilhar grande de três tabelas do Nacional, a ver o vice-campeão de três tabelas, e quem explorava o salão de  bilhares, Jorge Pinto, a fazer as suas raras demonstrações ás três tabelas e fantasia, a categoria das carambolas a que assistia-mos abriram-nos o apetite e decidimos nessa noite não fazer o jantar, tantas vezes costumado mesmo ali juntinho ao pano verde (Galão escuro e Torrada)!!.

Onde vamos...onde não vamos...MATA VERDE, está decidido.

Rastreio ás massas disponíveis (sempre fraquitas) e a coisa estava preta...que fazer?. Pede-se emprestado ao António, empregado de mesa do Nacional que fazia serviço no salão de bilhar, e que era abastecido por um mini-elevador da cave à copa do Café no piso superior.

Este António era um porreirinho!!...baixote, mas muito mexidinho, muitas vezes lhe ficava-mos a dever o galão e a torrada...além disso, de quando em vez, lá nos abonava uns tustes. Nenhum de nós quatro lhe ficou a dever um centavo.

Ao nosso grupo “Poolista” (o nosso forte era a variante de snooker com bolas numeradas, designado Poole) decidimos chamar-lhe; Trio los Quatro.

Era-mos todos grandes amantes de Poole e trabalhadores-estudantes na Veiga Beirão.

Com o tempo acabamos por tirar o curso bilharista em prejuízo do curso Comercial na Veiga.

As presenças às aulas aconteciam na razão inversa das presenças no Café nacional (hoje Celeiro na rua 1º Dezembro ao Rossio).

Voltando um pouco atrás, lá conseguimos uns dinheiritos emprestados pelo António, que cálculos feitos, dariam para os táxis e petisqueira.

Dinheiro no bolso, ala com rumo ao Caramão da Ajuda, e eu no taxi já estava a pensar nas sandóchas de torresmos, moda da altura, que lá, eram sempre molinhas e super saborosas.

Torresmos, salada de polvo, pataniscas, saladinha de orelha de porco cheia de coentros e picante, peixinhos-da-horta (mais um petisco que adoro) e para não embuchar....tinto da pipa em caneca de barro a pedido.

Tudo isto foi consumido numas horas, e paga a conta chegamos á conclusão que já não havia dinheiro para o taxi de retorno à base.

Que fazer???...bem há que dar corda nos sapatos e rumar até Belém para apanhar o elétrico para a baixa, pois três de nós apanharíamos o costumado último comboio das 2,25 h.

As noites de Inverno de 65 foram especialmente frias em Lisboa e o pessoal vestia aquelas gabardinas curtinhas, pelos joelhos e luvas, moda da época.

A caminhada tornou-se numa galhofa. Ria-mos, cantava-mos, todos de gabardinas na mão!! não sei porquê!!, de repente todos ficamos acalorados!!

Devia-mos estar muito perto de Belém, quando o Tony, empregado do Nicola e um dos meus mais chegados amigões (tempos atrás tinha-nos dado na veneta fazer musculação, e conseguido o dinheiro para pagar um mês de treino para cada um, lá nos fomos inscrever no Ginásio Hércules, que ficava na Avª do Brasil.

Marcação feita do primeiro treino para o dia seguinte, o Tony teve a brilhante ideia de irmos em crosse até ao Ginásio??!!...”gandas malucos”...o percurso do Nacional até lá devem ser uns 10 kms talvez!!!...e não é que fizemos a gracinha durante uma semana??!!

Claro que acabaram os crosses, o Hércules passados tempos também se finou, e com alívio deixa-mos de beber as 7 garrafas de leite vigor diárias, recomendadas pelo treinador??!!

Portanto a caminho de Belém, o Tony manda-nos parar??!!...É pá está ali uma bicicleta!!...vamos dar umas voltas!.

Montou a bicicleta, pés nos pedais e...catrapuz...chão com ele para um lado e a bicicleta para outro. - Então não sabes andar?...- Sei mas não percebo, isto não anda??!! Todos de volta da máquina para analisar, e...tinha uma corrente com cadeado na roda traseira.

O Tony ainda estatelado no chão, foi perentório...essa m....na anda pelo chão, vai andar pelo ar!!!

E vai de meter a bicicleta ao ombro e recomeçando a caminhada para Belém. Estava-mos aparvalhados??...mas onde é que esta gajo quer ir com a bicicleta?

Voltou-se para nós, poisou a bicicleta e começou a calçar as luvas, enrolando a gabardina no quadro do velocípede.

...- Isto é pra não ficarem as impressões digitais.

Bem...aos malucos é melhor não contrariar!!, e lá fomos todos atrás do nosso António, sempre á espera de ver no que aquilo daria.

De repente ouvimos um grande alarido e gente a correr??!! - Agarra, agarra...ladrões, ladrões!!!

É pá, bicicleta no chão e toca a correr que nem desalmados, mas sempre sentindo gente aos berros na nossa peugada.

O Tony gritou, pirem-se cada para seu lado, encontramo-nos junto á estação de comboios de Belém. Dito e feito cada um fugiu para seu lado.

Eu quase tive uma coisinha má!!...o tinto especial de pipa era bom, mas precisava de muito sossego, e eu não lhe estava a dar nenhum...

Com várias paragens pelo caminho para ganhar folgo, sempre escondendo-me atrás de árvores para confirmar não ser perseguido, cheguei finalmente á estação de Belém e num cantinho fiquei esperando a chegada dos amigos.

Esperei bem perto de uma hora, olhei para o relógio...3,20 da manhã!!...bonito!!...comboio já foi, dinheiro para taxi não há.

Já estava disposto a meter-me ao caminho, a pé, até casa dos pais, coisa aí para uns 30 kms...

Andei uns bons metros, mas sempre roído a pensar nos companheiros. E se eles foram apanhados, senão todos, algum?...devem estar na esquadra de Belém!!!

Não estava bem comigo, pirar-me sem saber deles?...NÃ...

Inverti a marcha e comecei a rumar na direção da dita, já com a gabardina vestida e as luvas, porque os calores já se tinham dissipado.

Ainda a uns largos metros da esquadra, na zona frontal ajardinada, oiço um grande rebuliço e sou agarrado??!! - Apanhei-te meu sacana!...a bicicleta, onde é que está a bicicleta??

Apanhei um sustão dos grandes, aparece-me assim aquela prenda do nada, parecia um fantasma, a agarrar-me á bruta e chamar-me nomes...é pá, ia-me passando, mas o sujeito era do tipo armário... parecia uma torre, e eu claro, já com os copitos mais que destilados e a cabeça a funcionar, fiz-me de parvo.

Ele insistia, eu negava, ele perguntava o que é que estava ali a fazer aquelas horas...rebéubeu etc. não me largava.

De repente, saiu-me: - Largue-me já, que eu quero ir fazer queixa de si ali á esquadra.

Queres fazer queixa...então tá bem, vamos lá fazer queixa.

Vamos a entrar na esquadra e o guarda de serviço à porta, barra-nos a entrada, com aquela carinha típica de muitos policias dos anos 60 da nossa Lisboa (os Zé Broa, como o pessoal lhes chamava).

Abreviando:
Mandaram-me sentar num banco e esperar...esperei, esperei, e nada. Olho para o relógio 4,30 da manhã...estou feito!!!

Entretanto tinha acabado o tabaco (já nesse tempo fumava bastante) e dirigi-me ao guarda da porta, perguntando se por acaso não teria um cigarro, pois tinha acabado os meus. – Queres fumar, queres?...já vais levar pra tabaco, vai-te sentar que já vais ser interrogado pelo chefe.

Comecei a ver a coisa muito mal parada. O tal tipo que tinha entrado lá para o gabinete do dito chefe, não o vi sair nem soube mais nada dele??!! Estranhei, mas que fazer senão esperar.

Passada mais cerca de meia-hora, abre-se a porta do gabinete  e aparece o chefe, que afinal era sub-chefe: Pançudo de bigode farfalhudo, fica uns instantes a medir-me de alto a baixo, a abanar a cabeçourra, e finalmente lá me manda entrar.

Com que então a roubar bicicletas ás tantas da noite!...bonito...bonito!

Bem... atalhando o diálogo entre nós: o chefe afirmando eu negando. O que estava ali a fazer aquelas horas, com quem estava etc. etc.

Aí contém o que realmente se tinha passado, mas como estando sozinho, saindo no entanto da tasca acompanhado poucos metros por clientes com quem tinha estava à conversa lá dentro, e por me aperceber que já não tinha dinheiro para o taxi de volta, decidi ir a pé até Belém para apanhar o primeiro transporte da manhã.

Vais ficar detido para averiguações!
Bem...caiu-me o céu em cima naquele momento.

Mas o cérebro começou logo a funcionar na velocidade máxima...
Trabalhava então numa das Companhias da Família Oulman, ao fundo da rua dos Fanqueiros.

Tantas e gratas recordações mantenho de quatro anos de trabalho com estas pessoas de alto coturno: Albert Oulman o pai e Alain Oulman o filho, este com quem lidava diariamente.

Era genro de Albert e cunhado de Alain uma figura super típica, muito alto, diferente e que eu admirava pelo exotismo e porte. Sempre com o seu chapéu de aba direita tipo espanhol e fumava imenso. Tratava-se do Conde de Mesquitela casado com uma irmã de Alain Oulman.

O Conde de Mesquitela tinha um cargo de estado que exercia, creio lá para os lados do Campo dos Mártires da Pátria (já não recordo bem) e eu fui por várias vezes levar-lhe expediente para assinar relativo á firma.

Eu tinha uma certa vaidade naquelas entregas!!!...um puto, com pasta de cabedal preto debaixo do braço entrar por ali dentro e dizer que queria falar com o senhor Conde de Mesquitela, ficavam a olhar para mim??!!...mas eu xutava logo... - O senhor Conde está à minha espera, venho do escritório com despacho para assinaturas.

Ele era na verdade impecável, e não sei porquê simpatizava comigo, e havendo outro colega, fazia questão que fosse eu a tratar dos seus assuntos exteriores, o que por vezes era frete, outras lá dava uns cobres de gratificação.

De novo na esquadra.
Queria tentar resolver aquilo de qualquer maneira, e não me estava a ver passar uma noite na esquadra.
O Chefão via e revia os documentos que lhe mostrava, BI, cartão de aluno da Veiga Beirão, Licença de Isqueiro??!!, cartão do ginásio e mais uns cartões de grupos desportivos do Bairro Alto e Carmo.

Há meia volta...disparo com esta: - Se o senhor guarda...- Eu não sou guarda, sou sub-chefe, ouviste!!!..- OK desculpe sr. Sub-chefe!!...já me chamou ladrão várias vezes e isso é grave. Fala-me em bicicleta, e eu mal sei andar nisso, e depois para ficar esclarecido sobre quem eu sou, agradeço-lhe que ligue para o sr. Alvaro Moreira de Carvalho da Costa de Sousa de Macedo, Conde Mesquitela e perguntará ao senhor quem eu sou, pois sou seu funcionário. Terá no entanto que fazer o favor de esperar pela abertura do Ministério que é as nove horas. Um pormenor: primeiro terei eu que ligar para a secretária do sr. Conde a contar esta situação e ela porá de aviso o sr. Conde, porque ele não atende qualquer pessoa sem passar pela secretária.

Isto até era tudo a pura da verdade, embora fosse um grande abuso da minha parte mencionar um nome ilustre, com um cargo político relevante e pior ainda, familiar dos meus patrões, assim como se almoçasse com ele todos os dias, como que sendo da sua igualha. Era muito atrevimento e arriscado da minha parte, mas a situação impunha-se...
No entanto estava desesperado e ao mesmo tempo convencido de que se, se confirmasse a chamada do trombudo bigodaças, e como o Conde Mesquitela não podia com policias, a coisa se resolveria, talvez a meu favor.

Caso contrário, estaria metido numa grande alhada com a policia e com a firma onde trabalhava.
Bem o Sub-chefe parecia que tinha apanhado um choque!!! Ficou calado uns minutos e disse: - Bem, não há necessidade de incomodar o senhor...afinal já me convenci que isto foi brincadeira de uns copitos a mais, e como é Natal a coisa fica assim.

Tomou umas notas, deu-me os cartões e disse que podia ir, mas que não se repetisse a gracinha. Guardei todos os pertences, pedi a gabardina, e com uma grande lata, tentei mais uma jogada...pedi-lhe um cigarro!...ficou de novo a olhar para mim uns segundos, tocou a campainha de secretária, veio o tal policia da porta e ele mandou-o dar-me um cigarro, o que o trombudo dois assim fez....- Desculpe, se pudessem ser dois agradecia-lhe muito...ia-me comendo com os olhos, mas lá dobrou a dose.

Desejei-lhes bom dia e bom Natal, e pus-me a andar, para o escritório dos Oulman pois esperava-me mais um dia de trabalho, depois de mais uma noite em branco.

Á saída da esquadra, encostada à parede lá estava a bicicleta, assim como que a rir-se para mim. Não faço ideia como foi lá parar.

Nesse dia, à noite no Café Nacional, no reencontro com os protagonistas da véspera, todos ficaram de boca aberta com o que me aconteceu. Todos eles se tinha safado sem problemas, foram para casinha e o Zé com o coração partido a pensar nos colegas acabou por se prejudicar.

Nas minhas rotinas de saúde, sempre que vou ao Egas Moniz passo pela dita esquadra que está exatamente na mesma, e recordo sempre o Natal de 1965. A Aldinha sorri e comenta... - Eras fresco!!!

Guedes, não tenho grande prosa, mas grandes recordações que dariam vários volumes em biografia.
Foi o que se me surgiu, de Natais e recordações dos saudosos anos 60.
Para mim; Saudade é a permanente presença feliz da ausência.

Não quis deixar de responder á tua solicitação.
Se bem, se sofrível, se mau...tu o analisarás e se vires que tem o mínimo...PRANTA, no inverso, arquiva cronologicamente no cesto dos papéis...

BRAÇÕES para ti.
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Grande texto do Justo.
Esteve para se dividido em dois, mas perdia o encanto e por isso se publicou na integra.
Os leitores, com paciencia, com uma fatia de bolo rei e um calice de vinho do Porto, vão saboreando tudo e verão que valeu a pena.
Feliz Natal para todos. Boas Festas.
LG.
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Tenho montes de relatos escritos, mas que não gosto quando releio, tento corrigir e ficam piores. A mente acelera a 200 à hora mas a pena respeita os limites de velocidade.

Gostava de fazer uma coletânea de experiências diurnas e principalmente noturnas que se tornariam interessantes, não só pela quantidade, mas pela qualidade!!

Sei que isso nunca se irá concretizar, mas tenho pena.

Hoje num dos meus  hobbies, talvez o preferido, o Modelismo e Colecionismo, que mais do que isso acaba por ser uma importante terapia, quando estou de volta dos brinquedos lá vêm à memória estas antigas estórias, muitas delas, e durante décadas com a Aldinha; Uma mulher à homem...como lhe chamo!!!...

Um fragmento muito pequeno das minhas imensas recordações.

Tentei muito e consegui fazer-me feliz QB até hoje. só invejei na vida “quem bebe água em todas as fontes”. Sempre foram as pequenas coisas da vida que me fizeram feliz.

Ainda hoje mantenho muitas das antigas amizades a vários níveis.

Neste Portugal de hoje, tão diferente do dos nossos tempos, já não me apetece viver. Não consigo aceitar e digerir  o que diariamente, mesmo tentando fugir, vejo e oiço de mau e vergonhoso. A perda total de valores horroriza-me.

O tal dia 21 em que se anuncia o fim do mundo??!!|...não estaremos há muito nesse dito fim?. Todas as antigas civilizações quando atingiram o apogeu do desenvolvimento, o perigeu foi a sequência, e a extinção a morte final. Será que estamos perto dum final idêntico??

Mais um abraço.
José Justo        
Natal 2012