HISTÓRIAS COM 42 ANOS AINDA FAZEM RIR
EM MACEDO DE CAVALEIROS
Não sei se recordam o edifício do Centro de Transmissões. Era talvez dos maiores edifícios existentes em Tite. Para enquadramento das histórias que ouvi contar no nosso almoço em Macedo de Cavaleiros e, pretendendo transcrever no nosso Blog – O Mistério da Antena do Rádio que foi Partida – e – O dia que as Sapatilhas não serviram apenas para calçar – vou de primeiro tentar fazer uma “visita” guiada em redor do mesmo, para a uns, relembrando-o e, para outros, que nele não trabalharam, dar a conhecer todo o aparato incorporado.
A Secção das Transmissões estava equipada com rádios de emissão e recepção em onda curta – AM, manuseados pelos operadores telegrafistas e, com rádios de emissão e recepção em VHF com raio de 50km2, operados pelos rádios telegrafistas, sendo que a porta da secção estava virada para o edifício onde estava situado o edifício da padaria. Estes edifícios eram separados por uma rua onde se situava, com 60 metros de altura, uma das antenas das transmissões.
A porta da Secção estava sempre aberta. Pelas janelas superiores, situadas no lado virado a este, era visível a parada e o edifício do comando. Havia ainda outras janelas, na direcção a norte, onde se podia ver a enfermaria e a porta de armas. Era talvez, no edifício, a secção que detinha mais espaço. Lá dentro, do lado esquerdo de quem entrava, a todo o comprimento da empena, uma bancada feita de pedra para suporte de todos os aparelhos, no chão as baterias. No lado direito havia sempre uma cama de campanha que nem sempre era utilizada.
Continuo a esta Secção das transmissões, também em frente ao edifício onde se situava a padaria, situava-se o Centro de Mensagens. Seguia-se a este um pequeno compartimento onde estavam instalados os aparelhos para suporte ao telefone, para ligação, (via VHF-FM) do Comando do Batalhão ao Quartel-general, em Bissau. Depois deste compartimento, a oficina de rádio, o quarto dos operadores rádios-montadores, assim com o quarto dos operadores de cripto, cujas entradas estavam situadas no topo do edifício. Tinham pela frente, separado por uma rua, uma caserna que suportava o nicho que colocava a imagem da Virgem Maria. Ainda neste edifício das transmissões, mas no lado a norte virado para a porta de armas, e do local do hastear a bandeira, situava-se o Centro de Cripto.
O DIA QUE AS SAPATILHAS NÃO SERVIRAM APENAS PARA CALÇAR
Ora uma das histórias que vou contar também se justifica por haver no Centro de Transmissões um quarto para os Operadores de Cripto.
Quando chegamos a Tite, depois de uma correria auto desde o Enxudé, já noite, gritava, junto dos carros que chegavam, um homem, algo nervoso e, neste jeito…quem são os Criptos? Viram os Criptos? Este homem era o Sopinha, também ele Cripto, que ao encontrar o que procurava, guiou os “piriquitos” (Pica Sinos e Justo) de imediato para os seus futuros aposentos, nada mais, nada menos, um “room”, equipado com um guarda-roupa com gavetas, 2 camas sobrepostas e, uma mesa-de-cabeceira situada por debaixo da janela e, com paisagem para a porta de armas. Separado pela parede da sala de trabalho do Centro de Cripto.
Diga-se com verdade que este quarto sempre fez cobiça a muito boa gente. Não só pela ausência dos barulhos que uma caserna com 80 homens suportava, da ausência dos cheiros (colectivos) da ventosidade anal, da ausência dos cheiros (colectivos) do chulé e, da mistura destes dos dois cheiros, mas também pelo seu equipamento: luz eléctrica nas cabeceiras, ventoinhas, rede mosquiteira na janela, tapete no chão, cabide nas traseiras da porta de entrada, mas sobretudo a cobiça era agravada pela exposição/decoração das fotografias, algo provocadoras de modelos femininos das capas das revistas (e não só), que o Justo expunha na parede junto da sua cama. A decoração era de tal forma carregada de “dinamismo” que houvera sempre visita à esta “exposição” das mais variadas patentes, inclusive oficiais de escalão superior. Deste exemplo seguiram os Operadores de rádio montadores, que na sua secção encontraram resguardo/espaço para também construir um quarto pelo menos com uma cama.
Não sei explicar - mas talvez pelas mesmas razões de fugir ao colectivo e, era bom que alguém explicasse o porquê de tempos depois, a Secção das transmissões, onde operavam os radiotelegrafistas, no seu lado direito, surge um conjunto de camas (5/6?) carregadas não sei por quem, passando a ser ocupadas por diversos operadores.
Numa dessas camas, deitava-se um indivíduo que esteve no almoço em Macedo de Cavaleiros, em jeito de penitência disse, e eu não posso deixar de divulgar, que todas as noites juntava a sua cama com a cama do parceiro ao lado, com o propósito de entre o intervalo das duas, procurar saciar os seus impulsos sexuais, pouco ou mesmo nada incomodar-se com a “inquietação” que fazia, aqueles que, estavam obrigados a assistir.
Mas,há sempre um mas, uma noite alguém escondido por debaixo das ditas camas, munido de uma sapatilha na mão, quando o nosso operador radiotelefonista no momento do princípio da “êxtase”, levou com tal sapatada que o levou a “extasiar” para outro lado e bem longe. Hoje, confessa a rir, que ainda lhe “dói” ao recorda-la.
Não é difícil perceber, a partir daí, o desassossego, pelo medo de flagelações, que passou a existir naquela “caserna”.
O MISTÉRIO DA ANTENA DO RÁDIO QUE FOI PARTIDA
O Centro de Mensagens era uma sala sossegada. Só nela trabalhavam 3 operadores, quase sempre o nosso amigo Costa, de Ovar. Sendo que aqui, ele, dormia diariamente numa existente cama de campanha.
Esta secção pelo seu sossego, para além de sala de trabalho dos Furriéis (sobretudo o nosso amigo Luís), era muitas vezes palco de encontro, para cavaqueira, dos operadores de todas as transmissões. Também para “saraus” musicais de guitarra, viola e violino, que por vezes acompanhavam vozes algo esganiçadas. Tinham o seu público e, muitos aplausos sobretudo após a ingestão de algumas cervejitas. Tirando estes momentos era uma secção das mais sossegadas no Centro de Transmissões. O Costa que chefiava a secção, hoje, comparado com o passado, em nada mudou, mantém a mesma alegria, amizade, companheirismo e a camaradagem que todos assistimos. Bem, no passado, não era tão “desinquieto” como hoje em alguns aspectos, mas deixemos isso para mais tarde.
Em determinada altura, o nosso amigo Luís (ex-furriel), levou para o Centro de Mensagens um transístor moderno e de algum porte, quer no tamanho, quer no alcance. Deixou este aparelho à responsabilidade do Costa que o fazia funcionar horas a fio. Num dos dias seguintes, ávido por ouvir outras emissoras mais distantes e, em jeito experimental, o rapazola que levou com a chinelada por via da sua excitabilidade, também com a antena do dito rádio transistorizado, não se cansava de a puxar/movimentar em todas as direcções, desrespeitando todos os avisos do nosso amigo Costa, cujo resultado foi entortar, quiçá partir de forma irremediável a imprescindível antena, não tendoo Costa a coragem, na frente do furriel, de acusar quem o acusava por tal malfeitoria.
Espero que o Costa e o Luís, hoje, já tenham perdoado aquele que a mim se confessou em Macedo de Cavaleiros.
Pica Sinos
1 comentário:
“Num habia nexessidade” . . .
De escarrapacharem, preto no branco, a prova provada da galfarrice, pública e notória, dos cheiramanecos das transmissões que, sempre, incompreendidamente, apregoei.
Assenta-lhes, bem, a fama, e o proveito, de precursores dos utensílios insufláveis que, ao que consta, por aí campeiam . . .
Olha lá, se, em vez da sapatilha, saía uma bota com biqueira de aço ! . . .
Ai, o meu joelho ! . . .
Miserere nobis . . . .
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