OPERAÇÃO GALO FOI UM FRACASSO
MAS O NATAL FOI CELEBRADO
Lá longe, todos tivemos a oportunidade de presenciar e de ver: o místico pôr-do-sol, o calar da passarada, o breu e o luar ao cair da treva. Mas tenho dúvidas, que essa oportunidade se observasse, para todos, com o nascer dos dias em Tite.
Por força da especialidade que desenvolvia, noite sim, noite não, as horas eram passadas acordadas. Muitas delas, sentado junto á porta do Centro de Cripto, para ver o nascimento dos dias que sucediam.
Não eram menos bonitas, comparativamente com os dias onde era visível o sumptuoso pôr-do-sol, as alvoradas
Como era bonito e encantador ouvir o chilrear da passarada ao acordar. Como era “refrescante” e ao mesmo tempo “agitador” o “perfume” do pão a cozer e do café certamente a ferver, que os padeiros e os cozinheiros manipulavam, no edifício do refeitório, desde as seis horas de todas as manhãs.
Como tudo hoje se faz luz da tristeza que senti naquela véspera de Natal de 1967. Pela primeira vez na vida estava impedido de passar o Natal com a minha família.
Como estava triste de não poder observar a iluminação natalícia certamente erguida no Rossio, e as montras eventualmente repletas de brinquedos na minha baixa Lisboeta.
Desanimado, juntei-me a uns quantos (poucos) companheiros de “route” com vista a organizarmos uma festa de Natal sem romper a tradição – peru assado –, já que na noite da consoada, o Comandante do Batalhão, ofereceria, para além do discurso da ocasião, o bacalhau cozido com batatas e couves.
Mas encontrar um peru em Tite ou nos arredores era hipótese à partida frustrada. Ninguém avistara perus. Havia sim, numa das palhotas da tabanca, junto á pista de aviação, um galo português de elegante porte, com crista vermelha e alta, multicolor nas penas, de bico e esporões bem afiados e, quando cantava a anunciar o nascer do Sol, era ouvido por todos aqueles, que como eu, por força das circunstancia estavam acordados, tal não era o seu “folgo”.
Então a “operação” galináceo é posta em marcha, consistindo em distrair a proprietária, uma velha preta, senhora bem forte, que por norma estava sempre de sentinela á pastagem da real ave, sentada num banco corrido, colocado na frente da sua palhota, e apoderarmo-nos do galo, certamente já morto, após paulada bem forte aplicada “no cabeça”.
Assim, dois de nós começaram por espalhar milho uns metros antes do galo em pastagem, procurando que o mesmo se deslocasse em nossa direcção quando na “picagem no milho” disperso. Os outros, assumiram posições estratégicas para barrar, eventualmente, alguém que nos quisesse intersectar na correria da fuga.
No decorrer da “operação”, a preta, ou adivinhou, ou alguém lhe disse das nossas intenções, pois sem esperarmos, desata numa berraria, de vassoura em riste e com ar ameaçador na nossa direcção, dizendo, …”ah bo fora, ah bo fora”… frustrando de todo o nosso propósito.
De todo, ainda procuramos comprar o galo, mas viemos a saber que o galináceo jamais serviria de manjar a quem quer que fosse, a dona tinha-o como animal de estimação.
Resultado:
Sem galo na travessa, mas no dia de Natal, a mesa estava farta com o pouco, que os familiares e amigos nos fizeram chegar.
Assim foi, naquela terra em guerra, a passagem do Natal de 1967
Tenham um bom e Santo Natal.
Pica Sinos
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Diz o Guedes
Só por curiosidade...
Eu acho que esta simpáctica velhota a que te referes, era a lavadeira do Arrabaça, a Marcelina. Devo ter por aí uma foto dela e quando a encontrar vou publicá-la.
Era uma pessoa extremamente simpáctica, mas gritava por tudo e por nada. Tinha um vozeirão forte, ao estilo dos cantores soul americanos e era muito respeitada pelas restantes Mulheres Grandes.
O seu galo foi alvo da cobiça de muita gente.
O Arrabaça saberá melhor que ninguém o destino do garboso animal, mas eu acho que quem finalmente ficou com aquele autêntico galo capão, foi nem mais nem menos a messe dos oficiais, num qualquer petisco restrito.
Abraços.
Leandro Guedes
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