Noção
de saudade
“Para
mim – diz o Justo – saudade é a permanente presença feliz
da ausência”.
Esta
definição, no Blog do BART, - agora já lá não a encontro! -, foi inspiração
ou motivo condutor de comentário meu directamente
lá escrito. Ignoro o caminho desse meu pedaço de prosa avulsa, na ocasião
debitado… Talvez não sabendo de quem era, reencaminharam-no para o cesto dos
papéis. Lamento, se tal foi seu destino, pois dava-me azo a desenvolver a saga
aí iniciada, e acaso produzir algo filosoficamente pouco aceitável, mas,
literariamente, digno de figurar nos anais da idiotice, da risota ou do humor
(mesmo que negro!).
Sou
o típico português: cidadão
do mundo, ávido de mais conhecer, universalista,
que dá ‘novos mundos ao mundo’, calcorreante pelas ‘sete partidas’, jamais de aventura ou
desafios cansado…, e… da saudade saudoso!... [Isto escrevi eu, vai já um par de anos,
e registei, como não podia deixar de ser, na minha colectânea de pensamentos
diversos, ditos ou afirmações de muita gente ilustre, e outra nem tanto -
categoria onde me incluo].
Retomando
o tema ‘saudade’, compulsei obra, lida há tempo, e de cujo autor,
por sobejamente conhecido nas lides jornalísticas, me não vou agora demorar
senão para dele dizer, muito ter gostado. Afirmava ele, então, com absoluta, concreta,
propriedade que: “ter ‘saudade’ é ter lastro, história, percurso”,
completando sagemente “anda por aí muita amnésia e muita ignorância…”
Acaso
sabem de quem falo? Pois senão de Baptista-Bastos … bem conhecido
da praça lisboense, onde calcurreava, ligeiro, calçadas e colinas. E não só,
porque…”todo o cais é uma saudade de pedra” (como
alguém afirmou um dia) e, pelo travo…, me sabe a beira-rio ou mar,
ou, ainda melhor talvez, a Fado e a Guitarra portuguesa. Ora, de
caminho, e musicando a toada, se um cais é saudade, para quem
fica e para quem parte, também pressupõe lastro de muita vida,
de algum sarro vínico, de tabernas e outros símeis lugares, onde se
fez a história da difícil e ignara vida dum povo, à
beira-mar medrado e esquecido, por percursos nem sempre os
mais estimados e queridos… porém, de nós houve gente, ah, isso houve, tem
havido, e que gente!
Deixo,
agora, simbolismos sentimentais e adjacentes. E rumo, confiante de que um
mal nunca durará sempre, bem como a bonança - é da física -
sucede, por mais desfeita que esta seja, à tempestade!
Assim, como todo o não
contraditório pode ser pensado como possível, - o dizem em Lógica -
e “a verdadeira afeição na longa ausência se prova”,
nos corrobora, nessa arte da ausência e da saudade,
insuspeito, o nosso épico Luís de Camões; e, porque, “só
se morre por aquilo de que se pode viver” [Antoine Saint-Exupéry],
sendo certo que “ninguém morre quando fica vivo no coração de
alguém” [St. Agostinho]… CONCLUO: a saudade é como
retrato da “permanente presença” e ainda, pois vive em
nós,“feliz”, embora o objecto dessa lembrança esteja
em “ausência” física.
Dito
isto, ao camarada
Justo – congeminador da definição origem deste trabalho
- endereço vivos cumprimentos e felicitações,
dado ter filosofado – e bem - sem apropriamento de conceitos alheios,
como eu – para me basear na argumentação, que expendi, algo laboriosamente -…
se é que o meu aplauso alguma coisa vale!...
Luís
Manuel B.S.Dias
Esmoriz,
06JAN2013
1 comentário:
Luis, gostei deste texto, para o qual sem imaginar contribuí.
Estou alinhavando umas linhas, assim à lai de comentário, que em breve virá à estampa.
Até lá um abraço e obrigado pela deferência.
Um abraço
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