quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Pelotão "OS BRUTOS" e o Furriel Milº João Leite

CCAÇ 2314

OS BRUTOS E O FURRIEL MILº. JOÃO LEITE  

Hoje irei recordar um dos furriéis mais carismáticos e corajosos da Companhia - JOÃO GUALBERTO AMARAL LEITE, açoriano de ‘gema’, não só pelo seu espirito guerreiro, mas também por ter nascido nos Açores.

Falar do Leite é imperioso referir o grupo especial que ele sempre desejou pertencer – OS BRUTOS.

Para além dos quatro pelotões orgânicos, a CCAÇ 2314, tinha um pelotão “especial” - OS BRUTOS, para intervenção na área do BArt 1914. Formado por militares voluntários da companhia, este grupo foi concebido pelo Furriel Leite e os seus elementos foram de seu convite e escolha. Com ele e sob o seu comando, era formado por 15 militares europeus, e mais cinco africanos. Foi idealizado, ainda aquando decorria a formação e treino da CCAÇ, em Tomar, já mobilizada para PU da Guiné, nos finais do ano de 1967, na casa de um familiar e com um amigo, o Cabo Viriato Lopes , que veio pertencer a esse grupo, conforme me confidenciou, hoje.

O Leite esteve nas Operações Especiais, no CIOE, em Lamego, como Cabo Miliciano, mas foi dispensado por ter sofrido um acidente durante a instrução. Daí o seu desejo de pertencer a um 'Grupo especial' e realizar o seu sonho. Foi o pretexto para logo no início da chegada à Guiné, após o dia 15 de Janeiro de 1968, passar à sua composição. Com a aceitação do Comandante de Companhia, o Capitão Neves, o Furriel Leite passou ao convite pessoal de militares para a sua composição. Do meu pelotão, passou a fazer parte a única baixa da companhia de militares europeus, num ataque do PAIGC ao aquartelamento de Tite, a 2 de Março de 1968, o soldado CARLOS SOARES DA SILVA.

No dia em que recebeu o convite do Furriel Leite, o militar Silva veio falar comigo e pediu-me se o autorizava a ir para “os Brutos”. Perguntei-lhe se queria uma resposta sincera, ao que lhe respondi que “NÃO, mas se era a sua vontade, só lhe desejava que nunca se arrependesse de o fazer”. Notei-lhe as lágrimas nos olhos ao responder que iria aceitar o convite e fazer parte de “Os Brutos”. Foi o nosso único militar europeu que faleceu na Guiné. Recordo ainda hoje a mágoa que senti nesse dia. O destino dele estava traçado que iria morrer em combate na Guiné.

A companhia teve dois crachás. O primeiro foi feito para o pelotão dos Brutos e, por isso, concebido pelo Furriel Leite. É um escudo de negro, com bordadura de vermelho, carregado por uma mão segurando uma granada, ladeada por uma palma dourada sob a inscrição C.CAÇ 2314 e um listel branco com a legenda: “OS BRUTOS”. Posteriormente, e como não havia um crachá da Companhia, o Comandante, Capitão Neves, pensou adoptar no seu todo o crachá dos Brutos, alterando apenas a legenda para “OS OUSADOS”. O seu significado está bem evidente nas figuras contidas no crachá e ambas as legendas são elucidativas o que se pretendeu ter como LEMA, quer os “BRUTOS” quer “OS OUSADOS”.

Pelos seus feitos em campanha, o furriel Leite foi condecorado com a Cruz de Guerra que recebeu nas Cerimónias do Dia de Portugal, a 10 de Junho de 1970, em Ponda Delgada, Açores.

Faleceu vítima de doença prolongada em 16 de Fevereiro de 2011, na sua terá natal, Ponta Delgada, São Miguel, Açores, onde nasceu em 13 de junho de 1944.

Gouveia, 15 de Dezembro de 2020

JTrabulo



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