sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Poema de Luis Manuel Dias

 Aí vos envio, Amigos Meus Queridos, versinhos de supetão saídos.

Lêde-os, peço. E, deles, dai a notícia resultante, a este poeta às vezes, militante.

Abraço-vos com amizade, gratidão e apreço.



Parole, parole, parole...

(Palavras, palavras, palavras...)

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Há quem , na alvura das coisas parvas

Use, abusando e muito, só de palavras.

Vemos, no quotidiano sequer vivo e rosado,

Quem, todo o dia vocifera, rubro-arroxeado,

Pelo ouro que não conquistou a pulso ou nado.

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Ah, ó Numes, duma esfera celeste de oiro gasto,

Bafejai-me de plácida inteligência, sem pasto

Que falte, nas pradarias, ou trigo a mais, basto.

Citai-me contos de amor e fado, sem fadistas,

Porque desejos tenho de flores belas e floristas,

Em mim capazes de me abrir um sorriso alado

Ou, se disso vos fôr mister, ó Divindades, dado.


E se a inocente fala, parolando o ininteligível,

Desconexo termo mastigado, o impossível,

Dela me dai o entendimento, claro, fiável,

Para dialogar sem palavras o basto conto.

É que a palavra pura duma criança vale e tanto,

Como o sermão complexo e longo dum santo,

Mormente se em segredo me diz: - seu tonto!

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Das palavras crípticas, segredadas, nem pio.

Há tanto de escuro ou de sol claro, luzidio,

No sussurro às esconsas, como nas ditas sonsas,

Em um qualquer beco, ou em noitadas longas.

Se tempo há, nas palavras, se as ligamos à vida,

As largamos assim, à vez, fúteis, sem medida,

E as tornamos um sem-fim rolante, em descida,

Em desfilada vil, talvez inconsequente e nula,

Sem cabeceira, travão, cascos no chão, de mula.

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Eis do título a razão:  - Parole, parole, parole -

Palavras, palavras, palavras: cada qual engole!

Disse.

LMD, 02.10.24

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