sábado, 8 de abril de 2023

Assim começou a Guerra colonial para o BART 1914

 A MINHA VIAGEM Á GUINÉ - A PARTIDA

 

E

ste parte, Aquele parte,

E todos, Todos se vão,

Oh terra ficas sem homens,

Que possam cortar o pão.”

 

C

orria o mês de Março de 1967, no Centro Cripto do Quartel-general (QG), em Lisboa, entre três cabos e dois sargentos, quis o destino, que fosse eu a decifrar a mensagem que ditava a minha mobilização para a Guiné, ficando incorporado no Batalhão de Artilharia 1914, composto por três Companhias Operacionais e uma de Comando e Serviços, já em trânsito no Regimento de Artilharia Costa (RAC), em Parede, Carcavelos.

Não me espantou! A situação era mais que previsível para os jovens militares da minha idade.

Dou a notícia em casa à minha mãe, à namorada, hoje minha mulher. Com o meu pai, na altura internado no Centro de Saúde do Telhal, despedi-me com um abraço e um beijo, sabendo que era incerto encontrá-lo de novo com vida, por mim, que parto para o incerto, ou por ele, tendo em conta a sua debilitada saúde.

 Após o curto período de férias, a 7 de Abril de 1967, um dia antes do embarque, já no quartel em Parede, entre dezenas de militares, procuro o op. cripto Justo, companheiro das noites de Lisboa, também ele mobilizado, na Companhia de Comando no mesmo Batalhão. Conheço o furriel de transmissões de nome Cavaleiro.

Aqui, além uma outra cara já conhecida. É-me indicado o Sargento a quem tenho que me apresentar.

…Onde andou rapaz? ….Não fez a instrução de aperfeiçoamento operacional (IAO), devia cá estar há um mês…!

Pergunte no QG….(Quartel General), foi a minha resposta.

 Depois, foi arrumar na bagagem o camuflado distribuído e sair para jantar. Dia 8 de Abril de 1967, no cais de Alcântara, em Lisboa, despeço-me da família que me acompanhou ao embarque. Segue-se a formatura. Um emproado oficial superior e sua comitiva fazem a revista da praxe, o embarque das tropas sucede-lhe. Ao som da fanfarra militar e do acenar dos lenços, o paquete Uíge largou amarras. A Torre de Belém fica para trás, a ponte sobre o Tejo já não se vê, a terra é coisa sumida, os olhos há muito que estão rasos de água.

Tive a sorte de não ser colocado nos lugares do navio que outrora eram destinados às cargas. O meu camarote suportava oito beliches duplos. Não tive preferência da cama, uma qualquer me serviu para descansar e dormir.

As refeições foram tomadas em refeitórios, outrora salas de jantar para passageiros em 3ª classe.

Os lugares destinados às outras praças, os porões, eram degradantes. As mesas de madeira que tinham lotação para uma vintena de militares, estavam colocadas ao comprimento dos porões. Os beliches, também em madeira, acompanhava-os na altura. Os vomitados do enjoo eram constantes, a limpeza deveras precária, que, em conjunto com a falta do banho diário, o cheiro era nauseante, asfixiante. O barulho dos motores, etc., o ambiente naqueles locais era insuportável.

Durante os oito dias (mais três que o normal por avaria num dos motores) que a viagem durou, foi neste contexto que, os jovens militares, fizeram a sua vida no navio.

Inconformados com o destino, no convés, uns passeavam, outros conversavam e, ainda outros, jogavam ou viam jogar às cartas.

Uma ou duas vezes fizemos exercícios de salvamento em caso de naufrágio. Os peixes voadores, que, quase sempre acompanharam o barco, eram também motivo de entretenimento.

 No dia 14 do mesmo mês, chegamos já noite alta e, amedrontados, ao destino para o qual fomos obrigatoriamente mobilizados. O pior estava para vir……a guerra.

Aqui o sofrimento a todos tocou!

Pica Sinos”





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