domingo, 27 de março de 2022

Eduardo da Silva Pinto, o "Pintassilgo"

 


"QUEM SE PODERÁ ESQUECER DO SEU ASSOBIO A PEDIDO E DO SILENCIO QUE PAIRAVA PARA O ESCUTAR AQUANDO NOS ALMOÇOS DE CONFRATERNIZAÇÃO ANUAIS

Naquele tempo, lá longe, ninguém o conhecia por Eduardo da Silva Pinto, mas se perguntassem por anda o “Pintassilgo”, a resposta não se fazia esperar… está na padaria.

O “Pintassilgo” era um rapaz pequeno e franzino, com os ombros atirados para a frente. O seu andar era miudinho, rápido na fala. Andava quase sempre “pintado” de branco.

Todos o estimavam. Era um homem divertido, alegre, amigo do seu amigo. Passava os dias a assobiar, (primorosamente diga-se), e a amassar o pão. Era um dos padeiros em Tite.

Este nosso amigo deixou-nos no passado dia 6 de Janeiro do ano de 2020, mas a sua memória perdoará por todos os seus camaradas que com ele partilharam a amargura da guerra colonial na Guiné Bissau.

Quem não se lembrará da graça que ele irradiava quando encostado na ombreira da porta da padaria o nosso “Pintassilgo” assobiava (entre outras) a melodia da Rosinha dos Limões?

."Quando ela passa, franzina e cheia de graça,

Há sempre um ar de chalaça, no seu olhar feiticeiro.

Lá vai catita, cada dia mais bonita,

E a sorrir, p'rá rua inteira, vai semeando ilusões".

.O assobio que saía dos lábios quase fechados da boca do “Pintassilgo” era uma maravilha, Hoje em dia já não podemos ouvir, mas as recordações ficam:

Quem não se lembrará, nas madrugadas bem cedo, do cheiro que pairava no quartel a pãozinho cozido no forno manipulado pelo camarada “Pintassilgo” (e outros) que saía da pequena padaria?

Quando possível o nosso camarada era premiado a dar-nos um pãozinho escondido por troca de uma fatia de presunto ou duas ou três rodelas de chouriço. Parte de uma lata de sardinha ou de atum “exportadas” do continente por via dos familiares ou alguma madrinha de guerra que no tempo nos chegava.

Mas via-o triste quando me dizia …Oh Pica… isto hoje está difícil de te dar um pão. Hoje não dá para uma “palmadinha”, desculpa lá. Eu sabia que era complicado e podia haver problemas. Não era fácil, o pão era feito com conta e medida. Dar pão a todos os que pediam era missão quase impossível.

Quem se poderá esquecer de quanto contente se apresentava aos camaradas nos almoços de confraternização anuais. Quem se poderá esquecer do seu assobio a pedido e do silêncio que pairava para o escutar.

Descansa em paz camarada.

Raul Pica Sinos "

(texto já anteriormente publicado em Janeiro de 2020).



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