terça-feira, 29 de dezembro de 2020

À Memória de Fatinha e Wye Sissoco

 "À memória de Fatinha e Wye Sissoco

Ainda não tínhamos acabado de enxugar as lágrimas pela partida da irmãzinha que a Leyla de Fátima foi para mim e eis que recebo, a triste notícia do passamento de Sora, Wye Sissoco.

Os novos tempos que vivemos não me permitiram visitá-lo no seu leito de enfermo, mas fiquei deveras esperançado com a última foto que o Mussa, seu irmão me enviara na semana passada.

Ainda não consigo acreditar que se acabaram as tardes que passávamos juntos a recordar os belos tempos de Bissau, nos finais dos anos 70, em que sonhar era preciso.

A minha família tinha acabado de chegar de Tite, localidade onde passamos uma temporada, devido ao trabalho do meu pai, mas também porque a minha mãe queria que estudasse em Bissau.

Quando soube da nossa chegada à capital da Província, Djali Suncar Sissoco, pai do Wye e exímio na arte de « Kora Fola » chegava intespestivamente e começava a executar as canções que exaltavam os feitos dos Djassi no Kaabu de antanho.

Ninguém conseguia ficar  indiferente à virtuosidade instrumentista e de contador nato dos grandes feitos protagonizados pelos valorosos « Nhantchós e Koriuns» do Kaabu. Como recompensa por esse labor, todos lá em casa, a começar pelo meu pai, davam o que tinham e o que não tinham ao Djali, cujo estatuto lhe permitia entrar livremente por todos os aposentos da casa.

Conheci aquele que viria a ser meu « alter ego » numa dessas visitas em que o pai se fez acompanhar por um jovem, mais ou menos da minha idade o qual foi imediatamente alvo de mostras de carinho pela gente feminina la de casa, ao ponto de despertar um pouco de ciúmes da minha parte. Passaram-se os anos e voltamos a reencontrar-nos no Ciclo Preparatório.

Com o 25/04/74, já no Liceu Honório Barreto e com a explosão da vida cultural no novo país, o Wye foi-se aprimorando no seu instrumento de sempre, a bateria. Foi um dos fundadores do agrupamento « Tenen Koya », conjunto musical que deu cartas no panorama cultural dessa Bissau que não mais veremos. Por onde passava deixava amigos e como também era um Don Juan, fui eu quem  resolvia os pequenos problemas que esse estatuto lhe granjeava. Sempre havia uma namorada que se chateava com ele.

Quando conheceu a Leyla de Fátima, foi aquele amor que só a morte poderia separar. E assim foi!

Deixaram-nos o Sussu e a Simone, em cujos filhos se perpetuarão as memórias deste companheiro que Paul Dayvis chorará.

Quebá Sussoco, seu nome de baptismo, ficará para sempre nos nossos corações.

Que se reencontrem no Paraíso, na companhia de todos os nossos que os precederam

Paz às vossas almas!

Malam Djassi”





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