terça-feira, 13 de outubro de 2020

"Pobres Tolos" , de Luis Manuel Dias

 ''Pobres Tolos, carregam em si flores''

-Meio perdidos por aqui, encontrei na tábua de trabalho uns versos, inacabados. Falam seriamente de gente pacífica e de bem, que por aí topo, nas vagabundagens! Porventura com a Lua em vai-vém naquelas cabeças endoidadas, usam cobrir-se de flores - como fadas - os coitados! Têm pouco juízo, pensamos! Isto é, às vezes, o que se nos aparenta. Assim será 'aquela' (deles) realidade?

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Abraços estreitados, a todos vós, Camaradas e Amigos, que me estimais, bem quereis.

Vamos lá, então, à leitura, aos vossos comentários:

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''Pobres Tolos, carregam em si flores''

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‘’Os pobres tolos,

Que em todas as aldeias existem –

Teixeira de Pascoaes no-lo escreve

Não recordo onde –

Vestem-se de flores!’’

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E por môr do quê me sugerem

Senão à razão e causa de dores?

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Não lo é só em aldeias, que as vestem…

O trato, agora em fala, tem-me convencido

Por dessas fotos-imagens ter algures vistas,

E num qualquer pedinte aparecido.

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Em cidades de hoje, seja, ou nas vilas,

Vindos se calhar daqui – ora, ora! -,

Ou possivelmente de fora.

-

Maltratados, sujos

Pés feridos, desnudos,

Por gélidas carreiras, em vadiagem

De ambulante, lenta rota,

As nuas plantas, ramos, arbustos

E profusão de flores

De que mal tomei nota,

Oh, como são belas!,

De fino recorte nas pétalas

De pé, dobrado ou singelo,

O que importa é que é belo,

Seja por mania ou adereço

Delas se cobrem a gosto,

Sobre trapos de roupagem, aposto!

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Vêm com que alegria branda

A inventar mitos, cores, em franja…

Disfarçam-se de loucos canteiros

Verdes-em-riste, rubro-amarelados-velhos…

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Dos pés à cabeça atapetados

Ou o inverso, como sói em ditados,

Enrolam-se em rosas perfumadas,

Cravos aos pulos, violetas danadas,

Crisântemos fúnebres, dálias agastadas…

Ah, que trajes perfeitos para ruas de férias,

Ou florais sentidos em calendários e lérias,

Subindo e descendo compungidos risos e falas

Grossas, lentas, de per si ensimesmadas…

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Quantos deles no esquisitóide traje

Reproduzem um infindável, único, seu mundo

Lacustre, de lodo e de ultraje,

Íntimo, disparatado, distante,

Querido outrora, quiçá manifesto de amor,

Ou a olvidar que dias, de fúria ou terror!

Com eles alegrias, risotas, activas funções

São outras distopias, abalos, separações,

Por abandono, repúdio, morte fruste, mil aflições…

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Ah, quantas lágrimas escondidas

Detrás das flores, nas recriações!

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LMD, 24.08.20.

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