terça-feira, 25 de agosto de 2020

"Pobres Tolos, carregam em si flores"


''Pobres Tolos, carregam em si flores''
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Meio perdidos por aqui, encontrei na tábua de trabalho uns versos, inacabados. Falam seriamente de gente pacífica e de bem, que por aí topo, nas vagabundagens! Porventura com a Lua em vai-vém naquelas cabeças endoidadas, usam cobrir-se de flores - como fadas - os coitados! Têm pouco juízo, pensamos! Isto é, às vezes, o que se nos aparenta. Assim será 'aquela' (deles) realidade?
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Abraços estreitados, a todos vós, Camaradas e Amigos, que me estimais, bem quereis.
Vamos lá, então, à leitura, aos vossos comentários:
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''Pobres Tolos, carregam em si flores''
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‘’Os pobres tolos,
Que em todas as aldeias existem –
Teixeira de Pascoaes no-lo escreve

Não recordo onde –
Vestem-se de flores!’’
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E por môr do quê me sugerem
Senão à razão e causa de dores?
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Não lo é só em aldeias, que as vestem…
O trato, agora em fala, tem-me convencido
Por dessas fotos-imagens ter algures vistas,
E num qualquer pedinte aparecido.
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Em cidades de hoje, seja, ou nas vilas,
Vindos se calhar daqui – ora, ora! -,
Ou possivelmente de fora.
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Maltratados, sujos
Pés feridos, desnudos,
Por gélidas carreiras, em vadiagem
De ambulante, lenta rota,
As nuas plantas, ramos, arbustos
E profusão de flores
De que mal tomei nota,
Oh, como são belas!,
De fino recorte nas pétalas
De pé, dobrado ou singelo,
O que importa é que é belo,
Seja por mania ou adereço
Delas se cobrem a gosto,
Sobre trapos de roupagem, aposto!
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Vêm com que alegria branda
A inventar mitos, cores, em franja…
Disfarçam-se de loucos canteiros
Verdes-em-riste, rubro-amarelados-velhos…
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Dos pés à cabeça atapetados
Ou o inverso, como sói em ditados,
Enrolam-se em rosas perfumadas,
Cravos aos pulos, violetas danadas,
Crisântemos fúnebres, dálias agastadas…
Ah, que trajes perfeitos para ruas de férias,
Ou florais sentidos em calendários e lérias,
Subindo e descendo compungidos risos e falas
Grossas, lentas, de per si ensimesmadas…
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Quantos deles no esquisitóide traje
Reproduzem um infindável, único, seu mundo
Lacustre, de lodo e de ultraje,
Íntimo, disparatado, distante,
Querido outrora, quiçá manifesto de amor,
Ou a olvidar que dias, de fúria ou terror!
Com eles alegrias, risotas, activas funções
São outras distopias, abalos, separações,
Por abandono, repúdio, morte fruste, mil aflições…
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Ah, quantas lágrimas escondidas
Detrás das flores, nas recriações!
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LMD, 24.08.20.

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