domingo, 23 de agosto de 2020

Em Memória do Madureira





Relembrando o MADUREIRA... Pelo Pica Sinos.
Fevereiro de 2009
Texto atualizado Agosto 2020

SEGUNDO UM VELHO DE ALFAMA O MADUREIRA
JÁ NÃO ESTÁ ENTRE NÓS

Era dia véspera de Carnaval, a tarde estava bonita, soalheira, sem vento, adivinha-se a primavera, os foliões esfregam as mãos de contentes, mas não sou muito feito a carnavais. Não que não goste, fazem-me rir os trapalhões, mas não estou para aí virado.
A minha preferência nesta tarde foi dar um passeio na baixa Lisboeta minha terra natal, há muito que não andava de barco. O rio Tejo fascina-me!
Sentado, embalado pelo rasgar das ondas, avisto o estuário. Ao longe alguns poucos barcos, o Barreiro, os fornos da Quimigal. Nas vistas de Lisboa enxergo a abóbada da Igreja de Stª Engrácia/Panteão Nacional, a velha Sé que foi mandada construir por D. Afonso Henriques. No cimo o majestoso Castelo de São Jorge e todo a casario que o acompanha na colina. A Praça do Comércio está perto do meu olhar.
O velho barco atraca no cais da Praça do Duque da Terceira (Cais do Sodré), e o momento convida há toma de uma “bica” fazendo-me recordar o casual encontro com o Madureira numa tasca da Rua dos Bacalhoeiros, aquele que foi 1º Cabo Rádio Montador em Tite.
Não hesito, vou procurar o camarada no Campo das Cebolas, lá para os lados da parte baixa de Alfama onde exerce a profissão de estivador.
Vou a pé pela rua do Arsenal, sem antes mirar a Rua Nova do Carvalho recordando com saudade tempos idos onde que por lá trabalhei. Miro a montra da mercearia do Rei do Bacalhau, a Casa Testa/Casa das Moedas, a Mercearia Pérola do Arsenal, são estabelecimentos que não “envelheceram” ainda resistem.
Direito à Rua dos Bacalhoeiros atravesso as arcadas da Praça do Comércio, não posso deixar de tomar mais um café, desta vez no Martinho da Arcada. Passo pela frente Casa das Vassouras e das Rolhas, hoje estabelecimento muito pró fino.
Já no Campo das Cebolas paro e entro na tasca onde encontrei o Madureira. À senhora que estava por detrás do balcão perguntei: Diga-me por favor… conhece um “rapaz” da minha idade que dá pelo nome de Madureira? Era estivador nos frigoríficos da carne ali no porto. Perante a sua incerteza disse-lhe que tinha umas orelhas bem desenvolvidas. …
Ah esse retorquiu, é arrumador de carros ali na frente! Olhe, lá está ele sentado na cadeira pela sombra…
Pé ligeiro, sorridente, lá vou ao encontro da personagem que me foi apontada, mas quanto mais me aproximava, mais dúvidas me sobressaltavam, até que na minha frente, vejo um homem alto, magro, mas de parecido com o Madureira só nas orelhas por muito grandes.
Fui à conversa com o Sr. José Martins perguntando e identificando o homem tendo em conta as parecenças físicas, ficando deveras triste por me dizer que fisicamente o nosso grande amigo e camarada já não estava entre nós.
Aliviando aos poucos o desconforto, pela forma de estar e de comunicar deste velho arrumador de carros sou informado:
…Claro que conheci o Madureira. Muito bom rapaz e falador!
….Dei-lhe muito trabalho de estivador quando eu era empregado na Casa das Sacas, agora há anos que está fechada
…Sim é verdade ele tinha umas orelhas tão grandes como as minhas, mas não era meu familiar.
…Era muito bom rapaz um dia vamos encontrá-lo
Deste homem, natural do Bairro de Alfama, despedi-me com amizade.
Pica Sinos

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