domingo, 3 de maio de 2020

Carlos Alberto Ferreira



O homem que subiu sozinho a Avenida da Liberdade e que ficou duas vezes na história do 25 de Abril.
Há 46 anos, Carlos Alberto Ferreira integrou a coluna de Salgueiro Maia que deteve Marcelo Caetano no Quartel do Carmo. No Hotel Tivoli, onde trabalhou 30 anos, serviu  Sá Carneiro e Fidel Castro, Jorge Amado, Vitorino Nemésio e tantos outros e nunca deixou de comemorar a Liberdade na rua, nem neste ano em que um vírus mandava ficar em casa. Isolado, protagonizou a fotografia que se tornou um ícone deste 25 de Abril
No último sábado, logo após o almoço, Carlos Alberto Ferreira, de 71 anos, tirou do armário o melhor fato, guardado com zelo para as ocasiões especiais. Frente ao espelho na sua casa em Barcarena, vestiu o casaco branco, calçou as luvas a condizer e ajeitou ao pescoço um laçarote preto. Por fim, segurou a enorme bandeira de Portugal com cravos vermelhos e brancos presos à haste e saiu…
Cresceu sem pai nem mãe, criado na Casa do Gaiato do Padre Américo, tem o único filho emigrado e a mulher internada com Alzheimer.
“O vírus não me mete medo, não me importo de morrer”, diz. Sozinho, representou um país inteiro, agora preso em casa, que há 46 anos ajudou a libertar.

(Joana Bastos, Tiago Miranda e José Sena Goulão – Expresso, com a devida vénia)

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