terça-feira, 21 de janeiro de 2020

A guerra da Guiné



A GUERRA DA GUINÉ"
Por António Trabulo
António Trabulo, nasceu em 1 de julho de 1943, em Almendra, Vila Nova de Foz Coa e formou-se em Medicina em Coimbra para onde veio depois de viver desde a sua infância em Sá da Bandeira, Angola, com a sua família.
Especializou-se em Neurocirurgia. A sua carreira médica decorreu nos hospitais de S. José e dos Capuchos, mas manteve uma forte ligação à cidade de Setúbal, onde reside há mais de 40 anos, através da clínica privada. Reformou-se, como chefe de serviço, no início de 2009. Cumpriu o serviço militar obrigatório como médico a bordo do navio hospital Gil Eanes, nos mares da Terra Nova.
Escreveu o livro sobre "A GUERRA DA GUINÉ" que foi lançado em Outubro de 2014.
Sabe-se que procurou fundamentar-se ao pormenor sobre a guerra naquele território português de modo a analisá-la com imparcialidade e veracidade e que, inclusivamente, se apoiou em pessoas que viveram aquela guerra, inclusivamene na família de Amilcar Cabral.
No livro, diz-nos:
"Portugal reconheceu a independência da República da Guiné-Bissau em 10 de setembro de 1974. Para trás, ficavam mais de onze anos de combates. Ao contrário de Angola e de Moçambique, a Guiné era pequena e pobre. Era também insalubre. Quando a CUF se viu forçada a suspender a sua atividade, a colónia deixou de ter qualquer valor económico. No entanto, os responsáveis políticos portugueses acreditavam que uma independência abriria as portas às restantes. Era a teoria do dominó. Para manter a Guiné sob a sua bandeira, o estado português obrigou-se a um esforço militar claramente desproporcionado ao tamanho e à importância do território. Apesar disso, por altura do 25 de Abril, a guerra da Guiné era a única que o nosso país estava em vias de perder. O desgaste produzido por um conflito prolongado e sem fim à vista lançou o descontentamento no seio das forças armadas portuguesas. O regime ditatorial acabou por ser derrubado por não ter sabido negociar a questão colonial.
Este livro tem múltiplos protagonistas. Do lado português, e falando apenas do Exército, lutaram na Guiné mais de 100 mil soldados metropolitanos, em comissões de serviço de dois anos. Tombaram 1600. Entre os comandantes, a figura do general António de Spínola é incontornável. Do lado oposto, sobressai o vulto de Amílcar Cabral.”
Diz-nos também que: “Amílcar Cabral não confinava a sua estratégia aos ataques a quartéis, a fazer emboscadas, a pôr minas e armadilhas nas picadas, foi um incansável diplomata, em 1972, o ano que precedeu a sua morte viajou 31 vezes, as Nações Unidas eram o seu objetivo maior, mas não descurava os fornecedores de armamento, alimentos e medicamentos, promovia todos os contactos necessários para arranjar bolsas de estudos para os futuros quadros. Do mesmo modo, o autor lhe dedica um texto de referência sobre o pensamento político. E assim chegamos à frustração de Spínola quando percebe que o Marcello Caetano lhe nega a abertura de negociações para uma solução política da guerra. Esta obra constitui uma aproximação à vida e à obra do pensador e revolucionário africano e comporta muitos traços de biografia. Escolhi falar primeiro na sua morte. Não será a primeira vez que se começa uma história pelo fim."
O autor também não esconde o seu desalento: “A Guiné-Bissau não voltou a atingir o nível de cuidados primários de saúde e educação assegurados no tempo da guerra pelos militares portugueses. Os camponeses continuam a predominar no conjunto da população e a sustentar o país, mas pouco ou nenhuma influência tem na gestão da república, em que, apesar das realizações periódicas de eleições, mandam os antigos comandantes militares”.

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