Natal
Desde sempre, tive a feliz dita de uns Natais que sempre
recordarei.
Fui abençoado por tudo o que em criança e mais tarde como
adulto, ansiei nesta quadra.
A árvore de Natal enfeitada com lindos adornos de purpurinas
multi coloridas feitas por meu pai., com pinhas e bogalhos.
O presépio completíssimo, de menino Jesus abençoado pelo
padre Carvalho a pedido de minha avó, rodeado por musgo verdadeiro, que minha
mãe comprava no Mercado da Ribeira (o tal da novela Laços de Sangue).
No dia 24 antes de deitar, eu e meu irmão ir-mos muito
respeitosamente por os sapatinhos na chaminé enfeitada com papel prata, para o
Menino Jesus colocar no dia seguinte os seus presentes, sempre com a nossa
promessa, ajoelhados, qual altar, de nos portar-mos melhor, comer tudo e não
atentar a avó São, no novo ano esperado.
Já na minha própria casa, fiz por manter tudo como na
meninice, e há mais de trinta anos, a família reúne-se e vive a época da melhor
maneira.
À grande obreira Alda, que se “esfalfa” em trabalhos e
pormenores para que todos os muito convivas, sintam a alegria da quadra.
O meu apreço e admiração, pelo seu génio decorativo,
culinário e logístico.
Na mesa as cadeiras tem vindo a reduzir-se. Pela ordem
natural da vida os que partiram, são já mais do que os que nasceram, mas a vida
continua, e todos são lembrados.
“Só se morre quando já não se é recordada”
Não sei nem posso realçar um único dos meus Natais, por de
todos ter muito gratas recordações.
Substituindo-me, e de forma superior, deixo-vos um dos mais
belos poemas de um homem que enriqueceu como muito poucos, a nossa língua com
magistrais palavras, Ary dos Santos :
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Natal, é Quando um Homem quiser
Tu que dormes à noite na calçada do relento
Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
És meu irmão amigo
És meu irmão
E tu que dormes só no pesadelo do ciúme
Numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
E sofres o Natal da solidão sem um queixume
És meu irmão amigo
És meu irmão
Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nama vida a amanhecer
que há no ventre da Mulher
Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
Tu que inventas bonecas e combóios de luar
E mentes ao teu filho por não os poderes comprar
És meu irmão amigo
És meu irmão
E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
És meu irmão amigo
És meu irmão
Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher
Ary dos Santos
-José Justo
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