O PRIMEIRO CARRO (I)
SAUDADES SÓ AS TEM QUEM DAS SAUDADES NÃO ESQUECE
Chegado da Guiné em Março de 1969, das “lecas” que a “miúda”
(hoje minha mulher) tinha conseguido amealhar, era minha intenção tirar a carta
de condução e comprar um carro, diria mesmo que a vontade era
inversa.“Flipado”, dava-me gozo o BMW Iseta de dois lugares, com uma única
porta à frente, motor com 569 c.c., atingindo 85 quilómetros de velocidade. À
época muito “IN”, com a agravante de um vizinho meu, com um disponível para
comigo fazer negócio. Mas qual quê as “isetas” foram outras e as vontades
cortada…“ela”, a miúda, não foi em “pancadas”, optando por me convencer no
casamento, que três meses depois se realizou.
Querendo refazer a vida, faço-me vendedor de uma fábrica em
Vila Nova de Gaia, do ramo das tintas e vernizes, cuja área da minha actuação
era, fundamentalmente, a região de Lisboa.Contudo, entregar latas de tintas de
variadas dimensões, utilizando os transportes públicos incluindo táxis, não era
propriamente o meu forte.
Retomo com muita força a ideia de possuir um carro após o
exame de condução e, em Agosto de 1970 finalmente adquiri o primeiro carro…….um
“Carocha”.Rapaz de 25 anos, sem dúvidas, convencido de não haver melhor
“volante” em, Lisboa e arredores!Como eu ficava bem neste meu carro.
Vaidoso, não me cansava de buzinar (com o som do mugir da
vaca), quando as garinas se cruzavam com o meu olhar. Era um fartote de riso,
confrontado com os rostos ruborescidos das miúdas.
O carro comprado em terceira mão, arranjado, primorosamente,
por um mecânico/bate chapas que trabalhava nas oficinas da peugeot, situadas no
Bairro Santos ao Rêgo.
O “Carocha”, veículo salvado, custou-me cerca de 20 contos
(100 euros), a cor era azul, a marca volkswagen com motor de 1200 c.c., podendo
atingir 140 quilómetros por hora. As rodas estavam colocadas ao contrário para
parecerem as jantes, mais largas e dois brutos tubos de escapes, fazendo inveja
a qualquer “engenheiro” de tuning à data, o carro estava um espectáculo!
Que bem cantava o “Pablo”, nome que lhe dei, mesmo a baixa
velocidade, fazia um “bonito” “roooooommmm”, ao contrário pensavam os “cotas”,
ao acordarem pelas duas da manhã, hora habitual do recolher cá do rapaz, no
Calhariz de Benfica junto ao Ferro-de-Engomar.
Mas este primeiro carro tinha dois grandes defeitos: o
primeiro derivado da “mocada” que certamente levou, tinha o chassis “pescoço de
cavalo”, ligeiramente empenado, dando origem, nas travagens, a guinar para a
esquerda. Deveras perigoso, em dias de chuva. O segundo, mas este comum a
todos, o condutor não conseguia ver o “guarda-lamas” direito, mas os
acontecimentos e aventuras, que daí derivaram, são outras histórias.
in blog do Pica Sinos, publicado em 2008.
Sem comentários:
Enviar um comentário
-